Fanfic: Herdeira do Trono de Prata | Tema: Magia, Romance,

Ninguém parecia ter notado minha presença enquanto eu ficava lá fitando o garoto como uma boba. A minha guia limpou a garganta de maneira exagerada chamando a atenção para nós e falou num tom monótono.

–A garota acordou – e saiu do salão apressada.

Os três se viraram na minha direção. Leela acenou receptiva enquanto um homem alto e ruivo se levantava e caminhava calmamente na minha direção. Ele tinha uma barba muito bem feita e olhos pequenos e cintilantes, que pareciam me escrutinar por completo. Seu nariz adunco lhe dava uma aparência de ave de rapina.

–Kira, é bom ver que está bem – disse ele estendendo a mão para mim.

Eu retribuí o gesto estranhando o modo como ele falara comigo afinal, eu tinha acabado de conhecê-lo. O entanto, essa era a menor das minhas preocupações.

–E o meu avô? – indaguei – onde ele está?

–Ele está na nossa biblioteca – respondeu Leela – ele parece gostar muito de lá.

Bom, se havia mesmo uma biblioteca era provável que vovô estivesse lá.

–Eu posso vê-lo? – insisti. Queria ver com meus próprios olhos que ele estava bem.

–Logo – o homem ruivo disse – primeiro temos que conversar. Sente-se deve estar um pouco cansada.

Ele me apontou uma cadeira de maneira enquanto ele mesmo ia se acomodando em outra. O garoto dos sonhos estava em silêncio observando a situação e trocando alguns olhares com Leela.

–Meu nome é Kaure – disse o ruivo – e este é o William. A Leela você já deve conhecer.

William me encarou com intensidade e curvou a cabeça numa saudação comedida. Eu disse um oi meio sem graça, decepcionada por ele não ter dito nada. Eu queria saber se sua voz era como no meu sonho. Ele também não pareceu ter me reconhecido, mas sendo um sonho, eu não esperava tal coisa.

–Você deve estar confusa – disse Kaure tirando-me de meus devaneios – depois de tudo o que aconteceu.

–É – concordei – muito confusa.

–Vou esclarecer tudo que puder para você – ele parecia querer me tranquilizar, mas ele mesmo não parecia tranquilo.

–Sou toda ouvidos.

Ele sorriu depois lançou um olhar para Leela e William que estavam silenciosos em suas cadeiras.

–Essa conversa pode ser um pouco longa. Vocês estão dispensados.

Os dois se levantaram e caminharam para fora do salão sem dizer nada. Leela sorriu de leve para mim antes de ir.

–Quer comer algo primeiro? – ofereceu Kaure – deve estar com fome.

Sim, para falar a verdade eu estava faminta. Mas eu ansiava saciar minhas dúvidas antes de minha fome, então neguei com a cabeça indagando logo em seguida.

–Onde eu estou? Quem eram aqueles caras no apartamento? Como eu cheguei aqui?

–Calma, calma – Kaure agitou as mãos como se quisesse parar aquele ataque verbal – respire um pouco. Para começar, estamos no Hab.

– Rabi? – indaguei incrédula – o que é isso?

–Hab, não Rabi – corrigiu ele – é um dos nomes para a dimensão intermediária.

–Dimensão intermediária?!

Ele suspirou, visivelmente irritado com minha interrupções.

–Exatamente. Um plano que não está situado na terra ou na morada dos deuses, mas sim entre os dois.

Eu não estava gostando nada daquela conversa de Rabi, dimensões e deuses, por isso me mexia o tempo todo na cadeira tentando encontrar uma posição confortável. Pena que não era o meu corpo que estava desconfortável. Era o meu cérebro que com toda aquela conversa iria acabar entrando em curto circuito.

–Aqui é o lar de todos os Rokai, Kira.

–Rokai? – eu estava desesperadamente precisando de um dicionário de palavra malucas, pois, pelo que eu estava vendo, neste lugar as pessoas adoravam falar estranhês.

–Rokai são deuses reencarnados. Criaturas que possuem dentro de si os Hamish, espíritos divinos. Criaturas como você.

Eu já não conseguia arregalar mais ainda os meus olhos. Aquele ruivo esquisito não poderia estar mesmo dizendo que eu era uma deusa reencarnada.

–Como eu? Você não pode estar falando sério.

–Seu avô me falou de você. Da sua mãe e da gravidez dela – continuou ele me ignorando – o que aconteceu com ela é muito comum entre nós. Humanos sempre são afetados de diferentes formas enquanto carregam um Rokai no ventre.

–Como você pode ter tanta certeza? – perguntei, ainda sem estar convencida de tudo aquilo.

–Um humano não teria essa aparência – não fora Kaure quem dissera isso, mas William o garoto de olhos dourados que retornava ao salão.

–Não precisa ofender – retruquei num resmungo. Sim, a voz dele era linda também. Suave, um pouco rouca. Do tipo que faria você querer conversar com ele por um bom tempo.

Ele enrugou a testa pego de surpresa pela minha reação e se apressou em desculpar-se.

–Não foi o que eu quis dizer...eu...desculpe.

–Algum problema William? - perguntou Kaure.

–Amara solicita uma reunião de emergência – disse ele recompondo-se – agora.

Kaure disse algo inaudível antes de se erguer.

–Eu irei agora mesmo. William leve Kira até o avô dela – depois virou-se para mim – terminaremos nossa conversa depois.

Eu segui o homem ruivo com os olhos até ele desaparecer, deixando-me sozinha com William.

–Vamos?

Eu me ergui num salto acenando positivamente. Seguimos em silêncio por diversos corredores vazios e tão parecidos que eu já estava ficando tonta.

–Esse lugar é enorme – comentei, tentando puxar conversa.

–Ele abriga ascendentes do mundo todo – disse William explicando – embora ultimamente já não existam tantos.

–O que são ascendentes?

–Rokais em treinamento.

–E você é um Rokai em treinamento.

–Sou um Rokai, mas não em treinamento. Sou um mestre.

–O que um Rokai faz? – indaguei.

–Lutamos – ele respondeu parando em frente a uma porta enorme – seu avô está aí.

Eu alcancei a enorme maçaneta ta porta e empurrei abrindo-a. Antes de entrar olhei para trás e vi William se afastando.

–Obrigada! – gritei para ele.

Ele não se virou. Apenas respondeu rapidamente.

–Não foi nada.

Definitivamente, ele era um cara bem reservado pensei, enquanto entrava na enorme sala. Naquele lugar tudo era imenso e a biblioteca era realmente magnífica.Enormes estantes de carvalho repletas de livros de todo o tipo. Não era de se estranhar que vô Ted estivesse por lá.

–Vovô? - chamei

Ouvi passos na minha direção.

–Kira! Você acordou querida. Eu estava preocupado.

–Sei – respondi. Eu tinha certeza de que ele tinha esquecido completamente da minha existência ao entrar naquele lugar.

Ele pareceu desconcertado com o meu tom, então eu sorri, demonstrando que não estava aborrecida com aquilo.

–Maravilhoso não? – disse ele abrindo os braços como se quisesse colocar tudo aquilo em suas mãos – nem acredito nisso. Kaure disse que um humano nunca esteve na aqui antes.

–Você conversou com o Kaure?

Ele me encarou sorrindo.

–Claro! Ele é um homem extraordinário.

–Sobre os Rokai também? – era impressão minha ou meu avô estava tranquilo demais com a situação.

–Sim, sobre isso também – concordou – eu sempre soube que você era especial Kira.

Eu dei um suspiro cansado e sentei-me no chão.

–Isso é muito complicado.

Vovô se sentou ao meu lado.

–Eu entendo.

–Eu não – murmurei - o que faremos agora? Como vamos voltar para casa? O que os meus pais vão dizer?

–Eu não sei o que faremos agora Kira .Não posso falar sobre o futuro. O que eu posso falar é que agora não tem mais volta. Estamos envolvidos nisso, você está envolvida nisso. Você é um Rokai.

E por mais que eu quisesse negar, eu não podia.