Fanfic: Para que Deus Escute.
É incrível o poder das pessoas de amarem. Eu me lembro bem de como a conheci naquela tarde, deitada na grama, embaixo do sol fraco daquele dia de inverno, ela irradiava alegria, apesar de sofrer tanto. Já tinha ouvido falar do caso dela, era complicado. Lembro-me que me aproximei com cautela, e ela não me notou de começo, foi quando eu pisei na folha seca que ela se levantou e me olhou com os olhos cor de avelã pela primeira vez. Eu não sabia dizer oque tinha acontecido comigo, algo me balançou e eu senti que já havia olhado naqueles olhos antes, ela sorriu, com os dentes brancos e perfeitamente infilerados, a boca vermelha, parecia ser macia, o cabelo vermelho, meio ondulado que caia um pouco abaixo do meio das costas. Linda, Linda, Linda, Linda... Eu sorri com ela, e ela olhou para o chão como se pedisse pra que eu sentasse a seu lado, eu sentei, e ela deitou novamente, e eu deitei ao seu lado, e, pela primeira vez juntos ouvimos o silêncio. Engraçado, nunca soube que o silêncio tinha som, mais com ela tinha. Era irônico, é verdade, mais tudo com ela tinha som, até a respiração mais calma dela tinha uma melodia gostosa, que me embalava, me deixava bobo, apaixonado por ela. Não haviamos conversado naquele primeiro dia, nem precisamos conversar, eu gostava de ouvir o silêncio com ela, mas eu precisava ouvir a voz dela, ver se era tão doce quanto o seu cheiro, tão gostosa quanto o som da respiração dela, tão linda quanto ela. A noite caiu, nos trazendo as estrelas, mas como estavamos no hospital, não podíamos ficar até tarde no jardim, então entramos. O quarto dela era do lado oposto do meu, ou seja, se eu atravasse o corredor, eu seria visto. Sem chance de vê-la aquela noite... Quem disse? Era meia noite quando eu sai do meu quarto, rezando para que a doutora Melissa não me visse, ainda mais descalço. Eu atravessei o corredor, e quando estava perto da porta dela dei meia volta e voltei. O que eu diria? Oi, então, dividimos a tarde hoje, sei que foi só uma tarde mais eu não consigo esquecer o seu cheiro, então, qual seu nome? Não, não podia dizer isso. E se eu esperasse ela sair e fosse atrás? Aí ela ia achar que eu estava seguindo. E se eu simplismente batesse lá e ficasse denovo com ela, escutando o som do silêncio? Mas não seria... hm... intimo demais entrar no quarto dela? E se ela gritasse julgando insanidade da minha parte? AAAAAH, estava enlouquecendo. Eu pensei em uma maneira de me comunicar de uma forma simples sem que me constrangesse. Plim. Bilhetes. Como não pensei nisso? revirei as gavetas atrás de um papel e uma caneta. Mas como eu levaria até ela? O quarto dela era do outro lado do corredor! Simples, vou me sentar do lado de fora da porta esperando resposta. E se a doutora me visse? Aaaah, eu vou correr o risco, pensei. Se eu contasse que eu fui até lá e voltei três vezes você não me mataria, não é? Pois é, eu fui lá e voltei três vezes. Covarde, covarde, covarde! Quando eu estava saindo pela porta para tentar novamente, eu a vi, tão linda na camisola comprida dela, verde clara. Ela me olhou e sorriu novamente, com a caneca de café na mão, eu andei até ela disposto a falar com ela, eu precisava ouvir a voz dela, respirei fundo e fui, com toda a coragem do mundo, e adivinha? Eu cheguei lá e não sabia oque dizer! Ela me olhou e sorriu ainda mais, e disse: - Café? Meu mundo parou e eu só pude sorrir. A voz dela era tão [i]perfeita[/i] quanto ela, sem dizer nada, peguei uma caneca e enchi com café, adocei e nós fomos para o quarto dela. Já disse que o quarto dela cheirava tão bem quanto ela? Não? Pois é, tinha um cheiro doce, floral, suave, gostoso... Era um cheiro... bem, cheiro dela, eu não sei explicar. Ela entrou e sentou-se, eu entrei e encostei a porta suavemente para não acordar ninguém. Eu sentei na poltrona, e me pus a olha-la, mesmo no escuro seus olhos brilhavam como se fossem diamantes no sol, e eu sorri involuntáriamente, sem prestar a atenção de que ela estava me olhando. Quando percebi, me envergonhei, e ela riu. - Qual seu nome? - ela perguntou. - Christopher, Chris para os amigos - eu sorri. - O meu é... - Dulce. - eu terminei a frase dela - Como sabe? - ela disse, espantada, mas ainda sorrindo. - Li na porta. - eu sorri e ela riu. O que? Era verdade, eu li na porta. - Está aqui porquê? - ela quis saber. - Problemas no miocárdio, ele não funciona muito bem e pode estourar - eu disse, um pouco baixo. - Bem mais simples que o meu. - ela disse, humorada. Aparentemente ela ria da desgraça dela. - Você é a menina do tumor no cérebro, não é? - eu disse, olhando-a. Apesar do assunto, ela não diminuiu o sorriso, e muito menos o humor desapareceu de seus olhos. - Sim, eu sou. Estou esperando minha cirurgia, que é daqui à um mês - ela abaixou a cabeça, olhando o café - Tenho fé que vou sair dessa. - Eu não acho que eu vá sair dessa - eu disse, com desdém. - Acreditar é a chave do sucesso, sabia? - ela disse, com mais humor que antes. Será que ela se divertia com o meu sofrimento? Não, Dulce não era assim, ou era? - E quem disse que eu tenho sucesso? - disse, irônico, ela riu. - Não tem porque não quer. - ela piscou pra mim, como se eu tivesse dito a maior burrada. E eu tinha mesmo, ela me mostrou isso. Eu a mirei naquela hora, tentando entender e ela riu mais uma vez de mim. - O que foi? - eu perguntei. - Nada. Você me faz rir. - ela disse, sorrindo, com os olhos zombeteiros ainda. - O que eu disse? - perguntei, sem entender. - Nada. Seus olhos são alegres, me fazem rir. - ela disse, balançando o café. Eu continuei fitando-a, sem entender, e foi quando alguém bateu na porta, e entrou. Nós olhamos a enfermeira, e ela olhou diretamente pra mim, como se dissesse que eu não devia estar aqui, me levantei. - Tchau Dul, até amanhã - e saí, feixando a porta atrás de mim. Entrei no meu quarto desolado, sabendo que só sentiria o cheiro dela amanhã. Triste, deitei na cama e tentei dormir. Tentativa inútil. Eu rolava, enquanto ainda fantasiava o cheiro dela na minha mente. Eu tentava afasta-la, mais era inútil. Ela estava em mim, de alguma forma, eu podia senti-la, eu podia sentir o calor do braço dela encostado no meu aquela tarde, eu podia ouvir o som da respiração dela na minha cabeça, eu podia ouvir a voz doce dela em mim, eu estava platonicamente apaixonado. Que tipo de pessoa era aquela? Uma bruxa, só podia! Que tipo fica na sua mente? Pensei nisso mais um pouco, e quando dei por mim, já estava dormindo. Eu acordei com aquela gritaria insuportável e com aquele cheiro de sangue horrível. Apesar de ter acordado, eu não havia aberto os olhos. Aquele cheiro invadiu meu cérebro, como se algo tivesse registrado em mim. Como se eu não pudesse esquecer. Eu permaneci deitado, ouvindo a correria do hospital, tentando imaginar que horas eram, duas, talvez três da manhã? Eu ouvia os choros dos familiares, e pela primeira vez eu desejei que alguém chorasse por mim. Eu sempre quis uma mãe, um pai, alguém que se importasse comigo. Meus dezoito anos no orfanato não eram fáceis, eu sofria muito com o barulho do silêncio, era quieto demais. Se você ouvisse os sapatos batendo era muito. Eu rezava para ser adotado, mais entrava ano e saía ano, e eu ficava. Talvez meus olhos não fossem convincentes. Mas, Dulce havia dito que meus olhos eram alegres, então porque? Era difícil relembrar aquilo, era mexer nas feridas, como se cutucasse com sal grosso nas pontas dos dedos, me doía, e eu não me espantei quando senti o travesseiro húmido. Eu havia chorado aquela noite, mais do que qualquer outra noite. Eu adormeci novamente, tentando imaginar os olhos dela nos meus. Acordei novamente assustado, com uma correria sem par, e com o auto-faltante dizendo "emergencia no quarto 207". Espera, eu conhecia esse número, era o quarto da Dulce, oque estava acontecendo com ela? Pulei da cama, vesti uma blusa e caminhei, - descalço - até lá. Havia uma roda de enfermeiros em torno dela, e a doutora tentava tranquiliza-la - em vão. Tranquiliza-la de quê? Ela estava nervosa? O que ela tinha? Eu invadi a sala, e passei com dificuldade por entre as pessoas, e foi então que eu a vi, sentada no chão, com as mãos nas têmporas. Ela apertava os olhos fortemente, como se quisesse amenizar alguma coisa. Dor. Eu cai de joelhos ao seu lado e a abracei, como se quisesse protegê-la, eu tinha essa necessidade. Eu a abracei, fortemente, encostando a cabeça dela no meu peito. Eu a imbalava tentando acalma-la, e as poucos ela foi relaxando o corpo, e só então eu percebi que estava chorando. Eu não sabia exatamente porque estava chorando, mas estava. Dulce ainda me abraçava fortemente, embora não estivesse mais sentindo dor. Aos poucos, o movimento foi se dissipando, até restar eu, Dulce e a médica no quarto. Eu evitava o olhar da doutoura, por vergonha dos meus atos emocionais. Eu ajudei Dulce a se deitar, e deitei-me ao lado dela, sem me importar com o que a medica pudesse dizer. Graças a Deus ela não retrucou nada sobre isso. Dulce estava com a cabeça recostada no meu peito, e eu brincava inconsciênte com uma mexa do seu cabelo. Eu podia ouvir a melodia gostosa do silêncio de novo, e quando eu estava confortavelmente bem, a doutora cortou o silêncio: - Bem, Dud, você teve um dos seus ataques. De novo. Esse não foi muito grave, mas mesmo assim é alarmante. falta um mês para a sua cirurgia ainda, portanto evite coisas que estimulem os ataques... Bem, eu acho que é isso, até mais garotos. Ela saiu, deixando a porta se fexar atrás dela. E eu novamente podia ouvir o silêncio, aí a voz da Dulce me chamou. - Chris? - Hmm? - Me fala sobre você? - ela pediu numa voz baixa. - Oque quer saber? - eu perguntei. - Tudo. Eu suspirei. Tudo envolvia o meu passado. A minha ferida. - Bem - eu comecei - Eu nasci em mil novecentos e noventa e um, minha mãe morreu no parto e meu pai me abandonou. Cresci em um orfanato, próximo ao Canadá. Eu morei lá dozoito anos, e aos dezessete descobri meu problema de coração, desde então eu passo mais tempo aqui, mais ainda pertenço ao orfanato. - eu terminei com outro suspiro. Ela me ouviu pacientemente, me olhando. Eu me abaixei para olha-la e ela me encarava com os olhos gentis, acolhedores. Ela sorriu, e beijou minha mão, eu sorri junto, depois de meio segundo. - Como era lá? Digo, o orfanato. Era bom? - ela perguntou, curiosa. - Era... Quieto - eu fiz uma careta - Não era ruim, mas era muito silencioso, eu nunca gostei muito do silêncio, não até descobrir que ele tinha som - eu sorri - Mas era... Estranho saber que talvez eu nunca mais fosse sair de lá. Eu sempre estava na fila de adoção mas, ninguém nunca me quis, aí quando eu fiz quinze anos soube que era tarde demais, aí me conformei. E de certa forma, eu queria ser livre também. - Hmm... E como você descobriu que o silêncio tinha som? - a voz dela tinha uma leve zombaria, que me fez sorrir. - Quando eu deitei ao seu lado ontem no jardim. - respondi, sorrindo. O silêncio prevaleceu, e eu fexei os olhos, tentando ouvi-lo, quando a voz suave de Dulce coçou meus tímpanos, eu abri os olhos novamente, escutando-a. - Chris, que horas são? - ela perguntou - Deve ser umas cinco e meia, quase seis horas, porquê? - perguntei, curioso. - Vamos ver o sol nascer? - ela disse, levantando-se. Eu dei de ombros e me levantei também, procurando um casaco. Quando reparei que não estava no meu quarto, eu sai sem avisar e fui até o mesmo, pegar minhas pantufas e minha blusa. Quando voltei, encontrei Dulce sentada na cama, desolada. Assim que ela me viu, sorriu, e se levantou. - Vamos? Eu assenti, uma vez, e nós saímos porta afora, e fomos para o jardim. O céu estava escuro, mas ao longe o sol já pintava-o de um laranja arroseado, e Dulce e eu caminavamos, pela grama molhada pelo orvalho, escutando somente o som das folhas sob nossos pés. Era gostoso estar com ela, e pela primeira vez eu experimentei uma sensação de alegria, de conforto. Inconscientemente, eu segurei a mão dela junto a minha, e senti o olhar confuso dela me fitando, eu a encarei e sorri. - O que foi? - perguntei, inocente. Ela sorriu, e mirou o chão, mordendo o lábio. - Essa sensação de alegria é... Diferente pra mim, às vezes não sei como lidar com isso - ela confessou. - Alegria? - perguntei, tombando a cabeça de lado, sem compreender. Ela me fitou. - Alegria - ela confirmou. - Porque? - Porque oque? - Porque é alegria? - Eu não sei Chris, só sinto alegria quando estou com você. Eu sorri, e beije-lhe o topo da cabeça, e ela sorriu comigo. Aos poucos o céu foi ficando claro, e nós voltamos para o hospital.
Autor(a): dangerousc
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 8
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melissa Postado em 28/07/2009 - 19:36:52
Estou aqui esperando mais capitulos vi Flor.
Eu quero saber o que vai acontecer com eles dois.
Bjos da Mel ^^ -
melissa Postado em 28/07/2009 - 19:35:31
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melissa Postado em 28/07/2009 - 19:35:27
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melissa Postado em 28/07/2009 - 19:35:19
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melissa Postado em 28/07/2009 - 19:35:10
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melissa Postado em 28/07/2009 - 19:35:04
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melissa Postado em 28/07/2009 - 19:34:56
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melissa Postado em 28/07/2009 - 19:32:59
Oi 1ª Leitora \o/
Essa web é muito emocionante,quase chorei quando li esse 1º capitulo é sério ela é muito emocionante.
Posta Mais.
Bjos :)