Fanfic: Brincando com fogo VONDY (Adaptada) | Tema: Vondy

—Ela é pequena, bonitinha e adora cor-de-rosa. Tem cabelos longos e
ruivos. Lisos. Incríveis, mesmo. E está sempre com as unhas pintadas.

—Adoraria poder pintar minhas unhas, mas elas não durariam nem dois
minutos na fazenda. O que mais?

—Ah, ela é... divertida. E tem uma personalidade dez vezes maior do que
o corpo. — E não diria mais nada.

—Quando a conheceu?

—Ela me entrevistou para um artigo.

—Você? Que tipo de artigo? Ah, sim! O concurso para o calendário!

—Exatamente.

—Em que jornal o artigo será publicado? Quando?

—Não sei quando, mas o jornal é o Geórgia Straight.

—Vou ficar atenta.

—Não mostre aos velhos, por favor.

—É claro que não! Isto é, desde que você peça uma sobremesa especial e
mais uma taça de vinho.

—Chantagem.

—Isso mesmo. E então, quando vou conhecer Dulce?

—Eu mesmo acabei de conhecê-la! Espere ao menos até estarmos
namorando.

—Não vou ter de esperar muito. É óbvio que foi fisgado.

Ele encolheu os ombros e sorriu.

—Não é delicioso quando estamos começando uma relação com alguém,
Ucker? Tudo tão novo e excitante!

—Excitante. Definitivamente.

—Vai contar aos velhos sobre ela?

—Se continuarmos saindo... namorando... Sim.

—É mesmo?

—Por que não?

—Bem, você vai fazer trinta anos. Mamãe vai achar que...

—Ah, sim, a velha história de me casar e ter filhos. Ela pode alimentar
esperanças, não é? — E atormentá-lo.

Não que fosse contra o casamento. Um dia, quando encontrasse a mulher
ideal... Mas ele decidiria, não sua mãe.

—Esperança? Ela vai ter um ataque!

—Por quê?

—Dulce é canadense, Ucker. Descendentes de chineses.

—E daí?

—Sabe como os velhos pensam. Alemanha é a perfeição, o Leste europeu
e a Inglaterra é razoável, países do Mediterrâneo são questionáveis, e a Ásia
é ruim.

—De onde tirou essa idéia? Nunca ouvi nenhum dos dois dizer tal coisa!

—Não prestou atenção. Nunca ouviu papai se queixar sobre a decisão do
sr. Nguyen de vender a produção de sua propriedade?

—Sim, ele se queixa do trânsito provocado pelos consumidores que vão à
fazenda comprar legumes e verduras.

—Se o sr. Werner estivesse comercializando seus produtos, papai não
reclamaria. Mas o sr. Nguyen é vietnamita.

—Qual é o problema com os vietnamitas. Ou com os asiáticos?

—Eles têm aparência e hábitos diferentes.

—Isso é ridículo!

—E é a mim que vem dizer?

—Está sugerindo que somos filhos de pessoas racistas? Por favor!

—Não são racistas, mas... Ah,Ucker,você e eu,enfim, pessoas da nossa
idade... Temos idéias diferentes das de nossos pais e avós. Fomos à escola, à
universidade, conhecemos gente de todas as raças, culturas e religiões, e
para nós isso é comum. Não tem nada de assustador. Outras pessoas temem
as diferenças. Elas são ameaçadoras, entende?

—Quer dizer que papai e mamãe se sentiriam ameaçados por Dulce
Maria?

—Acha que estou errada? Pois bem, conte a eles sobre seu namoro, e
vamos ver como reagem.
Dulce e Christopher chegaram no restaurante juntos, porque ele havia deixado o
jipe na frente do prédio de apartamentos onde ele morava, mas ela se
recusara a andar de mãos dadas pela rua. Se algum chinês a visse...
Ucker estranhava sua atitude, mas aceitava sem grandes questionamentos.

—Você também deve ter hábitos culturais estranhos para mim — ela
argumentou.

—Ah, sim! Meu pai planta e vende milho, mas não admite o cereal dentro
de casa. Na Alemanha, milho era para os porcos.

—Entende? Para mim, isso é estranho.

—Eu sei. E ele também não come arroz. Diz que não é comida.

— Ele teria problemas sérios em minha casa! — Não que
opai de Ucker, ou o próprio Ucker algum dia pudessem ir visitá- la. Seus pais
sofreriam um colapso.

Havia muita gente na rua Robson. Casais de todas as idades, gays e
heteros, caminhavam de mãos dadas sem nenhum constrangimento.Dulce adoraria poder segurar a mão de Ucker não podia correr o
risco. Além do mais, não estavam realmente juntos, estavam apenas...
realizando fantasias. Jantariam comida tailandesa, depois ele dançaria e se
despiria, e então...

Durante o jantar,Dulce contou que a matéria sobre o calendário seria
publicada na quinta-feira seguinte com uma fotografia fantástica
enriquecendo as informações.

—Foto?

—Primeira página!
—Dulce, Como pôde fazer isso comigo?

—Fazer o quê? Você vai se transformar no deus do sexo em West End.

Terá mais mulheres atrás de você do que é capaz de administrar.

—Você é mais mulher do que posso administrar!

Ela riu.

—Não tenho queixas. Por enquanto...

—Já sei, está esperando a dança... Preciso de umas cervejas antes.

—Cuidado. Não exagere ou vai perder sua capacidade de... performance.

—Não existe essa possibilidade.

—Espero que não, porque tenho criado muitas fantasias que dependem
de sua performance.

—Mais fantasias?

—Quero fazer uma sessão de fotos. Eu, minha câmera, você e uma cueca
de seda. Vermelha.

—Está brincando?

—Não.

—Bem, se está falando sério, quero propor uma bargana. — Ucker falou.

—Vá em frente.

—Você tem sua dança e a sessão de fotos, mas eu...

—O quê? Cinta e meias? Cama com espaldar para amarrar? Cachoeira?

—Isso tudo já faz parte da lista.

—O que é, então?

—Uma gueixa.

— Ucker, as gueixas são japonesas. Eu sou neta de chineses.

—Eu sei, mas o cabelo é idêntico! Pode fazer um penteado tradicional,
vestir um quimono...

Estava começando a entender. Sim, seria divertido.

—Vai querer uma cerimônia do chá? É isso?

—Não havia pensado nessa parte, mas seria divertido. Você poderia me
servir, obedecer e agradar. Teria de me tratar como seu amo e senhor.

—Você já é.

—Nem tente! Quer um dançarino só para você? Eu quero uma gueixa só
para mim.