Fanfic: Leis do Destino | Tema: Portinon

Uma semana se passou. Nesse período, Anahi conteve por diversas vezes o impulso de ligar para Dulce a fim de saber notícias suas. A falta de informações sobre a saúde da mãe dela, e sobre a própria Dulce deixou Anahi uma pilha de nervos naqueles dias. Não podia sondar notícias com Pedro ou Lucas, isso despertaria a curiosidade dos dois, mas, essa era sua única opção.

Procurou pelos gêmeos na universidade, justamente quando precisava nem o acaso, nem sua busca foram seus aliados. Esperou até a sexta-feira, certamente encontraria os meninos no Botecão, arranjaria uma forma de obter alguma informação.

Como esperava, a turma de amigos da república Álibi estava mesmo no bar. Logo, as meninas do time de vôlei acolheram animadas Anahi. Lucas e Pedro reticentes foram econômicos na simpatia e atenção corriqueiras com a moça. 

O comportamento dos gêmeos obrigou Anahi a tomar a iniciativa de se aproximar deles, fato que obviamente causou estranheza em ambos.

-- O que foi que deu em você hoje para aparecer por aqui? – Lucas perguntou.

-- Nada demais, só precisava me distrair um pouco.

-- E o namorado? Não se chateia com o fato de você sair assim? – Pedro indagou.

-- Pedro você acha mesmo que sou do tipo de mulher que homem manda?

Lucas gargalhou, zombando da cara de Pedro ao receber a resposta insolente da moça. Constrangida, Anahi desconversou indo direto ao assunto que lhe levou até ali:

-- Como está a mãe da amiga de vocês?

-- Está falando da Dulce? – Lucas interrogou.

-- Sim.

-- Ah, está melhor, saiu da UTI, mas, precisará de muitos cuidados, não pode sofrer grandes emoções, Dulce nem voltou ainda, está lá cuidando dela. – Pedro respondeu.

Aliviada pelo fato da mãe de Dulce estar melhor, Anahi questionou finalmente a si mesma sobre tanto empenho para ter notícias de Dulce e a preocupação com o bem-estar dela. A verdade é que ela sofria não só a falta de notícias ou a apreensão sobre a saúde da mãe de Dulce, mas também sua ausência. Chegou a se condenar por não conseguir simplesmente ficar indiferente aos problemas de Dulce.

Com seu objetivo alcançado, Anahi concluiu que não tinha nada mais o que fazer ali. Enquanto seguia para o banheiro, foi abordada por Sandro, seu colega de sala, o típico filhinho de papai, com uma irreverência inconveniente. No episódio da foto do trote, ele chegou a discutir com Dulce sobre a atitude da moça de recolher as fotos na sala.

-- Opa! Olha só quem resolveu se juntar aos bons hoje! Anahi, a gostosa da capa! Aquela sua foto deveria ser capa de revista sabia? Com menos roupa, quem sabe até a Playboy, já pensou?

-- Não enche Sandro! – Anahi empurrou o rapaz irritada.

-- Ei! Você é muito estressadinha, só fiz um elogio.

-- Dispenso seus elogios, me dá licença, preciso passar!

Sandro cercava Anahi com insistência.

-- Pra que a pressa? Está fugindo de mim?

-- O que? Se toca garoto! 

-- Sabe, eu conheço um remédio ótimo pra sua irritação...

Sandro avançou no corpo de Anahi, lhe roubando um beijo. A moça esperneou, e sem defesas mordeu os lábios do rapaz, que se afastou bruscamente transtornado notando o sangue escorrer por sua boca.

-- Está louca sua vadia?!

-- Louco é você! Fique longe de mim!

-- Você vai se arrepender de me rejeitar assim! Você não sabe com quem se meteu.

-- Está me ameaçando? Não tenho medo de ameaças de covardes como você.

-- Vai acreditando nisso sua caipira ridícula... O que você faria se aquela foto caísse na internet?

-- Você está louco? Eu te processo!

-- Sabe que tem muitos recursos de edição que fácil consigo tirar até a pouca roupa que você usava na foto? 

-- Eu te denuncio!

Anahi estava completamente transtornada, tentava agredir fisicamente o rapaz. Sandro a segurou com violência e revelou:

-- Muito cuidado comigo, posso fazer da sua vida um inferno, do mesmo jeito que espalhei as fotos pela universidade, posso espalhar pelo mundo todo, basta um clique.

-- Então foi você?

Anahi apertou os olhos, enquanto uma lágrima percorria sua face.

-- E não hesitaria em fazer de novo.

Sandro empurrou Anahi, e se afastou limpando o sangue da boca. 

Anahi não sabia o que lhe doía mais, se a ameaça de Sandro e sua revelação ou o fato de atestar que Dulce não mentira. Entrou no banheiro, e permaneceu por um longo tempo entregue a um pranto sentido, culpado, solitário.

Demorou a se recompor, lavou o rosto e decidiu ir embora dali, em casa, ligaria para Dulce, estava decidida a obter o perdão dela. 

Quando se despedia das colegas e dos gêmeos, ouviu a movimentação de outras pessoas da mesa, uma algazarra que atraiu os demais para a calçada. Anahi seguiu os e por pouco seu coração não saltou pela boca quando viu sair de um carro esporte importado a dona dos seus desejos: Dulce.

-- Aeee Dulce olha a responsa da caranga!

-- Arrasou menina!

Eram os comentários dos colegas que recepcionaram Dulce. Anahi pouco se importava com o luxo do carro que atraiu a atenção de todos, seus olhos tinham um só alvo: Dulce. Ficou paralisada, observando cada movimento da ruivinha que esbanjava a simpatia entre os amigos, não notando Anahi no meio deles.

-- De onde surgiu essa máquina Dulce?

-- Ah... Exigência de minha mãe ela jogou baixo comigo, me obrigando a me desfazer da moto, por que isso a preocupava demais... Como ela não pode passar por contrariedades, aceitei minha cota de sacrifício.

Dulce falou em tom jocoso.

-- E você veio de Brasília com essa belezura? – Lucas perguntou acariciando o carro.

-- Imagina... Meu pai autorizou a compra em uma concessionária daqui, cheguei hoje de manhã e passei o dia resolvendo os detalhes da compra, documentação...

-- Precisamos estrear esse carro Dul! – Uma das meninas mais afoitas berrou.

-- Quando você quiser gatinha!

Com o intuito de ser vista, tomada de ciúme, Anahi pôs-se à frente dos que cercavam Dulce, foi quando esta finalmente a viu. Durou apenas segundos a troca de olhares, o suficiente para Anahi ler algo que lhe doía muito reconhecer: a mágoa de Dulce.

Dulce desviou o olhar e entrou no bar, Anahi baixou os olhos e seguiu também a turma, naquela situação desistira de ir embora, precisava falar com Dulce, e seria naquela noite.

Durante o resto da noite, Dulce parecia fazer questão de ignorar Anahi, mas era puro fingimento, pois, a observava com o canto do olho, e se aproveitava da vigília da moça para provocar seus ciúmes, enrolando nos seus dedos o cabelo das meninas que se aproximavam, simulando um flerte.

A saída de Anahi era beber. As rodadas de tequila se acumulavam alterando o estado normal da menina do interior. 

-- Anahi sei que não tenho nada com sua vida, mas você passou mal da ultima vez que bebeu tanto, não acha que devia ir com calma? – Lucas foi cauteloso com as palavras.

-- Estou bem Lucas, obrigada por se preocupar.

Preocupado com a moça, Lucas sentou ao seu lado, na tentativa de regular o instinto alcoólico de Anahi. A cada minuto que passava, mais aumentava a necessidade de Anahi falar com Dulce, sua vontade era cometer uma loucura, e arrastá-la na frente de todos e lhe roubar um beijo, fantasiando que isso fosse o suficiente para selar a paz entre elas. Não podendo se render a tal vontade teve a brilhante idéia de enviar mensagem de texto para Dulce.

-- “Preciso falar com você agora”. 

Dulce leu a mensagem, mas não respondeu. Mentalmente estava decidida a não facilitar as coisas para Anahi. Estava ferida, por ela não ter confiado, por acreditar que Dulce seria capaz de espalhar as tais fotos e principalmente, pela ausência de Anahi durante o período crítico que foi a doença da mãe. Nesses dias, recebera telefonemas de Lucas, Pedro, Maite e até de colegas da faculdade, mas, seu desejo era ouvir o consolo mesmo que à distância de Anahi.

Ansiosa, Anahi encarava Dulce cobrando uma resposta, mas a ruivinha não estava nem um pouco disposta a dar o braço a torcer. Não respondeu à mensagem, nem muito menos deu importância aos sinais que Anahi dava.