Fanfic: Leis do Destino | Tema: Portinon

Apática, Anahi chegou à universidade. Levantou-se naquela manhã depois de uma noite sem sono banhado com muitas lágrimas das etapas de um “luto”. O luto do fim de relacionamento. Viveu a negação. Recusava-se a acreditar que sua historia com Dulce estava acabada. A raiva, a mágoa e decepção que experimentara no dia anterior não foram suficientes para enterrar o que sentia pela ex-namorada. Ver Dulce na faculdade seria uma prova de fogo para seus planos de esquecê-la, no seu interior temia se jogar nos braços da ruivinha pedindo pra reatarem.

A aula de IED começou, e nenhum sinal de Dulce. Com quase uma hora de atraso, a ruivinha apareceu, com a mesma roupa que vestia no dia anterior, e no rosto enorme óculos escuros na tentativa patética de disfarçar sua aparência de ressaca.

-- Ora ora ora... Que alívio! Até hoje eu acreditei nos lunáticos que profetizaram que o fim do mundo estava próximo, já que a senhorita estava assistindo todas as minhas aulas esse semestre e chegando pontualmente, mas, ver você há essa hora aqui nesse estado me trouxe tranquilidade, tudo está normal! Amém!

A ironia de Dorothea despertou o riso de alguns alunos, exceto de Anahi que olhava para Dulce com reprovação. 

-- Exceto se você me provar que é uma vampira, e não pode encarar a luz solar, aqui na minha sala de aula, retire esses óculos escuros senhorita!

Dorothea insistiu provocando Dulce.

-- Em IED cara professora, julgo que já tenho direito adquirido sobre essa sala de aula.

-- Petulância de sua parte realizar tal julgamento. Saiba que eu determino as leis aqui dentro, e é coisa julgada: na minha sala não tolero que ninguém use artimanhas para esconder sua face de delito!

-- Delito? Então todos que estão sob a vigência das suas leis aqui nessa sala, são meros sujeitos passivos? Seu julgamento é baseado em suposições?

-- Não, meu julgamento é um ato jurídico perfeito minha cara, a evidência está nos seus poros, no seu hálito! E afirmo sim: é delito para um estudante chegar à minha aula atrasado por que está de ressaca! 

Dorothea berrou enquanto se aproximava de Dulce tirando os óculos da aluna. A ruivinha apertou os olhos, visivelmente incomodada com o tom de voz da professora e com a luz incandescendo seu olhar. O incômodo à luz não impediu de encontrar os olhos de Anahi, que observava a cena atentamente, com um semblante magoado, nublado.

A professora não poupou esforços para espezinhar Dulce, solicitando todo tempo sua intervenção, sempre à custa de gritos bem próximos ao seu ouvido, até o ponto da ruivinha entregar os pontos, e sair de sala.

-- Tão cedo Dulce? Algum compromisso? Outra farra ou orgia? Minha aula está incomodando sua agenda?

-- Na verdade sua aula é a mesma do semestre passado, que por coincidência é exatamente a mesma de dois semestres atrás, e é incrivelmente idêntica a três semestres anteriores também, até os mesmos exemplos, estou entediada.

Dorothea deu seu sinal de irritação: as fartas bochechas ruborizaram.

-- … bom que saia mesmo, já que não sou obrigada a registrar sua presença com seu atraso absurdo.

-- Bom, então não tenho mesmo o que fazer aqui.

Dulce colocou de novo os óculos e saiu da sala sem olhar para trás. A reação de Dorothea foi instantânea:

-- Muito bem, vamos fazer um trabalho para nota parcial de vocês. Valerá 50% da prova, assim a prova bimestral só valerá 5 pontos, os 5 pontos restantes serão desse trabalho que vocês farão agora, e ah! Pode ser pesquisado.

A vingança de Dorothea estava anunciada. A nota bimestral de Dulce já estava comprometida com tal manobra da professora. Sem pestanejar Anahi pegou o celular e enviou mensagem de texto para Dulce:

-- Volte: trabalho valendo 50% da nota.

Dois minutos depois, Dulce estava de volta para surpresa de Dorothea.

-- Esqueceu alguma coisa aqui Dulce?

-- Não... … que os bares ainda estão fechados, e está chovendo, vou ficar por aqui mesmo.

-- Isso se eu permitir.

-- Meritíssima não se trata de sua permissão, estou regularmente matriculada, tenho direito a isso.


Sem argumentos, Dorothea deixou mais uma vez sua ira evidente na cor da sua face, o fato de Dulce ser a primeira a entregar o trabalho só a enfureceu mais. Anahi sorriu discretamente, lendo a segurança com a qual a ex-namorada concluiu e entregou o trabalho, recordando da tarefa que Dulce lhe deu no primeiro dia de aula: fazê-la passar em IED.

Na saída da universidade, quando Anahi se preparava para enfrentar a chuva e seguir para sua casa, ouviu a voz de Dulce lhe chamar:

-- Anahi!

Anahi sentiu seu coração praticamente romper seu peito, tamanha a aceleração que ele alcançou. Esperou Dulce se aproximar ansiosa.

-- Anahi eu queria te agradecer.

-- Pelo que exatamente?

-- Pela mensagem. Estaria ferrada com Madimbú.

-- Ah... Não por isso. Achei uma sacanagem da parte dela...

-- Ela fica à espreita, esperando um vacilo apenas.

-- Chegar de ressaca em plena terça-feira é mesmo um vacilo.

Anahi murmurou.

-- Eu só... Eu não... … que... Não queria ficar sozinha ontem... Meu apartamento...

Dulce gaguejou, sendo traída pelos seus sentimentos, deixando escapar nas reticências, no olhar marejado o seu sofrimento.

-- Dulce, olha pra mim, e repete o que você me disse ontem. Repete que “a gente” não vale a pena.

A ruivinha não conseguiu fugir do olhar apaixonado de Anahi, mas antes que as palavras evidenciassem as suspeitas de Anahi, uma buzina soou diante delas:

-- Oi meninas! Vim fazer minha boa ação do dia! Quer carona até seu carro Dulce?

Angelique falou esbanjando a simpatia inerente à sua personalidade. O constrangimento de Dulce soou suspeito para Anahi, que imediatamente supôs mil situações envolvendo a ex-namorada e a psicóloga, em nenhuma das suposições elas eram inocentes no seu veredicto.

-- Eu... Não precisa doutora... Quer dizer... Onde meu carro está mesmo?

Angelique sorriu.

-- Entre, levo você lá. Anahi você vem conosco?

O convite da psicóloga surpreendeu Anahi, que indecisa entre o ciúme e o desejo de terminar aquela conversa com Dulce, não julgou agradável a companhia de Angelique.

-- Não quero atrapalhar vocês, com licença.

-- Mas... Anahi...

Dulce entrou derrotada no carro de Angelique, concluindo que seus próximos dias seriam ainda mais complicados para seguir sua decisão.

****************

Atordoada, Anahi voltou ao campus, encontrando no caminho sua colega Ruth.

-- Ei Anahi Estava te procurando, vai estudar?

-- Ah sim... Vou...

-- Já almoçou?

-- Não, mas estou completamente sem apetite.

-- Ah, vamos lá, temos muito assunto pra colocar em dia.