Fanfic: Um noivado no caminho | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner

Agora eu me pergunto, por que foi que eu aceitei ir nesse jantar mesmo? Quando a memória daquela manhã me vem à mente, dou um sorriso aberto. Lembro dele mordendo seu lábio ao me ver molhando os meus e me abraço, instintivamente. Lembrar do seu beijo, que veio em seguida, é inevitável. Lembro de suas mãos passeando pelo meu corpo, lembro dele segurando minha cintura, deitando delicadamente por cima de mim, lembro dele soltando o coque dos meus cabelos, lembro dos olhares que trocamos, lembro dele puxando minha camisola para cima, tocando nas minhas costas, apertando a minha bunda, puxando a minha calcinha para baixo e lembro de sua frase. Sua frase me causa arrepios só de lembrar. Ah William!

Abro o meu guarda-roupa e penso que roupa usar. Vou reencontrar a dona Maria Luiza e a Julia, mas vou conhecer o irmão dela também. Além disso tem o William que, querendo ou não, eu beijei há dias atrás. Não posso ir simples demais. Mas também não posso ir arrumada demais.

Escolho uma saia rodada que cobre metade da coxa e ponho uma blusa justa, que provavelmente vai realçar meu busto. Me visto e sorrio, satisfeita com o resultado. Já estou maquiada e ponho alguns acessórios complementares.

Fecho a casa e saio a cinquenta quilômetros por hora.

Toco a campainha de sua casa e é William quem surge na porta. Vestido lindamente com uma calça jeans escura e uma camisa preta, lá está ele: grisalho, alto, com uma falha na sobrancelha e com um ímã inevitável. Minha vontade inicial é de grudar em seu pescoço e lhe beijar, mas me controlo num primeiro momento.

- V-você está linda! - Elogia ele, me olhando dos pés a cabeça. Me sinto envergonhada e abaixo a cabeça, levantando quando ele estende a mão para eu passar.

- Obrigada! - Vou até ele e encostamos nossas bochechas, jogando três beijos ao ar; assim nos cumprimentamos. - Você também está!

E antes que possa ficar um silêncio constrangedor entre nós, Julia chega e me tira do abismo.

- Olá Fátima! Entre, fique a vontade. - Sorrio para ela e vou até a sala de estar, onde estão dona Maria Luiza e o mesmo homem que vi certo dia no shopping com a Julia. Penso comigo mesma que é seu irmão. - Ali está a minha sogra, Maria Luiza e o meu irmão, Fabio.

Vou até dona Maria Luiza e lhe abraço com vontade, recebendo dois beijos carinhosos em seguida. Ela diz que estava com saudades e pergunta como estou.

- Bem, obrigada. E a senhora? - Ela diz que está bem e William nos convida para sentar. Todos sentamos e a mãe de William pergunta como é trabalhar com o seu filho. - Apesar de tudo, é bom! - Brinco.

- Ele te dá muito trabalho, não é? - Ela sorri, se aproxima de mim e segura minha mão. Eu sorrio de volta e aperto sua mão.

- Um pouco. - Rimos, inclusive William. - Mas ele é um bom chefe.

Olho para ele e Julia finge se engasgar.

- Acredito que seja um ótimo homem, também. - Ela diz, eu fico vermelha e baixo a cabeça. Solto sua mão e começo a enroscar meus dedos em um nó. Sinto uma ponta de inveja de Julia e então lembro do beijo que tivemos aquele dia.

- É sogrinha... sei disso! - Brinca Julia, que não consegue arrancar nem um sorriso de sua sogra. Ela abraça William pelo pescoço e lhe dá um beijo de leve, mas ele se esquiva. Me encara de longe e me sinto mal por estar ali, no meio daquilo tudo.

- Ainda haverá casamento, William? As vezes parece que não... - Sugere dona Maria Luiza e não tenho como não sorrir.

- Haverá sim, Maria Luiza. Nós nos amamos muito! - Diz Julia, tentando abraçar William, que se esquiva. - Mas e como foi que ele te convidou para vir jantar, Fátima? - Julia dirige-se a mim.

- Ele foi lá em casa, pela parte da manhã.

- Então aquele dia que você saiu cedo você foi na casa da Fátima? - Dona Maria Luiza pisca o olho para mim e eu dou um riso baixo. - Você é louco, podia ter pego-a de camisola.

Baixo a cabeça imediatamente. Me sinto vermelha e sei que jamais conseguirei desatar o nó dos meus dedos. Sinto que William me olha, mas é como se ele estivesse absolutamente tranquilo.

- E peguei. - Ele ri abafado. Ou ele está querendo provocar a noiva e terminar o noivado, ou está nem aí para o que aconteceu entre a gente. E o pior é que minha cabeça diz que a segunda opção é a mais correta.

- Hey gente! Vamos jantar? - Pergunta o irmão de Julia, que até o momento permanecera calado. Um homem muito bonito, loiro, alto e magro vestido de calça jeans e blazer verde-militar.

Todos levantamos e vamos até a sala de jantar. Fabio puxa a cadeira para mim e espera que eu me sente para sair de trás. Tenta sentar ao meu lado, mas na cadeira ao lado já está sentada dona Maria Luiza. Ele senta à minha frente e William briga pelo lugar na cadeira. Perde a disputa e acaba sentando de frente para sua mãe. Julia fica a seu lado.

Começamos a comer e Fabio pergunta se sou solteira. Me engasgo com a comida e William pergunta para que tanta pressa.

- Sim, eu sou solteira. - Digo, enquanto tomo um gole de água.

- Que ótimo, porque eu também. - Ele sorri, come um pouco de sua comida e me encara. - Você é linda!

Sorrio agradecida e baixo a cabeça, confusa e com vergonha. Isso é mesmo coisa dele ou é influência da Julia?

- Então você viu a Fátima de camisola, William? - Pergunta Julia, sugestiva. - Você só foi me ver de camisola depois que noivamos. Pra senhora ver como são as mulheres solteiras de hoje em dia.

Dona Maria Luiza olha para mim e olha para Julia, respectivamente.

- As mulheres solteiras de hoje em dia eu não sei, mas a Fátima é adorável! - E sorri para mim novamente.

- Não fica nada bem receber homens comprometidos somente de camisola, Fatinha. Aprenda isso! - Ela insiste e eu sorrio para ela, irônica. William pede para que ela para e eu começo a me estressar.

- Julia, para. Isso não cabe a você decidir. Vá jantar em paz! - Defende a mãe de William.

- Como não? Eu sou a noiva do seu filho e ele viu a Fátima somente de camisola!

- Julia, chega. - William se manifesta.

Mas já não adianta de nada. Levanto da mesa e jogo o guardanapo em cima do meu prato, ciente da minha falta de educação. Peço desculpas à dona Maria Luiza e licença ao William. Pego a minha bolsa e saio daquela casa. Estou sendo ofendida e nada que eu fale ou que falem por mim será suficiente. Se ela soubesse que nos beijamos... Mas saio correndo porta a fora e vejo que Fabio veio atrás de mim.

- Fátima, espere! - Grita ele e eu paro. Viro em sua direção e ele dá uma corrida de leve, se aproximando rapidamente. Segura as minhas mãos e sorri envergonhado para mim. - Me desculpe pela Julia, mas seu ciúme é demasiado na maioria das vezes. Por favor, não fique chateada. - Ele dá dois passos e de repente estamos com os corpos grudados.

- Não tem como não ficar. Ela estava me ofendendo! - Resmungo e ele segura minha cintura. Sinto um calor próximo ao meu rosto e sei que é sua respiração. Apesar de estar completamente apaixonada pelo William, Fabio consegue me distrair um pouco.

- Eu sei, mas não fique chateada. Eu vou conversar com ela depois... - Ele roça sua bochecha na minha e eu sorrio.

- Tudo bem, mas agora eu preciso ir. - Dou-lhe um beijo na bochecha, mas ele me aperta e eu paraliso.

- Só um segundo. - E então me beija. Eu continuo imóvel, parada, apenas retribuindo o beijo que recebo. Ele me aperta pela cintura e uma de suas mãos vão ao encontro dos meus cabelos. Ele me puxa para mais perto e William chega gritando, aparentemente furioso.

- O que está acontecendo aqui? - Ele se aproxima.

Nos soltamos e eu limpo o canto da minha boca, com a cabeça baixa e completamente envergonhada. Até outro dia atrás estava beijando ele. Fabio ri e se afasta, me deixando sozinha com William.

- Nada que possa lhe interessar. Se você me dá licença. - Tento sair, mas William corre até mim e segura meu braço.

- Como nada que possa me interessar? Você estava beijando o Fabio! - Diz ele bravo, como se eu estivesse fazendo algo proibido.

- É. E a Julia estava beijando você. - Digo, bufando. - E além disso, estava falando mal de mim e você não foi capaz de me defender. Sua mãe quem fez o trabalho sujo! - Digo e seguro o choro, encarando seus olhos cheios de fúria.

- Você gostou do beijo dele? - Ele pergunta, baixando o tom de voz.

Fico em silêncio. Olho para ele e lembro do nosso beijo, lembro do jantar, lembro dele com a Julia e então lembro do beijo de Fabio. Não, eu não gostei. "Mil vezes o seu, William" penso em dizer, mas fico quieta.

- Por que isso te interessa? - Tiro o meu braço do poder de suas mãos, viro as costas e entro no meu carro, já chorando.

Ele fica ali parado, em frente a sua casa, me acompanhando com os olhos. Me vê ir embora e não faz nada, mas eu também não posso lhe cobrar nada. Sua noiva está dentro de casa lhe esperando. A peça que sobra sou eu e não ela.