Fanfic: Brincando com fogo VONDY (Adaptada) | Tema: Vondy

—Marty, você e Dulce se divertiram ontem à noite no cinema? — a mãe
dela perguntou no meio do fatídico jantar de domingo.
Marty olhou para Dulce.

—Nós dois apreciamos filmes estrangeiros — disse, conforme haviam
combinado anteriormente. —Alguns momentos mais emocionantes me
lembraram Almodóvar.

—Almodóvar é melhor — Dulce opinou. — Mais leve. Dramático, sem ser
melodramático. — Haviam ensaiado muito bem antes!

—Vocês dois são perfeitos um para o outro — Maite constatou com ar
entediado. — Pessoalmente, prefiro comédias românticas.

—Também gosto de comédias — Marty declarou.

Ele era perfeito. Exceto pelo pequeno detalhe de ser gay e não haver
nenhum interesse sexual entre eles.

Por outro lado, seria realmente divertido ir ao cinema com ele uma noite
qualquer, depois beber alguma coisa e discutir sobre o filme.
Para o sexo já tinha Ucker, perfeito a sua maneira.
Infelizmente, jamais poderia levá-lo para jantar em sua casa. Nem
conseguia imaginar um dia em que iriam juntos ao cinema para assistir a um
filme estrangeiro.

Bem, tinha dois homens para suas duas vidas distintas. Se as mantivesse
separadas, como fazia com tanto sucesso havia anos, teria dois modelos de
perfeição. O que podia ser melhor do que isso?

— Não é maravilhoso? Dois homens perfeitos! Como pude ter tanta sorte?
— Dulce perguntava para as três amigas na segunda-feira.

Estavam em uma das mesas na calçada do Athene`s, um dos preferidos do
Quarteto.

—Sim, parece ótimo — Anny concordou. — Como solução temporária,

—Veremos. Ucker e eu podemos criar fantasias sem nunca esgotá-las, e
Marty e eu... Bem, temos planos de casamento.

—Casamento? — May exclamou.

—O quê? — gritou Bel.

—Diga que está brincando! — pediu Anny.

—Quando tivermos trinta anos. Se até lá não encontrarmos outra solução
para o dilema que enfrentamos, vamos nos transformar em álibi vitalício um
para o outro.

—Você só pode estar brincando — insistiu Anny.

—Não estou. Pode ser uma solução. Nossas famílias ficariam felizes, nós
nos damos bem, e poderíamos ambos manter nossos relacionamentos
sexuais paralelos.

—Acha mesmo que seria capaz disso? Mentir para sua família até o fim da
vida? — Maite soava mais curiosa do que reprovadora.

—Bem, se não me apaixonar por um chinês, não vai me restar alternativa.

—Dul, raciocine! — Anny estava irritada. — Se você se apaixonar por um
homem que não é chinês, o que sua família poderá fazer? Deserdá-la?
Duvido!

—Desde menina, ouço diariamente a ladainha sobre como tenho de me
casar com um bom rapaz chinês. Se levar alguma coisa diferente para casa,
eles me encherão de culpa como fizeram com Anthony. E não descansarão
enquanto não provocarem o fim do relacionamento.

—E você os enfrentará — sugeriu Maite. — Está sempre nos
incentivando a ter mais coragem, ousadia! Siga seu próprio conselho!

—Eles são como água batendo na pedra! Podem tornar a vida miserável,
quando querem! Anthony tentou ser firme, mas acabou cedendo, tal a
intensidade da pressão. E agora ele me aconselha a ser obediente, porque os
pais sempre sabem o que é melhor para os filhos.

—Isso é ridículo — Maite protestou.

—Pensei que nunca ia entender. May, nem todos os chineses são assim,
mas conheço muitas garotas que estão na mesma situação. Chinesas, judias...
Bel, os judeus não acreditam ser o povo escolhido? Pois bem, com os
chineses acontece algo parecido. As gerações mais antigas acreditam mesmo
que somos melhores que as outras pessoas.
Bel assentiu.

—E eu sou uma garota — Dulce continuou. — Toda família precisa ter
certeza de que cada filha vai se casar com um homem que a manterá segura,
protegida. Esse homem deve ser capaz de garantir a estabilidade e a
segurança material da esposa e dos filhos. E um homem branco não merece
essa confiança.

—Que absurdo! — Anny manifestou-se.

—Sim, é absurdo. Mas é real.
Bel tomou a palavra.

—Como Dulce já disse, é difícil lutar contra essas coisas. Há séculos de
história por trás disso. E a culpa é resultado de técnicas refinadas ao longo
desse tempo. Se minha mãe fosse viva, a sua não teria chance, Dulce! As
mães judias são mestres na arte de despertar culpa em seus filhos.

—E esse rapaz com quem está saindo...?

—Al? — Bel perguntou, olhando para Dulce sem entender a pergunta.

—É judeu?

—Não.

—Circuncidado? — Dulce perguntou, recuperando o bom humor.

—Prometo informá-la assim que eu descobrir — Bel respondeu, séria.

—Ainda não descobriu?

—Mas ainda estão saindo juntos — Anny interferiu.

—Sim, tivemos uma noite ótima no sábado. Jantamos no Sequóia Grill,
ouvimos música, passeamos pela orla...

Bel era a romântica do grupo, mas não suspirava enquanto descrevia seu
encontro com Al.

—Deve ter sido romântico — Dulce provocou com tom curioso.

—E, acho que foi...

—Acha que foi?

—Foi — Belinda confirmou rindo. — Foi maravilhoso. Falamos sobre muitas
coisas. Ele é atencioso, educado, espirituoso... O problema é que tenho
expectativas... não, esperanças muito elevadas. Eu me diverti, mas queria
que fosse mágico. Fiquei deprimida por não sentir a magia e acabei não
aproveitando o que havia de bom no momento.

—Em alguns relacionamentos, a magia vem com o tempo — Anny
comentou.
Maite encolheu os ombros.

—Não sei... Com Christian, a magia apareceu no primeiro instante.

—Vocês se conheceram em Creta — Bel apontou. — Lá existe magia até
nos banheiros públicos.

Dulce fez uma sugestão.

—Então, imagine-se em Creta com Al. Suponha que estão naquela praia
de nudismo onde May e Christian se conheceram. Você se despiu
completamente...

—Pare! — Bel interrompeu. — Não é assim que a magia acontece
comigo. Despir-me à luz do dia e em público é um pesadelo, não um sonho.

—Bel, você é impossível.

—Não importa. O fato é que temos nos divertido muito, e isso é o
bastante... por enquanto. E você, Dulce? Como vai indo com o sr. Fevereiro?
Dulce contou sobre os chocolates com champanhe, sobre a dança privada
e sobre como fazer se/xo com Ucker era cada vez melhor.

Maite se interessou especialmente pelos chocolates, e Dulce explicou
que eram feitos por uma mulher que só os vendia pela Internet e numa feira
de rua em West End. A marca era sugestiva: Chocolates Menina Má.
Dulce não falou sobre o receio que a invadia, agora que o conhecia
melhor e sabia que ele possuía qualidades incomparáveis. Não. Esse era um
caminho proibido. Jamais poderia viver com Ucker, por isso não haveria mais
jantares ou passeios de mãos dadas. Seriam apenas parceiros de fantasias
sexuais. Assim, não correria o risco de sofrer mais tarde.

—Dulce, francamente, não acha que está se submetendo a fantasias
muito... machistas? — Anny perguntou. — Essa história de ir dançar no mastro
no quartel dos bombeiros, a fantasia de gueixa que disse que vai realizar...

—Anny, às vezes você é feminista demais.

—Não é feminismo! É que... Bem, você sabe, alguns homens tratam as
orientais como mulheres...

—Fáceis? Sim, eu sei. É quase um fetiche. Mas Ucker é diferente, Anny. Ele
não é preconceituoso.