Fanfic: One less problem without you - vondy | Tema: Vondy

O relógio marcava meia noite e quarenta e sete. Alfonso ainda não tinha chegado em casa, já fazia algum tempo que eu estava tentando ligar e seu celular só dava caixa postal.

Sinceramente, eu não estava surpresa.

Já virou costumeiro essas reuniões de trabalho se estenderem e ele chegar em casa de madrugada, sem ao menos se importar em avisar.

- Não sei porque eu ainda tento – suspirei, jogando meu calular no sofá

Fui até a cozinha preparar um chá, quando o interfone tocou.

Quem poderia ser aquela hora?

- Alô?                                                           

- Senhora Dulce boa noite, o senhor Uckermann está aqui embaixo

Meu coração saltou.

- U-uckermann?

- Sim, ele quer falar com o senhor Herrera

Estranhei.

- O Alfonso não está, era para ele estar numa reunião de trabalho – com o Christopher, acrescentei mentalmente – peça para ele subir Paulo, por favor

Deixei a chaleira no fogo assim que desliguei o interfone e corri para o espelho afim de ver minha aparência. Eu estava um pouco corada devido ao aquecedor que estava ligado, um rabo de cavalo alto e usava uma blusa branca de alcinhas com uma calça de moletom.

Quando cogitei a possibilidade de trocar de roupa, a campainha tocou. Eu não queria encarar Christopher, mas eu precisava tirar essa história a limpo.

Juntei um pouco de coragem mas assim que abri a porta, me arrepiei dos pés a cabeça.

E não foi por causa da rajada de vento que veio lá de fora.

Christopher estava com um casaco bem quente e um cachecol. Sua pele estava mais branca, somente o nariz e as bochechas um pouco vermelhas do frio que fazia, seu cabelo um pouco mais comprido e os olhos sempre penetrantes.

- Desculpe, aparecer esse horário – ele disse cauteloso – mas eu precisava falar com o Alfonso

Não era novidade que eu ficava desconcertada toda vez que nos víamos em eventos sociais ou coisas do tipo, mas o nó na minha garganta pareceu sufocar agora que estávamos só eu e ele.

- Ele não estava na reunião com você? Ainda não chegou em casa – respondi, tentando manter uma conversa totalmente impessoal

- Sim, parece que ele foi. Mas quando cheguei lá me disseram que ele já tinha saído, eu tentei ligar no celular e nada, então presumi que estivesse em casa.

- Entendo... desculpe, eu também não sei onde ele está

Christopher assentiu e ficamos nos encarando por um tempo que me pareceu interminável. Sentia tremores passando por cada parte do meu corpo, como se eu estivesse em abstinência e ele fosse a minha droga. Eu tento me convencer todos os dias que sou capaz de viver sem ele mas todas as vezes que o vejo, sinto todas as minhas crenças desabarem e a saudade me corroer.

Desconectamos nossos olhares quando um pequeno miado de atenção fora pronunciado.

Benji estava sentado aos nossos pés chamando atenção para que alguém o pegasse no colo. Christopher deu uma risada e se abaixou para pegá-lo.

- Hey cara, como tem passado? – ele disse, acariciando o pelo de Benji

Nota mental: comprar bastante whiskas sachê para agradecer meu gato por ter me salvado de um climão.

Cruzei meus braços abaixo do peito e fiquei admirando a cena.

- V-você q-quer entrar? – perguntei, totalmente sem pensar.

Ele me fitou por um momento, talvez surpreso pela minha iniciativa e ponderou um pouco se seria uma boa idéia ou não.

- Pra esperar o Alfonso, é claro – completei, tentando disfarçar minha necessidade de ter ele por perto

- Não vou incomodar? – ele perguntou

- Não – dei um meio sorriso

Christopher assentiu e dei licença para que ele entrasse. Ele colocou Benji no chão para tirar o casaco e fomos andando até o sofá.

Devido ao nervosismo por estar ali sozinha com ele, simplesmente não olhei onde andava e acabei tropeçando da forma mais imbecil: no meu próprio pé. Soltei um grito assim que me vi prestes a estatelar no chão e por sorte – ou azar – Christopher que estava logo atrás de mim, me segurou e me virou para ele antes de eu realmente cair de cara.

Eu estava totalmente consciente do aperto de suas mãos na minha cintura, do meu corpo pressionado ao dele e dos nossos corações batendo descompassados.

Nenhum de nós conseguia fingir indiferença. Mas apesar da tensão, parecia totalmente certo e reconfortante estar tão próxima dele novamente.

Logo, Christopher desceu o olhar para meus lábios como se estivesse lutando contra a mesma vontade que eu.

Sem pensar em nada, fui aproximando meu rosto do dele lentamente...

Quando a chaleira começou a gritar avisando que a água já estava pronta para o chá.

MALDITA CHALEIRA!

- Merda – praguejei, fechando meus olhos

Ele me soltou prontamente e deu um passo para trás, fingindo uma tosse.

- Obrigada – eu disse, me referindo a quase queda estrondosa

- De nada – e colocou a mão nos bolsos

Desliguei o fogão e peguei duas xícaras.

- Estou fazendo chá, me acompanha enquanto espera o Poncho?

- Pode ser  

Coloco o chá fumegante nas duas xícaras com um pingo de conhaque em cada uma, ofereço para Christopher que nos sentemos na bancada da cozinha e ambos ficamos em silencio enquanto esperamos nossa bebida esfriar um pouco.

- Como anda sua vida? – ele pergunta, quebrando o silêncio

- Bem, muito bem – digo rapidamente, sabendo o quanto isso era mentira.

- Que bom – ele disse e seguiu-se um silencio desconfortável

- Christopher... – comecei, me sentindo um pouco mais a vontade – sabe, o Alfonso está trabalhando demais...

- Ele pediu pra você me falar isso? – me cortou

- Não, é claro que não – me desesperei – sou eu quem estou falando! Ele não me fala nada de trabalho, ele não me fala nada de nada, pra ser sincera, quase nem nos falamos direito – desabafei, percebendo que tinha falado demais. Respirei fundo e continuei – é extremamente necessário ele ter esse ritmo de trabalho? Eu me sinto tão sozinha, não o vejo mais, ele está sempre estressado e...

Ele estreitou os olhos em minha direção.

- Você está me pedindo pra diminuir o trabalho dele?

- Como um favor... de amigos, talvez – pedi

- Dulce, entenda uma coisa – ele disse sério – nós não somos amigos. Não me interessa se você está sozinha ou não, se ele está mais estressado ultimamente e qualquer coisa que tenha a ver com a vida de vocês dois. O trabalho e a eficiência dele me rendem dinheiro, então ele vai trabalhar o tanto que ele precisa trabalhar

Mesmo sabendo que ele tinha razão, suas palavras não deixaram de doer como facas perfurando minha pele.

- Você tem razão... – eu disse com a voz embargada e desviei meus olhos para a xícara – esqueça o que eu falei

Ele respirou fundo ao meu lado, sinceramente arrependido do que tinha dito.

- Desculpe

- Tudo bem, eu mereço isso – respondi com amargura

- Já está muito tarde – ele olhou no relógio de pulso – provavelmente eu deveria ir.

- Ok, você é quem sabe – assenti

- Olha Dul – ele disse num tom um pouco mais calmo – ele deve estar chegando. A reunião já terminou e ele tinha saído de lá fazia tempo... Vai ficar bem sozinha?

- Então agora te interessa algo que tenha a ver comigo? – perguntei irônica

- Nem em mil anos, eu deixaria de me importar com você – ele disse tristemente.

Senti meus olhos embaçarem.

- Boa noite – me deu um terno beijo na testa e virou as costas, pegando rapidamente seu casaco.

“Não, não vá!” Eu queria gritar, mas logo ouvi a batida da porta indicando que ele já tinha ido.

- Boa noite Christopher – murmurei para o vazio do meu apartamento.