Fanfic: One less problem without you - vondy | Tema: Vondy

- Dulce? – Anahi arregalou os olhos.

 Belinda olhou para ela e depois para mim, que ainda estava no chão.

 Senti mãos fortes me segurarem pela cintura ajudando-me a levantar, olhei para o lado constatando que era Nate.

 – Você está bem? – ele perguntou.

 Incapaz de responder, apenas assenti com a cabeça. Então se adiantou e simplesmente foi fazer seu trabalho.

 - Fazendo morfina, intra-venoso – Nate dizia enquanto aplicava uma dosagem de analgésico ao acesso de Anahí – fiz uma dosagem baixa só para aliviar a dor, e no centro cirúrgico faremos o acesso para anestesia raquidiana. Levem ela – anunciou para a equipe – eu sou anestesista e estarei monitorando você e seu bebê o tempo inteiro, ok? – tentou acalmá-la.

 - Ele é tudo o que eu tenho, salvem ele por favor – Anahi implorou uma última vez não deixando de olhar para mim, antes de saírem com a maca da sala.

 Fiz menção de segui-los e então Belinda se adiantou.

 - Fique aqui – ela mandou, séria – depois conversamos.

 Mais de uma hora depois, eu poderia ter cavado um buraco no chão de tanto que fiquei andando em círculos no corredor do hospital.

Belinda saiu, descartando sua máscara e touca no lixo.

- O que aconteceu? – perguntei, exasperada.

 - Eu é que pergunto, o que aconteceu? – ela rebateu – você a conhece, não é?

 - Sim – afirmei – é muito complicado, Beli.

 - O bebê está bem – ela disse.

 Suspirei aliviada.

 - Ela está acordada, quer falar com ela?

 Ponderei por um momento, pensando se era uma boa ideia. Beli se pôs ao meu lado, colocando as mãos em meus ombros:

 - Vá conversar com ela e depois vá pra casa.

 - Mas meu plantão ainda nem terminou e eu ainda preciso...

 - Não interessa, vá pra casa e recomponha-se pois amanhã preciso de você renovada e com as ideias no lugar. Estamos combinadas?

 Entrei na sala de observação e Anahí estava amamentando. Quando olhou para cima e me viu, ficou surpresa.

 - A Dra. Schull disse que você chamou por mim...

 - Sim, é verdade. Nós podemos conversar?

 - Podemos. – suspirei me sentando na cadeira que estava ao lado de sua cama.

 Mas então um silêncio constrangedor se estabeleceu. Eu estava ali, pronta para ouvir tudo o que tinha para me falar mas parecia que ela não sabia por onde começar.

 Sendo assim, me prontifiquei:

 - Foi por isso que você o procurou aquele dia? – questionei lembrando-me do nosso último encontro no qual eu a havia enxotado.

- Sim, foi exatamente por isso. – lamentou – Eu achei que ele tinha o direito de saber...- engoliu em seco - Mas aí você jogou todas aquelas verdades na minha cara e eu me senti tão envergonhada por todas as crueldades que de fato eu havia feito, que cheguei a conclusão que o melhor a se fazer era deixá-lo em paz daquele momento em diante e cuidar do meu filho, sozinha. Não importava como, era o mínimo de obrigação da minha parte parar de querer arranjá-lo mais problemas e o deixar ser feliz de uma vez por todas.

 - Anahí mas se eu soubesse naquela época que era esse o motivo de você ter batido na minha porta, eu nunca... – neguei com a cabeça, reformulando - Entenda que se eu soubesse das reais circunstâncias, teria sido diferente!

 - Como poderia ter sido diferente Dulce?! Eu fiz uma série de ações desonrosas e imperdoáveis, acabei com a vida de uma pessoa, destruí completamente um ser humano! Reconheço hoje o quão pouco foi aquele “tapa na cara” que você me deu. – suas pupilas azuis fitavam-me agora exalando uma culpa inimaginável. Ela respirou fundo antes de continuar – Eu de fato não mereço perdão, se você pudesse imaginar só 1%

do quão eu profundamente me arrependo Dulce... Infelizmente você seria incapaz, acredito que ninguém na Terra entenderia...

 - Também há muitas coisas de que me arrependo Anahí – rebati em contrapartida – E de que não me orgulho, assim como você. Tenho a minha parcela de culpa em tudo isso, seria uma hipocrisia imensa dizer que fui apenas uma vítima indefesa enquanto assistia o circo pegar fogo. Oras... Disso você já sabe muito bem – proferi ressentida recordando-me de todo o plano dela com Christopher para que ela tivesse Alfonso e ele a mim – Eu involuntariamente colaborei com tudo o que vocês fizeram quando esqueci o respeito que deveria ter por meu futuro marido e me entreguei descaradamente para outro homem. Eu traí Alfonso não só uma, mas várias vezes, e ainda o continuei fazendo mesmo tendo total consciência de o quanto aquilo era errado e profano.

 - Dulce, sobre isso, eu... Queria que você soubesse de uma coisa, não sei se vai fazer alguma diferença a esta altura do campeonato mas ainda assim, acho que é importante que você saiba – assenti - É sobre o Christopher.

 Franzi o cenho. Meu semblante permanecia impassível mas uma curiosidade descomunal começou a se instalar em meu peito quando ela hesitou em dar continuidade.

 - O quê?! – pressionei.

 - Não há como negar que fomos nós dois juntos que arquitetamos toda essa baixaria. Mas quando Uckermann percebeu o quanto havíamos passado dos limites, ele quis parar imediatamente. Precisamente ele decidiu isso quando você o contou que havia perdido seu bebê em um acidente – lembrei-me do dia em questão, mas me senti ligeiramente confusa. Até então, em minha cabeça estava sustentando a ideia de que Christopher teria sido um monstro horrível e calculista que não teria parado até ver seu rival no fundo do poço – Christopher jamais deu alguma ideia sobre drogas, quem as teve fui eu, somente eu. Sozinha as coloquei em cena, sozinha as ofereci e sozinha as continuei oferecendo. Uckermann apenas soube das medidas que eu estava tomando tempos depois. Ele não tem nada a ver com isso Dulce, por isso você deveria perdoá-lo.

 Estava chocada. Então a culpa do Poncho ter se envolvido com drogas não era do Ucker também, mas apenas dela? Para mim ambos haviam conspirado em conjunto para acabar com a vida de um inocente.

 E eu que havia o condenado tanto... Tsc, tsc, tsc.

Ele me prometeu uma vez “sem mais mentiras”! E ainda assim, me escondeu um fato dessa magnitude...

Não! Nunca o perdoaria.

Foi ele quem armou todo esse circo para começar.

 - Jamais! Foi ele mesmo o estopim para tudo isso se iniciar quando teve essa ideia maligna de vocês se juntarem para nos separar. Se tivesse ficado na dele e nos deixado em paz, nada disso teria acontecido. – cruzei os braços, absoluta de minhas palavras.

 - Olha, Dulce... – suspirou, ajeitando o recém-nascido em seu colo – Ele pode ter errado ao querer começar com tudo, mas fui eu quem resolveu continuar – sua voz embargou, provavelmente se lembrando da maldita hora que tomara uma decisão idiota – Ele tentou me brecar, mas eu continuei agindo sozinha e fui irrevogável na minha escolha. Começou com as ceninhas de ciúmes para te provocar – ela riu, sem ânimo – eu tinha que atraí-la de volta para ele e assim, deixar o caminho livre para mim – Engoli em seco, eu me lembrava das vezes em que me senti horrível por achar que Ucker e Anahi estavam juntos – e depois tornar Poncho, uma pessoa completamente dependente de mim. Eu culpava você por não poder tê-lo por completo, então continuar dando as drogas eram uma forma de mantê-lo sempre por perto... – ela parou por um momento e virou o rosto, envergonhada de sua confissão – No entanto, cometi um erro terrível. Fui tão estupidamente idiota ao sequer cogitar que um dia ele poderia não depender mais de mim para conseguir algo que saciasse seu vício – deixou uma lagrima cair – Quando fui me dar conta do tamanho do estrago, a bola de neve já havia se tornado uma avalanche. Ele passou a conseguir em outros lugares e a consumi-las pelas minhas costas. Quando se tornou agressivo e passou a me ferir não só emocionalmente como também em forma física, quase implorei de joelhos para que ele parasse mas foi inútil, tudo o que dizia só parecia servir para deixá-lo mais irritado e descontrolado. – encarei-a atônita.

 Oh meu deus!

 - Não te conto essas coisas para que sinta pena de mim e sei que nada que eu disser mudará seus pensamentos, eu praticamente procurei por isso... – engoliu o choro.

 Não podia crer. Então ela assim como eu, Anahi sofreu com as mudanças de humor drásticas de Alfonso, com sua agressividade, possessão e descontrole. Todo este tempo pensei que eu havia sido a única a sofrer as consequências de Poncho ter caído no mundo das drogas, enquanto ela deveria ter se divertido muito com a situação e rido muito da minha cara.

Me encolhi um pouco, compadecendo-me de sua dor...

 Pois eu a sofrera também.

 - Enfim... Me desculpe, só acho que você merecia escutar toda a verdade e não mais tachar Christopher como alguém sem humanidade, pelo o contrário, tudo o que ele fez, assim como eu, foi porque não sabia como lidar com o amor que sentia por alguém e como simplesmente não podia suportar a ideia de não tê-la nunca mais.

 Permaneci em silêncio, digerindo toda aquela quantidade de informações despejadas sobre mim. Assim que fui capaz de formular algo, respondi:

 - Eu entendo, mas não sei se posso concordar – suspirei com pesar – Talvez os fins não justifiquem os meios, afinal.

 Meu coração apertou, eu confesso. No entanto, não podia amolecer, não podia, de verdade.

 Independente de tudo, o que está feito está feito.

 Sem ter mais o que dizer, esta assentiu compreensiva respeitando a minha dor.

 - Quero que saiba que o Alfonso pode participar da vida do meu filho se ele quiser e o quanto quiser. Prometo que não procurarei e nem irei interferir no relacionamento de vocês novamente, você tem a minha palavra Dulce.

 Arqueei a sobrancelha. Relacionamento? Oi?

 - Desculpa, o que... O que disse?! – balancei a cabeça - Não há mais relacionamento nenhum há muito tempo, Anahí.

 Seus olhos faltaram saltar para fora.

 - Então quer dizer que não estão mais juntos? – disparou incrédula.

 Desconfiei pela forma entusiasmada que me perguntou. Seria isso um fio sorrateiro de... Esperança?

 - Não – concluí, com um sorriso de canto que prontamente ela correspondeu. Olhei para o minúsculo bebê em seu colo e senti uma enorme vontade de segurá-lo.

 - Quer pegá-lo? – ela ofereceu, provavelmente lendo meus pensamentos.

 - Eu não sei segurar um bebê – eu ri.

 - É mais fácil do que parece – ela sorriu – não tenha medo.

 Me aproximei de sua cama e ela me explicou com gentileza como eu deveria posicionar meus braços para pegar o recém-nascido. Assim que me acomodei sentada, comecei a reparar no pequeno em meu colo: ele tinha a pele clara e cabelos escuros como os de Alfonso, o nariz singelo e perfeito como de Anahi.

 Ri sozinha, quando ele bocejou.

 Engraçado como de um segundo para o outro, sua vida pode mudar completamente.

 E naquele segundo, parte de mim parou de lamentar pelo bebê que eu havia perdido. Parte de mim, entendeu que tudo tinha sua hora certa para acontecer... e que ficaria tudo bem com todos nós.

 Automaticamente, senti-me desapegada de meu passado e estranhamente ansiosa para o futuro.