Fanfic: Just a Kiss .. ♪ | Tema: Just a Kiss .. ♪
Miguel Fontes Narrando.
— Um bolo? – perguntei divertido ao telefone com a Laura. Minha mesa estava ceia de trabalho. Mas não me importava, ela teve um jogo importante hoje e por uma reunião eu não pude estar lá, então eu faria o que ela quisesse pra poder recompensar essa ausência. Nem que eu passasse o dia inteiro escutando a voz dela pra saber que não ficou chateada.
— Um bolo papai. A mamãe Anna disse que vamos colocar calda de chocolate.
— Calda de chocolate? Que gostoso – falei animado e ela riu – e como foi o jogo princesa?
— Eu não fiz nenhum gol – falou numa voz triste. – eu queria que você estivesse lá, mas não estava.
— Prometo estar em todos os outros, tá? Mas fala pra mim, deu muitos passes ao gol?– ela fez um “uhum” desanimado – o papai tá muito orgulhoso de você princesa! Mas você se comportou? Não deu trabalho pra Anna?
— Não, ela não me deu nenhum trabalho – A Anna disse e eu sorri ao ouvir a voz dela. Eu sabia que ela estava por perto, mas não que estava ouvindo a conversa.
— Ei mocinhas, está no viva voz? – elas fizeram um “uhum” juntas. - sabia que vocês deveriam estar se concentrando no bolo?
— Ainda está assando papai. Ele tem nozes, pedaços de chocolates e vamos colocar jujuba em cima.
— Jujubas? – ela riu – Adoro jujubas!
— Igual você me adora? – perguntou com dengo.
— não, é claro que eu adoro mais você – ela soltou um riso – quer que o papai leve algo pra gente comer com o bolo?
— Sorvete – imaginei a cara de animação dela. mas a Anna falou algo que eu não entendi – Não traz sorvete papai. A mamãe falou que tem de baunilha aqui. A gente só quer que você venha logo pra casa.
— E eu vou amor. Mas só a noite, e ai a gente pode comer o bolo juntos.
— A mamãe Anna também? – perguntou esperançosa. Achava linda a relação delas, mas no fundo me angustiava. A Laura está muito apegada a Anna, na verdade nos dois estamos. E sempre que algo bom acontece.. é, to com medo, medo de vê-la deixar a gente.
— E.. claro filha. A Anna também.
— Ebaa..aaa.. mamãe o bolo tá queimando – escutei ela descer correndo do banco. No mínimo deveria estar sentada de joelhos nele pra ficar da altura do balcão.
— Laura mais cuidado, assim você cai – a repreendeu naquele tom leve dela. Como uma mãe faria.
— Desculpa – falou tristinha.
— Só não quero que se machuque, tá? – a Laura não falou nada, mas não precisou pra que eu soubesse que ela assentiu com um biquinho. – deixa eu ver esse bolo – escutei passos e a porta do forno do fogão se abrindo. E um “uau” da Laura.
— Ei, esqueceram de mim?
— O Bolo ficou lindo papai. Muito lindo – escutei o barulho do banquinho se mexendo novamente.
— Cuidado pra não cair filha. – a repreendi imaginando a perturbante cena.
— Vamos fazer cobertura de chocolate papai. – ignorou a minha bronca. Se é que consigo dar broncas nela.
— Então acho melhor eu deixar vocês em paz, né?
— Você vem mais cedo? – Minha filha perguntou com dengo.
— Assim que der eu vou voando..
— igual o Super-Homem? – perguntou animada.
— Sim, sim, igual ele. Mas o papai é mais bonito, né? – perguntei me gabando.
— É papai. Um montão assim ... – escutei o estrondo dela caindo do banco. E logo depois um choro fraco. Meu coração veio na garganta.
— Laura? – chamei preocupado. – Laura?
— Eu avisei você Laura – A Anna a repreendeu – vem cá amor, deixa eu ver se machucou – ouvi os passos dela até a minha filha – não, não machucou. Tá doendo? – não deu pra ouvir a resposta dela – Não, não chora.. Já passou, já passou – escutei o barulho de um beijo estalado – não sobe mais nele, tá?
— Machucou? – eu por fim perguntei
— Não. – A Anna respondeu – Foi só o susto. – suspirei.
— Graças a Deus! Acho que atrapalhei o bolo de vocês, né? – ela riu – eu ligo mais tarde então.
— Tá bom.
— Filha? – chamei e ela respondeu um “hum” dengoso – te amo, tá?
— Também amo você papai. Beijo. – falou desanimada. Meu bichinho...
— Não sobe mais no banco, tá? Não quero que caia. Outro beijo, te amo de novo e tchau – ri.
— Tchau papai.
— Um beijo pra você também Anna – pude ouvir a risadinha dela – vejo vocês a noite então?
— Sim.. – responderam juntas.
— Então beijos.. fui – desliguei.
Sorri ao imaginar a bagunça que elas devem estar fazendo. A algumas semanas atrás a gente acabou inventando de fazer uma pizza. O que não deu muito certo, a Anna ficou com o cabelo cheio de massa e a Laura tinha molho por toda a parte do corpo, sem contar no cheiro de salame e na bagunça que ficou o chão. E nunca, em toda a minha vida, eu havia visto a minha filha tão feliz.. É – sorri – Ela estava fazendo isso com a gente. Voltei ao meu trabalho chato e entediante, mas fui interrompido por gritos.
— Senhor, você não pode entrar ai. – minha secretaria gritava com alguém – se o senhor não se retirar vou ser obrigada a chamar a segurança. – escutei passos – SENHOR EU VOU CHAMAR A SEGURANÇA.
— Você sabe quem sou eu? – uma voz masculina respondeu
— Não senhor.
— Então chama a segurança. Chama a segurança e pergunta como foi que entrei aqui, incompetente – falou enojado de forma a me fazer reconhecer a voz.. Filho da puta. Me levantei sabendo que ele teria a ousadia de entrar na minha sala.
— Faz o que aqui? – perguntei quando o Guilherme pós o pé sala a dentro.
— Acho que sabe o que vim fazer aqui. – falou sério.
— Já não era sem tempo. – ironizei.
— Eu não diria isso se fosse você. – falou presunçoso fechando a porta atrás de si.
— Quer se sentar?
— Não. Estou bem em pé.
— Como quiser – dei de ombros, mas não me sentei. Se ele queria conversar em pé, conversaríamos em pé. – e então, qual foi o motivo pra te fazer vir aqui e entrar dessa maneira na minha empresa. – ela deu dois passos pra frente soltando um riso irônico.
— Eu vou ser bem claro com você – parou em frente a minha mesa – Fica.longe.dela.
— Quem você acha que é pra entrar aqui dessa maneira e achar que deve dizer o que devo e o que não devo fazer?
— Marido dela! E essa palhaçada já foi longe demais.
— Você realmente acha que tem algum direito sobre ela, não acha?
— Isso não te diz respeito.
— E como você tem tanta certeza disso? – perguntei irônico.
— Da mesma maneira que eu tenho certeza que eu vou sair daqui satisfeito.
— Dá pra dizer o que foi que veio fazer aqui?
— Já chega dessa palhaçada Miguel. Chega de Anna querendo bancar a trabalhadora, chega de amizade, chega disso. Você tem 24 horas pra demitir a minha ESPOSA – Deu ênfase no esposa.
— E por que eu faria isso? – soltei um riso- é muito imbecil da sua parte achar que pode entrar aqui, insultar os meus funcionários e me pedir coisas. Coisas as quais estão relacionadas a uma mulher que não lhe pertence mais.
— É mesmo? E como é que você tem tanta certeza disso? – perguntou irônico - pelo que eu saiba ela ainda carrega o meu nome, então me pertence.
— Pertence? – falei horrorizado – a Anna não é um abjeto pra te pertencer. Ela é uma mulher, linda. Será que você tem noção do que está perdendo?
— EU NÃO A PERDI –Gritou – NUNCA VOU PERDE-LA.
— E como é que tem tanta certeza disso? Você na frente das câmeras, da cidade e de todos os babacas que te seguem é um homem de negócios, importante e corajoso. Mas por dentro, não passa de um garoto mimado e covarde que não consegue nem dar uma vida feliz a esposa. – falei rápido e ele se aproximou. E eu não pensaria duas vezes pra socar a cara dele e me vingar de tudo de ruim que ele já fez a ela.
— Feliz? – zombou – o que é que você sabe sobre ser feliz? Acha o que? Que vai ficar com a Anna e fazê-la mãe da tua filha? que ofereceu esse emprego a ela pra tentar conquista-la. Acha que em algum momento ela vai me tirar da vida dela pra colocar você?
— Não, as minhas intenções com a Anna são profissionais e fique você sabendo que é porque ela quer. Por que no momento em que você assinar o divorcio, eu não vou pensar duas vezes antes de fazê-la mãe da minha filha. Porque ao contrario de você, eu sei fazer alguém feliz.
— Você não conhece a Anna, não sabe do que ela gosta. Não tem capacidade para tê-la.
— Eu conheço uma mulher. E ao contrario de você, jamais permitiria que ela saísse da minha vida como você permitiu que ela saísse da sua. E depois ainda bloqueou ela em todos os lugares, a proibiu de arrumar emprego.
— E você me desobedeceu dando a ela um emprego. – falou irritado.
— Você não manda em mim Guilherme, e nem tenho medo das suas ameaças. Quando recebi o telefonema dizendo que estava proibido de dar a ela um emprego ou qualquer coisa do tipo. Ela já era muito mais do que babá da minha filha.
— Então acho que as coisas vão ter que ser da maneira mais difícil – sorriu e apesar de tudo o que eu disse, ele parecia alheio a qualquer palavra. – Miguel Fontes – deu um passo parando a frente da minha mesa – pra não dizer que eu sou um alguém tão ruim, você tem uma semana pra dizer a minha esposa que ela não deve mais olhar a sua filha ou se não..
— Se não o que? – o interrompi.
— Em 24 horas tudo isso vai quebrar. Suas ações vão cair tanto ao ponto de você ter que vende-las a preço de banana. A ligação entre as duas empresas vai acabar, vai ser só você contra mim. – falou sério.
— Se você fizer isso, você quebra não só a minha empresa, como a sua também. Um homem de verdade não desce tão baixo a ponto de fazer uma chantagem ridícula dessas.
— Um homem de verdade não usa a filha pra conquistar uma mulher – gritou em alto e bom som e eu sai de trás da minha mesa.
— Lava a sua boca antes de falar da minha filha.
— Eu não vim aqui falar da tua filha, e você sabe muito bem disso. Até porque você usa a garota pra ficar perto da Anna.
— Você acha que eu seria tão baixo a ponto de usar a minha filha pra conseguir mulher? – soltei um riso e me aproximei dele – não sou eu quem está fazendo um chantagem ridícula pra poder recuperar a esposa. O covarde aqui, não sou eu.
— Tem certeza que não? – perguntou irônico – Quando o circo fechar, não vai restar um só palhaço pra comprar os teus carros – deu um passo a frente ficando de frente pra mim – o seu prazo final é de uma semana, você tem uma semana pra demitir a Anna.
— Acha mesmo que vou fazer isso? Acha que vou cair nas tuas armadilhas de moleque? Abaixar a cabeça pra você? Dinheiro não faz um homem Guilherme, dinheiro não traz felicidade. E poder vai embora com o tempo. E a única coisa eterna que você tinha, perdeu. E mesmo que você entre aqui, insulte os meus funcionários, e me faça essas ameaças – sorri – eu não vou desistir dela. Se eu a queria antes... – fechei a cara – agora eu quero muito, muito mais.
— Seu filho duma...
Quase cai pra trás com o soco que ele me acertou em cheio do lado esquerdo do rosto, passei a mão na boca quando senti o gosto de sangue. E eu não deveria entrar no joguinho dele, mas quando vi o sangue, não pensei duas vezes antes de revidar o soco no mesmo lado, fazendo o mesmo dar passos para traz e voltar em seguida me empurrando. E quando dei por mim, dois seguranças me seguravam enquanto a minha secretária olhava assustada da porta praquela cena ridícula, muito ridícula.
— Me solta porra. – esbravejou tentando se soltar dos seguranças. – já mandei me soltar. – tentou se soltar. O mesmo passou a língua nos lábios que sangravam – Seu desgraçado, isso não vai ficar assim.
— Pode soltar – falei irritado – E em seguida acompanha esse senhor até a saída.
— Isso – gritou – E sejam bem educados, porque quando isso aqui cair, quem sabe eu possa ajudar algum de vocês a ser segurança de shopping – falou rude puxando os braços com força – isso não vai ficar assim Fontes. – falou sério.
— Não tenho medo de você!
— Pois devia. – ele deu um passo a frente e os seguranças o seguiram – sai de perto de mim porra – falou irritado – você ainda tem uma semana, ao contrario – olhou pros lados – esse monte de incompetente aqui, vai ficar tudo sem emprego. – deu outro passo – e acredite, vai ser um prazer pra mim ver você cair aos poucos. O preço não é alto, é só você fazer o que estou mandando.
— Não sigo ordens suas. – falei sério – não tenho medo de você, e nem dos seus joguinhos de moleque.
— Presta atenção com o que fala. A minha paciência tem limite.
— Tirem esse homem da minha sala – falei aos meus seguranças e os mesmo se aproximarem.
— Se encostarem a mão em mim, nunca mais vão conseguir arranjar emprego nessa cidade. – eles não recuaram – E eu vou dizer pela ultima vez, Fica. Longe. Dela. você não tem noção de onde está se metendo.
— Então acho que vou pagar pra ver. – o desafiei
— Tudo bem, só não diz que não avisei – se virou pra ir embora e os seguranças o seguiram – eu sei o caminho – falou irritado, quase rançando a minha porta ao sair.
Olhei pra Eliza e a mesma estava pasma, talvez por encontrar dois homens adultos rolando no chão feitos dois idiotas.
— Desculpa – sussurrei.
— O Senhor tá todo machucado – ela se aproximou – eu vou pegar um kit de primeiros socorros.
— Não precisa Eliza, eu vou pra casa. – ela assentiu – cancela as reuniões de hoje. E marca uma hora amanhã comigo com o diretor de segurança. O quero no olho da rua pra ontem. As pessoas não podem entrar e sair aqui a hora que bem entenderem.
— Senhor mas ele é seu sócio. Ninguém o barraria, nem se quisessem.
— Mas só eu que pago o salário de vocês. E não tem o que discutir. Só faça o que mandei e me dê licença por favor – ela assentiu e saiu apressada.
Passei a mão no rosto e a mesma saiu com um pouco de sangue. Fui até o banheiro e parei de frente a pia analisando o meu rosto. Eu tinha um corte no lábio inferior e outro um pouquinho acima da boca. A minha sobrancelha estava com um corte um pouco maior do que os outros e sangrava um pouco. Filho da puta... como fui tão baixo a ponto de deixar me levar no joguinho imbecil dele? Lavei o rosto e fui pra casa, precisa ir pra casa.
[...]
Quando entrei em casa escutei gargalhadas contagiantes, eu conhecia aquela gargalhada.
— Eu sou um gatinho? – escutei a voz dela que vinha da cozinha.
— É, você é um gatinha! – A Anna disse e ela soltou outra gargalhada
— Você não parece um gatinho. – A Laura falou e riu.
— Não pareço? – aumentou a voz – e pareço o que?
— Um leão.
— Um leão? Não seria uma leoa? – a Laura não respondeu – então acho que essa leoa vai pegar você, vai pegar você e vai te morder muito. Rawn, vai morder as pernas da Laura – riu – e vai morder os bracinho da Laura – escutei passos – não corre, porque eu vou te pegaaaaar.
— Socorro, socorro – saiu gritando dando risada e pude ver quando ela atravessou a porta da cozinha entrando na sala e não parou quando me viu na mesma – Papai – gritou animada e continuou correndo, só que agora na minha direção. A mesma tinha o rosto pitando, feito um gatinho, sorri e a peguei no colo.
— Oi minha garotinha – a segurei nos braços e beijei seu cabelo.
— Olha papai, eu sou um gatinho – se afastou de mim pra que eu pudesse vê-la e ela abaixou o sorriso e fez uma carinha triste.. Ah filha.. – você tá machucado papai?
— O Papai caiu – ela levantou uma mãozinha pra passar no meu rosto – ai – resmunguei quando ela tocou perto de um dos machucados.
— Tá doendo papai? – perguntou assustada e fez força pra descer do meu colo – você tá sangrando – falou assustada.
— Cadê a gatinha mais linda da... Miguel? – A Anna chegou na sala e parou ao me ver, não sei se de surpresa ou pelo meu estado – o que aconteceu? – perguntou preocupada se aproximando. Apontei com os olhos pra Laura que estava vidrada nos meus cortes. – Ér.. gatinha.. – chamou.
— Oi mamãe – se virou pra ela.
— Você não quer ir na cozinha e comer outro pedaço de bolo enquanto a Anna fala com o seu papai? – ela assentiu e foi em direção a Anna – nós já vamos lá, tá? – assentiu novamente e foi até a cozinha olhando pra trás. Ela ainda estava fissurada nos meus machucados, eu nunca me machucava e nem entrava em brigas. Então pra ela era mais do que uma novidade. – o que aconteceu com você? Porque chegou tão cedo?
— Tem alguém na cozinha? Ela não vai se machucar? – desconversei e ela revirou os olhos.
— A Cida está lá! – me tranquilizou – o que aconteceu com você – insistiu.
— Será que a gente pode conversar no meu escritório? – ela assentiu.
— Vai na frente, vou pegar um kit de primeiros socorros – assenti e ela saiu apressada em direção a cozinha e eu fui para o meu escritório.
[...]
— Ai – reclamei quando ela passou o algodão na minha boca – isso arde.
— Eu não acredito que você foi assaltado. – falou séria analisando meu rosto. Eu estava sentando na mesa do meu escritório e ela se mantinha parada em minha frente, já havia feito um curativo na sobrancelha e agora se concentrava em meus lábios.
— Mas foi isso que aconteceu. Aiiiii – ela passou o algodão novamente.
— É mentira. Você não tem cara de quem reage a um assalto Miguel.
— Quem sabe hoje eu estava afim de brigar um pouco.. Aii Anna – resmunguei – tá doendo.
— Quem fez isso com você? – ignorou o meu resmungo e se afastou pra me olhar – e para de dizer que foi assalto Miguel.
— Não aconteceu nada, foi só um acidente.
— Acidente? – assenti – meu Deus – droga – Foi o Guilherme! – afirmou.
— Anna não foi..
— Ele foi até você.. – colocou as mãos na boca – me desculpa.
— Quê? Anna não, a culpa não é sua.
— Por que, o que ele queria? Que monstro..
— Não é nada demais.
— Me diz o que foi.
— Promete pra mim que não vai se culpar? – ela assentiu – promete mesmo?- assentiu de novo – ele foi me pedir pra demitir você.
— Ele fez isso?
— Aham.. mas fica tranquila, eu não vou fazer isso. Eu disse isso a ele.
— E ele aceitou assim, numa boa? – me calei – Miguel, não faz igual ele, não mente pra mim.
— Ele quer você de volta, e se eu não demitir você dentro de uma semana. Ele quebra a sociedade comigo.
— E qual é o tamanho da sociedade? – perguntou assustada.
— Tem tamanho suficiente pra dar uma boa abalada na minha empresa. Na verdade vai ser mais do que uma abalada. Prejuízo sem final, para ambos.
— Me desculpa Miguel, eu juro que não imaginei que ele fosse fazer isso. Por favor me desculpa. Eu vou arrumar as minhas coisas, e vou falar com ele, prometo que nada disso vai acontecer e.. – ela abaixou o rosto e jogou o algodão longe colocando as mãos no rosto. Estava chorando eu vi pela forma como seus ombros se mexiam – me desculpa – sussurrou.
— Ei – pensei duas vezes antes de fazer isso, mas a puxei pra mim – Você não tem culpa – me levantei e a mesma colocou o rosto em meu pescoço – eu não quero que você vá embora.
— Eu não quero ir, mas diante disso... Eu sou a culpada.
— É claro que não Anna, você não tem culpa de nada disso. A culpa é dele. É dele por ser tão infantil.
Talvez se eu falasse com ele. – sugeriu levantando a cabeça do meu pescoço – talvez eu devesse ir embora.
— É isso que você quer?
— Eu não quero deixar a Laura. – soluçou – eu perdi quase tudo na minha vida Miguel. A Laura é a única parte boa do meu dia, da minha semana, do meu mês. Ela se tornou o centro de toda a minha alegria.
— E você é o centro da nossa, Anna. Se você deixar a gente, tudo vai ficar mais difícil.
— Eu liguei pra minha mãe hoje – mudou de assunto do nada – eu não falava com ela desde de que sai da casa dos Lizarga – deu de ombros. Como se o nome não fosse algo que também lhe pertencesse. – ela ainda não sabe de nada. – falou envergonhada.
— Você não contou? – negou – Ah Anna..
— Ela me avisou tanto, mil e uma vezes. Eu sabia que éramos de mundos diferentes, mas eu o amava e isso pra mim bastava – ela secou as lagrimas com as costas da mão e soluçou – contar pra ela significa que eu falhei. Que o meu amor falhou, que eu errei.
— Você fez por amor. – tentei argumentar.
— Eu deveria ter escutado ela. Ele nunca ia entender, não daria certo. Fomos criados de maneiras diferentes, com vidas diferentes. Perdemos tudo antes mesmo de ter. Eu deveria ter ido embora com ela.. E agora tudo isso.. a culpa é toda minha, Miguel. Toda minha! – ela voltou a colocar as mãos no rosto.
— Ei, não é sua culpa – falei puxando as mãos dela do rosto. Os olhos estavam mais verdes do que nunca, avermelhados ao redor porém lindo. Hipnotizante – vem cá, quero te contar uma história. – ela negou – vem Anna, vai te fazer bem – bati ao lado da mesma pra que ela se sentasse e meio relutando ela veio, e pra minha surpresa encostou a cabeça no meu ombro- lembra que te disse que meu pai era rico? – ela assentiu – e que ele largou tuuuuuuudo isso pra ficar com a minha mãe?
— Lembro.
— O dinheiro é bom Anna, o dinheiro é ótimo. Mas o dinheiro não serve se você não tem um alguém a quem fazer feliz. O meu pai era filho único, herdeiro de tudo o que hoje eu tenho, e ele largou tudo pra viver uma paixão adolescente com a garçonete da lanchonete que fica a um quilometro da casa dele. Ele nunca teve vergonha de dizer que a achou linda no primeiro dia em que a viu, mesmo com sapatos velhos, unhas sujas e cabelo desgrenhado. Ele largou uma fortuna pra viver um amor sem certeza nenhuma. Ele assumiu uma família. Era estudado, mas acabou trabalhando duro pra dar o que comer a gente e nunca desanimou. Nunca se culpou por nada, levantava a cabeça, secava as lagrimas e seguia em frente.
— Porque tá me falando isso?
— Pra você entender que todos erram, alguns por amor, outros por teimosia e alguns porque é inevitável. Todo mundo um dia erra, e o seu erro foi um erro lindo.
— Eu quero voltar a dar encaminhamento no processo do divorcio, Miguel. – falou do nada e voltou a chorar de novo – ele era o meu mundo, e se eu deixei de ser o mundo dele eu deveria deixá-lo ir. E foi o que eu fiz, mas admitir isso pra mim dói. Ele foi a minha vida durante anos, e agora é torturador dar adeus a tudo o que passamos juntos.
— Você quer dar adeus a isso?
— Eu quero parar de chorar. Quero sair de baixo dos braços dele e viver. Eu me sinto sufocada, sem caminho. Tenho impressão que ele está sempre lá, pra me julgar e dizer o que devo e não devo fazer. Tenho medo dele. e é errado sentir medo de alguém que a gente ama? – virei o rosto pra vê-la. Ama? Então ainda o ama..
— Não é errado. Mas não é normal. Amor só se deve ser sentido por alguém que te conforta, que te quer bem – ela levantou a cabeça e eu me virei pra ela – eu te quero bem Anna, te quero bem perto – me aproximei – você deveria saber o quão linda é – soltei um riso – mesmo quando está com os olhos e o nariz vermelho. Deveria andar de mascara, porque você além de linda é uma das pessoas mais belas por dentro que conheço.. – ela sorriu e fungou, sorri também colocando uma mecha de seu lindo cabelo ondulado atrás da orelha – ás vezes acho que estou te am..
— PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAI – Gritou assustando a gente. soltei um suspiro quando a minha princesa atravessou a porta pulando. E ao invés de vir correndo pra mim, ela correu pra ela. – Você tá chorando? – ela passou as mãozinhas no rosto da Anna – você disse que chorar é feio. – ela falou emburrada.
— E é, muito, muito feio. – fungou – mas ás vezes, a gente chora porque tá triste.
— E você tá triste por causa do dodói do papai?
— É.. – desconversou e passou as mãos nos olhos – comeu o bolo? – mudou de assunto.
— Eu queria comer com vocês. – ela se virou pra mim – papai o bolo tá tão gostosinho..
— Sério? – perguntei animado e ela assentiu – então quero um pedaço desse tão famoso bolo – levantei e a Laura me deu a mão e caminhamos juntos a porta.
— Você não vem mamãe? – perguntou se virando pra Anna, que sorriu e apertou os olhos.
— Vou sim amor – passou a mão nos olhos e se levantou. A Laura estendeu a mão e ela segurou a mesma. E era estranho, mas parecíamos uma família... uma família meia torta, mas ainda sim uma família.
Fim de narração.
Anna Lizarga Narrando:
Eu corria em um labirinto de paredes pretas. Já estava cansada de corres, não tinha saída, não tinha como sair, corri para a direita e achei uma porta com o fundo preto a Isabel estava nela e me chamava alegre, mas quando me aproximei na esperança de encontrar uma saída, a Veronica apareceu por trás dela e com uma cara ruim gritou “ Você não pertence ao meu mundo. Vá embora e não volte nunca mais” Corri novamente com medo, o caminho parecia estreito mas uma voz me fez parar “Anna amor, aqui.. vem cá, eu vou cuidar de você.” Guilherme? Toda a tenção se esvaiu do meu corpo.. Meu amor! Corri em sua direção, ele tinha os braços abertos e tudo em mim se encaminhava para ele mas quando cheguei perto mãos com unhas vermelhas o abraçaram, e com um sorriso debochado me disse “Ele é meu. Eu sempre te avisei.” E eu fugi novamente, havia o perdido, eu sentia. Não aguentava mais correr, sentia minhas pernas fracas e estava prestes a cair quando algo me segurou com força pelo braço “Você é minha, não importa o quanto fuja, você me pertence Anna.. Me pertence” Marcos? Não.. gritei e o empurrei com força, força a qual eu já não tinha.. Eu precisava sair dali, vozes me chamavam, me gritavam e eu queria sumir, queria fugir, queria... “ Anna querida, aqui – a olhei – vem com a mamãe, eu vou proteger você” Mãe? E ao contrario de todas as portas escuras a dela era clara, tinha uma luz bonita e logo atrás tinha um homem que sorria para mim com a mão esticada, e eu o conhecia, meu Deus eu o conhecia.. em um dos braços ele tinha um bebê enrolado em uma manta azul “chega de sofrer filha.. vamos cuidar de você.” Disse o meu pai que segurava o meu filho. Estiquei a mão sem forças para eles e as vozes se tornaram mais fortes, pareciam crescer a cada segundo. Eu sentia elas se aproximando e berravam, berravam meu nome e me chamavam com as mãos. E quanto mais eu corria pros meus pais mais a vozes me puxavam.. Não tinha saída, não tinha fim... E quando estive perto, muito perto deles uma buzina alta junto de uma pancada me fez despertar...
— Nãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaao – gritei e levei as mãos a cabeça, não controlando as lagrimas..
[...]
Estávamos tomando café. Todos na mesa me olhavam com uma cara de pena. A pobre coitada que acordou a casa inteira ás 7 da manhã e ainda teve uma crise de choro dizendo coisas banais. Me sentia uma estranha perto deles, tava morrendo de vergonha e mal havia tocado na comida. E a verdade de tudo era que eu estava longe demais do meu mundo, ou o centro dele, não sei. A única coisa que sei é que aquele maldito telefonema havia roubado a minha paz, quem deu meu numero a ele? Na verdade eu até imaginava quem.Mas não entendia o porque dele me ligar, dizer aquelas coisas. Por um momento eu pensei ter reencontrado o meu menino, mas era só um homem esnobe com medo de perder o brinquedo de uma vida, era só isso Anna.. só isso!
— Tá melhor querida? – A Vó Iná perguntou se sentando ao meu lado quando todos haviam saído da mesa e eu assenti. – eu sei que você tá mexida, mas é só uma fase ruim. Tudo vai voltar a ser como era antes...
— Como tem tanta certeza disso?
— Eu sinto que vai querida. Mas você não deveria ter escondido isso da sua mãe, ela se preocupa com você.
— Eu.. como você sabe?- perguntei confusa. E ela pareceu mais confusa ainda – eu tenho medo dela jogar na minha cara. Porque sempre me avisou que ia dar nisso, eu sabia desde o começo que acabaria assim. – falei desanimada. Não tinha mais lagrimas pra chorar.
— Acho que você deveria ligar pra ela – ela segurou uma das minhas mãos – você já perdeu o filho, o marido e no momento ela é a única que te resta. Ela sente sua falta querida.
— Eu não queria encher ela com os meus problemas. Ela já perdeu tanto tempo quando eu sofri o acidente.
— Ela é mãe, e toda mãe ama cuidar da filha. pra ela não vai ser incomodo resolver os teus problemas meu amor. Nunca vai ser. – ela estendeu o telefone pra mim, nem sabia que ela estava com ele nas mãos – liga pra ela. Conta tudo – sorriu – e depois você vai me prometer que via comer tudo e voltar a ser aquela linda jovem que sorri com tudo? – assenti e respirei fundo – vou te deixar sozinha, qualquer coisa me chama. Sempre vou estar aqui. – assenti e peguei o telefone. Ela se levantou e plantou um beijo na minha testa – alegria pequena, alegria... – murmurou e saiu sorrindo, irradiando toda aquela luz e alegria que ela transmitia.
E eu devia? Ela surtaria e me mandaria voltar pra casa. E eu, teria coragem de voltar? Ele agia como um insensível, mas eu o amo. O amo tanto que chegar doer imaginar que agora somos cada um por si... Mas eu precisava da minha mãe, precisava contar e pelo menos ouvir a voz dela, era meu único porto seguro depois da Laura. E eu sentia falta do cheiro dela, a queria por perto.
— Mãe? – ela atendeu na quinta chamada.
— Filha? – perguntou confusa – Anna querida é você?
— Mãe – solucei e as lagrimas que já não existiam reapareceram.
— Como você tá minha flor? Porque não me ligou, já faz quase 5 meses Anna.. Eu liguei pra mansão e nada de você, ninguém me dava noticias. O que aconteceu Filha, porque me deixou sem contato? – ela falava tudo em uma voz embargada, mas mesmo assim me bronqueando.
— Me desculpa mãe.. eu.. – e o que eu falaria? Me desculpa mãe, eu não te liguei porque a alguns meses eu arrumei um emprego porque já estava cansada da arrogância da minha sogra e da submissão do meu marido que passou a ser um cara mandão e egoísta que me traiu com a Cristine.. lembra dela mãe? Aquela que o namorou e tentou separar a gente a vida inteira? E há, sai da mansão. Deixei tudo lá, inclusive meu coração. Vim morar numa pensão no subúrbio da cidade, fiquei dois meses desempregada implorando qualquer tipo de emprego. Arrumei um emprego de babá e beijei o meu chefe, ela é lindo. Mas tem uma história mais confusa que a minha. Meu marido me persegue, me bloqueia em tudo e me fez ir na delegacia pra depor porque atropelaram o detetive que ele colocou pra seguir meus passos. E há mãe, ontem ele me ligou. Me pediu pra voltar e disse que me amava. Mas não pediu desculpas, em nenhum momento eu o vi arrependido por ter me feito sofrer. Por isso eu estou te ligando agora, pra você brigar comigo e dizer que me avisou. Mas o motivo mesmo é que queria ouvir a sua voz, e pelo menos mais uma vez me sentir amada – tive alguns problemas – saiu quase em um soluço.
— E quais problemas eram esses que não pode nem me ligar? Anna eu sou sua mãe, quase surtei aqui sem noticias suas. – em repreendeu – como está o Guilherme, estão se dando bem? – não mãe, não estamos...
— Tivemos alguns contratempos. Mas agora estamos bem!
— E um neto, quando vão me dar? Eu sei doeu querida, mas a vida continua e vocês são tão lindos, o bebê certamente seria um anjo...
— De anjo já basta o Luiz Gustavo mãe.. E acho que filhos não vai ser possível no momento mãe.
— Por que não?
— Voltei a estudar – falei animada pra desconversar. Como se isso fosse uma verdade.
— Enfermagem? Quando querida? O Guilherme permitiu que você estudasse? – sentia falta dessas perguntas seguidas de perguntas dela.
— Ele adorou. Até me incentivou a voltar. – mentira.. mentiras...
— Que felicidade meu amor! Você não imagina o quanto fico feliz com você feliz. Pensar que eu critiquei tanto esse relacionamento de vocês. E se você estivesse triste eu certamente voaria pra cuidar de você. Lembra?
— A minha felicidade é a sua.
— Sinto tanto a sua falta minha flor. O Ricardo tem duas filhas, mas não é a mesma coisa. Eu sinto falta de você! Seu pai ficaria tão orgulhoso de ver a linda mulher que você se tornou – ah não...
— Não chora mãe.
— Eu queria te ver meu bebê. Ainda sonho com você todas as noites.
— Logo eu vou te ver, prometo.
— Tem certeza que você tá bem minha flor? Sua voz tá fraca, não parece você.
— Sou eu mãe, de carne e osso aqui falando com você.
— Cadê o Guilherme, tá por ai? Eu quero saber mesmo se você está bem.
— Ele já foi trabalhar mãe, tem uma reunião cedo e sabe como é, né? – desconversei.
— E a víbora? Como é que ela está te tratando meu amor? Você sabe que no dia em que ela te destratar eu vou ai e acabo com a brincadeira, não sabe? Você não precisa ter medo dela, ela não passa de uma pessoa podre de sentimentos. Enquanto você é essa joia, ela tem inveja de você amor.. Todas tem. Você é um tesouro filha.
— Ah mãe – não consegui mais conter as lagrimas – eu to com tanta saudade.
— Não chora meu amor. Logo você vem me ver, não é?
— É sim..
— Sabe que essa casa e tanto minha quanto sua, não sabe? O seu pai fez ela pra gente. – soltou um riso – seu quarto continua intacto. Ele sempre vai pertencer a você.
— Eu te amo mãe. – disparei – tá sendo tão difícil sem você.
— Eu também Anna, com toda a minha alma e coração. Mas você tem o Guilherme, ele prometeu cuidar de você... – meu Deus...
— Ele cuida! Mas eu sinto a sua falta... eu sinto tanto a sua falta.
— Anna filha, eu sou toda atenção pra você, no dia em que você estiver triste e quiser vir pra mim, eu vou aceitar querida. Não importa os erros que tenha cometido, você sabe que eu sempre vou apoiar você, não sabe?
— Eu sei, sempre soube. – sorri e funguei – só queria ouvir sua voz mãe. Saber que está bem.
— Eu to ótima amor! Ain meu Deus.. meu bolo – gritou e eu dei risada – querida você pode me ligar depois? Meu bolo tá queimando. O preferido do seu marido.
— Bolo de laranja? – ela fez um “uhum” – então vou desligar mãe.. Te amo, tá?
— Eu também. E vê se para um pouco em casa, tá difícil te encontrar.
— Eu vou tentar.. beijo. Fica com Deus.
— Que ele esteja com você flor.. beijo – desliguei.
Desliguei o telefone e quando olhei pra trás e a Vó Iná estava me olhando com a testa franzida. Você mente pra todos Anna, por isso perdeu o Guilherme. Covarde, é isso que você é, covarde.
— Não tive coragem. – sussurrei me aproximando dela.
— Ela vai se decepcionar quando descobrir. Mas está melhor? – assenti. E como, tava nova em folha. – não vai comer nada mesmo? – neguei e ela fez cara feia.
— Tenho que ir, a Laura entra ás 10 no colégio, tem jogo hoje . Tenho que arruma-la.
— Tudo bem querida.. – me deu um beijo na testa – Juízo meu amor.
— Que não apareça ninguém pra me tirar ele... – sorri – vou pegar a minha bolsa. – ela assentiu e eu subi, peguei a minha bolsa e sai. A caminhada era longa até o ponto de ônibus. Pensar que o meu carro era tão bonito. Mas não, essa é a minha nova realidade. Tenho que me acostumar com ela.
[...]
— Não fica com essa carinha triste. – falei pra Laura quando chegamos na mansão. O time dela havia ganho de 4 a 2. Mas ela não fez nenhum gol e veio o caminho todo se lamentando por isso.
— Eu não fiz gol. – falou emburrada abrindo a geladeira.
— Ei mocinha – ela me olhou – mãos primeiro – revirou os olhos e foi emburrada até a pia lavar as mãos – Não ter jeito gol não quer dizer que você não tenha ganho. Você joga em um time, e como time todas venceram. – ela deu de ombros – nem sempre a gente faz o que quer Laura. – ela não respondeu nada. foi até a geladeira e pegou o pote de doce de leite e se sentou na bancada com muita dificuldade e abriu o pote. Levei uma colher até ela, e me sentei na mesa pra olha-la. Fico maravilhada vendo-a comer com tanto gosto. E eu sei que deveria brigar por ela fazer isso antes do almoço, mas eu não resisto em mima-la nem que seja um pouquinho. – você jogou muito bem filha – ela me olhou com a carinha triste.
— Mas eu queria ter feito um gol. Você ia ficar orgulhosa de mim.
— Eu to orgulhosa de você. Jogou muito bem, você não me viu gritando seu nome? – ela negou e sorriu – mas eu gritei, gritei alto.
— Gritou que era minha mamãe?
— Você queria que eu gritasse? – ela assentiu
— Todas as minhas amigas te acham bonita. Elas disseram que você parece uma princesa de contos de fada.
— Princesa é? – ela assentiu – se eu sou princesa você é o que?
— Filha da princesa. O papai é seu marido príncipe – falou animada – você vai casar com o papai, né mãe?
— Er... Laura – ela voltou a comer o doce e eu acaricie seus cabelos que estavam soltos – Eu não posso casar com o seu pai – ela enfiou a colher cheia de doce na boca e me olhou – ah Anna já é casada.
— Mas você gosta do papai. Não gosta? O papai gosta de você. Ele disse que você é bonita.
— Ele disse foi?
— Mas não conta pra ele que eu te contei. Eu falei pra ele que não ia contar. – ela fez beicinho.
— Não vou contar amor. Mas eu e o seu pai somos amigos. Assim como você é minha amiga.
— Mas eu sou sua filha, não sou? – ain meu Deus...
— É querida, é sim. – ela sorriu e voltou a comer – o que você acha da gente fazer um bolo? - sugeri
— De chocolate? – ela me olhou – com jujubas? – perguntou animada.
— Só se você largar esse pote e comer um pouquinho de comida. Depois de um banho, claro. E ai, topa? – Ela assentiu.
— Então quem chegar primeiro no quarto vence. – ela arqueou as duas sobrancelhas animada – na contagem regressiva de um, dois, três e .. Ah Laura você sempre rouba – ainda pude ouvir a risada contagiante dela subindo as escadas.
[...]
— Ei, tá tudo bem? – o Miguel perguntou preocupado se sentado ao meu lado. Ele havia levado a Laura pra dormi, pois a mesma dormiu no tapete da sala, depois de assistirmos um filme de desenho. Ainda estava sentada no sofá, já eram quase 10 da noite e minha cabeça estava a milhão “Como é que ele quer que eu fique bem depois de tudo que ele me contou?”
— Se eu disser que sim eu minto.
— Vai ficar tudo bem, não precisa se preocupar com isso.
— Como acha que não? Tudo o que você tem é da Laura e se ele destrói isso ela quem sai perdendo. Como acha que posso ver o Guilherme, meu marido destruir o futuro da minha garotinha?
— A culpa não é sua. Eu vou achar outro sócio, vou dar um jeito. – tentou argumentar.
— Você deveria me demitir.
— Não Anna, isso não. Minha filha jamais me perdoaria se eu fizesse isso. Ela precisa de você – ele pegou a minha mão – precisamos de você.
— Tenho medo de machucar vocês..
— Machuca se for embora. A gente não sabe mais viver sozinho.
— Me desculpa – o olhei. Ah, droga... Esses olhos azuis.. – me desculpa por tudo. Eu vou ajeitar tudo, prometo que vou.
— Só promete pra mim que não vai fazer nenhuma besteira? Eu já fiz besteiras demais e posso te garantir que não vale a pena.
— Não posso te prometer isso. Mas vou concertar tudo.
— Ele te quer de volta Anna. E eu sei que você o ama e se é tão forte assim, não acha melhor voltar? – perguntou cauteloso.
— Se a Tatiana aparecesse pra você, depois de tudo o que ela fez, de todo esse tempo... Você voltaria pra ela?
— É diferente. – desconversou.
— Diferente como? – ela não respondeu – ás vezes temos que abrir mão de algumas coisas pra poder respirar em paz, viver. E eu abri mão do amor do Guilherme pra poder sentir que ainda sou eu. Nos perdemos no tempo, ele me jogou em meio a uma tempestade e deixou outra dormir nos seus braços. Volta significa apoiar os seus erros e deixar a enxurrada me levar. – ele respirou fundo concordando e soltou a minha mãe, passando o braço pelas minhas costa me levando de encontro ao seu peito. Ele tem um cheiro tão gostoso.
— Eu não vou deixar ele machucar você de novo, Anna. Prometo nunca mais deixá-lo machucar você – repetiu dando um beijo nos meus cabelos – é só uma forma de agradecer tudo o que tem feito – não respondi nada, só me aconcheguei nele. Esse homem que tem me ajudado em tantas coisas, que me faz sorrir e se atrapalha todo pra educar a filha. que entende e até arriscar uns pratos na cozinha... Ah Miguel, se eu tivesse te conhecido antes, talvez tudo séria diferente.
— Me dá uma carona até em casa? – pedi depois de um tempo.
— O seu pedido é uma ordem pra mim. Apesar de que tá tão bom aqui. – ele me apertou mais em seus braços.
— Obrigada Miguel, obrigada por tudo.
— Você merece Anna, merece demais – me deu outro beijo no alto da cabeça e eu já nem queria mais ir.. Me sentia segura perto dele.
[...]
Eu deixei a Laura na porta da escola, ela acenou pra mim e mandou um beijo. Acenei de volta e sorri pra ela. Minha garotinha, linda, sempre linda. E era um absurdo o Guilherme tentar destruir algo que nem o pertence. O sinal bateu e os portões da escola foram fechados. Era hora, era agora ou nunca, eu teria que encará-lo. Teria que ter coragem pra dar um ponto final nessa história. Certeza? Não, eu não tinha nenhuma. Mas o sentimento de culpa me dominava, e eu e o Senhor Lizarga, meu marido, tínhamos assuntos inacabados. Sentimentos pra esclarecer e compromissos pra encerrar.
[...]
— Senhora você não pode passar aqui. – uma mulher ruiva bem apanhada me barrou no terceiro andar do edifício da Aggreko. – infelizmente você só pode prosseguir se for convidada. A não ser que seja uma das moças que veio para o cargo de faxineira.
— O que? Não, eu não sou faxineira. E nem vim para cargo nenhum. Eu preciso falar com o Sr. Lizarga.
— É convidada dele?
— Por que, ele costuma receber muitas? – perguntei irônica – Você pode me dizer se ele se encontra?
— Não estou autorizada a lhe passar esse tipo de informação Sra.
— Eu sou esposa dele! – falei seria e ela me olhou de cima a baixo com um sorriso debochado. Bufei e tirei da minha bolsa a minha carteira de motorista. Era a única coisa que havia o nome dele – isso serve? – ela pegou a mesma sem retirar o sorriso debochado – Anna Oliveira... Lizarga... Érr me desculpa senhora. Vou avisar a Rose e autorizar a sua passagem. – a mesma ia pegando o telefone.
— Não avisa.
— Mas...
— Eu me resolvo lá em cima, pode ficar tranquila. – ela assentiu e me entregou a minha carteira de motorista, rapidamente eu a guardei na bolsa.
— Tenha um bom dia senhora.
— Igualmente.
Sorri e me encaminhei para o elevador. Sétimo andar.. me deseje sorte, me deseje sorte.
— Senhora.. – sorriu quando me viu e já ia pegando o telefone.
— Não Rose, não avisa – a repreendi e ela assentiu e então me encaminhei até a porta. E pensar que eu morria de ciúmes dessa mulher, coitada. Ajeitei o cabelo e respirei fundo.. Preciso de sorte, preciso de sorte.
Abri a porta com o coração na mão e lá estava ele. Impecavelmente lindo, sério e bem vestido. A sala tinha o cheiro dele, o jeito dele. O mesmo parecia distante batendo a ponta da caneta na mesa, como se estivesse perdido em pensamentos. Ele olhava pra mesa que estava cheia de papel e era outra pessoa. Eu não conhecia aquele Guilherme desligado que estava ali, não era o meu menino!
O mesmo nem percebeu quando entrei na sala, nem se movimentou quando a porta fez barulho ao se fechar.
— Pode deixar o almoço ao lado do filtro Rose, to sem fome. – falou desanimado sem nem se quer levantar os olhos pra ver quem era. – Fala pro Marcos vir até aqui, preciso fa... – ele levantou o olhar – Anna – falou assustado quase caindo da cadeira.
— Eu – respondi ainda perto da porta. Não sentia minhas pernas e se desse um passo a frente cairia de cara no chão. Mas esse olhar, esse maldito olhar que me fazia ficar tremula e esquecer todos os meus ensaios para falar com ele.
— Eu estava pensando em você – falou com um sorriso que me pareceu sincero. Droga, Anna.. Ele não mudou, ainda é o mesmo.. Ele ainda é o mesmo..
— A gente precisa conversar... - suspirei.
— É tudo que eu mais quero na vida – suspirou – Só Deus sabe o quanto desejei ver você de novo – falou doce e eu quis chorar. Droga como eu queria chorar.
Fim de narração.
Tatiana Petrovick Narrando.
— Explica melhor Tatiana, não estou entendendo. – O Richard disse. Eu já havia tentando explicar tudo pra ele, mas com o choro parecia tudo mais difícil, mas confuso..
— Como não entende? Ela é minha filha, ele a roubou.. Meu Deus será que é tão difícil ver o obvio?
—Isso eu sei, você já me disse! – falou calmo, ele tava calmo demais – Tati, pela milésima vez eu vou tentar explicar pra você. Você tem certeza que esse é o Miguel de anos atrás e essa menina, Laura.. É a sua filha que faleceu a 5 anos? Porque não podemos simplesmente chegar lá apontar o dedo na cara dele e o acusar de sequestro.
— Eu tenho certeza, quantas vezes vou ter que dizer isso? É ela, é ela sim. E ele, você acha que saio por ai confundindo os caras com quem tive relações, pelo amor de Deus Richard – falei irritada. Já nem tinha mais lagrimas.
— Tudo, tudo bem. Calma. – falou cauteloso.
— Eu não consigo ter calma, eu to surtando. Eu chorei durantes 5 anos por uma criança que estava viva todo esse tempo..
— Nós não temos certeza.
— Eu tenho certeza, se não eu não teria te chamado aqui. Vai me ajudar agora, ou vou ter que ir até a policia e exigir a prisão do Miguel? – Falei irritada.
— Ele te processaria por calunia, ou faria algo pior, te acusaria de louca.
— Mas pelo menos a minha filha ia saber que eu existo. O Miguel iria saber que existo. Meu Deus , Richard. Será que você não vê a gravidade do meu problema, da minha dor?
— Eu vejo e vou te ajudar. Mas pra isso temos que ter certeza, eu não posso deixar você ir até o Miguel com uma foto ou uma manta como prova de que você realmente é mãe dessa garotinha. Eu não desconfio de você Tatiana, jamais faria isso. Eu acredito sim que ela é sua filha, mas pra você chegar perto dela, temos que ter certeza.
— Mais certezas?
— Você vai ter que antes de tudo falar com ele. Perguntar quem a mãe da garota, quantos anos tem e ai sim se ele te confessar, podemos entrar na justiça e exigir um exame de DNA.
— Entrar na justiça só pra pedir uma exame? Eu não quero só o exame, eu quero ela pra mim, quero ele longe dela.
— As coisas não são assim...
— Como não? Como você pode me dizer isso? eu chorei durante 5 anos, fiquei dois anos feito uma morta me afogando na saudade do meu bebê e agora que descubro que tudo não passou de uma maldita mentira eu não posso me aproximar, dizer a ela o quanto eu a amo. Richard, se você tivesse um filho e tirassem ele de você como me tiraram a minha garotinha, como é que você se sentiria? – abaixe a cabeça sobre a mesa – como é que se sentiria? – e as lagrimas voltaram, desesperadamente com um jato preso dentro de mim á anos, um alivio. – será que dá pra me ajudar?
— Acho que você vai ter que falar com o Miguel.. Ele é o único que pode te dar essa certeza. Se pelo menos a sua mãe entrasse em contanto com você.
— Eu não sei o que vou fazer se tudo isso for verdade como eu tenho certeza que é. Eu vou desmoronar... Meu Deus, minha filha. – ele se levantou da cadeira onde sentava e se aproximou de mim.
— Vai ficar tudo bem Tati – me abraçou de uma forma acolhedora – você está entre amigos, vai ficar tudo bem.
[...]
— Desmarcar tudo? – A Keyla perguntou. Estávamos na minha sala, já passava das 4 da tarde, mas a unia coisa que eu conseguia era chorar e viver e reviver os momentos na minha cabeça.
— To sem cabeça pra ficar aqui, eu só quero ir embora. Pra longe..
— É o melhor que você tem a fazer – me aconselhou.
— Viram o Guilherme por ai? – O Marcos perguntou abrindo a porta sem nem pedir licença.
— Essa por um acaso é a sala dele? – perguntei irritada.
— Não – respondeu e sorriu – só imaginei que ele estivesse por aqui, se me dão licença –o sínico piscou e se retirou.
— Eu não entendo a petulância desse cara. Tenho certeza que ele não veio procurar nenhum Guilherme. – falei com raiva.
— Ele é ousado, não presta. – A Keyla acrescentou.
— Ele é invejoso, isso sim. Não gosto dele – falei me lembrando do dia em que ele me encurralou no elevador. – toma cuidado com ele Keyla, fiquei sabendo que é mestre em dar em cima das funcionarias.
— Pode deixar Tati, vou me lembrar disso. – sorriu e saiu anotando algo
— Keyla – chamei e ele se virou para me olhar – desmarca tudo pra hoje, pra amanhã e se possível até o final da semana.
— Tatiana...
— Eu vou precisar desses dias pra fazer algumas coisas.
— Tem certeza? – assenti – então te vejo mais tarde? – assenti novamente – fica bem, tá?
— Vou ficar – forcei um sorriso e ele saiu apressada como sempre.
Arrumei minha mesa, peguei minha bolsa e as chaves do carro e me direcionei a saída. No corredor o Marcos cantava a secretaria do Richard, ele não tinha vergonha. Era nojento imaginar alguém cedendo a um homem daqueles.
[...]
Cheguei no apartamento e pedi algo pra comer na recepção. Não queria mais chorar, não iria mais chorar. Assim que o meu pedido chegou eu me sentei no sofá e liguei meu not, eu iria pesquisar cada detalhe da vida dele, o que fazia, quando fazia. As rotinas, se possível até marcaria um hora com ele, eu não ia desistir até ter certeza de que a Laura era minha filha, eu não ia desistir, nem que pra isso eu tivesse que denuncia-lo. Eu jamais desistiria da minha filha de novo...
Fim de narração.
Autor(a): Writer Sophi
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 5
Para comentar, você deve estar logado no site.
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annakarolliny Postado em 22/04/2016 - 13:26:22
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annakarolliny Postado em 22/04/2016 - 13:26:03
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annakarolliny Postado em 22/04/2016 - 13:24:40
Porque não postou mais ? É ótima ! Comecei minha leitura no orkut , só que você não postou mais lá e disse que iria postar aqui .. Desde então estou aguardando e até agora nada :(((
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laisse_florencia_da_cruz Postado em 21/10/2014 - 14:22:17
Web ótima...Mas pq não posta mais?? Abandonou???:/
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samanta_shulz Postado em 09/09/2014 - 20:44:28
uuuuuuuup