Fanfic: Herdeira do Trono de Prata | Tema: Magia, Romance,

Eu abrir a boca para falar...e nada saiu. Minha cabeça era um turbilhão sobre o qual eu não tinha nenhum controle. William apenas mantinha seu olhar fixo em mim, esperando que eu dissesse algo.

O silêncio permaneceu entre nós. Ele voltou a fitar o vazio, sua expressão não revelando nada.

—Eu não compreendo —ele continuou — como você fez aquilo?

Ele realmente acreditava que eu tinha de algum modo feito algo? Eu estava mais perplexa que antes.

—Eu...eu não, er...eu não fiz nada. Achei que tivesse sido apenas um sonho.

Ele parou pensativo. De pé, como estava, a luz do luar incidia diretamente sobre ele, tornando suas maçãs do rosto ainda mais pronunciadas. Ele não era exatamente um rapaz musculoso, apesar de tampouco ser magricela, mas ele era...impressionante. O tipo de pessoa cuja presença chamaria a atenção de qualquer um em qualquer lugar.

—Eu não estava sonhando — revelou após um segundo. Ele parecia incerto quanto ao que achava que deveria me contar então eu o encorajei a continuar.

—Então o que foi que aconteceu?

Aqueles olhos dourados me fitaram novamente. Então ele deu dois passos para trás e me deu as costas enquanto dizia.

—É melhor você voltar ao seu dormitório. O treinamento começa amanhã cedo e eu não vou tolerar atrasos.

—Espere! — tentei chamá-lo, mas ele continuou se afastando — eu não sei...

Mas era tarde. Ele já havia ido embora. Com um suspiro eu disse para o vazio.

—Eu não sei como voltar ao meu dormitório.

***************

Por um bom tempo vaguei pelas dependências daquele local enorme tentando encontrar o meu quarto. A sensação que eu tinha era de que estava num labirinto imenso e assustador do qual eu jamais sairia. Creio ter andado por horas até enfim encontrar o dormitório. Estava tão exausta que nem consegui pensar em mais coisa alguma. Caí no colchão macio e apaguei.

—Kira! — uma voz feminina chamou do outro lado da porta — levanta logo ou vai se atrasar!

Por um instante eu ceguei a pensar que estava em casa, e a voz pertencia a minha mãe. Ela sempre me acordava com aquelas palavras. Sentei-me na cama ainda sonolenta e a sensação de nostalgia logo foi embora quando as lembranças dos últimos acontecimentos brotaram. Não, não era minha mãe do outro lado da porta. Eram Cassandra e Dayla que me esperavam já vestidas.

Ao ver o meu estado Cassandra fez uma careta.

—Você ainda não está pronta?

—Pronta para que? — perguntei me espreguiçando.

Elas trocaram olhares antes de responder.

—Para o treinamento! Anda! William não vai ficar nem um pouco contente com isso — alertou Dayla.

Depois de ter sido praticamente empurrada para o banheiro, eu tomei um banho rápido e escovei meus dentes. Vesti minha túnica e sem nenhuma boa solução para o meu cabelo, apenas o prendi num rabo de cavalo e acompanhei as meninas.

—Não vamos comer primeiro? — não pude evitar a pergunta.

Cassandra me olhou como se eu fosse louca. O que? Será que eu tinha dito algo errado?

—Depois do treinamento você come. Já estamos atrasadas.

Olhei para Dayla que apenas deu de ombros. Mas que ótimo, pensei irritada.

—E que treinamento é esse? — resolvi indagar. Eu esperava que não tivesse que fazer nenhum esforço físico de barriga vazia.

—Bom o treinamento é para descobrir e melhorar suas habilidades...ele...bom, você vai descobrir logo.

Elas andavam muito rápido e eu tive dificuldade para acompanha-las (não é nenhuma novidade que eu não seja exatamente uma atleta não é?). Logo estávamos em frente a um enorme portão cor de cobre que dava acesso ao lado externo daquele castelo. Fiquei feliz ao finalmente poder sair daquele lugar um pouco. Já estava sentindo falta de um pouco de grama.

Era um lindo dia, o sol brilhando, a brisa suave...era impressão minha ou nesse lugar era tudo perfeito? Dei uma olhada para trás, finalmente vendo o castelo de fora e caramba...aquilo sim era um castelo. Ele parecia muito maior visto de fora, se é que isso era possível. Seguimos por um caminho de pedras que terminava numa ampla construção que mais parecia um templo sem teto. Ali, Ren e Milan estavam sentados visivelmente concentrados enquanto William os observava atentamente.

Cassandra e Dayla se curvaram enquanto se desculpavam pelo atraso. William sequer as olhou. Ele apenas deu um único comando.

—Sentem-se.

Elas se sentaram e eu fiz o mesmo.

—Ren, Milan é o suficiente.

Dito isso, eles abriram os olhos. Ao me ver Ren deu uma piscadinha e Milan acenou de leve. Eu acenei de volta.

—Agora que já terminaram suas enfáticas saudações — William disse, sarcasmo pingando na sua voz — creio que podemos enfim começar.

Milan enrijeceu e Ren manteve-se quieto. Eu apenas olhei para William, não entendendo o comportamento dele. O que será que tinha acontecido para ele mudar da água para o vinho? Será que foi por causa do sonho?

“Ou talvez ele sempre tenha sido assim” uma vozinha interior zombou “ você não pode saber, não o conhece”.

Ótimo, eu agora estava virando o Gollum.

—Para qualquer Rokai, revelar o seu Hamish é uma tarefa essencial. Sem ele vocês são apenas mortais sensitivos. Essa é a primeira e mais importante parte da jornada.

Eu achei que os outros já sabiam disso e ele apenas estava repetindo para que eu entendesse também.

—Enquanto Kaure não voltar, eu serei o mestre de vocês. Por isso é importante que saibam que todas as minhas instruções devem ser seguidas à risca e sem questionamentos — nessa última parte ele olhou fixamente para Milan que pareceu diminuir sob o peso daquelas chamas douradas — por hoje, vamos começar com um exercício simples de concentração.

Os outros acenaram concordando. E apenas continuei esperando as instruções que William nos daria curiosa e aflita ao mesmo tempo.

—Pensem nos seu Hamish como uma criatura mergulhada nas águas do subconsciente. Tudo que precisam fazer é trazê-la até a superfície. Eu irei guiá-los.

Depois de dizer isso ele sentou na posição de lótus e fechou os olhos. Ninguém dizia nada. Pouco a pouco, algo mudou no ar a nossa volta. Um tipo de nuvem invisível nos cercou envolvendo-nos num tipo de casulo energético que era quase palpável. Senti um arrepio.

Então ele abriu os olhos e logo tudo ao meu redor desapareceu.