Fanfic: Leis do Destino | Tema: Portinon

De longe Dulce observou a movimentação e se apressou para intervir ao notar que Pedro segurou Anahi pelo braço com agressividade.

-- Solte-me agora!

Anahi bradou se desvencilhando com agressividade compatível, mostrando que não era a mesma menina indefesa da noite anterior.

-- Você nunca mais vai me tocar sem que eu conceda isso! Já disse, outro dia conversamos!

Sem olhar para trás Anahi deixou o campus, não percebeu a aproximação de Dulce que impediu a insistência de Pedro seguir a sua suposta namorada.

-- Você não ouviu a garota Pedro? – Dulce disse ríspida.

-- Não posso deixar a Anahi se afastar de mim assim, ela tem que me ouvir!

Pedro seguiu na direção de Anahi, e mais uma vez foi impedido por Dulce, dessa vez com violência. A ruivinha aparentemente frágil empurrou o amigo contra o corredor e encarando-o altiva disse:

-- Você vai deixar a Anahi em paz. Não vai importuná-la, por que o que você fez te desmerece completamente! Agiu como um cafajeste, você não a merece.

-- Qual é Dulce?! Quem te contou?

-- Não interessa! Mas vou te avisar uma coisa Pedro: se você ousar repetir o que fez, ou infernizar a vida da Anahi de alguma forma, não só perde uma amiga, ganha uma inimiga também.

A animosidade aflorando entre os amigos não passou despercebida pelos olhos e ouvidos mais atentos, entre eles, os de Carla que assistiu de perto a cena com Ricardo.

-- Nossa o que será que aconteceu pra Dulce falar assim justo com o Pedro?

-- Nem imagino...

Carla ficou intrigada com o tom da conversa que ouviu, mas não compartilhou isso com o namorado.

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Convicta que precisava de ajuda naquela confusão solitária de acontecimentos e sentimentos, Anahi engoliu seu orgulho mesclado com seu ciúme e bateu à porta do consultório da psicóloga solícita: Dra. Angelique.

-- Anahi? Que surpresa! 

-- Eu não sei como funciona... Preciso marcar hora ou pegar autorização em algum setor... – Anahi disse disfarçando a timidez.

-- Entre, por favor. Vamos deixar a parte burocrática para outro dia, sente-se.

Notoriamente constrangida, Anahi se acomodou em uma cadeira mais afastada. Respeitando os limites da jovem, Angelique tomou seu assento mantendo a distância.

-- Posso te ajudar em alguma coisa Anahi?

-- Espero que sim doutora.

-- Estou aqui para isso. Diga-me, por que resolveu me procurar hoje?

A pergunta coloquial da psicóloga funcionou como um start na emoção contida, fazendo Anahi se derramar em um pranto incontrolável. Angelique esperou solidária até que as lágrimas trouxessem o alivio necessário a sua nova paciente.

-- Eu não sei por onde começar a falar. – Entre soluços Anahi se esforçou para dizer.

-- Eu te ajudo nisso então. O que mudou desde a última vez que conversamos e você me disse que não precisava de terapia?

-- O fato de me dar conta que os homens são animais e que eu me sentir presa a uma obrigação que representa minha infelicidade.

-- Uau! Você precisa mesmo de mim...

Angelique deixou escapar o comentário, provocando um riso tímido de Anahi.

-- Sua teoria sobre os homens tem a ver com o fato que trouxe você e seu amigo para esse hospital?

-- Sim...

Pouco a pouco contando com a paciência e profissionalismo de Angelique, Anahi revelava a tribulação que atravessava sem, contudo deixar claro o que mais lhe afligia: a constatação de estar perdendo Dulce.

-- Por mais que sua personalidade, sua formação indiquem que você deve algo ao Pedro, isso não te faz refém dessa gratidão Anahi. Seja lá qual equívoco te fez aceitar essa condição, não pode persistir, você está adoecendo, carregando uma culpa, uma sentença que não te pertence. Você sabe o que fazer.

-- Acho que sim.

Notando a garota encarar o chão, Angelique insistiu:

-- Tem mais alguma coisa que te atormenta? Algo que o piso da minha sala te faça lembrar?

Anahi não ergueu os olhos, apenas acenou em acordo.

-- Desde que cheguei a São Paulo, muitas coisas mudaram em minha vida, mas alguém mudou a minha vida e me mudou também. - Anahi pausou com a voz embargada – Eu me sinto perdida desde que essa pessoa resolveu me dar a liberdade como alternativa pra definir nossa história, e tudo que eu queria nesse momento era estar livre pra me prender a ela...

-- O que mais te prende além dessa relação com o Pedro?

-- Meu medo de enfrentar as pessoas, a crueldade das convenções da qual ela tanto quis me proteger e eu não considerei a importância disso. O medo maior é de perdê-la pra meu medo...

-- Anahi, você é uma menina que sempre viveu cercada da proteção dos seus pais, pelo que me contou, sempre batalhou muito pra conseguir o que queria, está enfrentando o desafio de construir sua independência em uma das metrópoles do mundo, e está deixando que o medo domine sua vida? Você é mais forte que isso. 

-- Eu criei um fosso entre nós. Em semanas me transformei na namorada perfeita do Pedro, e quando a vejo tão vivaz, tão envolvida em projetos que eu nem sei o que são me apavoro por que sei que estou perdendo-a...

Anahi se calou bruscamente ao perceber que entregara o sexo da pessoa em questão.


-- Não se censure. Não quero que me considere um padre, mas acredite, posso guardar um segredo de confissão.

Anahi pareceu relaxar e prosseguiu.

-- Ela parece ter me esquecido. Não passo de uma estranha conhecida.

-- Tem certeza disso?

Anahi suspirou alto.

-- Se não tem certeza, é melhor você conquistar algumas certezas e pra isso precisa voltar a cuidar da sua vida, ao invés de deixar seus medos fazerem isso.

A postura reflexiva da moça deixou claro que a psicóloga não tinha só conquistado a confiança da sua nova paciente, mas também sua simpatia. Com o semblante mais aliviado Anahi se despediu de Angelique.

-- Leve essa solicitação. … meu encaminhamento para você agendar pelo menos dois encontros semanais comigo, se você quiser claro.

-- Eu quero sim doutora, vou agendar. Muito obrigada.

Antes de deixar o consultório, Anahi ainda ouviu:

-- Ah! Anahi, fora da sessão, não é um conselho da doutora, é só uma dica: a Dulce não te esqueceu.


Anahi pareceu surpresa. Angelique sorriu e fechou a porta com o sentimento de dever cumprido, com a certeza de ter ajudado sua nova amiga a se entender com sua amada.