Fanfic: O noivo da minha melhor amiga AyA [Terminada]
Conheci Alfonso durante o meu primeiro ano no curso de Direito na Universidade de Nova York. Diferente da maioria dos alunos que vai direto para o curso de Direito quando não consegue pensar em nada melhor para fazer com históricos escolares brilhantes, Alfonso Herrera era mais velho, com experiência de vida de verdade. Ele havia trabalhado como analista de mercado na Goldman Sachs, o que superava em muito os meus estágios de 9h às 17h durante o verão e os trabalhos de escritório, preenchendo formulários e atendendo telefonemas. Pincho era seguro, relaxado e tão bonito que era difícil parar de olhar para ele. Eu estava certa de que se transformaria no Doug Jackson e no Kuno Becker do curso de Direito. Como era de se esperar, estávamos apenas na nossa primeira semana de aula quando começou um zunzunzum a respeito dele: as mulheres especulavam sobre seu estado civil, notando que seu dedo anular esquerdo não tinha nenhum adorno ou, por outro lado, preocupando-se que ele fosse bem vestido e bonito demais para ser heterossexual.
Mas descartei Poncho de cara, convencendo a mim mesma de que sua aparente perfeição era entediante. Uma postura que foi até melhor para mim, porque também sabia que ele não era para o meu bico. (Odeio essa expressão e a presunção de que as pessoas escolhem seus parceiros baseadas tão fortemente na aparência, mas é difícil negar esse princípio quando você dá uma olhada em volta - num casal, os dois parceiros geralmente se caracterizam por um poder de atração semelhante e, quando isso não acontece, salta aos olhos.) Além do mais, eu não estava tomando um empréstimo de trinta mil dólares por ano só para arranjar um namorado.
E, para falar a verdade, provavelmente teria mesmo passado três anos sem falar com ele, se por acaso não tivéssemos acabado sentando perto um do outro na aula de Responsabilidade Civil, uma aula com lugares marcados, ministrada pelo sardônico professor Zigman. Apesar de muitos professores na Universidade de Nova York usarem o método socrático, apenas Zigman o utilizava como uma ferramenta para humilhar e torturar seus alunos. Poncho e eu nos unimos pelo ódio que sentíamos por nosso cruel professor. Enquanto eu tinha um medo irracional de Zigman, a reação do Alfonso era mais de repugnância.
- Que babaca - resmungava ele depois da aula, geralmente depois de Zigman ter levado algum colega às lágrimas. - Eu adoraria tirar esse sorrisinho afetado da cara pedante dele.
Aos poucos, nossas lamentações se transformaram em conversas mais demoradas na sala dos alunos ou durante passeios pelo parque. Começamos a estudar juntos uma hora antes da aula para nos prepararmos para o inevitável - o dia em que Zigman se dirigiria a nós. Eu tinha pavor de que chegasse a minha vez, porque sabia que seria um massacre, mas no íntimo não via a hora de Alfonso ser chamado. Zigman ia atrás dos fracos e daqueles que se intimidavam e Poncho não se encaixava em nenhuma dessas duas categorias. Tinha certeza de que ele não se renderia sem lutar.
Ainda me lembro muito bem. Zigman de pé, atrás do pódio, examinando o mapa da turma - um esquema com nossos rostos recortados do livro do primeiro ano -, praticamente salivando ao escolher sua presa. Ele espiou por sobre os óculos pequenos e arredondados (do tipo que quase poderia ser chamado de pincenê), na direção dos alunos em geral, e disse:
- Senhor Herera.
Zig tinha pronunciado errado o nome de Poncho, fazendo com que rimasse com "talher".
- É "Her-re-ra" - Poncho disse, sem hesitar.
Perdi o fôlego; ninguém corrigia Zigman. Agora Poncho ia se dar mal.
- Bem, perdão, senhor Her-re-ra - Zigman disse, com uma pequena reverência fingida. - Palsgraf versus companhia ferroviária de Long Island.
Calmo, Poncho não se mexeu na cadeira e manteve o livro fechado, enquanto o resto da classe nervosamente folheava o material em busca do caso que havíamos sido instruídos a ler na noite anterior.
O caso envolvia um acidente ferroviário. Enquanto corria para entrar num trem, um funcionário da ferrovia derrubou um pacote de dinamite que estava na mão de um passageiro, causando ferimentos em outro passageiro, a senhora Palsgraf. O juiz Cardozo, como na maior parte das decisões precedentes, sustentou que a senhora Palsgraf não era uma "vítima previsível" e, como tal, não poderia ser indenizada pela companhia ferroviária. Talvez os funcionários da companhia pudessem ter previsto o dano para a pessoa que portava o pacote, a Corte explicou, mas não o dano para a senhora Palsgraf.
- O senhor acha que a vítima tem direito a ser indenizada? - perguntou Zigman para Alfonso.
Poncho não disse nada. Por uma fração de segundo fiquei em pânico imaginando que ele tivesse paralisado, como outros antes dele. Diga não; pensei, mandando para ele ondas cerebrais intensas. Siga a mesma linha das sentenças anteriores. Mas quando olhei para sua expressão e para o modo como seus braços estavam cruzados sobre o peito, percebi que estava apenas sem pressa, num contraste marcante com o modo como a maioria dos estudantes de primeiro ano oferecia respostas rápidas e nervosas sem pensar, como se o tempo de reação pudesse compensar a dificuldade de compreensão.
- Na minha opinião? - indagou Poncho.
- Estou me dirigindo ao senhor, senhor Herrera. Portanto, sim, estou pedindo sua opinião.
- Eu diria que sim, a vítima deveria ser indenizada. Concordo com o voto divergente do juiz Andrew.
- Ohhhh, é mesmo? - a voz de Zigman era alta e nasalada.
- Sim. É mesmo.
Fiquei surpresa com a resposta dele, já que havia me dito um pouco antes da aula que não sabia que as pessoas já fumavam crack em 1928, porque o juiz Andrew certamente estava drogado quando deu seu voto divergente. Fiquei ainda mais surpresa pelo descarado "é mesmo" atrelado ao final da resposta, como se para atingir Zigman.
O peito magricela de Zigman se expandiu visivelmente.
- Então você acha que a segurança deveria ter previsto que um inofensivo pacote medindo quarenta centímetros de comprimento, embrulhado em jornal, continha explosivos e causaria danos à vítima?
- Era certamente uma possibilidade.
- Será que ela deveria ter previsto que o pacote causaria dano a qualquer pessoa no mundo? - perguntou Zigman, com um crescente sarcasmo.
- Eu não disse "qualquer pessoa no mundo". Eu disse "à vítima". Na minha opinião, a senhora Palsgraf estava em zona de perigo.
Zigman aproximou-se da nossa fileira todo empertigado e jogou seu jornal sobre o livro fechado de Poncho.
- O senhor se importaria de me devolver o meu jornal?
- Preferiria não fazer isso - disse Poncho.
O estado de choque que se instalou na sala era quase palpável. O resto de nós teria simplesmente cooperado e devolvido o jornal, mero objeto de cena no interrogatório de Zigman.
- O senhor preferiria não devolver? - disse Zigman erguendo a cabeça.
- Correto. Poderia haver dinamite embrulhada dentro dele.
Metade da sala engoliu em seco, a outra metade teve de fazer força para não rir. Obviamente, Zigman tinha alguma carta escondida na manga, alguma forma de reverter os fatos contra Poncho. Mas Poncho não mordeu a isca. Zigman estava visivelmente frustrado.
- Bem, vamos supor que o senhor de fato tenha escolhido me devolver o jornal e que o pacote de fato contenha uma banana de dinamite e que de fato cause algum ferimento ao senhor. E então, senhor Herrera?
- Então eu processaria o senhor e provavelmente ganharia.
- E essa indenização seria consistente com a fundamentação do juiz Cardozo, que seguia a mesma linha das sentenças anteriores?
- Não, não seria.
- É mesmo? E por que não?
- Porque eu processaria o senhor por delito intencional, e Cardozo falava de negligência, não é? - Poncho levantou a voz para ficar no mesmo tom de Zigman.
Acho que parei de respirar quando Zigman juntou as palmas das mãos e aproximou-as com cuidado contra o peito, como se estivesse rezando.
- Sou eu quem faz as perguntas nesta sala. Se o senhor não se importa, senhor Herrera.
Poncho deu de ombros, como se dissesse que Zigman podia fazer como
bem entendesse, que para ele não fazia diferença.
- Bem, vamos supor que acidentalmente eu tenha deixado cair o jornal sobre a sua mesa e o senhor tenha me devolvido e se machucado. Será que o juiz Cardozo lhe concederia indenização total?
- É claro.
- E por quê?
Poncho suspirou para mostrar que o exercício era maçante e aí disse rápida e claramente:
- Porque era inteiramente previsível que a dinamite pudesse me causar ferimentos. Sua ação de deixar cair o jornal sobre meu espaço pessoal violou meu interesse protegido por lei. Sua negligência ocasionou um risco aparente aos olhos da vigilância comum.
Consultei as partes destacadas no meu livro. Poncho estava citando literalmente a opinião do juiz Cardozo, sem nem ao menos dar uma olhada no livro. A classe inteira estava maravilhada - ninguém tinha se saído tão bem, ainda mais com Zigman tão perto.
- E se a senhorita Myers processasse - Zigman perguntou, apontando para uma trêmula Julie Myers do outro lado da sala, sua vítima do dia anterior -, será que ela teria direito à indenização?
- De acordo com o que sustenta Cardozo ou com o voto divergente de Andrew?
- Do juiz Andrew. Já que é a opinião com a qual o senhor compartilha.
- Sim. É dever de todos evitar atos que coloquem em risco a vida de outras pessoas além do aceitável - disse Poncho, numa outra citação completa do voto divergente.
O interrogatório prosseguiu dessa maneira por quase uma hora, Poncho distinguindo nuanças em pequenos detalhes dos fatos modificados pelo professor, nunca hesitando, sempre respondendo de forma conclusiva.
Por incrível que pareça, quando já havia se passado uma hora completa, Zigman disse:
- Muito bem, senhor Herrera.
Era a primeira vez que isso acontecia.
Saí da sala exultante. Poncho havia triunfado por todos nós. A história se espalhou por todas as turmas de primeiro ano, rendendo a ele mais pontos com as garotas, que há muito tempo já tinham decidido que ele estava totalmente disponível.
Autor(a): narynha
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 85
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franmarmentini Postado em 21/02/2014 - 15:43:56
olá vou ler...
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dannystar Postado em 28/10/2009 - 14:05:27
Ameiiiiiii o final =)
Tmb estou esperando pela próxima web!!!]Q seja d AyA...assim estarei lá...para ler e comentar...Olha ate rimo...rsrsrs...Bjim!!! -
rss Postado em 28/10/2009 - 12:28:23
que lindo o final ficou fofo,tou esperando pela sua proxima web.
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kikaherrera Postado em 28/10/2009 - 00:54:22
AMEI A WEB,AMEI O FINAL TAMBÉM.
MAIS VOU SENTIR FALTA DESSA WEB. -
kikaherrera Postado em 28/10/2009 - 00:13:41
MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
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kikaherrera Postado em 28/10/2009 - 00:13:29
MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
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kikaherrera Postado em 28/10/2009 - 00:13:16
MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS SSSSSSSSSSSSSSSSSSS
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