Fanfic: Leis do Destino | Tema: Portinon

Como que transportada para um universo paralelo, Anahi viu o rosto de Dulce na face de Eduarda comandando aquela pick-up, assim como ela se lembrava da ruivinha na primeira vez que a viu na festa do trote na Álibi.

-- Anahi? Anahi?

Fernando tentava chamar a atenção da amiga completamente ausente naquele momento.

-- Anahi? Você está me ouvindo?

O rapaz chacoalhou Anahi conseguindo sua atenção.

-- Oi, desculpa Nando. O que você disse?

-- Nada... E aí? Nossa nova DJ foi aprovada?

-- Claro que sim. Ela é boa não é?

-- Mesmo que não fosse não é? Além de ser sua namorada, é a chefe, a dona do lugar!

Nando brincou, mas Anahi não viu graça na piada.

-- Ela não está usando isso para tocar, deixa de ser injusto. Ela deixou esse espaço nesse horário justamente para DJs amadores.

-- Eu sei, nossa eu só estava brincando Any, calma...

Anahi abriu um largo sorriso ao notar Eduarda se aproximando.

-- Acho que te devo uma dança não é?

Anahi disse envolvendo o pescoço de Eduarda.

-- Isso e outras coisas mais se você gostou da música...

-- Adorei a música Duda...

Anahi beijou o rosto de Eduarda demoradamente.

-- Pelo menos a dança eu posso ter agora?

Anahi acenou em acordo e Eduarda conduziu-a pela mão até a pista de dança. Em clima de puro romance as duas dançaram, trocando carícias discretas e sorrisos, entretanto, a lembrança viva que Anahi trazia consigo da ex-namorada pareceu se personificar em cada olhar e sorriso que Eduarda lhe dava, perturbando-a.

-- Any está tudo bem?

-- Estou com sede.

Anahi disfarçou, mas as imagens com o rosto de Dulce em sua cabeça não paravam de se multiplicar, trazendo à tona o que ela lutava para esquecer.

-- Duda, você se incomoda se formos embora?

-- Claro que não minha querida, mas, você está sentindo alguma coisa?

-- Estou cansada, é só.

-- Vamos então lá pra casa, vou cuidar de você.

Com Eduarda, Anahi experimentava a agradável sensação de ser cuidada, há anos não se permitia isso, desde que enfrentou a traumática situação com Sandro, se obrigou a não depender de mais ninguém para se proteger e tal atitude lhe dava um frágil sentimento de onipotência interior, mas, exteriormente manteve sua imagem de autossuficiente. Naquela noite, o carinho da empresária foi crucial para a paz de Anahi que adormeceu nos braços da ruiva, entretanto, seu inconsciente a traiu. 
A promotora viu sua ex-namorada diante dela, linda como ela se lembrava, anunciando:

-- “Estou voltando para você meu amor”.

Anahi estupefata com a visão observou Dulce se afastar e gritou:

-- Dulce, Dulce... Dulce!

Foi nesse exato momento que ela despertou daquele sonho. Atordoada demorou alguns segundos para se dar conta de onde estava, encontrando Eduarda ao seu lado, lhe encarando séria.

-- Acho que tive um pesadelo.

Eduarda se levantou da cama muda. O silêncio da empresária incomodou Anahi.

-- Duda?

-- Quem é Dulce?

Anahi empalideceu. Os olhos de Eduarda pela primeira vez não transpareciam o encanto que esta manifestava quando lhe olhava.

-- Porque você está me perguntando isso?

-- Eu te fiz uma pergunta Anahi. Você pode me responder ao invés de me fazer outra pergunta?

-- Mas... Duda, eu não entendo essa pergunta...

-- Não faça isso Anahi, não tente me enrolar. Você chamou esse nome na primeira vez que ficamos. Já chamou esse nome outras vezes dormindo, eu aguentei calada por que não achava que tivesse o direito de te cobrar nada, mas puxa vida! Estamos namorando, e você chamou de novo esse nome enquanto estava abraçada comigo! Quero saber agora! Quem é Dulce?

**************

Os planos de Dulce de se afastar dos amigos, especialmente de Daniela e Angelique, teve a justificativa perfeita. Durante o resto verão, a ruiva se ocupou com o seu trabalho, esquecendo-se de vida social, mergulhou em seu projeto mais ambicioso, terminando as fotografias na metade do tempo programado.

No entanto, o acaso lhe sugou para a realidade mais uma vez. Os seus anseios confusos desde que sua relação com Angelique tomou outra conotação estavam devidamente contidos até o momento em que ouviu a voz de Angelique, quando passava em frente ao Light Rock. Não resistiu, entrou no clube que não estava aberto ao público. Angelique ensaiava com sua banda, e ao ver Dulce, parada no fundo do salão, sua voz sumiu.

-- Angelique? Parou por quê?

O guitarrista indagou surpreso com a parada repentina da cantora.

-- Quero repassar esse trecho... Mas, vamos fazer uma pausa.

A cantora desceu do palco e se apressou para alcançar Dulce que se retirou dali quando percebeu que não estava incógnita.

-- Dulce! Espera.

Na saída do clube Angelique alcançou Dulce.

-- Você ia embora sem falar comigo?

-- Só estava de passagem por aqui. Não queria atrapalhar seu ensaio.

-- Não está fugindo de mim?

-- Angelique...

-- Já faz tanto tempo que não nos falamos... Todos estão reclamando sua ausência...

-- Todos? Está falando da Daniela?

-- Dela e dos seus outros amigos. 

-- Parece que você mudou de opinião sobre levar á frente sua relação com ela não é?

-- Impressão minha ou você está me censurando?

-- Não mesmo, quem sou eu para censurar alguém?

-- Só para sua informação, não mudei de opinião. Eu e a Dani somos apenas amigas, ela está até saindo com outra pessoa.

Dulce não mudou a expressão, fingindo indiferença.

-- Bom, eu preciso ir, tenho muito trabalho.

-- Dulce espera!

-- Estou apressada Angelique. Volte para seu ensaio, não que você precise, por que está incrível, parabéns...

Dulce continuou seus passos rápidos ignorando o chamado de Angelique. A fotógrafa voltou perturbada com aquele encontro para seu apartamento. As folhas secas espalhadas pelas calçadas, anunciando o início do outono na cidade, não empolgavam o instinto e talento da ruivinha que adorava registrar esses momentos nessa época do ano.

A noite caiu, e todo esforço de Dulce para desviar os pensamentos de Angelique começou a render boas horas de trabalho. Mal percebeu a madrugada chegar entretida no seu estúdio, até ouvir a campainha tocar.

Deduziu que fosse algum dos seus amigos, para uma visita àquela hora só podia se tratar do Marco bêbado ou a Liza com dor de cotovelo. Quando abriu a porta seu coração saltou à boca, com Angelique parada, deslumbrante em um microvestido.

-- Aqui você não tem como fugir de mim.

Angelique não deu tempo para Dulce sequer formular uma argumentação. A cantora tomou a boca da ruivinha em um beijo faminto, no que foi correspondida com a mesma volúpia.