Fanfic: Um noivado no caminho | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner

William vira para mim e me encara pálido, com os olhos arregalados. Ambos estamos ofegantes, mas eu ponho a mão no peito para disfarçar. Minha camisola subiu e eu estou com metade das coxas à mostra, além do tirante da minha camisola caído. William me encara e eu o encaro de volta, mas tenho medo do que vem a seguir.

Levanto um pouco bamba do sofá e, desta vez, é William quem recua. Arrumo a alça da camisola e a puxo um pouco mais para baixo, tentando não fazer movimentos bruscos.

-Fátima me desculpa. - Ele apressa-se em dizer. - O que aconteceu eu... Eu não sei porque fiz isso e - porém eu o interrompo. Ele está nervoso demais, gagueja sem parar e eu estou com medo. Muito medo.

-William, calma. - Digo simplesmente. Ponho a mão na testa e fico pensativa, começando a andar de um lado para o outro. - O que aconteceu aqui foi uma coisa errada, uma coisa de momento. Não precisa se preocupar... - O encaro mais uma vez e ele sorri, chegando perto de mim.

-Não quero perder sua amizade, Fá. Você é muito importante para mim. - Sua voz sai mais rouca que o normal e volto a ofegar, sentindo que ele respira pesado. O clima entre nós começa a ficar quente e seus olhos parecem queimar. Ele vem até mim e segura minhas mãos.

- Você também é muito importante para mim. - Digo e começo a fechar os olhos calmamente. Dou um passo à frente e abro um pouco a minha boca, permitindo que o ar passe à vontade. Ele me olha, sorri e se curva diante de mim.

O telefone toca novamente e nos afastamos assustados. Eu simplesmente não faço ideia de quem possa estar ligando e também não tenho a menor vontade de atender. Olho para William envergonhada e ele sorri.

- Acho melhor eu ir embora. - Ele olha para mim e morde o lábio. - Na redação nos falamos, tudo bem? - Aceno com a cabeça e ele vem até mim, abrindo o sorriso. É impressionante como até o seu jeito de caminhar me deixa tonta e sem ar. Quando chega perto, encosta a mão no meu rosto e joga um beijo no ar. Eu sorrio e fecho os olhos. - O que aconteceu aqui hoje foi... - Ele aperta minha bochecha com os dedos e eu abro os olhos. - Eu não tenho nem palavras para explicar. Até mais. - Vem até mim e beija o canto da minha boca, ainda com a mão no meu rosto. Caminha até a porta e eu fico o observando, completamente embasbacada. De repente ele vira e dá uma risada abafada. - Jamais passe adiante essa sua camisola. - E então sai.

Caio sentada no sofá e ali eu fico, até que Nycole chega na sala toda saltitante.

- Meu Deus Fatinha! O que foi isso aí na sala? - Olho para ela confusa.

- Você viu o que aconteceu aqui?

- É claro. Liguei quando vi que o clima esquentaria demais. - Minha vontade é de pular em seu pescoço, mas ele é noivo e o que estávamos fazendo era errado. Estreito os olhos para ela e sorrio com sinceridade. - Me lembre de agradecer a Deus todos os dias por ter uma amiga como você! - Rimos e vou para o meu banho.

Sandra chegou para me buscar e, como demorei um pouco, ficou na sala conversando com Nycole. Provavelmente estavam fofocando sobre o ocorrido de mais cedo, mas eu não me importo. Eu preciso dividir o que está acontecendo com alguém e nada melhor do que dividir com duas parceiras incríveis.

Chego na sala pronta para ir trabalhar e ambas levantam do sofá. Vou até Nycole e me despeço dela com um abraço.

- Espero que não se importe, mas Sandra já sabe do beijo. Converse com ela, porque quando eu não estou perto, ela está. - Diz ela enquanto me abraça. - Se cuida.

Sandra e ela se despedem e vamos embora. No carro, respiro fundo e ela não precisa nem perguntar. Me apresso em lhe contar tudo o que aconteceu de maneira detalhada.

- E como você pretende encarar o William agora?

- Não faço a menor ideia.

Já faziam quase quatro horas que eu trabalha sem parar para nada, então resolvo dar a mim mesma um momento de descanso. Largo tudo que é meu em cima da minha mesa e levanto, indo até uma saleta. Lá, há cafeteira, biscoitos, uma mesa e tranquilidade. O lugar mais tranquilo nesse prédio inteiro - por mais estranho que pareça.

Chego lá e agradeço mentalmente por não ter ninguém. Estou sozinha e preciso mesmo pensar nos acontecimentos dos últimos dias. Aliás, preciso pensar em tudo que aconteceu desde a minha chegada no Brasil. Algumas vezes tenho a impressão de que estou aqui há mais de anos.

Pego uma xícara e encho-a de café, parando de costas para a porta. Ouço alguém abri-la, mas continuo concentrada na cafeteira. Ainda sem olhar para quem entrou na sala, pego a xícara e sento à mesa. Olho para o lado e William me encara enquanto pega alguns biscoitos.

- Olá! - Ele me cumprimenta, variando de humor entre uma cordialidade e uma timidez. - Não tinha me visto ou fingiu que não viu?

Engasgo com o café e ele vem até mim solícito. Ergo a mão indicando que está tudo bem e, de certa forma, mantendo distância.

- Oi. Desculpa, estava tão dispersa que nem vi que era você. Como estás?

Ele senta à minha frente e sorri, comendo seus biscoitos.

- Estou bem, obrigada. E você, como está? - Sorrio, digo que estou bem e levanto da cadeira, um pouco atordoada. Não posso me dar o luxo de encará-lo em uma sala sozinha, sem nenhum telefone para tocar. A tensão entre nós é quase palpável e eu não me sinto segura estando tão próxima e me sentindo tão atraída. Seus cabelos grisalhos e sua falha na sobrancelha causam em mim sensações que, jamais, nenhum homem causou. - Já vai?

- Vou sim... Estou muito ocupada. Não era nem para ter vindo tomar este café. - Que, por sinal, não consigo beber até o fim. Deixo mais da metade e começo a sentir uma leve dor de cabeça. Despeço-me dele e volto para o trabalho.

Assim que o jornal termina, corro para minha sala para pegar minhas coisas e ir embora. Estou exausta, já que o dia fora puxado demais e a minha vontade é de dormir feito pedra. Saio apressada e dou um pulo na saleta ao lado, já que ainda não consegui tomar um café. Sirvo-me uma xícara e caminho em direção a porta, assoprando o vapor que vem do café. Chego na porta e esbarro em alguém.

Alguém grisalho, alto, com uma falha enorme na sobrancelha, um sorriso encantador e um cheiro de enlouquecer. Derramo café nele e o vejo diante de mim, com uma mancha enorme na camisa. Toco em seu peito para tentar - em vão - limpar alguma coisa, mas quando nossos olhares se cruzam ele segura meus pulsos com firmeza.

- D-desculpa, William. Eu juro que não vi você. - Digo, atordoada.

- É. Você não anda me vendo ultimamente... - Ele retira as minhas mãos do seu peito e desconfio que esteja um pouco inseguro em relação a mim. - Queria ver se fosse com você!

Eu sorrio envergonhada, largo a xícara na pia e a lavo - e não foi hoje que consegui tomar um café decente! Ele encosta-se à mesa e para, me observando.

- O que foi?

- Nada, não. - Ficamos em silêncio e me despeço com um aceno de mão. - Já vai?

- Já sim, estou muito cansada. Desculpe mais uma vez.

- Não foi nada, Fátima... Confesso que estava com um pouco de frio e seu café quente me aqueceu! - Rimos e ele se aproxima de mim, me abraçando pelo ombro. - O jantar ainda está de pé, não é?

- Está sim. Mas eu preciso mesmo ir. - Me afasto dele e ele segura minha mão. Sorrio envergonhada e lhe dou um beijo na bochecha. - Até amanhã!

- Até!

Viro as costas e saio apressada, com o coração na boca. Essa proximidade toda, essas carícias todas... Tudo proibido e muito contido. É algo que quase não consigo suportar.