Fanfics Brasil - 1 - Cega e Surda American Horror Story Coven - The Aftermath

Fanfic: American Horror Story Coven - The Aftermath | Tema: American Horror Story, Originais, Original, Drama, Aventura


Capítulo: 1 - Cega e Surda

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O ônibus está cheio delas. Conversando, rindo, mexendo no celular. Diferentes garotas, de distintas idades, amontoadas. Sinto a temperatura aumentar um pouco. Estou nervosa e ansiosa, pois não sei o que me espera, não sei quem irá dividir quarto comigo e principalmente não sei como irei me comportar, pois nunca me senti confortável quando cercada de muitas pessoas. Respiro fundo tentando me acalmar. Em todo o tempo em que estive no ônibus, percebi só ter uma certeza.


Somos bruxas.


Ou super heroínas, como dissera meu irmãozinho, Josh. A mera lembrança dele e de minha mãe me deixando na porta de casa me traz algumas lágrimas aos olhos, que eu reluto em deixar escapar. Respiro fundo mais uma vez e suspiro, fechando os olhos. Quando os abro encontro um par de olhos negros me encarando. A garota que está em pé ao meu lado é negra, de cabelos curtos e pretos. Ela me olha com curiosidade. Aos poucos percebo que o ônibus está vazio e sou a única passageira que restou.


– Tudo bem, novata? - Ela me pergunta com a voz impassível.


– Sim, eu acho. Desculpe, devo ter dormido.


– Em coma, pelo visto. Vamos andando. Meu nome é Queenie, a propósito.


– Eu sou – Mas antes que possa dizer o meu nome ela já está saindo do ônibus em um passo apressado.


Pego minha mochila com meus poucos pertences, de mero valor sentimental e a sigo. Ela me guia para uma fila de meninas vestindo preto do lado de fora de uma enorme mansão, com a típica arquitetura francesa da região.


– Fique na fila e espere sua vez novata. - Diz Queenie saindo de perto.


– Sim. - Respondo ainda sonolenta.


Estamos em New Orleans e tá um calor dos infernos, apesar de estar anoitecendo. Sinto-me desconfortável de novo. Será que teríamos de vestir preto sempre? Meus pensamentos são interrompidos pela voz aguda de alguém. A garota a minha frente, na fila, não para de falar no celular. Ela é asiática, tem cabelos longos e pretos. Ela fala tão rápido e alto que mal posso ouvir meus próprios pensamentos. Até que alguém duas pessoas a frente dela vem até onde estamos, no final da fila, e reclama.


– Dá pra falar baixo aí, gracinha? - Diz a outra menina que é alta, com pernas longas e cabelo ruivo natural, raspados na lateral. Ao olhar para o seu rosto mais atentamente percebo que ela tem dois piercings na bochecha e um no nariz.


– Só um instante, Max. – Fala asiática do celular a minha frente. – Como é?


Ela vai aproximando–se, de forma ameaçadora, da ruiva.


– Ninguém manda Llili calar-se. Nem meus pais me mandam calar a boca. - A menina asiática diz, mascando chiclete.


– Engraçado, porque eu acho que acabei de fazer isso. - Fala a ruiva aproximando-se e estralando os dedos casualmente.


Aos poucos as meninas desfazem a formação de fila indiana e fazem um circulo ao nosso redor. Vejo expressões apreensivas, animadas e confusas. Alguém está filmando tudo com um iphone.


– É uma briga? - Diz uma das meninas.


– É Catherine que está lá na frente? - Pergunta mais alguém.


Sinto o ar escapar de meus pulmões, em uma velocidade que julgava não ser possível, quando sou empurrada por duas gêmeas de cabelo prateado que passam a minha frente. Elas seguram seus celulares e fotografam a coisa toda.


A garota asiática, Lili, olha com desprezo para Catherine, a ruiva, e põe o celular na altura da orelha, voltando a falar.


– Oi, Max. Sim, não foi nada demais. Podemos conversar, exatamente como antes.


– Ah, não mesmo. - Catherine se aproxima, rapidamente, retirando o celular das mãos de Lili, violentamente, e jogando-o no chão. A multidão vibra. Escuto ohs – e ahs exasperados. Sinto minhas mãos soando frio. Detesto violência.


Antes de ser empurrada para trás mais uma vez vejo que Lili, apesar de mais baixa, empurra Catherine com as duas mãos.


– Olha o que você fez com meu celular! Sua maluca!


Então, Lili suspende Catherine no ar, usando apenas uma mão.


– Você vai pagar por isso. - Lili diz com um tom quase divertido.


Preciso fazer alguma coisa.


E antes que me dê conta do que está acontecendo sinto o tempo ficar mais lento e percebo que todas as meninas próximas a mim param de falar e de se mover. Lili deixa o braço despencar ao lado do corpo e Catherine caí na calçada mais subitamente do que fora erguida. Ela observa, com ar confuso, todas as meninas que estão ao redor dela, tentando entender o que aconteceu.


É então que Lili grita:


– Está queimando! Não consigo ver! Ela toca os olhos desesperadamente como se tentasse apagar chamas que não estavam lá.


E todas as garotas ao nosso redor começam a balbuciar, chorar e gritar coisas similares. Que seus olhos estavam queimando, que não conseguiam ouvir nada, que estava doendo. Danem-se.Quase sorrio debilmente ao sentir o fluxo de poder sair de mim e absorver um pouco de energia vital de cada uma delas. Eu estava fazendo isso. É isso que me trouxe até aqui. Minha demente habilidade. Não consigo reprimir um sorriso que brinca em meus lábios. A quem eu queria enganar quando dizia que odiava violência? Eu amava o desespero no rosto das pessoas a quem infligia dor. Não. Não! Eu tento reprimir o meu poder e parar de machuca-las, mas meu corpo não obedece. Minhas mãos se erguem com as palmas para cima e Catherine finalmente me avista. Eu reconheci aquela expressão muitas vezes em diferentes rostos. Era medo. Medo de mim.


– O que está acontecendo aqui? Uma feminina voz mais velha se dirige a todas nós de forma autoritária. Abaixo os braços e consigo parar de usar minha habilidade, imediatamente. Fecho os olhos com força e quando os abro, vejo que as meninas voltaram a enxergar e ouvir, mas ainda estão paralisadas de medo. Até Lili está quieta em um canto perto do portão. Catherine ainda me observa, cautelosamente.


– O que está acontecendo aqui? A mulher pergunta novamente e dessa vez reconheço-a. Com cabelos loiros de corte mediano e olhar doce, ela nos encara lentamente enquanto espera alguma resposta. É ela, Cordelia. A diretora da academia para jovens Miss Robichaux. Ela é a principal responsável por tornar a academia um refúgio para jovens bruxas com os poderes em ascensão, ou ao menos era isso que os noticiários e os jornais davam a entender.


Catherine se levanta, explica que estava quase brigando com uma das alunas e aponta para Lili que parece desnorteada, mas acena que sim com a cabeça.


Catherine diz que Lili a suspendeu no ar e que após isso todas começaram a gritar histericamente. Lili fala que ficou cega e surda por alguns instantes e que era a pior dor que tinha sentido em toda sua vida. Algumas meninas concordam que sentiram o mesmo e outras ainda parecem muito abaladas pra falar. Não deixo de notar que Lili choraminga agora.


Cordelia olha de uma para a outra e então ela me alcança, está ao meu lado antes que possa piscar.


– E você querida? Pode me explicar o que aconteceu aqui?


Engulo em seco. Agora eu tenho atenção de todas as meninas que estavam ao nosso redor. Podia sentir cada uma delas me fitando e Cordelia também.


Tento falar, mas minha voz não passa de um sussurro. Pigarreio um pouco e digo:


– Eu tinha que fazer algo. Eu... Tinha que fazê-las parar. - Lágrimas vão se acumulando rapidamente em meus olhos e tento olhar para cima pra não chorar. Tarde demais, uma lágrima se segue de outra e estou chorando.


– Si... Sinto muito. Eu detesto violência e não suportei vê-las brigando.


Quando tento visualizar Cordelia, ela se telestranportou novamente. Vejo-a parada entre duas jovens. Uma delas é Queenie. A outra é uma garota de pele branca e olhos castanhos marejados, muito bonitos. As três dividem um olhar cheio de palavras não ditas.


– Catherine Patlock, Liliana Kin e Jennifer Young. As três para o meu escritório agora. O resto de vocês, por favor, espere na fila.


Queenie e a outra garota que estava ao lado de Cordelia reorganizam a fila de alunas enquanto somos levadas até a escadaria da mansão. Aproveito o tempo para enxugar as lágrimas que insistem em escorrer.


A parte interna da mansão é completamente branca e a principio me sinto ofuscada pela claridade. Dois gigantescos pilares brancos sustentam o teto e uma escada enorme se estende diante de nós. Várias meninas estão caminhando pelos corredores acima, à direita e a esquerda, todas vestindo preto é claro. As veteranas sussurram e começo a me perguntar se foi uma boa ideia vir pra cá.


– Por aqui meninas. - Diz Cordelia, cordialmente.


Somos guiadas por um intricado emaranhado de corredores até uma porta marrom, que leva-nos ao que deve ser o escritório de Cordelia.


– Sem passagem secreta do Harry Potter? - Escuto Catherine reclamar baixinho em um tom desapontado.


– Creio que isso não é necessário, Senhorita Patlock. Desde que fizemos o anúncio revelando nossa identidade ano passado, temos recebido várias jovens bruxas assim como vocês e já inauguramos duas novas sedes em diferentes estados e mais uma aqui em New Orleans. – Cordelia fala com um sorriso triunfante e ao mesmo tempo humilde.


– Há um ano não temos recebido notícias de nenhum incidente grave, desaparecimento ou morte de nenhuma de nossas alunas. - Cordelia lança um olhar significativo para Lili e Catherine, mas tudo que consigo me concentrar é na sentença morte de alunas.


– O que as trouxe aqui? - Essa pergunta dela pega todas nós de surpresa. Começa ficar mais frio na sala. Eu penso.


– Quero usar minhas habilidades para me beneficiar. Quer dizer... - Lili pausa um segundo para reorganizar os pensamentos e nós esperamos.


– Quero aprender como usa-las para me beneficiar. - Ela completa, agora aparentando estar recuperada e tranquila e sorrindo.


Cordelia sorri um meio sorriso e fala para Lili que é um motivo válido para estar ali. Os olhares se voltam para Catherine que diz na lata:


– Não sei. Ouvi falar da academia e já sabia que meus poderes estavam se manifestando, então pensei: Por que não?


– Muito bem, querida. Fico feliz que tenha nos escolhido, mesmo tendo outras opções.


Sinto que é a minha vez de responder, pois todas as pessoas presentes me encaram. Mas antes que consiga me impedir estou falando:


– O que aconteceu um ano atrás?


Cordelia me observa com atenção e, estranhamente, não me sinto desconfortável, mas ainda assim acho que preciso dizer algo.


– Me desculpe, eu não... Só estou curiosa.


– Um ano atrás nosso coven... Estava passando por momentos difíceis. Fomos perseguidas por diferentes inimigos, que foram devidamente derrotados, mas ainda assim reduziram nosso número consideravelmente. Muitas vidas foram sacrificadas para que pudéssemos estar aqui as recebendo hoje.


A voz de Cordelia soa melancólica e ela para um minuto para respirar.


– Quando esse período ruim passou, decidimos abrir as portas da academia para que nos fortalecêssemos e nunca mais fôssemos caçadas de novo. Mas não se preocupem, pois vocês estudarão tudo o que se passou conosco em História da bruxaria moderna.


Mudo de posição na cadeira, me sentido idiota por ter perguntado sobre isso ao invés de responder como as outras meninas fizeram.


– E então, Jennifer, o que a trouxe até aqui?


Expiro e inspiro algumas vezes antes de responder. Decido dizer a verdade.


– Eu sou diferente e isso me assusta. Preciso aprender a controlar meus poderes antes que eles aprendam a me controlar. - Parabenizo-me por não deixar a voz tremula em nenhum momento e penso como mamãe e Josh ficariam felizes de me ver assim.


– Jennifer, você é muito bem vinda aqui. Faremos o melhor para ajuda-la com suas habilidades. - Cordelia sorri de forma gentil e é como se pudesse confiar nela.


“Você terá que confiar em estranhos quando estiver na academia” dissera-me mamãe antes que eu viesse pra cá. E delibero naquele momento, que irei confiar na bondade de Cordelia. Consigo sorrir de volta.


– Indaguei os motivos de vocês estarem aqui, pois preciso que estejam firmes no coven, para que possamos ser uma família. Devemos nos apoiar como irmãs, que passam por dificuldades, mas que crescem juntas. Eu preciso saber se vocês querem estar aqui, mais do que desejam enfrentar umas as outras. E preciso que possam controlar os ânimos umas das outras. Acham que podem fazer isso?


Um momento tenso se segue.


Eu faço que sim com a cabeça.


– Tanto faz. - Responde Lili mascando um novo chiclete.


– Acho que sim. Diz Catherine.


– Ótimo, então a partir de hoje, vocês três irão dividir o mesmo quarto.


Silêncio.


– É só isso? Fala Lili em um tom entediado.


– Sim, Lili. E nós não toleraremos seu comportamento, se você tentar trocar de quarto com sua irmã. A senhorita Ana Kin já está bem acomodada onde está.


Lili adquire um tom pálido enquanto Catherine caí na gargalhada. Eu não sei se fico admirada ou assustada com o que acabou de acontecer. É como se Cordelia tivesse literalmente lido os pensamentos de Lili, fácil assim.


– Podem se retirar da sala meninas, exceto você Jennifer, gostaria que pudéssemos conversar mais.


Catherine e Lili se levantam praticamente ao mesmo tempo e saem da sala tomando direções opostas, mas antes de alcançar a porta posso ouvir Catherine dizer pra si mesma “Sem suspensão nem nada? Cara, já amo esse lugar!” Não consigo evitar um risinho. Espero que possamos ser amigas.


– Eu também. Diz Cordelia casualmente.


Okay. Esse negócio de ler mentes é assustador, definitivamente, assustador.


– Mas espero que você possa aproximar-se de Lili, também, e ser um ponto de equilíbrio entre elas. Era isso que você estava tentando fazer lá fora não é?


Desvio olhar.


– A principio sim, mas... – Encaro minhas mãos negras apoiadas no meu colo. Como explicar que quase me deixei levar por aquela sensação? Que eu me aproveitei, mesmo que por instantes, da situação?


– Eu sei por que você está aqui, Jennifer. Sua mãe me explicou sobre o incidente que ocorreu antes de você ser transferida pra cá. Ela parece ser uma pessoa maravilhosa, por sinal.


Minha respiração se acelera um pouco. Será que mamãe contou tudo?


– O que você fez hoje, é uma prova de que pertence a esse lugar. Se você não tivesse agido a tempo não acredito que Lili iria se impedir de machucar Catherine. E as outras garotas estavam mais interessadas em documentar o ocorrido do que em ajudar.


Cordelia fala em tom impassível e posso perceber que não está se pondo como juiz de nenhuma de nós.


– Senhorita Goode, não é tão simples assim... Não sei como explicar o que se passa comigo quando uso meus poderes, mas é como se algo em mim mudasse e se a senhora não tivesse intervido eu não... - Não teria parado. São as palavras que não ouso dizer.


Ela sorri tranquilizando-me.


– Eu compreendo Jennifer, mas nós estamos aqui para ajuda-la a entender-se melhor e a manipular seus poderes. Você tem muito potencial e quero que ajude suas colegas de quarto a se concentrarem somente no aprendizado que podem ter aqui. Você acha que pode fazer isso?


Solto o ar que não percebi ter prendido. Tentar pacificar um conflito iminente é uma coisa. Conviver com a responsabilidade de pacificar vários conflitos iminentes é outra. Não sabia se estava pronta pra essa responsabilidade então digo exatamente como me sinto:


– Preciso de um tempo pra pensar.


– Entendo, darei três dias para que pense, por enquanto pode dormir no quarto 203, Jennifer. Já sei até quem fará companhia para Catherine e Lili enquanto você estiver por lá. - Cordelia diz com um sorriso misterioso e não soa nem um pouco desapontada, o que me deixa aliviada.


– Obrigada, senhorita Goode.


– Não há de quê, se precisar conversar comigo a qualquer instante pode vir até aqui.


– Posso ir para o meu quarto?


– Claro que sim, querida.- As portas do escritório se abrem repentinamente.


Quando estou saindo da sala Cordelia me chama a atenção. Ela diz que ainda hoje, às 10 horas da noite seremos apresentadas ao universo do Coven e que conheceríamos o conselho e a suprema. Não sei por que, mas calafrios me descem as costas, mas ainda assim sorrio e me despeço.


Quando já estou do lado de fora percebo que não faço a menor ideia de como chegarei ao quarto 203 ou qual caminho percorri até o escritório. Tento imediatamente voltar à sala de Cordelia e pedir instruções, mas ao virar-me dou de cara com a parede de um corredor. Não posso estar ficandomais maluca. Tenho certeza que a porta estava aqui. Respire fundo e acalme-se Jennifer. Tento olhar ao meu redor. O corredor do lado esquerdo parece se estender bastante e imediatamente sinto-me cansada para caminhar longas distancias. Preciso de um atalho, penso. Então tento ver o que me reserva o lado direito e sou recebida com uma sólida parede. Até que olho para o teto e vejo uma corda que potencialmente pode levar a um sótão.


Parece que as passagens do Harry Potter existem, afinal de contas.


Uma parte de mim sente-se tentada a puxar a corda e ver o que há no sótão de uma academia de bruxas, só por curiosidade. Mas então me lembro de que o gatinho curioso termina morto e dou meia volta para caminhar aonde quer que o corredor leve. É então que escuto um choro, baixo. Bem baixinho, mas audível para mim, que passei boa parte da vida cega. As luzes do corredor piscam e um medo visceral começa a me encher. Quase dou o primeiro passo para sair correndo dali, mas uma lembrança de casa me impede.


“Confiamos que você ficará bem.” Dissera-me mamãe com seu olhar carinhoso.


“Isso mesmo!” Completou meu irmãozinho. “Chute a bunda de alguns vilões por nós!”


Lágrimas queimam em meus olhos e percebo que não irei sair. Vire-se, ordeno a mim mesma. Caminho lentamente e puxo a corda que libera uma escada, empoeirada pela falta de uso. Começo a tossir, mas me forço a subir os degraus. Só falta mais um degrau e quando dou por mim, já estou de pé em uma pequena sala, um pouco maior que meu antigo quarto. Mas a próxima coisa que noto me envia calafrios sem parar. A sala está repleta, cheia, inundada de bonecas. De porcelana com vestidos lolitas. Encarando-me. Sinto meu corpo começar a tremer e começo a voltar para a saída quando, repentinamente, o choro recomeça mais alto. Engulo em seco e arrisco andar alguns passos na direção do som, tentando ignorar a presença onisciente das bonecas ao meu redor.


– Oi? Tem alguém aí?


E eu vejo no meio das bonecas, assustadoramente reais, uma boneca diferente. Um bebê, com mãos em miniatura e pele negra, assim como a minha, me fita com seus olhos marejados. Tento me aproximar um pouco mais para toca-la. Seria possível uma boneca estar enfeitiçada para agir como um bebê de verdade?


– Oi. - Digo tocando a boneca que emite um calor humano. Verdadeiro. Definitivamente alguém estava aprendendo a dar vida a objetos inanimados.


– Oi, bebê. - Tomo-a em meus braços e lembro-me da sensação de ter Josh junto a mim. O segurei da mesma forma durante anos. Uma lágrima intrometida escorre. Penso no que deve ser feito agora, mas não consigo encontrar nenhuma solução óbvia.


– Vamos leva-la até Cordelia, ela saberá o que fazer. – Sinto a boneca por suas pequenas mãozinhas ao redor do meu pescoço e fico feliz em perceber que estou fazendo algo bom. Alcanço a escadaria que leva ao andar de baixo e a desço, porém ao por meus pés no que deveria ser o chão do corredor percebo que estou em um local completamente diferente.


Encontro-me diante de uma porta enorme. Observo mais atentamente e vejo que estou em um corredor cheio de portas. Lentamente começo a ler “201” ,“202” ,“203”.


É isso! 203, meu quarto! Sinto um enorme alívio de estar aqui, mesmo sem entender bem como. Ajusto a mochila em minhas costas e dou um leve tapinha nas costas do bebê ou boneca, sei lá. Estico um braço para bater na porta do quarto 203 e chego a bater duas vezes antes de escutar uma voz enfurecida atrás de mim dizendo:


– O que pensa que está fazendo com meu bebê?



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Autor(a): ahsfan

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