PT3
— Ao contrário — sorri, dando-me um olhar crítico. — Só de ter que olhá-la todo dia é uma chateação.
— Quer que eu me transfira da Aula de Inglês? — Pergunto, ainda com a estúpida garrafa na mão, sem saber o que fazer com ela. Se eu deixar em meu armário ela poderia fazer com que a peguem, e se eu coloco na mochila daria no mesmo.
— Você sabe que ainda me deve aquele vestido que destruiu com sua estupidez. — Então é isso, está me extorquindo. Ainda bem que ganhei todo aquele dinheiro nas corridas.
Eu pego a minha mochila, localizo minha carteira, mais que disposta a dar-lhe o dinheiro se isso vai terminar com tudo. — Quanto quer? — digo.
Ela me olha, tentando calcular quanto posso ter.
— Bem, como havia dito era um vestido feito por encomenda... E não é tão fácil substituí-lo... então...
— Cem? — Tiro uma Ben Franklin e ofereço a ela.
Ela revira os olhos.
— Compreendo que você não tem nenhuma ideia de moda e todas as coisas que vale a pena ter, você realmente precisa subir a oferta. Aponta um pouco mais alto — ela diz, tentando olhar dentro da minha carteira.
Mas como os chantagistas têm sempre um jeito de voltar pedindo mais, sei que o melhor é solucionar agora, antes que chegue mais longe. Então a olho e digo:
— Ambas sabemos que você comprou aquele vestido em uma loja no encostamento, no caminho da casa de Palm Springs... — sorrio, recordando o que vi naquele dia no corredor. — Te reembolso pelo custo do vestido, que se não me falha a memória, era de oitenta e seis dólares. E em todo caso cem parece ser um bom acordo, o que você me diz?
Ela me encara, seu rosto transformado em um sorriso forçado, enquanto pega a nota e enfia no bolso. Então olha de relance para a garrafa e pra mim, e sorri enquanto diz:
— Então, não vai me oferecer uma bebida?
Se alguém me dissesse ontem que eu estaria estendida no banheiro, nocauteada com Stacia Miller, eu jamais acreditaria. Mas se não bastasse, foi exatamente o que aconteceu. Nos arrastamos para um canto, e acabamos com uma garrafa de água cheia de Vodka.
Nada como compartilhar dependências e segredos ocultos para unir as pessoas.
E quando Haven entrou e nos encontrou assim, seus olhos saltando quando disse:
— Que diabos?
E eu me rolo de rir, enquanto Stacia a olha com os olhos envesgados e balbucia:
— Bemtinda garrota fantaszma.
— Eu perdi alguma coisa? — Perguntou Haven, olhando de uma para outra, seus olhos entrecerrados, desconfiada. — Será que é pra parecer engraçado?
E pelo jeito que ela olha, pela maneira como fica parada ali toda autoritária, tão direta, tão séria, tão pouco divertida, nos faz rir ainda mais. Então, enquanto a porta se fecha atrás dela, nós começamos a beber novamente.
Mas ficar bêbada no banheiro com Stacia não te assegura um lugar na mesa VIP. E estando certa disso, sem sequer tentar, me dirijo a nossa mesa habitual, minha cabeça tão tonta, meu cérebro tão confuso, me leva um momento para me dar conta que tampouco sou bem-vinda lá.
Deixo-me cair, olho para Haven e Miles, e logo começo a rir sem razão aparente. Pelo menos nenhuma que seja aparente para eles. Mas se só pudessem ver seus rostos, sei que estariam rindo também.
— O que acontece com ela? — Pergunta Miles, olhando por cima do seu script.
Haven franze a testa.
— Está bêbada. Totalmente e completamente bêbada. Eu a vi no banheiro, bebendo com, de todas as pessoas, Stacia Miller.
Miles fica boquiaberto, sua testa toda enrugada de um jeito que me faz ri novamente. E como eu não fico quieta, se inclina até mim, me belisca no braço e diz:
— Shh! — Olha em nossa volta e novamente pra mim. — Sério Ever, está louca? Deus, desde que Damen foi embora você tem estado...
— Ever desde que Damen foi embora você tem estado... O quê? — Me afasto para trás tão rápido que perco o equilíbrio e quase caio do banco, erguendo-me a tempo de ver Haven balançar a cabeça. — Vamos, cuspa tudo de uma vez Miles — eu o encaro zangada. — Você também Haven, cuspa. — Só que saiu algo mais parecido comcusptudeveiz, e não acho que eles não notaram.
— Você quer que nós cusptudeveiz? — Miles balança a cabeça enquanto Haven revira os olhos. — Bem, estou certo que estaríamos mais que contentes se soubéssemos o que significa. Você sabe o que quer dizer? — Ele olha para Haven.
— Soa Alemão — disse ela, olhando-me de relance.
Reviro os olhos, e me levanto para ir embora, mas não coordeno bem e termino ferindo o joelho.
— Owww! — Eu grito, caindo novamente no banco, segurando a perna enquanto meus olhos se fecham de dor.
— Aqui, beba isso — Miles me ordena, entregando-me sua Vitamin Water. — E me dá as chaves do seu carro, porque você não vai me levar em casa assim.
Miles tem razão. Eu não ia levá-lo para casa. Porque ele foi sozinho. E quem me levou foi Sabine.
Ela me acomoda no banco do passageiro, e em seguida volta ao seu assento, e quando liga o motor e sai da vaga, balança a cabeça, aperta o maxilar, me olha de relance e diz:
— Expulsa? Como você vai de uma estudante exemplar para expulsa? Você pode me explicar?
Eu fecho meus olhos e pressiono minha testa contra a janela, o vidro liso e limpo esfriando minha pele.