Fanfic: Um noivado no caminho | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner

Chego na redação no dia seguinte e - pela primeira vez - não vejo William. Sinto uma pontada de dor no peito, mas também fico feliz. Brigamos ontem a tarde e eu estou com raiva, com medo e com vergonha. É um misto de sensações e sentimentos que mal cabem em mim.

Perto da hora do almoço me dou conta de que há uma pilha de matérias para entregar a William, coisa que evitei até não poder mais. Vou até a mesa de Karen - uma colega - e ela me diz que ele já saiu para almoçar. Confio nela e vou até sua sala. Bato na porta, mas infelizmente ele está lá.

- Entra. - Grita ele de dentro da sala. Obedeço e entro. Aproveitando que está de costas para sua mesa, provavelmente olhando para a paisagem lá embaixo, deixo os papeis na mesa e tento sair sem ser percebida. - Fátima? - Ele fala mansamente.

Mordo o lábio inferior, estreito os olhos e viro para ele.

- Sim?

- Você não vai falar comigo?

- Não pretendia, por quê? - Digo seca e ele caminha lentamente até mim. Sinto minhas pernas fraquejarem, porém ponho as mãos na cintura e permaneço com meu rosto impassível, da melhor maneira possível. - Além do mais você parecia estar ocupado e - ele me interrompe.

- E você está brava comigo. - Ele baixa a cabeça, fecha a porta atrás de mim e pega minha mão. Me põe sentada numa cadeira e senta à minha frente. - Almoça comigo? - Ele pede, quase sussurrando.

- Não posso, vou fazer outras coisas na hora do almoço.

- O quê? - Ele pergunta.

- Vou ao shopping, comprar uns presentes.

- Pra quem? - Ele se antecipa.

- Isso não é da sua conta, William. - Sorrio irônica.

- Você vai sozinha? - Ele insiste, olhando baixo em meus olhos.

- Vou, sim.

- Ótimo. Eu vou com você. - Ele levanta e vai até sua mesa, apressado e decidido.

- Não, você não vai. - Também levanto e vou até ele. - Eu não quero que você vá e sua noiva também não quer.

- Ela não está aqui e com ela eu me resolvo depois. Eu vou com você e pronto.

- Eu não quero. - Insisto e ele desaba. Apoia as mãos na sua própria mesa e olha para mim.

- Mas eu preciso. Eu preciso conversar com você, eu preciso saber que está tudo bem entre a gente. - Me recomponho, entrelaço as minhas mãos na altura do meu umbigo e baixo os olhos.

- Não existe a gente, William. - Levanto a cabeça e lhe encaro. - Mas eu também acho que precisamos conversar. E apesar de tudo, nós trabalhamos juntos, somos parceiros aqui no Jornal e não podemos ficar numa relação difícil. Eu não tenho planos para almoçar hoje, mas se você topar ir ao shopping comigo... - Deixo a questão no ar e ele sorri.

- Então tudo ótimo! Vamos?

- Só preciso pegar minha bolsa. - Ele vai comigo até minha sala e então vamos ao shopping no seu carro. Perto de lá, começo a conversar com ele, olhando para frente e um pouco nervosa. - E então, o que foi aquilo ontem?

- Minha mãe disse que parecíamos um casal brigando. Nossa primeira briga... - Ele parece parar para lembrar da briga. Porém o impeço de fazer isso.

- É, nossa primeira briga. Mas eu espero que seja a última, William. De verdade.

- Eu já não garanto nada. - Ele olha para mim e sorri, depois vira para frente novamente. - Acho que ainda vamos brigar muito, sabia?

- E por quê? - William para com o carro no estacionamento do shopping e tiramos o cinto. Tento sair, mas ele segura o meu braço e me força a ficar de frente para ele. Boto uma mecha do meu cabelo para trás e ele sorri, genuinamente.

- Não sei, mas tenho essa sensação. Somos meio diferentes e - mas ele para.

- E?

- Nada. Vamos entrar? - Confirmo com a cabeça e ele desce do carro primeiro, para abrir a porta para mim.

Comemos alguma coisa na praça de alimentação do shopping e quando combinamos de dar uma última volta, cravo os olhos em uma única loja. Lá dentro está ele: na vitrine, vermelho, um salto agulha aparentemente alto e que me tira o ar. Fico admirando de longe, enquanto o mundo gira.

- Fa? - Pergunta William, despertando-me do transe em que me encontro.

- O que foi?

- Eu vou comprar um sapato. Você vem comigo? - Ele sorri, concorda e vamos até a loja. Peço para a vendedora me mostrar e sorrio quando vou o calçar. Porém não consigo me abaixar porque me dá ânsia de vômito, então William ajoelha-se na minha frente e põe o sapato em mim. Sorrio quando ele termina e acaricia meu peito do pé.

- Obrigada.

- De nada, Cinderela. - Levanto, dou uma volta e admiro seu conforto. - Você ficou linda! Vai levar?

Digo que sim e aproveito para escolher mais dois pares de calçados diferentes. Ao final, saio com seis calçados diferentes.

- Vocês formam um belo casal, perto e longe das câmeras! - Elogia a vendedora enquanto passo o cartão de crédito. Me sinto envergonhada e baixo a cabeça, sem conseguir olhar para o homem grisalho ao meu lado. Quando consigo erguer a cabeça, vejo que uma vendedora trás um pacote até mim.

- Para você. - Ela me entrega e eu olho para William.

- Um presentinho para você, como um pedido de desculpas. - Ele aperta uma das minhas bochechas e se abaixa, até sua boca encostar o meu ouvido.

- O sapato vermelho ficou lindo em você, mas você não deixou que eu o comprasse. Então comprei outro, uma lembrancinha. Se você não gostar, guarde de recordação. - Ele sorri e eu me arrepio.

Saímos da loja e William não perde a oportunidade de uma brincadeira.

- Você parece uma criança comprando brinquedos quando se trata de comprar sapatos!

- Sapatos são a minha perdição. Mas eu consigo me controlar! - Afirmo.

Damos mais dois passos bem próximos um do outro e uma voz conhecida vindo de trás nos surpreende.

- Olá casal! - Ouvimos sua voz e nos viramos imediatamente. William segura duas das minhas sacolas e me ponho no lugar de sua noiva. Fico envergonhada e dou um passo para trás.

- Julia. Que surpresa! - Diz William, sem saber o que fazer.

- Olá Fátima. William, por que surpresa? Só jornalistas que podem fazer compras no meio do expediente? - Ela provoca e eu me sinto, mais uma vez, humilhada.

- Claro que não, é que - porém ela o interrompe.

- Apesar de eu não vir acompanhada por nenhum dos meus colegas comprometidos, eu também tenho o direito de vir bater perna no shopping. - Ela continua e William fica calado. - Por que você não procura um homem livre para você, Fátima? O meu irmão, por exemplo... - Ela sugere e eu me sinto ainda mais humilhada, se possível.

- Julia - tento protestar, mas o som da minha voz não sai.

- Chega Julia. Em casa nós conversamos. Eu e a Fátima vamos voltar a trabalhar porque a nossa hora do almoço - ele enfatiza - já está terminando. E não tente empurrar o seu irmão para a Fátima. - Ele vem até mim e me segura pelos ombros. - Vamos.

Viramos as costas e saímos. E, pela maneira que William me segura e deixa sua noiva, me sinto ainda mais humilhada. Sinto como se eu fosse uma mulher de vida fácil em horário de serviço ou uma qualquer, que adora homem comprometido. Sei que tudo o que faço é por amor, mas eu faço tudo errado. William é proibido para mim e entre nós, há um noivado.

Vamos quietos até o carro e continuamos assim até a redação.

- E então, você não vai falar mais comigo? - Pergunta William, pouco antes do Jornal começar.

- Desculpe, William. Mas o que fizemos hoje não foi certo. Se põe no lugar da Julia! Estamos fazendo tudo errado...

- Tudo o quê? Nós só fomos passear e - mas somos interrompidos pelo horário. - Boa noite! - E então o Jornal começa.