Fanfics Brasil - Poncho me ama e eu o amo! O noivo da minha melhor amiga AyA [Terminada]

Fanfic: O noivo da minha melhor amiga AyA [Terminada]


Capítulo: Poncho me ama e eu o amo!

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Nesta noite Poncho e eu nos separamos por algumas horas para ele ir em casa e se trocar para o jantar, já que pusera na mala apenas jeans, shorts e produtos básicos de higiene. Sinto saudade dele enquanto está fora, mas gosto do modo como a separação faz o jantar parecer mais um encontro especial. Além disso, estou satisfeita com a chance de me arrumar sozinha. Sou capaz de fazer o tipo de coisa que um cara que você acabou de conhecer não deveria ver você fazendo - arrancar um fio de sobrancelha desgarrado, passar perfume em lugares estratégicos (atrás dos joelhos, entre os seios) e me maquiar de modo que pareça que não estou usando quase nada.
Poncho me busca às 19h45 e vamos de táxi até um dos meus restaurante preferidos de Manhattan, o Balthazar, onde geralmente é impossível conseguir uma reserva, a não ser que você telefone com semanas de antecedência, ou esteja disposto a aceitar uma mesa às seis da tarde ou às onze e meia da noite. Mas chegamos pontualmente às oito e somos encaminhados a uma mesa ideal, dessas que têm bancos com encosto alto. Pergunto a Poncho se ele sabe que Jerry Seinfeld pediu Jessica Sklar em casamento no Balthazar. Talvez este tenha sido o exato lugar onde Jerry mostrou o anel.
- Não sabia disso – Poncho diz, olhando por cima da carta de vinhos.
- Você sabia que ela deixou o marido com quem era casada há quatro meses para ficar com Jerry?
Ele ri.
- É, acho que ouvi falar nisso.
- Então ... o Balthazar deve ser o restaurante preferido dos escandalosos.
Ele balança a cabeça e dá um sorriso irritado.
- Por favor, pare de se referir assim à gente.
- Encare os fatos, Alfonso. Isso é escandaloso... Nós somos exatamente como Jerry e Jessica.
- Olha, a gente não pode reprimir o que sente - diz Poncho sério.
É. E talvez tenha sido isso que Jessica sussurrou para Jerry no celular, enquanto o marido, que de nada suspeitava, estava sentado na sala ao lado, dando gargalhadas homéricas, assistindo a Seinfeld na TV.


Enquanto leio o cardápio, acabo me dando conta de que minha opinião sobre Jerry e Jessica pode estar mudando. Eu costumava pensar que ele era um homem sem coração e destruidor de lares, e ela uma interesseira sem-vergonha que friamente trocara o marido por outro mais rico e espirituoso quando teve a oportunidade. Li que a tal oportunidade se deu em uma academia de ginástica, a mesma freqüentada por Mayte. Agora não tenho tanta certeza. Talvez tenha sido assim que tudo aconteceu.
Por outro lado, talvez Jessica tenha se casado antes por pensar que amava o ex-marido, considerando-se a experiência de vida que tinha até aquele momento. E então conheceu Jerry, dias depois de voltar da lua-de-mel na Itália, e logo percebeu que nunca havia amado de verdade, que seu sentimento por Jerry superava em muito o que quer que sentisse pelo marido.
O que ela podia fazer? Permanecer num casamento com o homem errado, em nome das aparências? Jessica sabia a merda que ia ter de agüentar, não apenas os amigos, a família e o próprio marido, a quem ela prometera a união eterna (e não apenas por meros 120 dias), mas todo mundo, ou pelo menos aqueles que ficam tão entediados com as próprias vidas que devoram revistas de fofoca no exato instante em que chegam às bancas. Entretanto, ela foi à luta, concluindo que só se vive uma vez. Ela deu a cara a tapa e foi para um cafofo de seis milhões de dólares com vista para o Central Park. Jessica precisou mesmo de muita coragem e determinação para fazer isso. E talvez Jerry também mereça crédito por ignorar a ira do mundo, seguindo seu coração a todo custo. Talvez o amor verdadeiro tenha simplesmente prevalecido.
Independentemente do que de fato tenha acontecido a Jessica, minhas noções de regras do amor estão se modificando.
- E então? Você sabe o que vai querer? - pergunta Poncho.
Sorrio e digo que estou esperando para ouvir quais são os pratos especiais.
Depois do jantar Poncho me pergunta se quero ir a outro lugar para tomar um drinque.


- Você quer? - pergunto, querendo agradá-Io, dar a ele a resposta certa.
- Eu perguntei primeiro.
- Preferia apenas ir para casa.
- Ótimo. Eu também.
O tempo melhorou um pouco e, da esquina da minha casa, é possível ver fogos explodindo ao longe. Azuis, rosa e dourados iluminam o que para nós parece a nossa cidade particular. Ficamos de mãos dadas olhando para o céu, observando em silêncio por alguns minutos antes de entrar e dar boa-noite a José, que a esta altura acha que Poncho é meu namorado.
Subimos, tiramos a roupa e fazemos amor. Não é só minha imaginação: fica melhor a cada vez. Depois, nenhum de nós fala ou se mexe. Caímos no sono, nossos braços e pernas entrelaçados.
De manhã, acordo exatamente quando o céu começa a clarear. Ouço a respiração de Poncho e observo os ângulos bem marcados do seu rosto. Seus olhos se abrem de repente. Nossos rostos estão próximos.
- Oi, querida - a voz dele está rouca de sono.
- Oi - respondo com suavidade. - Bom dia.
- O que você está fazendo acordada? Ainda é cedo.
- Estou olhando você.
- Por quê?
- Porque adoro seu rosto - respondo.
Ele parece realmente surpreso com o meu comentário. Como é possível? Ele deve saber que é bonito.
- Também adoro o seu jeito - diz ele. Seus braços se movem em torno de mim, me puxando para junto do seu peito.
- Adoro sentir você.
Sinto que fiquei vermelha.
- E o seu gosto - diz ele, beijando meu rosto e pescoço. Evitamos beijos na boca, o que é normal quando se acaba de acordar. - E acho que tudo isso faz sentido.
- Por que você diz isso?
- Bem, porque ...
Agora ele respira forte e parece nervoso, quase com medo. Pego um preservativo na minha mesa-de-cabeceira, mas ele puxa minha mão de volta, chega para junto de mim e diz "porque" de novo.
- Por que o quê?
Talvez eu saiba por quê. Espero que eu saiba por quê.
- Porque, Annie... - ele olha nos meus olhos. - Porque eu te amo.
Ele diz essas palavras exatamente da mesma maneira que penso nelas, lutando contra um impulso forte de dizer primeiro. E agora eu não tenho de lutar.


Tento memorizar toda a cena. Seu olhar, a sensação da sua pele. Até mesmo o modo como a luz entra enviesada pelas persianas. É um momento para além da perfeição, para além de qualquer coisa que jamais senti. Quase demais para suportar. Não me importo que Poncho esteja noivo de Mayte e que nos esgueiremos por aí como dois fora-da-lei. Não me importo que meu dente precise de uma boa escovada e que meu cabelo esteja desgrenhado e caído em volta do rosto. Apenas sinto Poncho e suas palavras e sei, sem dúvida, que esse é o momento mais feliz da minha vida. Flashes pululam na minha cabeça. Estamos jantando à luz de velas, bebendo um bom champanhe. Estamos aninhados junto ao fogo numa velha fazenda em Vermont, com assoalho de madeira que range e flocos de neve do tamanho de moedas caindo do lado de fora. Estamos num piquenique-almoço em Bordeaux, no meio de um campo repleto de flores amarelas, onde ele vai me oferecer um anel de brilhante antigo.
Isso pode muito bem acontecer. Ele me ama. Eu o amo. O que mais existe?/Ele certamente não vai se casar com Mayte. Eles não podem ser felizes para sempre. Busco minha voz e consigo dizer aquelas três palavras de volta para ele. Palavras que eu não disse por um longo, longo tempo. Palavras que não significavam nada até agora.


Nenhum de nós fala sobre o que foi dito nesse dia, mas posso sentir a coisa no ar, à nossa volta. É mais palpável do que a umidade espessa. Posso sentir na maneira como ele olha para mim e diz meu nome. Somos um casal e nossas palavras nos tornaram audaciosos. Por um instante, enquanto andamos no Central Park, ele me dá a mão. São apenas alguns segundos, cinco ou seis passos, mas sinto uma descarga de adrenalina. E se alguém nos vir? E então? Uma parte de mim quer que isso aconteça, quer dar de cara com uma conhecida da Mayte, uma colega presa na cidade por causa de trabalho, saindo para uma caminhada rápida no parque. Na segunda-feira de manhã ela vai informar Mayte que viu Poncho de mãos dadas com uma garota. Vai me descrever em detalhes, mas sou genérica o suficiente para que Mayte não suspeite de mim. E se ela suspeitar, vou apenas negar, alegar que estava trabalhando durante todo o dia. Que eu nem tenho uma camisa rosa (é uma camisa nova, ela nunca viu). Vou ficar terrivelmente indignada, ela vai pedir desculpas e depois voltar ao assunto da traição de Poncho, vai decidir terminar tudo com ele e eu vou dar força, dizer que está fazendo a coisa certa. Dessa forma, Poncho não vai precisar decidir nada. Tudo vai se resolver por nós.
Caminhamos até o reservatório, circulando e admirando todas as vistas da cidade. Passamos por um garoto vestindo uniforme militar dos pés à cabeça, passeando com um beagle bem velhinho, e depois por uma mulher gorda esbaforida correndo em ritmo moderado, os cotovelos abertos de uma maneira estranha. Fora isso, temos só para nós dois um caminho geralmente cheio de gente. Ouço o barulho das pedrinhas estalando sob os nossos tênis enquanto andamos num ritmo perfeito. Estou satisfeita. O reservatório, as vistas, a cidade e o mundo pertencem a Poncho e a mim.


Nuvens escuras se aproximam quando finalmente saímos do parque. Decidimos não trocar de roupa para jantar, indo direto para um restaurante próximo a meu apartamento. Nós dois queremos peixe, vinho branco e sorvete de baunilha. Depois do jantar corremos de volta para o meu apartamento debaixo de um aguaceiro, rindo enquanto atravessamos as ruas fora do sinal, chutando as poças d`água na calçada. Dentro de casa, tiramos nossas roupas molhadas e enxugamos um ao outro, ainda rindo. Poncho veste sua cueca que parece um short. Eu visto a camiseta dele. Então colocamos um CD da Billie Holiday para tocar e abrimos uma nova garrafa de vinho, tinto dessa vez. Ficamos largados no sofá, onde conversamos por horas e horas, levantando apenas para escovar os dentes,deitar e dormir um sono prazeroso na companhia um do outro. Então, de repente, como sempre, o tempo acelera. E da mesma forma que estar com Poncho na nossa primeira noite parecia o começo do verão, temer o fim do nosso tempo juntos me lembra o final de agosto. Era nessa época do ano que aqueles pavorosos comerciais de material escolar substituíam os estrelados por crianças alegres, de cabelos bem louros, tomando suco à beira da piscina. Lembro muito bem da sensação, uma mistura de tristeza e pânico. É assim que me sinto agora, sentada no meu sofá em pleno sábado, enquanto a tarde avança noite adentro. Tento me convencer a não arruinar a última noite com tristezas. Digo a mim mesma que o melhor ainda está por vir. Ele me ama.
Como se lesse minha mente, Poncho olha para mim e diz:
- Eu falei sério.
Essa é a primeira referência ao nosso diálogo sagrado.
-Eu também.
Estou tomada por um forte anseio e tenho certeza de que nossa conversa está prestes a acontecer. Nossa conversa pós-feriado. Vamos discutir maneiras de lidar com essa situação maluca. Vamos falar sobre não suportar a idéia de machucar Mayte, mas sobre precisar fazer isso. Espero que ele tome a iniciativa. Quem deve começar esta conversa é ele.
É quando ele fala:


- Não importa o que aconteça, o que eu disse é verdade.
Suas palavras soam como uma agulha arranhando um disco. A sensação de estar afundando e adoecendo toma conta de mim. É por isso que nunca se deve, jamais, criar altas expectativas. É por isso que se deve sempre ver o copo meio vazio. Então, quando a coisa toda derrama, você não fica tão devastada. Quero chorar, mas mantenho meu rosto tranqüilo, aplico em mim mesma uma injeção psicológica de Botox. Não posso chorar por diversas razões, e uma delas é que se ele perguntar o motivo não serei capaz de articular uma resposta.
Luto para salvar a noite, trazer de volta a sorte grande. Ele me ama, ele me ama, ele me ama, repito a mim mesma. Mas não está ajudando. Ele olha para mim preocupado.
- O que houve?
Sacudo a cabeça e ele pergunta de novo, a voz bem gentil.
- Ei, ei, ei... - ele ergue meu queixo, me olha nos olhos. - O que foi?
- Eu só estou triste - minha voz treme bastante. - É a nossa última noite.
- Não é a nossa última noite.
Respiro fundo.
-Não é?
-Não.
Mas isso realmente não explica muito. O que o "não" significa? Que vamos continuar assim por mais algumas semanas? Até a noite anterior ao jantar de ensaio do casamento? Ou ele quer dizer que é apenas o nosso começo? Por que ele não pode ser mais específico? Estou com medo da resposta dele.
- Anahí Portillo, eu te amo.
Seus lábios permanecem unidos até o final da última palavra, então eu me aproximo para beijá-lo. Um beijo é a minha resposta. Não vou dizer o mesmo até o momento da nossa conversa. É assim que se faz!


Estamos nos beijando no sofá, depois puxando zíperes, desabotoando, tentando nos livrar dos nossos jeans com o mínimo de graça, o que é impossível. Tiramos do nosso caminho vários cadernos do jornal, jogado-os no chão. Uma desculpa na certa ... o remédio para todos os males.Estamos fazendo amor, mas não consigo me concentrar, fico pensando, pensando, pensando. Posso sentir as engrenagens do meu cérebro vibrando e girando como as engrenagens de um relógio suíço. O que ele vai fazer? O que vai acontecer?
Na manhã seguinte, quando acordo ao lado de Poncho, ouço ele dizer "não importa o que aconteça". Mas durante o sono minha mente reprocessou o significado de suas palavras, chegando a uma explicação perfeitamente lógica: Alfonso quis dizer que seja qual for a merda que atingir o ventilador, não importa o que Mayte diga ou faça, se precisarmos de um tempo separados depois do massacre, ele vai esperar para me amar e tudo se ajeitará no final. É o que ele deve ter tido vontade de dizer. Mas ainda assim. Quero que ele me diga isso. Com certeza ele vai falar mais alguma coisa antes de voltar para o Upper West Side.
Levantamos, tomamos banho juntos e vamos até o Starbucks. Já temos uma rotina. São onze horas. Logo Mayte e os outros vão estar em casa de novo. Só nos restam alguns minutos e ainda nada de conversa, nada de conclusões. Terminamos nosso café e depois paramos numa loja de brinquedos. Poncho precisa comprar um presente para o bebê de um de seus colegas de trabalho.
- Apenas uma pequena lembrança - diz ele.
Não sei dizer se gosto dessa sensação de "casal estabelecido", do tipo que faz compras juntos, ou se me ressinto de desperdiçar nossos momentos finais numa tarefa qualquer. Estou mais para a segunda opção. Quero apenas voltar para o apartamento e aproveitar mais alguns minutos juntos. Um tempo para ele compartilhar seu plano.


Mas Poncho se demora olhando vários brinquedos e livros, pedindo a minha opinião, pesando uma escolha que não tem assim tanta importância. Finalmente ele se decide por um dinossauro verde de pelúcia com uma expressão de desenho animado. Não é o que eu escolheria para um recém-nascido, mas admiro sua convicção. Espero que ele tenha uma similar a nosso respeito.
- É bonitinho. Você não acha? - pergunta ele, entortando a cabecinha do bicho.
- Adorável.
Então, quando já está prestes a pagar pelo presente, Poncho encontra um cesto de plástico cheio de dados de madeira. Ele pega dois vermelhos com bolinhas pintadas de dourado e os segura na palma da mão.
- Quanto custa esse par de dados?
- Quarenta e nove centavos cada um - o homem na caixa registradora diz.
- Uma pechincha, vou levar.
Saímos da loja e andamos em direção ao meu apartamento. As pessoas voltam para a cidade em bandos; o trânsito retomou o ritmo normal. Estamos quase no meu quarteirão. Poncho segura a sacola com o dinossauro na mão direita e os dados na esquerda. Ele veio sacudindo os dados pelo caminho. Penso se o estômago dele dói tanto quanto o meu nesse instante.
- No que você está pensando? - pergunto a ele. Quero uma resposta longa, articulando tudo que estou pensando. Quero palavras de conforto, alguma pontinha de esperança.
Ele dá de ombros, passa a língua nos lábios.
- Nada demais.
VOCÊ VAI SE CASAR COM MAYTE? As palavras rugem na minha cabeça. Mas não digo nada, fico preocupada, achando que pressioná-Io pode não ser a melhor estratégia. Como se o que eu dissesse ou não dissesse nos minutos finais do nosso tempo juntos fizesse alguma diferença. Talvez seja tênue assim ... o destino de três pessoas num equilíbrio instável.
- Você gosta de apostas? - Poncho pergunta, examinando os dados enquanto caminhamos.
- Não - respondo. Surpresa, surpresa. Anahí não quer se arriscar.- Você gosta?
- É - diz ele. - Gosto de jogo de dados. Meu número da sorte é seis... um quatro e um dois. Você tem uma jogada da sorte?


- Não ... Bem, gosto de duplo seis - respondo, tentando mascarar meu desespero. Mulheres desesperadas não são atraentes. Mulheres desesperadas perdem.
- Por que duplo seis?
- Não sei - respondo. Não tenho vontade de explicar que isso tem origem no hábito de jogar gamão com meu pai quando era pequena. Eu anunciava que ia tirar duplo seis e quando conseguia ele me chamava de Boxcar Willy. Eu ainda não sei quem é Boxcar Willy, mas adorava quando ele me chamava assim.
- Quer que eu jogue duplo seis para você?
- Quero - digo, apontando para a calçada imunda, fazendo a vontade dele. - Vá em frente.
Paramos na esquina da 70 com a Terceira Avenida. Um ônibus arranca perto da gente e uma mulher quase atropela Poncho com o carrinho de bebê. Ele parece ignorar todo mundo à sua volta, sacudindo os dados com as duas mãos, uma expressão de intensa concentração em seu rosto. Se eu o visse exatamente assim, mas em um cassino, vestindo poliéster e uma corrente de ouro, pensaria que a casa dele e as economias de uma vida estavam
em jogo.
- O que estamos apostando? - pergunto.
-Apostando? Nós estamos no mesmo time, querida - diz antes de soprar forte os dados, suas bochechas suaves estufadas como as de um menino apagando as velas de seu bolo de aniversário.
- Então tire um duplo seis para mim agora.
- E se eu conseguir?
Penso comigo mesma: Se você tirar duplo seis, nós ficamos juntos. Nada de casamento com a Mayte. Mas em vez disso eu digo:
- Vai significar boa sorte para nós dois.
- Então está bem. Duplo seis saindo para você. - Ele lambe os lábios e sacode os dados com mais força ainda.
O sol brilha nos meus olhos enquanto ele lança os dados no ar, depois os pega com facilidade e então abaixa o braço em direção ao chão dramaticamente, como se estivesse prestes a rolar uma bola de boliche. Ele abre as mãos, os dedos bem separados, enquanto os cubos estalam sobre o concreto, bem ali,num movimentado cruzamento de Manhattan.


Um dos dados vermelhos pára no seis imediatamente. Meu coração acelera só de pensar, E se? Estamos agachados observando o dado parado ao lado do seu par, que ainda gira em torno do eixo, como se nunca fosse parar. Se a gente tenta fazer um dado girar tanto tempo, não consegue. Mas ali está o dado, girando, um borrão de bolinhas douradas num fundo vermelho. E então diminui, diminui, diminui e pára, bem do lado do outro. Duas fileiras de três bolinhas.

Duplo seis.
Boxcar Willy.

Puta-que-pariu
, penso... Nada de casamento com a Mayte! ... Ele queria
"não importa o que aconteça", como se alguém o controlasse lá de cima... pronto, aí está. Duplo seis..Nosso destino.
Tiro os olhos do dado e focalizo Poncho, pensando se devo dizer a ele o motivo da tacada. Ele olha para mim com a boca ligeiramente aberta. Nossos olhos se voltam novamente para os dados, como se tivéssemos visto errado.
Quais são as chances?
Hum, precisamente uma em 36. Apenas um pouco menos que 3%.
Então não estamos falando de uma chance em um milhão. Mas as estatísticas podem confundir quando destacadas do contexto. Chegamos ao desfecho de um fim de semana crucial, significativo. Exatamente quando estamos a minutos de nos separar (por hoje? para sempre?), Alfonso compra os dados por impulso, brinca com eles em vez de guardá-las na sacola com o dinossauro de pelúcia e assume sua personalidade de menino apostador. Eu participo, apesar de não estar muito a fim de jogos. Então decido, embora silenciosamente, os termos da jogada. E ele tira duplo seis! Como se dissesse: somos infalíveis, querida.
Olho para os seus dados baratos com a reverência de quem olharia para uma bola de cristal na sala luxuosa da maior vidente do mundo, urna mulher enrugada pelo sol da Pérsia e que acabou de contar a você como foi, como é, e como vai ser a sua vida. E mesmo Poncho, que não sabe o que acabou de selar para nós, está impressionado, dizendo que precisa me levar para Las Vegas, que daríamos uma dupla dos diabos.


Exatamente.
Ele sorri para mim e diz:
- Aí está a sua boa sorte, querida.
Não digo nada, apenas pego os dados e os enfio no bolso da frente do short.
- Você está roubando os meus dados?
Nossos dados.
- Preciso deles - digo.
Voltamos para o meu apartamento, onde ele pega suas coisas e se despede.
- Obrigado por um fim de semana maravilhoso - diz ele, seu rosto agora espelhando o meu. Ele também está triste.
- É. Foi maravilhoso. Obrigada - faço pose de garota confiante. Ele morde o lábio inferior.
- Melhor eu voltar. Por mais que eu não queira.
- É, é melhor você ir.
- Telefono para você logo, logo. Quando puder. Assim que puder.
- Tudo bem - faço que sim com a cabeça.
- Certo. Tchau.
Depois de um último beijo ele vai embora.
Sento no sofá, segurando firme nos dados. Eles são um conforto - a jogada é quase tão boa quanto uma conversa. Talvez melhor. Não conversamos porque é tudo muito óbvio. Estamos apaixonados, queremos ficar juntos e os lances confirmaram tudo. Ponho os dados com reverência dentro da caixinha vazia de bala de canela, sobre o papel branco com os seis ainda virados para cima. Tateio as bolinhas douradas como se estivesse lendo em braile. Os dados me dizem que vamos ficar juntos. É nosso destino. Tudo em mim acredita nisso. Fecho a tampa da caixinha e a empurro para junto do vaso com os lírios que ainda resistem. Os dados, a caixinha, os lírios - criei um altar para o nosso amor.


Olho em torno do meu apartamento limpo e arrumadinho, tudo perfeitamente
em ordem, a não ser pela cama desfeita. Os lençóis tornaram diferentes formas contra o colchão, revelando um vago contorno do nossos corpos. Quero estar ali novamente, para me sentir mais próxima dele. Tiro minhas sandálias e caminho até a cama, deslizando para baixo das cobertas, frias por causa do ar-condicionado. Levanto, fecho as persianas e alcanço o controle remoto do som. Billie Holiday canta. Volto para a cama, me movimento pelo colchão até meus pés o alcançarem.
Deixo que meus sentidos sejam tomados por Poncho. Vejo seu rosto, sinto-o próximo de mim.
Imagino se ele chegou em casa, ou se ainda está preso no trânsito que atravessa a cidade. Será que vai beijar Mayte quando disser oi para ela? Será que os lábios dela vão provocar uma sensação estranha·e pouco familiar após ele ter passado o fim de semana me beijando? Será que ela vai perceber que há algo errado, incapaz de identificar exatamente o que mudou, nunca considerando, nem por um segundo, que sua madrinha e um par de dados possam ter alguma coisa a ver com uma expressão distante nos olhos do seu noivo?



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Autor(a): narynha

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No dia seguinte, Dulce chega ao trabalho um pouco antes das onze, vestindo calças amassadas e sandálias pretas bem gastas. As unhas dos pés estão com o esmalte todo descascado, então o dedão dela fica parecendo um daqueles pirulitos listrados de vermelho e branco em forma de bengala, só que achatados. Eu rio e sacudo a cabe&cc ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 85



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  • franmarmentini Postado em 21/02/2014 - 15:43:56

    olá vou ler...

  • dannystar Postado em 28/10/2009 - 14:05:27

    Ameiiiiiii o final =)
    Tmb estou esperando pela próxima web!!!]Q seja d AyA...assim estarei lá...para ler e comentar...Olha ate rimo...rsrsrs...Bjim!!!

  • rss Postado em 28/10/2009 - 12:28:23

    que lindo o final ficou fofo,tou esperando pela sua proxima web.

  • kikaherrera Postado em 28/10/2009 - 00:54:22

    AMEI A WEB,AMEI O FINAL TAMBÉM.
    MAIS VOU SENTIR FALTA DESSA WEB.

  • kikaherrera Postado em 28/10/2009 - 00:13:41

    MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS

  • kikaherrera Postado em 28/10/2009 - 00:13:29

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  • kikaherrera Postado em 28/10/2009 - 00:13:16

    MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS SSSSSSSSSSSSSSSSSSS

  • css Postado em 27/10/2009 - 20:35:40

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