Fanfic: One less problem without you - vondy | Tema: Vondy

Mas que diabos?

Olhei em volta e bufei.

Parecia que um tornado tinha passado pelo meu closet. Roupas novas, caixas de presentes, embrulhos e sapatos espalhados. Alfonso vinha me presenteando tanto que eu não tinha mais espaço para guardar absolutamente nada.

Já estava ficando a cada dia mais irritada.

Quanto mais presentes eu ganhava, menos eu o via e mais estranhas eram as suas atitudes. Como se ele quisesse substituir sua ausência me comprando o mundo. Nós estávamos brigando constantemente nessas últimas semanas e se tornou um clichê ele vir se desculpar com presentes caros.

Eu não aguentava mais!

Pra melhorar as coisas, mamãe e Alfonso aparentemente resolveram formar um complô: os dois não paravam de me azucrinar com a idéia de casamento. Poncho com suas indiretas e presentinhos, enquanto mamãe insistia naquilo a qualquer hora que fosse. Se ela me ligava: “Dulce minha filha que bom que está bem, quando é que pretende se casar?”. Se saíamos para almoçar: “Dulce minha filha, você poderia servir esse risoto no seu casamento”. Tudo era uma desculpa para tocar naquele assunto.

Eu realmente estava sem paciência para nada.

Levantei bufando e saí batendo os pés até a cozinha. Me apoiei na pia e enquanto tomava um enorme copo de água gelada quando Alfonso entrou pela porta da frente e deixou sua pasta em cima da mesa.

- Vá se trocar, nós vamos jantar com sua mãe – disse enquanto afrouxava a gravata

- Porque vamos jantar com a minha mãe? Desde quando?

- Richard me ligou hoje e fez o convite... Agora você pode por favor ir se trocar? – perguntou irritado

Revirei os olhos e fui em direção ao quarto, esse comportamento vinha sendo típico dele ultimamente.

- Grosso – resmunguei, com a intenção de que ele ouvisse.

Seguimos num completo silêncio dentro do carro. Continuei olhando pela janela pra tentar me distrair com qualquer coisa que não fosse a ignorância de Alfonso. Estava cada vez mais difícil a nossa convivência.

Sempre que eu abria a boca para falar qualquer coisa, ele se irritava comigo, eu com ele e acabávamos brigando.

O manobrista abriu a porta do carro para mim assim que chegamos e Alfonso estendeu o braço para que eu me apoiasse nele.

Apenas eu estava em silêncio na mesa de jantar. Eu remexia na comida sem muito ânimo e sinceramente não estava com fome, já todos a minha volta conversavam animadamente.

- E então... já pensaram a respeito sobre a grande data? – minha mãe perguntou toda contente

Engasguei com o champanhe e comecei a tossir, Alfonso deu uns tapinhas nas minhas costas e fez uma cara de reprovação.

Porra, aquilo de novo?

- Oh Blanca, eu tenho feito de tudo mas a Dulce insiste em adiar – ele comentou

- Mãe, pelo amor de Deus! Não é hora para me perguntar esse tipo de coisa – resmunguei – e eu não estou adiando Alfonso, só acho que é cedo demais

- Ora Dulce, porque cedo demais? Vocês já namoram há três anos, estão morando juntos, qual o problema de tomarem o próximo passo? Eu quero ter netos em breve – minha mãe comentou descaradamente

Larguei os talheres no prato e os mesmos fizeram um barulho desagradável.

Obviamente que minha mãe tinha falado sem pensar, mas ela melhor do que ninguém sabia tudo o que o assunto “gravidez” poderia me causar. Por uma fatalidade eu já tinha perdido um bebê, ela simplesmente não tinha o direito de me pressionar com algo assim.

Levantei furiosa e joguei o guardanapo na mesa. Ignorei os chamados arrependidos de dona Blanca e fui em direção ao banheiro do quarto de hóspedes, fechei a porta com um estrondo e me apoiei na pia.

Respirei fundo tentando me acalmar, logo soaram batidas na porta e a voz arrependida de mamãe do lado de fora.

- Filha, você esta bem? – ela perguntou, abrindo uma fresta da porta do banheiro – eu posso entrar?

- Tudo bem mamãe, onde está o Poncho? – disse baixo – entre

Ela terminou de abrir a porta e ficou ali parada, me observando.

- Está conversando a sós com Richard no escritório... Quer conversar sobre algo?

- Não – balancei a cabeça – eu só quero que você pare de se meter onde não é chamada – respondi meio grossa – você passou dos limites mãe!

Saí do banheiro passando reto por ela e segui até a janela do quarto para olhar lá para fora.

- Dulce, eu não estou entendendo – ela disse, se aproximando de mim – o que foi que eu fiz de errado?

- O que você fez de errado? – perguntei irônica – Que história é essa de casar, ter netos? Porque você está tão preocupada assim para que eu case?

- Ora filha, porque já está mais do que na hora de você se casar com o Alfonso!

- Mãe, eu e Poncho estamos com problemas... ele está diferente!

- Não tente me enrolar Dulce Maria, a única que está diferente é você! – apontou o dedo na minha cara – acha que eu não percebi? Eu só me pergunto o real motivo de tudo isso

- Eu estou te contando que estou com problemas e você vem me julgar? – perguntei histérica – Porque não acredita em mim?

- Oras, porque o Alfonso sim é um homem bom, honesto, jamais te faria sofrer! Muito diferente daquele mentiroso do Christ...

- Espera um pouco – a cortei – então é isso... você está tão desesperada que eu case com Alfonso porque tem medo de que eu perdoe o Christopher! – apertei as mãos em punho – é verdade ou não é?

Ela ficou desconcertada, mas em momento nenhum tentou disfarçar que era sim uma de suas preocupações.

- Você não tem controle de si mesma com ele por perto – ela disse, derrotada – por favor filha, se case logo com o Alfonso

Nós ficamos num silencio desconfortável, quando na verdade eu queria gritar.

Porque ela não acreditava em mim? Eu só precisava de um conselho, de uma palavra amiga, de um colo... E mais uma vez eu me vi sozinha, já que minha própria mãe não acreditava em mim.

Antes que eu pudesse formular qualquer coisa para responder, a porta foi aberta e Alfonso entrou como um raio.

- Querida, tenho uma emergência de trabalho... Vamos, nós temos que ir – ele virou-se para mamãe e lhe deu um beijo na bochecha – Blanca, obrigada pelo jantar. Você está linda como sempre!

- De nada querido, venham mais vezes – ela sorriu e o abraçou forte

- Te espero lá fora – Poncho me disse rapidamente e saiu do quarto

Voltei meu olhar na direção de mamãe e tentei não desabar.

- Tchau mãe – eu disse por fim, saindo de lá sem olhar para trás.

Ele estacionou na porta do prédio e ficou esperando que eu descesse do carro. Levei minhas mãos até a trava da porta mas voltei-me para ele.

- Você vai demorar?

- Não, vai ser coisa rápida – ele respondeu – mas já estou atrasado

- Poncho? – o chamei – você tem mesmo que ir? – suplicando que ele dissesse não, me levasse lá para cima e me abraçasse até tudo ficar bem de novo.

Ele soltou uma risada curta e irônica.

- O que você acha? – perguntou, finalmente se virando para me encarar – que as nossas contas serão pagas sozinhas? Alguém aqui tem que trabalhar, não é mesmo?

Aquilo foi como um soco no estômago. A cada dia eu reconhecia menos o homem que era meu noivo... O que tinha acontecido com o Alfonso carinhoso e gentil?

Mais uma vez engoli o choro, abaixei a cabeça e saí do carro.

Parece que a vida da Dulce ta virando um inferninho...