Fanfic: American Horror Story Coven - The Aftermath | Tema: American Horror Story, Originais, Original, Drama, Aventura
– O que pensa que está fazendo com meu bebê?
Sinto meu rosto pegando fogo e o bebê apertando suas mãos ainda mais fortes ao redor do meu pescoço.
Pressinto a urgência de virar e explicar que não peguei o bebê por maldade, que tudo não passa de um engano, porém antes que tenha a chance de fazer qualquer coisa, a porta do quarto 203 finalmente se abre.
Uma garota com olhos avermelhados me observa e segura um cigarro na mão. Ela tem cabelos longos, loiros platinados e repartidos no meio. As sobrancelhas quase não são visíveis por serem muito claras, e só as percebo quando a garota franze o cenho. E ela começa a rir. Rir não. Gargalhar. Um desconforto enorme me toma e entro de uma vez no quarto sem esperar por qualquer tipo de saudação.
– É um bebê? - Ela diz e então gargalha novamente. – Me perdoe, é surreal essa situação! Justo na hora do 4:20, um bebê! – Ela ri mais um pouco. – Vou abrir a janela, perdão. - É somente então que noto o cheiro de maconha infestando o quarto. O bebê começa a tossir e eu também. Quase reconsidero sair do quarto, mas o medo de ouvir vozes novamente me congela. Reúno forças apenas para encostar a porta entreaberta.
As paredes do quarto são de um branco estonteante. As luzes são embutidas nos quatro cantos, imagino que seja para não nos ofuscar tanto. Três camas de solteiro idênticas são encostadas em cantos diferentes da parede. Cada cama tem um dorsal próprio de mogno e os travesseiros lençóis parecem ser muito confortáveis, de forma que tenho vontade de deitar agora mesmo. Existem três armários individuais, brancos, próximo a cada cama e um pequeno criado mudo apoiado do outro lado dos leitos.
– Foi mal – Diz a garota parecendo sentir-se culpada de verdade e apagando o cigarro em um cinzeiro em formato de mão.
– Eu sou Elena, veterana da turma 01. Você deve ser... – Elena pensa um pouco. - Jenna?
– Quase lá. Meu nome é Jennifer Young. – Digo e estendo a mão em direção a Elena que sorri gentilmente e fala que será melhor para nós duas se eu não a tocar. Acho estranho, mas prefiro não comentar nada.
– Bem vinda à academia de jovens bruxas Miss Robichaux, Jennifer.
– Hum... Obrigada.
– Nossa outra colega de quarto, Ana, deve voltar a qualquer momento. Parece que a irmã dela veio à academia hoje e as duas devem estar conversando.
– Sim. – Falo enquanto tomo o bebê em meus braços e aproximo-a do meu rosto. Os detalhes dessa boneca são tão precisos que me admiro com a perfeição que mãos humanas podem alcançar.
– É seu bebê? – Elena indaga com ar de curiosidade.
– Não. – Pergunto-me se Elena irá continuar a puxar conversa, mas vejo-a pegar um iphone do bolso e começar a digitar algo. Apoio o bebê em meu ombro, respiro mais serena e finalmente paro um momento para reorganizar meu raciocínio. Preciso levar a boneca bebê para Cordelia, pois ela certamente saberá o que fazer, mas não sei como chegarei até o escritório dela ou como encontra-la fora de lá. É então que presto mais atenção em Elena.
– Hum... Desculpe-me incomodar, mas você é veterana do ano 1, não é?
– Sou. – Ela diz sem desgrudar os olhos do celular.
– Você saberia dizer onde fica o escritório da senhorita Goode?
– Senhorita Goode? Pode chama-la de Cordelia. Ela não se importa e dirá isso pra vocês, novatas, daqui há... 15 minutos, na cerimônia de recepção.
– Qui... Quinze minutos? – Falo engasgando com minhas próprias palavras. – Que horas são?
– Nove e quarenta e cinco, Jen. – Ela fala guardando o Iphone e caminhando em minha direção. Sinto-me tonta. Como o tempo passou tão rápido?
– É melhor irmos andando até o salão cerimonial, aquele lugar vai lotar em dois tempos. Você se importa se eu te deixar lá e ficar do lado de fora pra fumar um, ou dois, cigarros? – Elena pergunta alcançando a maçaneta e abrindo a porta para mim.
– Não, está tudo bem. – Respondo ainda confusa acerca da passagem do tempo naquele dia. Caminho pela porta sentindo minhas pernas menos firmes a cada passo. O que havia de ainda mais errado comigo?
Antes que tenha tempo de ficar ainda mais imersa em pensamentos, o bebê aperta suas mãozinhas ao redor do meu rosto e vai me tocando aleatoriamente. É difícil evitar um sorriso e assim que consigo deixar minha face livre de mãos pequenas, decido que irei falar com Cordelia no final da apresentação sobre o Coven.
– Não se preocupe Jen, elas vão te dar um mapa da mansão hoje. – Diz Elena sorrindo amistosamente, provavelmente achando que minha palidez se deve ao fato de achar que estou perdida.
Caminhamos pelo que parece ser uma fração considerável da eternidade até chegarmos ao salão cerimonial que está cheio de cadeiras acolchoadas e pretas, como se estivéssemos em uma sala de cinema. Há um palco montado e um púlpito de acrílico preto no meio, com um grande holofote iluminando-o.
– Quando vamos aprender a nos telestransportar assim como a senhorita Goode faz?
– Acho que você quer dizer transmutação, né? - Elena fala pegando um isqueiro prateado com um pentagrama intricado e quase acende um cigarro até olhar para o bebê em meus braços. Ela guarda o isqueiro e o cigarro no bolso do hoodie preto que está vestindo.
– Er...Sim, transmutação. Quando vamos aprender a fazer isso?
– Nem todas nós desenvolvemos as mesmas habilidades, Jen. Isso vai ficar claro em breve. – Ela fala com um quê de tristeza na voz.
– Eu daria uma mão pra ter a habilidade controlar chamas. – Elena me olha uma última vez antes de sair. – Boa cerimônia.
Enquanto o bebê se mexe em meus braços, vou me sentar em uma das últimas fileiras e espero muito não ser notada, não chamar atenção e ser a garota invisível que sempre fui.
O salão começa a lotar com meninas aparecendo de todos os lados: loiras, negras, indígenas, indianas, altas e baixinhas, mais velhas e mais jovens. Observo com um pouco de inveja quando uma garota de cabelos castanhos se telestransporta, transmuta, sei lá, praticamente na minha frente.
– Será que é filha dela? - Escuro alguém sussurrar detrás de mim, mas quando viro-me na direção do som todas parecem estar muito distraídas com seus próprios problemas para me notar.
– É permitido trazer bebês pro Coven? – Alguém a minha frente pergunta em um tom audível e aos poucos pequenas panelinhas de meninas cochicham umas com as outras, olhando pra mim.
Sinto um nó doloroso se formar em minha garganta.
– E aí? – Fala Catherine Patlock sentando do meu lado. - Nem sinal da senhorita voz estridente por aqui? - Ela pergunta ajeitando a franja curta acima da sobrancelha ruiva.
– Não, mas parece que a irmã dela está no mesmo quarto que eu.
– Legal. Tomara que ela não seja insuportável que nem Lili. – Catherine parece sincera ao dizer isso. É então que ela nota o bebê em meus braços e sorri calorosamente.
– Que neném mais lindo! – Temo que ela vá me fazer um batalhão de perguntas, mas para minha surpresa Catherine apenas toma a boneca dos meus braços e começa a brincar com ela. Ela começa a falar com o bebê coisas como Gugu-dada. Só eu que acho estranho quando as pessoas fazem voz de criança?
– Ah, cara! Eu sempre quis uma irmã mais nova! – Catherine olha pra mim - Onde você achou esse bebê? Por que seu não é e eu tenho certeza que você é a única virgem dessa academia. Sem ofensas.
– Eu não sou... – Meu rosto fica quente e começo a tentar me explicar, mas antes que tenha a chance Cordelia, Queenie e a garota branca de olhos marejados começam a caminhar em direção ao púlpito. Aos poucos um silencio cadavérico se impõe e as três estão acima do palco.
Antes de falar, Cordelia respira fundo e observa a cada uma de nós com um olhar que só pode ser descrito como feliz.
– Boa noite, calouras da Academia Miss Robichaux. Não posso começar a descrever meu imenso orgulho de ter cada uma de vocês aqui. – Ela é verdadeira e sinto como se estivesse falando diretamente comigo, embora esteja certa de que todas as outras garotas se sentem assim.
– Gostaria, primeiramente, de apresentar-lhes o conselho de bruxas que temos atualmente: Zoe Benson e Queenie Lange. – As duas garotas dão um passo a frente e sorriem misteriosamente uma para a outra.
– Em seguida e não menos importante: Kyle Spencer, nosso governante. – Um rapaz de olhos pretos, loiro e muito bonito surge e caminha até estar ao lado de Zoe, a garota de olhos marejados. Eles se são as mãos.
– Enfim, a diretora da academia.... – Diz Queenie.
– E suprema do nosso Coven .... Fala Zoe.
– Cordelia Goode. – Completa Kyle.
Então, Cordelia sorri para eles tão orgulhosa e amorosa que sinto uma pontada de vontade de estar ali também, sendo reconhecida por ela publicamente.
É aí que Lili e a menina que suponho ser sua irmã, Ana Kin, irrompem por um dos corredores andando em passos rápidos e se sentam lado a lado em uma das primeiras fileiras.
Catherine faz uma careta ao vê-las e eu retorno minha atenção para o conselho de bruxas, o governante da casa e a suprema.
Eles seguem falando sobre a vida na academia e o que significa estar aqui, publicamente falando para o mundo que existimos durante todos esses anos. Cordelia nos apresenta grade de aulas diárias que teremos e Queenie nos explica como funciona o mapa da mansão. Zoe fala sobre a olimpíada de bruxaria, e a importância de formamos equipes para participar dela. Cordelia discute um pouco mais sobre a relevância de mantermos nossas animosidades controladas pelo bem maior da boa convivência em grupo. Ela segue falando que o maior poder que nós temos é o de sermos um coven que pode se apoiar e confiar umas nas outras. Zoe e Queenie dizem que desejam que nós nos sintamos como parte de uma grande família de irmãs. Por fim, Cordelia comenta que nós podemos chama-la pelo seu primeiro nome e que não há necessidade para grandes formalidades entre nós, já que o intuito é que sejamos como uma família. Ao final da cerimônia todas estão batendo palmas de pé. Inclusive Lili, observo.
Quando Cordelia está descendo o palco, seguida pelo conselho e Kyle, decido que é a hora de conversar sobre o sótão, a boneca bebê e tentar explicar o que aconteceu.
– Me dê o bebê! – Falo em um sussurro rápido para Catherine. Ela me olha com receio, mas me entrega a neném mesmo assim.
– O que você vai fazer? – Catherine parece curiosa e como não quero perder essa oportunidade de falar com Cordelia, começo a caminhar e digo para ela me acompanhar.
Sinto o olhar perfurante de Lili me acompanhar enquanto me aproximo das fileiras da frente. Finalmente alcanço Cordelia e Catherine está bem ao meu lado antes mesmo que eu precise olhar para trás.
– Senhorita Goode, posso falar com você um minuto?
– Claro que pode. – Ela fala antes de se virar em minha direção e quando o faz, não deixo de notar a surpresa estampada em seu rosto. Observo enquanto a mesma surpresa se faz nas expressões de Zoe, Queenie e Kyle quando eles me vêm segurando o bebê.
– Bem? – Cordelia espera que eu diga algo, mas minha língua parece pesar uma tonelada.
– Jennifer aqui achou esse bebê, senhorita Cordelia. – Diz Catherine, indo direto ao ponto.
– Na... Na verdade... Eu não estou bem certa de que é um bebê humano senhorita Goode. – Ela me olha com ar de serenidade e diz que irá ficar tudo bem, me deixando mais sossegada. Percebo que trazer o bebê até Cordelia foi mesmo a decisão correta. Ela me pede para deixa-la segurar a neném, porém quando o faz torna-se pálida imediatamente.
Cordelia toca o rosto do neném, seu olhar torna-se vazio e ela começa a respirar muito rápido como se estivesse ficando com falta de ar. Todos começam a me fuzilar com seus olhares, enquanto o conselho pergunta a Cordelia se ela está bem. Uma nova multidão se forma ao meu redor, pela segunda vez no mesmo dia. Vejo as gêmeas de cabelo prateado segurando seus celulares próximos ao meu rosto. Imagino que estejam fotografando e filmando tudo. Olho para Catherine que parece tão confusa quanto eu.
– Você a envenenou? - Queenie me pergunta e posso jurar que está a um triz de me bater ou coisa pior. Dou um passo para trás instintivamente.
– Ei! Calma aí! É só um bebê, droga! Não é uma maçã envenenada! - Grita Catherine tomando minha frente.
Subitamente, Cordelia tira as mãos do rosto do bebê e finalmente retorna a sua coloração normal. Ela olha para mim e Catherine como se nos visse pela primeira vez e engole em seco. Então o bebê apoia a cabeça no ombro de Cordelia e fecha seus pequenos olhos, aparentemente dormindo.
– Zoe, Queenie e Kyle. Precisamos conversar imediatamente, meu escritório. – Ela fala no tom autoritário que usou mais cedo e sinto arrepios descendo minha espinha. Quando nenhum deles se move ela fala mais alto: - Agora!
Os quatro saem e Cordelia leva o bebê em seus braços para o escritório dela me deixando com inúmeras interrogações. Catherine dá de ombros.
– Você fez o melhor que pôde garota.
– A... Acho que sim. – Respondo enquanto meu corpo vai ficando levemente dormente.
– Vocês não cansam de chamar atenção, fracassadas? Não basta o showzinho que deram mais cedo as minhas custas? – Fala uma voz estridente saindo da multidão. Lili se coloca a minha frente e umas três garotas ficam ao lado dela. Todas vestem vestidos pretos justos e botas de salto fino.
– Cordelia não tem que consertar o seu aborto que deu errado. – Ela fala olhando diretamente para mim, desejando que eu responda algo, mas tudo que faço é ficar paralisada de medo. As amigas dela riem e algumas pessoas na multidão também. Sinto o sangue se esvaindo de meu rosto rapidamente.
– Ei novata, não é assim que se fala com sua irmã bruxa. – Diz Elena, surgindo ao lado de Catherine e soprando a fumaça do cigarro bem na cara de Lili.
– Ops! Sinto muito. – Mas Elena visivelmente não está se sentindo culpada.
– É sua namorada, Catherine? - Pergunta Lili. – Vocês fazem um ótimo par.
– Ela ser minha namorada ou não deveria ser a menor das suas preocupações, agora. – Fala Catherine com um ar concentrado e eu acompanho seu olhar.
– Ah é? E por quê? – Lili diz em uma voz melosa. Catherine olha fixamente para o cabelo preto, longo e brilhoso de Lili.
– Porque seu cabelo está em chamas. – Catherine diz casualmente e sorri como se tivesse ganhado na loteria.
– Meu cabelo o qu... Ahhh! – Lili grita tão alto que posso jurar que meus tímpanos serão explodidos.
A próxima coisa que sei é que o inferno parece subir a terra nos gritos de Lili.
Autor(a): ahsfan
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