Fanfic: Just a Kiss .. ♪ | Tema: Just a Kiss .. ♪
Guilherme Lizarga Narrando:
Eu olhei pra mesa aonde só tinha duas mulheres, achei esquisito já que eu não me lembro de ter negociado nada com mulheres.
— Só tem duas mulheres ali, Richard. – olhei pra ele confuso.
— Devem ser a secretaria e a esposa dele, não sei.
— Quando eles ligaram, o que falaram?
— Falaram o dia em que iam chegar e eu marquei o jantar, e porque tá me perguntando isso? Foi você que fechou todo o negocio.
— Eu falei diretamente com a secretaria do presidente da empresa.
— Deve ser o que eu falei. Agora seja o que Deus quiser
— Boa noite – falei quando chegamos a mesa e as duas moças sentadas nos olharam.
— Boa noite, sentem-se por favor – assentimos e eu me sentei ao lado do Richard. Eram duas moças, uma morena do cabelo curto e a outra era loirinha, com cara de menina.
— Bom, acho que já enrolamos demais, não só esse encontro como toda a negociação a alguns meses, então vamos direto ao ponto – a morena falou – como havia sido dito pela minha secretaria eu fiquei muito interessada no mercado de trabalho de vocês, e...
— Só um minuto – a interrompi – pela sua o que? – perguntei confuso.
— Minha secretaria.
— Sua? – ri
— Sim – falou simples.
— Esperai.. – olhei pro Richard – Então a dona da empresa é uma mulher?
— Eu não sabia...
— Sim, algum problema nisso? –a morena me olhou com as sobrancelhas arqueadas.
— Sim, eu não negocio com mulheres. –disse bravo.
— Guilherme. – o Richard me advertiu.
— Sinto muito. –disse me levantando. – Será tudo cancelado. –disse já de pé.
— Você acha que eu tenho cara de idiota? –ela perguntou levantando-se e ficando cara a cara comigo. – Eu tive que sair da minha cidade para vir aqui e agora você me fala que não vai fechar negocio nenhum? –ela franziu a testa. – Não tenho culpa que você tem empregados incompetentes, e se eu fosse um homem? E se eu fosse um homem que quisesse prejudicar a sua empresa? –ela olhou para Richard e depois para mim de novo e negou com a cabeça rindo debochada. – Guilherme né? –ela olhou para sua secretária e a mesma assentiu. – Acho que você não fez o seu trabalho direito querido. –ela disse prepotente. – Como você fecha um negocio sem nem saber o nome da pessoa que vai ser sua sócia? –ela riu negando com a cabeça e endireitou-se ficando ereta em minha frente. – Mais de qualquer forma, eu mesmo me apresento. Tatiana Petrovick, muito prazer. –ela disse com um ar superior e esticou a mão para mim eu olhei para sua mão e levantei a cabeça olhando-a, virei as costas e Richard me segurou.
— É ela que vai salvar a empresa, lembre-se das dividas. – O Richard disse baixo.
— É.. acho que não temos mais nada a fazer aqui. E da próxima vez Keyla , diga meu nome para que eu não precise passar por isso novamente. –ela disse como se advertisse sua secretária, eu virei ficando de frente para ela de novo, respirei fundo e Richard estava certo. A gente precisava desse negócio, ele seria a salvação da empresa.
— Guilherme Lizarga. –disse olhando-a e estiquei minha mão, ela me encarou e deu um sorriso de lado debochado e apertou minha mão.
— Sabia que não daria pra trás – sorriu – sente-se, por favor – sínica.
Nos sentamos e pedimos o jantar, aquela mulher mal comeu, passou a noite toda com um sorriso de canto assustador. E sem contar na voz arrogante e irritante tentando passar uma impressão de mulher poderosa. Mas eu matara o Richard, ah se eu mataria. Mas também culpa minha que fui deixar tudo nas mãos dele e agora veja só no que deu...
— Então contrato fechado? – perguntou quando estávamos saindo do restaurante.
— No que depender de mim, sim. – Falei.
— Vai ser uma honra trabalhar ao seu lado, Senhor Lizarga. – Ela disse sínica.
— Apesar de não poder dizer o mesmo – sorri e ela sorriu também, sínica, mil vezes sínica – espero que seja bem vinda a minha cidade e a minha empresa.
— Então até amanhã? – perguntou irônica.
— Amanhã? – perguntei confuso – não tem necessidade de começar já amanhã..
— É que prefiro dar uma olhada pra poder me adaptar bem ao meu novo local de trabalho.
— Com tanto que não atrapalhe em nada.
— Guilherme – O Richard me repreendeu – você será muito bem vinda senhora Petrovick.
— Senhorita – o corrigiu. Agora eu entendi o porque da arrogância toda. – e pode me chamar de Tatiana, ou de Tati, como preferir.
— Como quiser..
— Então boa noite – falou a magricelinha do lado dela – até qualquer hora.
— Até – O Richard ele me cutucou.
— Boa noite ai pra vocês – falei de qualquer jeito. Ah qual é? Não preciso gastar meu latim com Ela!
— Grosso – murmurou baixinho e saiu com a magricelinha dela.
Eu olhei pro Richard o mais furioso que consegui.
— EU VOU MATAR VOCÊ... – falei quando chegamos ao carro.
— O que foi que eu fiz?
— Não seja idiota, Richard – dei partida no carro – você sabe muito bem do que eu estou falando.
— E você queria que eu fizesse o que?
— Que fosse mais competente, é o nosso dinheiro que está em jogo, seu e meu patrimônio.
— É mais seu – olhei irritado pra ele – ah cara, sempre dizia senhor Petrovick, nunca foi mencionado que era uma mulher. E você que deveria ter visto isso, mas não, tava por ai chorando pelos cantos.
— Por que você me deu certeza de que cuidaria de tudo, se era pra jogar o meu nome na lama nas mãos de uma louca, que tivesse deixado eu me ferrar sozinho com o desfalque.
— E não foi o que você fez super- men?
— Isso não diminui a tua culpa de me fazer assinar um contrato com uma mulher.
— Qual é o problema?
— Mulheres não pensam Richard. São tudo um bando de tontas que fazem tudo sem pensar e mudam de humor conforme as horas, eu não quero uma desequilibrada se metendo entre meus funcionários.
— Sinto muito te informar senhor machista, mas o contrato já foi assinado.
— Vão ser os piores meses da minha vida. E tudo culpa sua – dei um soco no volante – aquela louca, quem ela pensa que é? Ela que venha pensando que vai comandar algo dentro do meu império que ela tá muito enganada, a se tá! – estacionei em frente a casa do Richard.
— Até amanhã.
— Vai pro inferno – ele riu e abriu a porta rindo, mal esperei ele fechar a mesma e arranquei com o carro dali.
No dia seguinte ao chegar na empresa não encontrei vaga pra estacionar o meu carro, porque tinha um carrinho vermelho estacionado no lugar, e se ela estava tentando testar a minha paciência, ah ela estava conseguindo! Deixei o carro em qualquer uma das outras vagas e fui direto pra minha sala, pedi pra que a minha secretaria não deixasse ninguém me incomodar, eu tinha muito trabalho. Um pouco antes da hora do almoço o Richard chegou na minha sala.
— Qual a parte do não quero ser incomodado você não entendeu? – perguntei sem olha-lo.
— Ela até tentou mas.. desistiu – riu – cara, eu tenho duas noticias pra dar a você, uma ótima e uma boa.
— Diz a boa. – falei desinteressado lendo uns papeis...
— A boa é que a sua “sócia” – disse irônico – já está bem estalada na sala aqui ao lado da sua – abaixei os papeis e olhei pra ele.
— Na sala que era do meu pai? – perguntei bravo.
— Ela insistiu..
— Essa mulher tá passando dos limites.
— E não acabou...
— Era só o que me faltava, diz logo. – falei irritado.
— Ela marcou um reunião pra daqui a 15 minutos pra poder conhecer os acionistas da empresa.
— Ela fez o que? – perguntei sério – mas quem ela pensa que é? – falei bravo – ela é só sócia, por alguns meses, somente isso. Ela não passa de uma funcionaria como todos aqui.
— Você sabe que não é bem assim cara, você precisa do contrato com ela. Não só pra empresa mas pra você, se esqueceu do desfalque na tua conta?
— Isso parece tão pequeno a ter que aguentar essa maluca aqui. Acredita que ela colocou o carro na minha vaga? - ele riu – não tem graça Richard. – suspirei – mas tudo pelo bem da empresa né? – Ele assentiu – e a outra noticia, qual é? Porque se a boa já é essa droga, não estou esperando muito da ótima. – falei voltando a mexer nos meus papeis.
— Essa com certeza vai te animar, ou te entristecer, não sei...
— Fala logo...
— O detetive – parei de ler para olha-lo – ele está um pouco mais lúcido e disse algumas coisas sobre o acidente.
— E o que foi que ele disse? – perguntei interessado.
— Disse que foi um homem, dirigia um carro preto sem placa, ele lembra que foi perto de uma praça, perto do hospital...
— Ele só lembrou disso?
— Infelizmente sim, a policia não quis cansa-lo com perguntas. Mas só o fato de ser um homem acho que já te deixa aliviado.
— Ou intrigado... – suspirei – fez super bem em contar.
— Tá a tanto tempo sem ela que pensei que nem fosse mais interessante.
— Só porque estou sem ela, não quer dizer que não a ame mais, talvez ame até mais...
— E tá esperando o que pra procura-la?
— Quando saiu de casa ela disse que precisava daquilo, que precisava pensar. E então eu estou dando esses meses pra ela pensar.
— Nunca se perguntou como ela pode estar vivendo, sem emprego?
— Me pergunto todas as noites como, se está precisando de algo, se passa necessidade, se tem aonde morar. Mas ao mesmo tempo sinto raiva dela não voltar, de não precisar de mim.. Sei lá, não mandar um sinal se quer. – falei decepcionado.
— Vai atrás dela...
— Se eu for eu vou prejudica-la, tenho medo da Anna que vou encontrar. E eu prometi não prejudica-la mais.
— Da ultima vez que teve notícia ela estava morando na cidade vizinha, a alguns minutos daqui...
— Pois é, desde de então, não soube nada mais...
— A Isabel sabe de algo?
— Isabel a visita toda semana, e eu me controlo pra não segui-la.
— E se o detetive inocentar a Anna? Sabe, sem traição, uma verdade que a deixe limpa.
— Eu vou busca-la, nem que seja a força, nem que ela venha arrastada. Mas quando eu tiver certeza de que foi só eu que errei, eu vou trazê-la de volta de qualquer maneira, não suporto a ideia de passar a minha vida sem ela.
— Te dou toda a força cara. E se quiser eu posso falar com a Isabel e...
— Não – o interrompi – não te quero perto dela Richard.
— Eu entendo – apertou os lábios – então, vamos? – falou mudando de assunto.
— Eu vou estrangular aquela mulher...
— Você vai preso – Me lembrou e riu
— Cadeia nem deve ser tão ruim assim – falei irritado me levantando.
— Vamos que a Tati nos espera. – olhei furioso pra ele.
— E você porra, para de intimidade com essa mulher.
— Como quiser patrão – riu e saímos da sala.
Ao chegar na sala já estava com a reunião armada e tagarelava como nunca. Me sentei no meu lugar na enorme mesa e ela se apresentou, dizendo as propostas e o que queria e o que não queria... Eu estava contando os minutos para voar no pescoço dela, mas desisti, o Richard não deixaria. Quando acabou a reunião patética e sem fundamento dela todos saíram da sala.
— Estava calado patrão? Não se expressou – falou debochada me olhando.
— Não me meto em assunto de mulheres – sorri – só espero que você não invente de fazer uma reunião toda semana, não tenho tempo pra idiotices de gente entediada.
— O que você quis dizer com isso?
— Só não perturbe o meu trabalho, quem sabe podemos até ser ... melhor não – falei sério me levantando para sair.
— Você é muito grosso. – ela gritou de onde estava sentada.
— Ah, estava me esquecendo – me virei pra ela – a vaga aonde você deixou aquela caixa de fósforo vermelha é minha, então por favor, preste mais atenção.
— Como quiser – sorriu
— Tenha um ótimo dia senhorita.
— Tenha um péssimo dia senhor – falou séria.
Mulherzinha chata, mas se ela queira guerra, ah ela ia ter guerra. Passei o dia inteiro fazendo telefonemas, mal almocei estava cheio de trabalho. Fui pra casa um pouco mais tarde como de costume e o carro da louca já não estava na minha vaga, pelo visto deve ter ido embora cedo. Cheguei em casa e a mesma estava vazia, exceto pela Ruth que estava sentada no sofá da mesma ilustrando uns portas retratos, dei um beijo na testa dela e subi para meu quarto, tomei um banho, comi qualquer coisa e subi novamente pro meu quarto e no meio de pensamentos com o detetive e a Anna, acabei pegando no sono.
Fim de narração.
Anna Lizarga Narrando:
— Para de fazer isso Marcelo, seu bobo – belisquei a barriga dele inútil, porque ele ainda me fazia cócegas.
— Você gosta que eu sei – falou aumentando as investidas de cócegas. Enquanto eu já sentia minha barriga doer de tanto rir – pede perdão.
— Per..dão.. porque? – falei rindo.
— Por ser tão linda! Vai pede perdão. – falou animado arrancando gargalhadas de mim que me contorcia no chão.
— Tá bom, perdão, pinico, água – ri – pelo amor de Deus me solta.
— Pedindo desse jeito eu solto – ri e ele me soltou – você é muito fraquinha Anna..
— E você é um bobão – falei me levantando e ajeitando os meus cabelos – você é muito feio – falei com bico e ele me mostrou língua.
— E você muito linda – riu. Estávamos sentados no chão da sala da casa dele, minha terceira casa porque quando não estava na pensão ou com a Laura, estava aqui. Assistíamos um seriado na TV não era nem legal, mas tudo com ele era diferente – E então, quando você vai pedir o divorcio? – perguntou do nada, me fazendo olhar pra ela assustada.
— Divorcio? – perguntou confusa.
— Ué, não acha que já tá na hora? – apertei os lábios – você saiu da casa dele há meses, ele não te procura, não liga pra você, te fez comer o pão que o diabo amassou. Acho que já passou da hora, e você sabe o que eu penso desde o principio sobre seu casamento. – falou sério
— Desfazer uma união não é assim tão fácil como parece Marcelo, eu tive um filho com ele. – falei tentando justificar algo.
— Filho que não resistiu Anna. – Me lembrou.
— Mesmo assim, eu não posso aparecer na casa dele de uma hora pra outra e pedir o divórcio, não dá!
— E não dá por quê? – passei as mãos no rosto.
— É complicado – suspirei.
— Complicado porque? O cara traiu você, não acreditou em você, te fez de gato e sapato Anna.
— Ele é o Guilherme Celo, se fosse qualquer outro tudo seria diferente mas não, é o Guilherme.
— Você ainda pensa em voltar com ele, não é?
— O filme estava tão bom..
— É um seriado! E não muda de assunto. Eu não vou perder o meu dia de folga escutando você mentir pra mim.
— Que diferencia faz se eu contar a verdade? Você e todos sempre vão dizer que devo esquecê-lo, deixa-lo. Só que eu deixei, eu me afastei.
— Só esqueceu de pegar o coração que deixou lá com ele, né? – eu assenti e abaixei a cabeça. Eu não falava do Guilherme a dias, e eu me sentia bem assim. Eu nunca parei pra pensar que já haviam passado meses que não nos víamos e que em alguma hora teríamos que tomar alguma atitude, mas pensar em qualquer atitude que o levasse pra longe doía, eu ainda o amava mais do que qualquer coisa no mundo.
— Eu o amo... Ainda!
— Eu sei disso Aninha – ele me puxou pro e me colocou nos meio de suas pernas – Anna eu te vi chorar e sorrir por esse cara a vida toda, você não pode se torturar a vida inteira pelo que tiveram juntos no passado.
— É mais forte que eu – coloquei minha cabeça em seu peito – é mais forte do que qualquer outra coisa no mundo. Ele foi o cara mais perfeito durante anos, eu não tinha quase ninguém e ele foi tudo, preencheu todo e qualquer vazio que eu pudesse ter. Mesmo que eu peça o divorcio, mesmo que faça promessa e qualquer outra coisa... O Guilherme sempre vai ser mais do que um passado bonito.
— Então por que não vaia trás dele?
— Eu cansei de ir, eu cansei de tentar fazer a gente dar certo, insistir no erro e no fim me decepcionar. Mas eu sinto o meu chão sumir toda vez que lembro do sorriso dele, toda vez que me deito na cama eu sinto saudade dos braços dele, é mais forte que eu.. Não posso fazer nada. – Nei me dei conta quando as lagrimas tomaram o lugar em meu rosto. Eu viva em outro mundo tão longe dele.
— Eu vou te apoiar em toda e qualquer decisão que tomar. Mesmo que ela te leve de volta pra ele.
— Nem sei se ele lembra mais de mim – funguei – e não sei se fico feliz ou triste com isso. Está tudo tão confuso.
— Se ele não lembrasse de você seria um belo de um besta. – sorri fraco e voltei a chorar. Pronto Marcelo tinha aberto a minha ferida.. – eu soube que ele assinou um contrato com uma empresária Paulista – levantei a cabeça pra olha-lo – dizem que é bonita.
— O que você tá querendo insinuar com isso?
— Que sei lá, talvez ele esteja tocando a vida dele sem você.
— Em tão pouco tempo? Assim do nada? E um contrato, uma parceria, não são nada. Ele não precisa levar isso pra casa – suspirei – precisa? – perguntei olhando agora pra ele que negou.
— Eu não quis torturar você te contanto isso.
— Eu não ligo – dei de ombros limpando as lagrimas – e se talvez ele se apaixonar por outra vai doer, vai doer demais, vai doer como nenhuma outra dor, mas quer saber? Eu nem sei mais se ligo. Vai ser só mais uma das muitas provas que temos de que não nascemos pra viver juntos, pra sermos um casal. E talvez você tenha razão, eu deva mesmo pedir o divorcio.
— Não Anna, eu não quero que faça isso se não estiver segura o suficiente de que não o quer mais na tua vida. Porque eu sempre vou te querer longe dele, sempre. Mas eu não quero te ver chorar se fizer algo contra a sua vontade. – falou calmo, o que me irritou.
— Eu não sei o que eu faço – coloquei as mãos no rosto e me encolhi no colo dele – eu sai daquela casa a tanto tempo, com tanta raiva dele e mesmo assim eu nunca deixei de pensar nele um só segundo e isso me sufoca, porque por mais que eu odeie a ideia de passar a minha vida longe da dele, eu não posso perdoa-lo. Eu não sou capaz disso porque o que ele fez foi imperdoável, eu fui dele somente dele em toda a minha vida desde do primeiro momento em que o vi. Eu nunca na minha vida desejei outro homem ou quis estar com outro alguém que não fosse ele. E de um dia pro outro tudo mudou, todas as certezas se foram e o tudo virou nada? Entende que pra mim ainda é difícil tomar alguma decisão quando o assunto é ele?
— Desculpa fazer você lembrar dele Aninha – alisou meus cabelos – você tava tão alegre e eu estraguei tudo, desculpa.
— Não, a culpa não é sua ! – funguei – é que eu to a tanto tempo sem falar dele que quando você tocou no assunto um vazio me acertou em cheio sabe? – respirei fundo e limpei as lagrimas – não quero mais falar disso, tá? Não por enquanto. Não quero lembrar, não quero saber dele, não quero...
— E então? O que você acha de me dar uma força com a Isabel? – falou mudando de assunto do nada com uma voz divertida que me fez rir, entre lagrimas mas ri.
— Você ainda é gamadão nela, né?
— Tá tão visível assim? – fez um careta.
— Tá demais – ri – você sabe que ela gosta do Richard ainda, não sabe?
— E é isso que me irrita, vocês duas apaixonadas por eles... – falou irritado – o que eles tem que eu não tenho?
— No caso seria o que você tem que eles não tem. Tipo o sorriso, a sinceridade, o companheirismo...
— Mas é por eles que vocês se apaixonam.
— Tenta entender vai, ela conheceu ele primeiro.
— Mas vocês não. – falou num sorriso fraco, me senti culpada.
— Não vamos querer lembrar passado vai, já faz tanto tempo isso. – sorri – e as suas intenções com a minha amiga, quais são?
— Eu quero muito ficar com a Isabel, sabe? Cuidar dela – sorriu – apesar dela ser toda errada, cheia de defeitos e patricinha, eu quero muito participar dessa bagunça que é a vida dela, tem algo nela que me prende.
— E a enfermeira que você estava namorando?
— Isso foi só carência Anna – revirou os olhos – eu quero a Isabel. – falou feito criança mimada.
— Espero que você a queria mesmo, que não seja só uma forma de provocar o Richard ou o Guilherme..
— Eu quero, prometo pra você que se eu entrar na vida da Isabel, vai ser pra fazê-la feliz, prometo.
— Então assim eu deixo – ri – deixo e vou ajudar você com ela, tá bom? – ele assentiu.
— Não foi trabalhar hoje porque?
— O Miguel foi pra São Paulo ver a mãe dele com a Laura. Eles até queriam me levar, mas achei meio abuso.
— Abuso por quê?
— Ah sei lá, eles já são tão gentis comigo e agora pra onde forem vão me carregar? Não consigo ser tão inconveniente assim... – ele me olhou presunçoso, soltando um sorriso um tanto descarado. – Que foi que, cê tá me olhando dessa jeito?
— Você iria pra cuidar da Laura? – perguntou ainda presunçoso.
— É acho que sim. – dei de ombros.
— Da Laura ou desse tal Miguel? – Perguntou irônico.
— Tá insinuando o que com isso?
— Que sei lá, eu não conheço o cara, nunca vi mais gordo – olhei pra ele entediada e ele riu – ah Anna, até um cego percebe que o cara tá afim de você.
— Claro que não – falei me fazendo de ofendida – ele só é gentil.
— Até de mais, né? – arqueie uma sobrancelha – o cara te leva em casa quase todos os dias, te empresta livros, conta da vida dele pra você, te dá presentes, entrega a filha dele nas tuas mãos.
— Eu sou babá dela!
— Eu acho que ele quer que você seja muito mais do que babá. Quem sabe uma madrasta?
— Marcelo.. – o repreendi
— Ué Anna, você é gata, tem um corpão, é engraçada, super dedicada. É normal que os caras que te cercam fiquem babando.
— Mas o Miguel não é igual ao outros caras... ele é diferente.
— Diferente como? – riu – então você também tá afim dele. – deduziu.
— Claro que não Marcelo, seu tonto – lhe dei um tapa – eu só acho que ele merece uma mulher que o ame de verdade, dedicada, que goste a Laura, que esteja livre pra ama-lo.
— Não estamos falando de amor Anna, estamos falando de beijo sabe? – riu – quanto tempo você não beija ninguém? E sexo, quanto tempo você não faz sexo?
— Eu não quero falar sobre isso.
— É porque deve fazer muito tempo então – riu – eu gostei do cara só por ele gostar de você, não me importo se você quiser passar uma noite aventurosa com ele, mas só uma noite, meu ego só permite isso. – olhei pra ele incrédula e sai do teu colo.
— Volta pra África e traz o meu melhor amigo pelo amor de Deus.. – ele riu e me abraçou.
— Vem cá, minha mineirinha – me deu um beijo na cabeça – eu amo tanto tanto tanto tanto tanto taaaanto você.
— Acho que você é um bobo.
— E você me ama. – Assenti e ele me encheu de beijos.
Ficamos o resto da tarde inteira conversando, brigando. A noite fomos a uma pizzaria ele me encheu de comida e deu o maior prejuízo, porquê ô cara que come. E por ser medico deveria ser totalmente diferente, doido.
[...]
No dia seguinte acordei com o meu celular tocando, eram 6:00 hrs da manhã, olhei no visor e aparecia Miguel, afinal ele era uma das poucas pessoas que tinham o meu numero, que ele mesmo me deu.
— Alô – Falei sonolenta.
— Bom dia – falou numa voz animada
— Bom dia – falei sonolenta.
— Te acordei?
— Acordou. – sorri, ele tem a voz linda.
— É.. eu vou passar a manhã aqui com a Laura, vamos chegar em casa de tarde, então não precisa ir pra lá hoje.
— Sim senhor, sem problemas – ele riu
— Não força o senhor vai – riu – a Laura tá morrendo de saudade.
— Eu também estou morrendo de saudade.
— Só dela? – a voz dele parecia serio – quer dizer – lá ia ele se enrolar de novo.
— Eu também estou com saudade de você Miguel. – Ficamos em silencio.
— Desculpa te ligar tão cedo é que achei melhor assim..
— Sem problemas. E ela, tá gostando da viagem?
— Não desgruda da Vó, eu já não aguento essas duas.. E há, minha mãe tá louca pra te conhecer. A Laura só falou de você o dia inteiro. – ri – agora eu vou desligar, vou te deixar dormir um pouco.
— Manda um beijo pra minha princesa?
— Mando sim, um outro pra você também.
— Obrigada.
— Eu não ganho beijo?
— Claro, desculpa. – ri – Um beijo pra você também. Que seu dia seja maravilhoso.
— Que o seu também seja, linda. A gente se vê amanhã então, um beijo... – desligou.
Ele tinha uma voz linda no telefone, sempre que me ligava eu ficava assim, extasiada com a voz dele, na verdade tudo nele era lindo, tinha aquele cabelo loiro sempre bem hidratado, usava um perfume maravilhoso que sempre o entregava quando estava por perto, sempre muito bem vestido, muito alegre, muito amigo. E isso tudo já o tornava lindo, não precisava nem comentar aquele par de olhos azuis que eram de longe, perfeitos. Afastei meus pensamentos do Miguel e tentei dormi..
Eu não consegui dormi direito, acho que é porque quando me acordam eu perco todo e qualquer sono, então me levantei. Eram 8 da manhã e a Vó Iná já estava na cozinha ela fazia bolo de laranja, como sempre. Ajudei ela a preparar o café da manhã e até aprendi a fazer pão. Ás 10:30 todos desceram pra tomar café, alguns atrasados para ir trabalhar, outros ainda sonolentos, alguns dormiam na mesa feito o Dani que havia passado a noite fora.
— Eu sei que ele não ligou, e então querida, a fila anda – ele contava mais uma de suas histórias enquanto a gente ria sem parar. – O Binho disse.
— Poxa Binho, dá uma chance pro cara. – O Rodrigo brincou.
— Eu dei várias querido. E ele tá achando que é o que? Que sou sazon? Temperando pra outros comerem? Negativo. – Ele fez um sinal com as mãos muito, muito engraçado.
— Binho, olha os modos – A Vó o repreendeu.
— Ai vó, é só modo de falar – falou ofendido. Quando a campainha tocou. – Ain menina, que esse troço não para hein.. – resmungou.
— Deixa que eu atendo. – Falei limpando minha boca e levantando da cadeira.
Atravessei a sala e abri a porta em seguida, dando de cara com um homem alto, moreno. Vestia um terno cinza e não estava com uma boca cara.
— Bom dia. – falei simpática.
— Bom dia – falou sério.
— Em que posso ajudar?
— A senhora Anna oliveira Lizarga, se encontra?
— Sou eu, pois não? – sorri e ele continuou sério.
— Meu nome é Roberto e eu sou Oficial de justiça, tenho aqui uma intimação para a senhora.
— O que? – perguntei assustada – isso só pode ser engano.
— Não senhora, não é engano. Procurei pela a senhora hoje mais cedo em sua antiga casa, mas uma moça disse que a senhora não morava mais lá e então me passou este endereço – Isabel, eu pensei – dando certeza que eu poderia localiza-la aqui.
— Sim, mas intimação, intimação do que?
— A senhora está sendo intimada, pra dar depoimento sobre uma tentativa de homicídio.
— Tentativa de homicídio? – perguntei assustada. – meu Deus...
— Sim, atropelamento para ser mais exato.
— Olha, me desculpa mas eu não sei do que está falando.
— Se trata de um detetive, David Houster. Ele estava seguindo a senhora no dia do acidente.
— O que? Me SEGUINDO? Como assim? – Dizer que eu estava pra lá de assustada vai aparecer pouco para como me sentia.
— Parece que esse senhor foi contratado para descobrir algo da senhora, o resto das informações eu infelizmente não posso dar.
— Pelo menos você pode me dizer quem mandou ele me seguir?
— Senhora Lizarga, deveria saber que se casar com um homem tão influente traz muito benefícios e muito malefícios também. Não deveria esconder as coisas do seu marido.
— Meu Deus –só então me toquei de tudo que estava acontecendo – eu juro que não fiz nada.
— Não é pra mim que a senhora deve provar isso – ele pegou uns papeis em um caderno grande que carregava – é pra daqui a 40 dias, se a senhora não aparecer vai ser dada como foragida e isso sim te prejudicaria muito. – entregou um envelope pra mim.
— Eu entendo, mesmo assim, obrigada.
— Não tem de que – sorriu pela primeira vez – Tenha um ótimo dia. – Falou voltando a ficar sério e saiu, entrou em um carro da policia e foi embora.
E eu meu Deus? Eu fiquei sem reação, todo dia era uma surpresa nova, ele me surpreendia a cada dia, a cada minuto. Eu estava em choque, mas também só uma tonta não se tocaria que uma hora ou outra isso iria acontecer, que ele não aceitaria que eu saísse todos os dias, que uma hora ele ia querer saber aonde eu estava, eu só não imaginava que a desconfiança dele era tamanho, pra destruir o pingo de nos que ainda restava. E se antes eu já não tinha motivos para perdoa-lo, agora eles me pareciam inexistente e quando vi eu tonta como sempre já chorava com o envelope na mão, enquanto todos me faziam perguntas... E se existia alguma duvida de volta, ela morreu naquele instante. Porque de príncipe encantado, o Guilherme havia passado a vilão da história a muito tempo, só eu não havia percebido.
[...]
20 dias depois...
Bom, por onde começar? Depois que aquele policial saiu da pensão e me deixou ali, com aquela intimação na mão eu fiquei desesperada, eu estava sendo acusada de tentar matar alguém, eu nunca na minha vida matei ninguém, nunca quis matar ninguém. Eu fiquei sem rumo, nunca na minha vida eu havia entrado em uma delegacia, nem quando fui assaltada, nem quando fui atropelada. Eu nunca fiquei tão exposta. Chorei tanto a noite que mal consegui ficar com a Laura no outro dia, e ela sempre tão linda, fazendo gracinhas, dizendo que me amava. Pensei o dia inteiro em tomar uma decisão, pensei em pegar um ônibus e ir até a empresa dele, xinga-lo, dizer e mostrar a merda que ele tinha feito a minha vida virar, mas não tive coragem. Então decidi fazer algo que eu devia ter feito a muito tempo, já fazia quase 6 meses que eu havia saído daquela casa e eu não tomei uma só decisão, acho que a minha fraqueza ou essa mania inútil que eu tinha de precisar dele estava me bloqueando de viver, porque por mais que eu soubesse que o amaria pra sempre eu já não tinha certeza se o queria na minha vida. Fui até um advogado publico, eu não tinha dinheiro pra pagar um advogado, até porque eu não sabia quanto tempo duraria o processo de divorcio. Eu falei com 5 advogados, e os 5 se recusaram a me ajudar. Disseram que não moveriam uma ação contra Guilherme Lizarga, que o prejudicaria. Parecia que eu estava lutando contra o mundo. Então no quarto dia eu pedi ajuda ao Miguel. Só deus sabe o quão difícil foi pra mim pedir ajuda, eu pediria ao Marcelo mas ele tem raiva demais do Guilherme, só atrapalharia ou confundiria a minha cabeça como já cansou de fazer. A Isabel dependia do Guilherme, vivia as custas dele, exatamente como eu a algum tempo atrás. Na pensão todos eram simples, alguns mal tinham dinheiro pra pagar as suas contas e quem seria eu pra pedir ajuda a eles? Eu não faria isso.
O Miguel me deu todo o apoio, disse tudo o que eu tinha direito e o que eu poderia tirar do Guilherme. Ele pediu pra que o seu advogado pessoal cuidasse do caso, que me orientasse e prepara-se tudo o mais rápido possível e então.. Eu só deixei as coisas fluírem...
Agora já está tudo acertado, eu iria me separar e o Guilherme iria saber disso em poucos dias, não sei qual seria a reação dele, só sei que desde então eu estou um caco, não tenho animo, animação pra nada. Era terça feira, eu estava na cozinha da casa do Miguel com um papel e uma caneta, fazendo o cardápio da Laura da semana, a gente separava e mudava o cardápio toda semana, e ela ainda não havia decidido o que queria comer e então estava pesquisando comidas coloridas e diferentes pra ela que estava no quarto, provavelmente aprontando algo, ri sozinha por pensar nisso. E imaginei o meu Luís Gustavo na idade dela ando imaginado tanta coisa que não vou poder realizar. E me julgo sempre por isso, porque as lembranças que tenho já são suficientes pra me torturar, sonhos então... Fui despertada dos meus pensamentos com alguém se aproximando
— Desanimada? – O Miguel perguntou e se sentou ao meu lado.
— Já estive mais – falei em um sussurro e ele sorriu de lado.
— Você disse que tinha certeza, Anna... – falou se referindo ao divórcio.
— E tenho, nunca tive tanta certeza em toda a minha vida. – falei sincera.
— Então porque essa carinha triste?
— Não estou triste, mas um divorcio é algo tão.. –suspirei – nunca imaginei que um dia eu fosse me separar. – sorri – não sei se estou pronta pra tirar ela da minha vida assim..
— E não está! – Apertei os lábios – Mas isso acontece Anna, pessoas entram e saem de nossas vidas e as vezes só temos que deixá-las ir...
— Foi assim com a mãe da Laura? – ele me olhou surpreso, talvez não esperasse que eu tocasse nesse assunto.
— A mãe da Laura? – eu assenti – ela entrou, fez a maior bagunça, arrumou tudo, bagunçou de novo e foi embora.
— Você nunca me falou dela.
— O assunto nunca surgiu, você nunca perguntou.
— Como ela se chama? – perguntei interessada
— Tatiana – sorriu – Tati como eu a chamava.
— Sente falta dela?
— Já senti muita, mas é impossível não sentir falta de alguém que faz história na sua vida.
— Por que terminaram? Porque a Laura não a conhece? – ele ficou sério e olhou pros armários da cozinha, parecia nervoso. – Se não estiver a vontade pra falar, não precisa.
— Ela não quis a minha filha – ignorou o que falei antes e suspirou – ela não quis a gente na vida dela. – o olhei confusa – É uma longa história...
— Acho que temos tempo – sorri – aonde se conheceram?
— Conheci ela em São Paulo – sorriu – estudávamos na mesma escola, eu tinha 17 anos e era bolsista. Ela era a menina mais linda da escola, devia ter uns 16 anos e era inteligente, uma das mais inteligentes da classe – riu – Eu a admirava de longe, todos os dias. Ela era uma das primeiras a chegar na escola e uma das primeiras a ir embora, não tinha muitas amigas e nem muitos amigos, mas em compensação chamava atenção aonde ia.
— E como se aproximaram?
— Fomos escalados pra fazer um trabalho juntos, eu todo tímido e ela toda tagarela – riu – marcamos de fazer o trabalho em uma sexta feira, era um trabalho de química e ela insistiu pra que fossemos pra sua casa que era linda, luxuosa. A gente nunca havia se falado antes, eu por timidez e ela por medo, pelo menos foi isso que ela me disse. Tiramos 9,5 no trabalho, e ela insistiu que só não tiramos 10 porque eu não prestei atenção. Ela sempre foi muito durona, achava que tinha razão em tudo e acredite, ela tinha mesmo. Não tiramos um 10 porque eu não consegui prestar atenção em nada com ela ali, tão perto. E no meio de tanta implicância, meio que viramos amigos..
— Amigos? – perguntei confusa.
— A amizade foi só o empurram que precisávamos pra nos apaixonar – ele corou, e me olhou envergonhado, e eu me perdia toda vez que olhava nos olhos dele. – no começo foi meio confuso, a gente tentou se evitar um pouco pra ter certeza se era o que queríamos mesmo e o tempo só nos deu certeza, eu era louco por ela. Passávamos o dia inteiro juntos e algumas noites também. O impossível pra gente não existia, quando estávamos juntos parecia que tudo sumia, éramos inconsequentes demais, mas era tão bom...
— E por que acabaram?
— Éramos de classes sócias diferentes Anna, ela rica, cheia de mimos, de empregados, tinha o que queria a hora que queria. Eu era só um bolsista apaixonado, que mal sabia o que iria ser na vida. O família dela sempre foi contra, afinal que futuro eu daria a ela? Por um tempo eu até tentei entender, me afastar, mas ela vinha chorando, me ligava dizendo que sentia minha falta, falta nas aulas, não queria comer e eu preferia enfrentar o mundo ao vê-la sofrer ou ficar longe dela. O pai dela até tentou por um tempo me “aceitar” – ele fez sinal de aspas – mas eu sabia que era falsidade. Eles eram ricos demais, tinham os melhores carros, nome, era tudo muito luxuoso.
— Mas você sempre esteve acostumado a isso, não é? – ele riu e negou com a cabeça.
— Meu pai era mecânico Anna. – suspirou – Tá vendo essa casa e tudo que tenho? – eu assenti – meu pai largou isso tudo pra ficar com a minha mãe. – ele abaixou o olhar – meu avô não aceitou, foi contra desde de o principio e então o deserdou. Meu pai saiu daqui com uma mão na frente e outra atrás, pra ir pra São Paulo tentar viver uma vida com a mulher que ele amava, que já me carregava no ventre.
— Então você nunca soube da existência do seu avô? Você passou 20 anos da sua vida sem saber que era dono disso tudo?
— Não. quando eu completei 19 anos meu pai sofreu um infarto no serviço aonde trabalhava, não foi socorrido na hora e – ele abaixou a cabeça – ele faleceu. – falou baixo – eu e minha mãe ficamos desolados, éramos um trio e sem ele tudo deixou de fazer sentido. Comecei a trabalhar pra ajudar minha mãe em casa, ela fazia bolos – sorriu – vendia feito água, mas não era o suficientes. Tudo ficou tão desgastado. Eu era ajudante de mecânico, não ganhava bem, mas dava pra pagar as contas e comprar o que comer. A Tatiana tentou entender, não tínhamos mais tempo pra ficarmos juntos e quando o pai dela descobriu do que eu estava vivendo ao invés de tentar separar a gente, ele começou a castiga-la.
— Castiga-la? – eu escutava tudo com muita atenção, ele falava e suspirava como se sentisse saudades.
— Como eu já disse, ela era uma menina mimada. Ele tirou as mordomias, a proibiu de sair de casa, de receber visitas, telefonemas. Era quase impossível vê-la e ela mentia, dizia que estava tudo bem, que iria aguentar só que eu sabia que não.
— Mas roupas e todo o resto parece um preço baixo a se pagar.
— E pra ela foi, nunca se queixou, nunca reclamou de nada. Ela aceitava a vida que eu podia oferecer a ela, mas eu não achei justo tira-la da vida que ela tinha. Então resolvi não procura-la mais, quer dizer, eu até tentei falar com ela, mas os grandes portões de sua casa me impedirão de se quer ouvir sua voz – me olhou com um olhar triste – E então no meu aniversário de 20 anos eu recebi uma visita inesperada de um homem ao qual se apresentou como Ricardo Viera Fontes – piscou demoradamente, acho que memorizando tudo – ele já era um senhor, usava bengalas e tudo – riu – me chamou de neto, disse que sentia muito e que queria ajudar. Pediu perdão a minha mãe e disse que eu não pertencia aquele mundo, que eu era rico e que não devia trabalhar e implorar migalhas por ai... Disse que se eu viesse com ele, eu teria tudo o que sempre sonhei, faria de mim um homem de negócios, o herdeiro que ele não deixou meu pai ser.
— E você aceitou?
— Eu precisava dar uma vida a minha mãe, eu amava a Tatiana e sabia que só poderia ficar com ela, se pudesse oferecer a mesma vida que o pai dela a proporcionava, eu não tinha o direto de tirar a filha dele de dentro de sua casa pra morar em periferia e viver de aluguel, eu não podia.
— E então você foi embora? Sem avisa-la? Sem dar tchau...?
— Eu tentei, só Deus sabe como eu tentei. Mas o telefone dela só dava caixa postal, mandei cartas, recados, tentei com todas as minhas forças vê-la, mas não consegui. – eu apertei os lábios – então eu acertei a oferta do meu avô, vim com ele pra tentar ocupar o lugar que por direito me pertencia – sorriu – mas em todo tempo eu nunca deixei de pensar na minha menina, em como ela estava. Eu escrevi pra ela durante 3 meses todos os dias, mas as cartas voltavam, todas voltaram. Os telefones não chamavam, ninguém sabia de nada, ela havia simplesmente sumido. Meu avô morreu com 6 meses que eu estava aqui, apesar dos erros do passado ele era um homem bom, me ensinou a cuidar da empresa, a fazer dinheiro ele era meio frio, mas era um bom avô. Quando ele morreu eu voltei pra São Paulo, fui até a casa dela, toquei a campainha e pra minha surpresa me atenderam. Uma moça desconhecida disse que havia comprado aquela casa a 4 meses e que não sabia pra onde os proprietários daquele lugar haviam ido. E então eu voltei, ela tinha sumido e eu já estava cansado de procurar, de insistir. Fiquei aqui me afogando na saudade, na esperança de vê-la de novo.
— Mas.. e a Laura? Como vocês...
— Três meses depois de eu ter voltado de São Paulo, eu recebi uma carta. Tinha o nome dela, a data era recente e só deus sabe o quão feliz eu fiquei. Na carta ela dizia que sentia muito, que não podia, que eu nunca passaria de um mecânico e que ela merecia coisa melhor.
— Não, não pode ser a mesma menina que enfrentou os pais por você, que largou as mordomias e estava disposta a tudo..
— No começo eu também suspeitei, a minha menina, o meu amor jamais faria isso comigo. Mas a letra era dela, o perfume que vinha da folha era dela, e as palavras pro mais que me doessem também eram dela. E isso não foi nem o começo, no final da carta, tinha uma palavra grifada em erro, ela disse que era o maior erro da vida dela, e que não podia, que não queria, e que não ia criar a nossa filha. No momento eu não sei o que era maior, se era a dor que eu sentia ou a euforia de saber que seria pai, pai de um filho dela, um fruto nosso.
— Então foi assim?
— Na carta ela dizia que eu devia ir até São Paulo pra pegar o meu bebê, o pai dela estaria no aeroporto com a minha filha. Que eu deveria pegar a menina e esquecer que um dia tivemos algo. Que ela já tinha perdido tempo demais comigo, e não iria perder mais nenhum só minuto com uma criança que a lembrasse de mim.
— Meu Deus... – falei boquiaberta.
— E então eu fui, quando cheguei no aeroporto o pai dela segurava uma bolsa rosa e tinha uma mulher ao lado dele, segurando algo embrulhada em uma manta rosa clara. Procurei por todos os cantos por ela mas não encontrei e quando me aproximei o pai dela com toda a frieza do mundo disse que ela preferiu não vir, não gostava de despedidas, só queria se livrar logo da criança. A moça que segurava me estendeu aquela coisinha embrulhada na manta rosa – sorriu largo – tinha os cabelos loiros feito os meus, as bochechas rosadas e dormia, livre de qualquer confusão. Eu peguei a minha menina dos braços daquela mulher e toda a dor que eu sentia pareceu sumir. O homem que havia trazido ela pra mim me entregou a bolsa e disse que eu deveria sumir com a criança e nunca mais procurar a filha dele e então se foi. Eu sai dali com o meu bebê nos braços sem saber o que fazer ela era tão pequenininha, e então eu jurei que nunca, nunca nada ia faltar a ela, e que ela nunca seria feito a mãe.
— Você foi um grande homem Miguel...
— No começo foi difícil ser – riu – eu era um desastre, não levava jeito algum com criança e a Laura chorava a todo momento – fez um careta – minha mãe me ajudou muito. Me ensinou a ser mais cuidadoso e o eu tentei ao Máximo praticar tudo o que meu pai me ensinou como homem. Eu ia trabalhar todos os dias com o coração partido por ter que deixa-la aqui sozinha, era só uma bolinha... – eu ri – eu amo a Laura, mais do que tudo nesse mundo e a única coisa que me conforta é saber que a Tatiana nunca vai saber o quão maravilhosa é a nossa filha. No começo a Laura me perguntava aonde estava a mãe dela, porque todas as amiguinhas dela tinham mãe e ela não. E pode ser egoísta isso Anna, mas eu nunca escondi nada da minha filha. Ela sabe o porque a mãe dela não a quis e não me culpo de contar a verdade a ela.
— Mas você não tem vontade de procura-la? Saber com ela está? Quais foram os motivos e como o amor acabou assim de um dia por outro?
— Eu tive tanta, tinha noites que eu andava de um lado pra outro na sala de casa me segurando pra não pegar um avião e sair mundo a fora caçando ela, implorando pra ela ficar com a gente, pra criar o nosso bebe. Era tudo diferente, eu era rico e ela não precisava abrir mão de nada, mas meu pai cansou de dizer que quando se ama, não existe obstáculo. Ele abriu mão de um fortuna pelo amor dele, e ela não abriu mão da vida que tinha, por mim e nem pela Laura. Isso não tem perdão. Porque eu amei ela e abriria mão de tudo pra ficar com ela, hoje já não. Hoje meu maior tesouro é a minha bolinha, por ela sim eu abriria mão de toda e qualquer riqueza. – fechei os olhos e suspirei sentindo eles arderem. Como eu queria abrir mão de tudo pra ter o meu filho, se isso fosse possível – tá tudo bem Anna? – Perguntou cauteloso passando a mão no meu cabelo, eu assenti.
E se antes eu já o achava lindo agora então, eu não o comparava com o Guilherme, mas eu queria que só por um momento ele tivesse a vontade que o Miguel teve e abrisse mão de algo na vida dele por mim, mas não. Era fantasia imaginar o Guilherme abrindo mão de algo por mim, ainda mais agora. Eu ia responder o Miguel quando uma voz fina invadiu a cozinha.
— Anna – A Laura falou se aproximando e olhamos para ela – eu estou com fome – falou manhosa. – ele me olhou de novo – você tá chorando? – perguntou confusa.
— Não amor, eu to bem – sorri – quer comer o que hoje?
— Mc do Donald – falou dengosa o que me fez rir.
— Filha se tá com fome mesmo? – O Miguel perguntou rindo
— Sim papai – sorriu – a gente vai comer Mc do Donald?
— Você vem com a gente Anna? – perguntou e eu o olhei surpresa.
— Eu? – perguntei envergonhada.
— É você! vem com a gente?
— Você vem Anna?
— E então? – sorriu
— Acho melhor não. – eu estava tão desanimada.
— Você é babá da Laura, tem que acompanhar ela aonde quer que ela vá – sorriu – vai deixar uma barreira estragar teu dia? Hein, hein? – levantou as sobrancelhas fazendo graça, me fazendo sorrir...
— Tá bom, eu vou.. – sorri e ele piscou pra Laura e comemoraram com um toque de mão esquisito.
[...]
A gente passeou o shopping inteiro, a Laura quis entrar em todas as lojas de brinquedos e de todas elas saiu com alguma coisa. Era incrível a facilidade que ela tinha de persuadir todos, todos caímos de encantos por ela e acabamos fazendo tudo o que ela desejava. O shopping estava cheio e almoçamos no McDonald’s a Laura fez questão que todos nós acompanhássemos ela no almoço. O Miguel carregava todas as sacolas de brinquedos dela que não eram poucas, ela segurou em uma das minhas mãos e com a outra mãe segurou a do pai dela, que me olhou tímido e depois sorriu, retribui o sorriso e a Laura parecia radiante e então nos dois ficamos também. Passamos o dia inteiro passeando pelo Shopping comemos todos os tipos de besteira e quando estava escurecendo fomos embora. A Laura dormiu o caminho inteiro e o Miguel me levou direto pra pensão, parou o carro de devagar de frente da mesma. Me inclinei pra trás e dei um beijinho na testa da Laura.
— Boa noite – falei quando voltei ao meu lugar.
— Boa noite Anna – O Miguel disse e sorriu, abri a porta e sai do carro e assim que fechei a mesma, escutei ele abrindo a dele e saindo de dentro do carro – espera Anna – eu o olhei – queria falar com você antes de você entrar – se aproximou parando em minha frente – eu queria agradecer por hoje mais cedo.
— Agradecer? – perguntei surpresa – Eu que agradeço por você ter contado a sua vida pra mim. Eu nem sei como seria se você não tivesse aparecido na minha vida.
— Idem – riu – você apareceu na hora certa. – sorri – não chora mais por ele, tá? Você tem lindo olhos verdes e elas não ficam bonitos quando chora.
— Miguel eu...
— Eu entendo – me interrompeu – eu entendo. – falou compreensivo.
— Tenho medo que se prejudique por mim.
— Preciso de uma opinião – me ignorou – eu queria ter pedido mas cedo, mas – olhou pro carro – aquela garotinha fala pelos cotovelos – rimos. – e então, me ajuda?
— Pode falar. Você já me ajudou tanto que se pedir pra mim ir até a Bahia andando eu vou. – ele riu
— Boba, não é nada disso – coçou a nuca – é que já faz algum tempo que eu estou querendo chamar uma moça pra jantar comigo e sei lá, tenho medo dela recusar.
— No caso a moça seria um tonta, né?
— Não. Ela é bem especial... – falou sério.
— Então convida ué, você é um cara legal, responsável tenho certeza que qualquer mulher aceitaria sair com você.
— É que ela é um pouco complicada. – fez uma careta
— Mesmo as complicadas, não custa nada tentar.
— E o lugar? Aonde você acha que seria um lugar ideal pra chama-la pra ir? – perguntou calmo. Eu achei engraçado ele me pedindo opiniões sobre um quase encontro com alguma mulher.
— Depende do jeito da moça... – sugeri.
— Ela é bonita, delicada, carinhosa, elegante engraçada. – sorriu bobo como se lembrasse de alguém.
— Então tem que ser um restaurante de comida italiana, é romântico. Tens uns bem bons aqui na cidade.
— Entendi – sorriu e se aproximou – então no sábado, as oito? – falou com um sorriso brincando nos lábios.
— Que? – perguntei confusa.
— Passo aqui no sábado as oito, tá bom pra você?
— Esperai... – falei confusa – Então a moça...
— É você Anna! – falou calmo – Pensei que tivesse percebido isso quando disse que ela era especial... – fiquei alguns segundos olhando pra ele..
— Miguel você é maravilhoso, como amigo, como pai. Só que vai parecer esquisito, mas eu sou casada.
— Eu sei, e não me importo – balançou a cabeça – quer dizer, eu me importo. Mas eu quero só sair com você, só um jantar, sem compromisso. Como amigos – sorriu – são não diz que não aceita porque eu vou morrer de vergonha. Não sabe o quão difícil é pra mim chamar você pra sair assim.. – eu ri do nervosismo dele, achava lindo as crises de timidez que ele tinha. – e então? Vai me dizer sim ou vai me fazer sair daqui totalmente constrangido?
— Vai deixar a Laura com quem?
— Eu vou dar um jeito – sorriu – então isso foi um sim?
— Foi um com certeza – sorri e me aproximei dando-lhe um beijo no rosto – Boa noite Miguel.
— Boa noite linda . – sorriu e eu me virei e entrei na pensão.
E não, eu não gritei de euforia, mas soltei um suspiro longo. Ele era lindo e isso nenhuma mulher no mundo em sã consciência negaria.
Todos estavam na sala e conversavam, o Binho fazia a unha do pé da Julia que fazia a unha da mão da Babi, ambos rindo. Cumprimentei todos e subi pro quarto.
Entrei no meu quarto e fui direto pra banho, sai enrolada na toalha e fui até o pequeno closet que tinha ali, entrei no mesmo pra procurar o que vestir e puxei uma regata branca e puxei um short, só que com o short veio algo que caiu diretamente no chão, olhei por chão imediatamente e era um papel, me agachei pra pegar o mesmo e quando o virei tive uma surpresa, eu havia esquecido daquela foto, nem sei como havia ido parar ali, só sei que a foto era linda, ele é lindo! Tirei essa foto quando viajamos pra Minas, pra passar um final de semana inteiro juntos, ele havia trabalho a beça e estava super cansado. E eu com uma maquina nas mãos não resisti ao vê-lo tão lindo ali e não registrar. Mordi os lábios, me bateu um saudade, os olhos arderam, coração ficou do tamanho de uma azeitona. Dei um beijo na foto e a coloquei dentro de uma caixinha de brincos. A decisão já havia sido tomada, não dava mais pra ficar chorando pelos cantos.
Fui despertada dos meus pensamentos com a Babi me chamando.
— Anna vem você janta com a gente? – falou da porta.
— Não, mas já eu desço.
— Tá bom, não demora. – fechou a porta e saiu do quarto.
Fim de Narração.
Autor(a): Writer Sophi
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Tatiana Petrovick Narrando: Já fazem quase um mês que estou aqui em Natal, a cidade é agradável, o tempo é agradável tudo é lindo. Tirando algumas pessoas que trabalham na sala ao lado da minha tudo é lindo. E me arrependo por ter visto a cidade como uma volta ao passado, afinal o que o quem ficaria relembrando o passa ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 5
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annakarolliny Postado em 22/04/2016 - 13:26:22
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annakarolliny Postado em 22/04/2016 - 13:26:03
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annakarolliny Postado em 22/04/2016 - 13:24:40
Porque não postou mais ? É ótima ! Comecei minha leitura no orkut , só que você não postou mais lá e disse que iria postar aqui .. Desde então estou aguardando e até agora nada :(((
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laisse_florencia_da_cruz Postado em 21/10/2014 - 14:22:17
Web ótima...Mas pq não posta mais?? Abandonou???:/
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samanta_shulz Postado em 09/09/2014 - 20:44:28
uuuuuuuup