Fanfic: Coragem Indômita | Tema: Originais, Fantasia, Suspense, Aventura, Ação, Medieval.
Minha verdadeira aventura começou uns dias depois de completar dezessete anos. No dia do aniversário, meu pai desaparecera, enquanto eu estava na floresta caçando o nosso futuro almoço. Quando voltei da caça, com suor no rosto, arco em uma mão e dois coelhos abatidos na outra, dei conta pelo sumiço do homem que me criara. Ele era sempre tão barulhento em seus afazeres, que me preocupei com o silêncio anormal que estava dentro de casa. Larguei os dois coelhos em cima da mesa de madeira, feita por ele próprio, e tirei uma flecha da aljava que estava em minhas costas, e coloquei-a em posição, no arco. Segurei o arco firmemente, enquanto procurava pelos cômodos da casa algum sinal do homem. Comecei a chamar por ele, passei pela porta da frente e parei por uns segundos, olhando ao redor, um temor subindo em minha mente. Ele nunca sumia desse jeito. Quando saia para a cidade, deixava um pequeno bilhete se eu estivesse longe, e não havia motivos para ele estar na floresta naquele momento. Todos os tipos de horrores começaram a povoar meus pensamentos. Onde estava meu pai? Voltei para dentro, indo ao meu quarto, para trocar a roupa, e em seguida começar a procurá-lo. Um barulho alto interrompeu meus passos. Com o arco totalmente envergado virei na direção do intruso, pronta para tudo. Meu pai me encarava surpreso, as duas mãos para trás, arrumado como sempre se arrumava para ir á cidade.
Um alívio foi tomando conta de mim, e relaxei, percebendo que estava com o corpo totalmente tenso, enquanto baixava o arco e colocava a flecha de volta na aljava. Permiti-me a dar um pequeno sorriso, e murmurei. – Desculpe. O senhor desapareceu e eu fiquei extremamente preocupada. – O homem deu uma risada baixa e apontou para a cadeira encostada na parede da cozinha, pedindo que eu deixasse o arco lá, e depois viesse ao quarto dele, pois ele precisava falar comigo. Curiosa com o que estava acontecendo, percebi que o tempo todo as mãos de meu pai estavam para trás, como se escondendo algo de mim, e mesmo com muitas perguntas na cabeça, indignação por ele não ter me deixado nem um bilhete de que tinha saído, obedeci, indo até a cozinha e colocando o arco na cadeira e depois me dirigindo até o seu quarto.
A porta estava encostada, e eu abri-a devagar, estranhando tudo aquilo. Ele nunca encostava a porta, e sabia que eu iria até ali, pois ele mesmo me convocara. O homem estava sentado em sua cama, uma cama igual a minha, a diferença era que a cama de meu quarto era mais nova. Uma cama simples, mas com o meu corpo acostumado, eu tinha o sono dos deuses. Sentei no banquinho velho de madeira, que estava propositalmente colocado de frente com meu pai. Observei o rosto dele, e o percebi tenso e eu sabia que ele estava tenso, pois vi o maxilar travado, e o cenho fechado. Meu pai limpou a garganta, e posso dizer com certeza absoluta, leitor, que o que ele estava para falar foi a coisa mais difícil que ele já fez. A primeira vez que ele abriu a boca não saiu nenhuma voz, e então tentou novamente. – Há dezessete anos eu vivia uma vida sem esperança, cheia de tragédias e tristezas, e num dia que amanheceu com a mesma monotonia de todos os outros, algo transformou tudo para sempre. Algo não, alguém. Foi você, Ninna. – Nesse momento prendi a respiração, pois ele nunca havia me contado como eu tinha aparecido. Vi os seus olhos encherem-se de água, emocionado. – Estava escurecendo, e eu tinha acabado de voltar da floresta, estava dentro do meu quarto, pensando em que fim dar á minha vida, quando ouvi uma grande bagunça na frente de casa, e muitas batidas na porta. Sai correndo para fora, empunhando uma espada, pois pensava que estava sendo atacado, e quando abri a porta, não havia ninguém. Apenas uma coisa deixada no chão. Há tanto tempo que eu não via uma pessoa que demorei em te reconhecer. – Ele deu um sorriso, as marcas de expressão se acentuaram, e passou seus dedos pela minha bochecha direita, num gesto de carinho.
- Lembrei-me de minha mocidade, quando ainda tinha vigor e força – Seus olhos interromperam meu protesto antes mesmo de começar. – Não diga que sou jovem. Faz muito tempo que a juventude me largou. E lembro-me que havia uma moça que se chamava Ninna. No momento seguinte você também se chamava Ninna. Você se tornou a minha vida, e hoje é seu aniversário. Eu precisava te recompensar por todas as alegrias que me proporcionou em todos esses anos. Sei que você não é uma moça comum, como as moças da cidade. Você não gosta de coisas de menina, você gosta da arte da luta, você gosta de cavalgar, e de caçar. E era mais do que eu poderia imaginar os deuses me abençoando. Eu que achava que eles haviam me abandonado, recebi o maior presente de todos. Você é minha garota guerreira. – Ele levantou da cama, e foi até a cômoda gasta onde ele guardava todas as suas roupas. Os meus olhos curiosos observaram-no pegar um embrulho cumprido de dentro de uma das gavetas e meu coração pulou no peito. – E como uma guerreira precisa de uma espada, aqui está a sua espada. Feita especialmente para você.
Levantei do banquinho, com os olhos arregalados, e as mãos tremendo de emoção e vi meu pai desembrulhar a minha espada. Ele jogou o pano na cama e ofereceu a espada para eu segurá-la. Lentamente peguei-a, uma mão segurando o cabo, e a outra segurando a lâmina. Olhei fascinadamente para o punho da minha espada. Naquela época não tinha muita noção do que via, mas não deixei de notar que o punho, dourado, era preenchido com palavras em um idioma que eu não conhecia: “Ardenti Corde, inimicis metu.”, e no pomo havia uma pedra branca, e eu podia jurar que ela estava começando a brilhar. Nessa pedra tinha um desenho, uma coruja segurando uma espada pelo bico. Meu pai que estava acompanhando meu olhar, disse bem baixinho, e eu precisei me esforçar pra ouvir. – Está escrito: “Coração ardente, temor dos inimigos”. – Olhei para ele, indagando como ele sabia aquilo. – Aprendi essa linguagem na minha infância. É a linguagem dos magos. – Abri a boca para fazer mais perguntas, mas seu cenho fechado anunciou que não haveria mais respostas. Meus olhos passaram do punho para a lâmina da espada, que também era magnífica. Imagine, leitor, uma lâmina prata de dois gumes, com um nome escrito por cima, desenhado. Letra por letra eu fui formando o nome, e quando o entendi, levantei meus olhos para meu pai, uma lágrima solitária descendo pelo meu rosto. Estava escrito V-I-D-A. Ele entregou a bainha da espada, totalmente prateada como a lâmina, e então guardei a espada, e a prendi ao meu cinto, trocando pela outra desgastada, que coloquei no banquinho. Abracei aquele homem que mais uma vez me surpreendera, e juntos fomos preparar os coelhos para o almoço.
Mais tarde, naquele mesmo dia, eu a testei pela primeira vez, sorrindo em cada golpe que cortava o ar, imaginando quando eu a testaria de verdade. Não demorou muito para os deuses me responderem. Dias depois, se eu não me engano uns cinco dias depois, eu e meu pai recebemos algumas visitas inesperadas. Eu estava dando comida para os animais, quando escutei trotes de cavalos vindos á toda na direção de nossa casa, parecia que era um exército. E eu preciso frisar o modo como eu estava vestida, para você entender melhor os fatos que irei contar. Como havia lhe dito anteriormente, não me vestia como uma garota da cidade. E como habitualmente, estava usando uma calça, e uma camiseta sem mangas, mas larga o suficiente para não ser notado os meus seios. E meus cabelos estavam cortados um pouco acima dos ombros. Corri para dentro e desembainhei a minha espada, meu pai também já estava com a espada em punho e pediu para eu ficar onde estava. Tentei argumentar, mas o relinchar de um cavalo e uma voz em alto tom anunciou que eles haviam chegado e não havia mais nada que eu pudesse falar. – Quem mora nessa residência, saia agora!
Tenso, meu pai mexeu com a boca, sem pronunciar nenhum som, mas entendi muito bem o que ele disse. “Fique aqui!”. Ainda com a espada empunhada, ele abriu a porta e fechou atrás de si, me impedindo de ir atrás. Escutei a voz perguntar – É só você? – E meu pai responder que sim. Então ouvi o barulho de alguém descendo de um cavalo e passos. – Você está sendo intimado para comparecer ao recrutamento de soldados do Exército Real do Reino de Emris. Pegue tudo o que lhe for de mais precioso, e venha conosco. – O meu coração ameaçou parar. O que seria de nós? O que seria de mim, sozinha naquele lugar, sem o meu protetor? E o que seria de meu pai, de novo em um exército? Eu sabia que ele estava naquele lugar desde antes de eu aparecer para ficar longe da guerra. Uma ideia se formou em minha mente tão rapidamente, como se fosse colocada pelos deuses, e então corri para o meu quarto, enquanto meu pai respondia que iria pegar algo em casa antes de ir, na certa como desculpa para se despedir de mim, olhei para o espelho que havia na parede e arrumei meu cabelo de uma forma que me fazia parecer como um garoto. Peguei um pano e o passei sobre os meus seios, apertando-os, e mesmo com um pouco de dor e aflição por apertá-los tão forte continuei, mordendo os meus lábios. Troquei de camiseta, pegando uma com mangas, larga, e coloquei as botas de caça. A minha espada estava embainhada, presa no meu cinto. Olhei para o espelho novamente, e realmente, meus olhos pareciam pegar fogo. E eu parecia um garoto. Um garoto pequeno, mas um garoto. Eu não tinha modos de menina, mas era educada, e sabia imitar quase que perfeitamente a voz de meu pai. Escutei-o chamando meu nome baixinho. Decidida, fui até ele, e aproveitando a surpresa em seu rosto, consegui o enganar, passando por ele, e passei correndo porta afora, com meu pai em meu encalço, gritando. – Ninna, não! – Mas tarde demais.
Havia mais do que trinta cavaleiros, e muitos homens a pé, todos olhando curiosos para o garoto que acabava de sair da casa gritando – Eu também vou! – O homem que tinha descido do cavalo, olhou para mim e depois para meu pai, bravo. – Só havia você, não é? – E depois para mim. – Como é o seu nome, filho? – Eu gelei, mas o nome surgiu rapidamente. – Meu nome é Luca Ninna, senhor. – Disse, com a voz grossa. Ele poderia levar o tom meio afeminado como a fase de transformação na voz dos homens. Observou-me desconfiado, e perguntou. – Qual é a sua idade, garoto? Ele é seu pai? - Respirei fundo, e olhei para meu pai, que estava agora totalmente tenso, e chateado. Chateado comigo. – Tenho dezessete anos, senhor. E sim, ele é meu pai. – O homem caminhou até o seu cavalo, e subiu na sela agilmente. Olhou para mim novamente e depois para o meu pai. Tive a sensação de que ele havia gostado de mim. – Arranjem um cavalo para o garoto. Sir Luca Ninna, seja bem-vindo ao Exercito Real. – Subi no cavalo que rapidamente arranjaram para mim e meu pai veio ao meu lado. O homem deu um sinal, e o exército começou a ir em direção á cidade.
Autor(a): hanni
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