Fanfic: Coragem Indômita | Tema: Originais, Fantasia, Suspense, Aventura, Ação, Medieval.
A história que eu vou começar agora é bem difícil de ser contada, já que sou eu a protagonista. Eu poderia alterar alguma parte, para meu próprio proveito, e fazer o que eu bem entendesse, mas já lhe aviso que no quarto onde eu me encontro há tantas testemunhas que eu não teria coragem de fazer algo assim, ainda mais que, afinal, a história que vou contar é perfeita do inicio ao fim. Sem mais delongas, vou ao que interessa: A história de como tudo começou.
Dizem que quando alguém nasceu para grandes feitos e conquistas, desde seus primeiros passos já pode ser observado algo esplendoroso. Discordo completamente dessa frase, por que eu nasci num dia comum, não havia ninguém me esperando com presentes em volta á cama de minha mãe, e muito menos eu era bem-vinda naquela casa que eu deveria chamar de lar. Segundo o que me contam, fui a sexta de uma família de doze filhos. Eu não fui aceita pelo fato de não ser homem. Afinal, do que uma menina serviria, quando, em tempos de guerra, precisavam-se de guerreiros, homens que iam sem esperanças de retornar para casa, mas quando retornavam, retornavam com glórias dos pés até as cabeças? Nada mais do que ser escrava, serva na casa de senhores de guerra, quando não tinham destino mais funesto. No dia seguinte ao meu nascimento, fui deixada num lugar totalmente remoto, coberto de vegetação, no umbral de uma porta, numa casa que até achavam que estava abandonada. Por sorte do destino, ou por benção dos Deuses, não sei, prefiro pensar que há deuses olhando por nós e nos ajudando, com misericórdia, ali morava um homem, que há tanto tempo não via outro ser humano que demorou em discernir aquele pequeno bebê como um ser humano, e não um animal.
A verdade é que quando chorei pela primeira vez, talvez chorando por estar com fome, ou por falta de carinho, de proteção, aquele homem, com o coração adormecido, despertou do torpor que o acompanhava desde que ele fugira do mundo, e se escondera ali, naquele lugar. Em sua mente, turbilhões de lembranças, pensamentos, e em seu coração, um tsunami de sentimentos, e emoções que há tanto tempo não sentia. Em algum momento ele me pegara nos braços, e sussurrara o que se tornaria o meu nome. Nesse momento tenho de parar a narração, para comentar, que, naquele momento ele estava sendo inspirado pelos deuses, pois nome mais bonito não existe, tão bonito quanto o meu. Agora, esquecendo este comentário tão sem sentido, e voltando á história. Ele sussurrou, e seus olhos encheram-se de lágrimas, lavando seu rosto sujo e embrutecido pelos anos. – Ninna... – A voz enrouquecida, talvez por não ter sido utilizada por tanto tempo, que até o homem não sabia dizer. Depois disso, ele procurou com os olhos o mensageiro que me trouxera até ele, com o coração apertado, por que não queria que alguém viesse me buscar. Havia sido deixada em sua propriedade, então eu era sua. Se em algum momento eu havia sido um peso para alguém, para ele, eu havia sido a libertação. Mais uma vez deixo uma nota para você, leitor, faço dessas palavras às dele, não sou cheia de mim, apenas estou contando minha história.
Depois daquele dia, ele me tornou sua filha, com todo o amor, e eu digo confiante do que direi, com todo o amor que nenhum pai, ou mãe poderia ter me dado. Aquele lugar, que se tornou meu lar, foi sendo transformado com o passar do tempo. A casa, que não via uma reforma desde a sua construção, foi totalmente modificada. O homem, que eu tenho orgulho de chamar como meu pai, não se perturbava quando acordava a noite para cuidar de mim. Ele até fora na cidade mais próxima, buscar alguma mulher que pudesse ser minha ama de leite. Com seu machado, pegava madeira, e em questões de meses, tínhamos um curral, um galinheiro, uma vaca, e até um cavalo, que meu pai usava para ir até a cidade quando precisava. Passaram-se os tempos, e eu fui crescendo, meus primeiros passos foram em cima do orvalho que caia sobre a terra de meu pai. Comecei a cavalgar com a idade em que uma garota nobre aprendia boas maneiras e começava a tricotar. Tive uma infância que tenho certeza que não teria, se não tivessem me colocado na porta do meu futuro lar. O meu pai ensinou-me a manejar uma espada, á caçar com arco e flecha, tarefas que seriam para meninos, mas que eu não me importava nenhum pouco. Eu era de pequena estatura, mas conseguia derrubar um homem com o dobro de altura, e sei disso pois lutava com meu pai, e ao meu lado se tornava um gigante.
Os meus cabelos foram se avermelhando com o passar dos anos, combinando com meus olhos castanhos claros. Meu pai dizia que quando ele olhava diretamente para meus olhos, podia-se ver chamas dançando sobre eles. Apesar de tudo, de eu ser ruiva, de estar sempre exposta á luz solar, não tinha sardas. Nunca deixei meus cabelos crescer abaixo dos ombros, pois em meus pensamentos eu via meu pai com seus cabelos curtos, e eu achava maravilhoso, queria me parecer igual ele. Eu via aquelas mulheres da cidade com seus vestidos, os cabelos gigantes, e eu tinha arrepios de pensar em mim vestida daquela maneira. Ele até tentara, no começo, me criar como uma menina de honra. Acho, leitor, que desde pequenina eu era metida á teimosa, pois ele logo desistiu de tentar me colocar em vestidos, e começou a encomendar roupas de menino. Eu me sentia totalmente livre naquelas calças, e camisas folgadas. Corria livremente pela floresta, me divertia como nunca. Quando eu escutava um assobio forte, mesmo em grande distância, eu sabia que era ele me chamando. As vezes me distraia tanto que as horas se passavam tão depressa e meu pai precisava me chamar várias vezes para voltar para casa. Tinha o espírito aventureiro. Se ele fosse meu pai biológico, eu poderia dizer que puxara isso dele. Ele era totalmente feliz quando estava caçando, não parava de sorrir quando passava instruções, gargalhava quando eu errava algo, agia como se cada árvore fosse parte de seu ser. Conhecia cada pedaço de grama como a palma da própria mão.
Nunca senti falta de uma mãe. Ele foi tudo o que eu precisava. E por incrível que pareça, meu caro amigo leitor, por dezessete anos fiquei sem saber o nome dele. Não era necessário. Ele me chamava de Ninna, e eu o chamava de meu pai, com todo o carinho do mundo. Sempre tive curiosidade de saber, e perguntara uma vez, mas ele endurecera a expressão, como às vezes fazia quando estava preocupado, ou zangado e então eu continuara a alimentar as galinhas como se nada tivesse acontecido. Nunca contara também a sua história. Eu não sabia o que ele fora antes de ter ido parar naquele lugar, mas pelo que notava, pelas suas habilidades com o arco e flecha, e com a espada, ele fora um guerreiro, e alguma tragédia ocorrera, para ele ter fugido, e ter deixado tudo para trás. As suas feições guardavam resquícios da beleza de sua mocidade, e seus olhos verdes brilhavam quando me ensinava a arte da guerra. Os cabelos pretos, já estavam começando a ficar recheados de fios prateados, e pelas minhas expectativas, ele tinha uns quarenta e cinco anos. A sua compleição física era de um moço de vinte anos, pois ele nunca parava de treinar, ou caçar, mas ainda sim a canseira já estava começando o incomodar.
Para mim, a vida que estava levando, ao seu lado, estava perfeita. Eu fora inúmeras vezes na cidade, e percebia o ar carregado que lá havia. Era tão pesado que também me contagiava, e sempre voltava mal-humorada para casa, e pensava em como eles poderiam aceitar a viver daquela maneira. A minha vida era ótima, e por mim eu nunca sairia de lá. Tinha a floresta inteira para mim, e minha casa era um castelo, mesmo que havia apenas dois quartos, uma pequena cozinha, e um banheiro. Para mim, o meu lar também era a floresta. Por que, afinal, nem ficávamos por muito tempo dentro da casa. Todas as noites, deitava na minha cama e olhava para o teto do quarto, imaginando quantas estrelas estavam olhando por mim, e ficava fantasiando uma esposa para meu pai, uma verdadeira rainha, que o divertisse, que o fizesse rir de verdade. E então a canseira começava a embaralhar meus pensamentos, uma neblina começava a cegar meus olhos, e então era envolvida pelos abraços aconchegantes do sono.
Autor(a): hanni
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Minha verdadeira aventura começou uns dias depois de completar dezessete anos. No dia do aniversário, meu pai desaparecera, enquanto eu estava na floresta caçando o nosso futuro almoço. Quando voltei da caça, com suor no rosto, arco em uma mão e dois coelhos abatidos na outra, dei conta pelo sumiço do homem que me criara. Ele ...
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