Fanfic: antigo amor

Mal saímos do elevador e aquele homem grande ao meu lado segurou meu braço com firmeza e me levou para um corredor vazio. Senti minhas pernas tremerem e fui até onde ele me levava, mas eu já não era capaz de controlar os descompassados batimentos do meu coração.

- Pra onde você tá me levando? O que você quer?

Ele olhou nos meus olhos, sorriu e eu me senti segura por alguma razão. Estava indo para onde ele queria, já que tropeçava nos meus próprios pés. Eu já não conhecia mais os prédios da Globo no Brasil, já que passei 6 anos vivendo naqueles prédios parisienses, cheios de pessoas que não gostavam de mim. Estava no Brasil, meu país de origem, perto dos meus amigos e antigos colegas, junto dos meus pais e estava ali, com meu braço sendo agarrado pelas mãos de William Bonner, meu ex-marido. O que mais eu poderia querer?

Senti o scarpin que eu usava mais folgado do que deveria, então pedi para que ele parasse de correr um pouco. Paramos no meio do nada e ele ficou me olhando calmo e tranquilo, enquanto eu respirava com dificuldade e me escorava na parede atrás de mim. Pus as mãos no peito e comecei a massagear bem onde doía e o vi aproximar-se de mim.

- O que você quer? Por que me trouxe pra cá?

- A ideia não era parar aqui. É que você está cansada, por isso paramos... - Ele sorria triunfante, provavelmente tirando uma com a minha cara.

Dei uma risada irônica e perguntei, mais uma vez, o que ele queria comigo. Dessa vez foi ele quem riu...

- Nós precisamos conversar, Fátima. E não dá pra fazer isso nem no elevador, nem na frente de todo mundo.

- Não sei porque conversar. Nós já fomos casados, mas agora não somos nada. Aliás... Você não deveria estar em Nova Iorque?

E foi aí que me dei conta de tudo que estava acontecendo. Era tudo mentira! Fui convidada para voltar ao Brasil, sim, mas não da maneira que eu pensava. Eu estava indo para dividir a bancada com William Bonner e este não iria para Nova Iorque, muito pelo contrário. E Deus! Agora eu entendo porque a Vânia estava tão ansiosa...

- Fátima, desculpa. - Ele murmura.

- Era tudo mentira, não era? Não vai haver mudança na grade da emissora nenhuma, não é?

- Me chamaram para uma reunião mês passado e disseram que iriam trazer você de volta para o Brasil, para dividir a bancada comigo mais uma vez. Eu sabia que você não iria querer, por isso inventamos a história de que eu iria para Nova Iorque. Doeu mentir, mas doía mais ainda ficar longe de você. Aliás... Por que você foi embora? - Ele foi se aproximando, se aproximando, e eu me encostei reta na parede. Ele pôs suas duas mãos ao redor da minha cabeça e eu perdi a força nas pernas, então ele grudou os quadris nos meus e eu gemi alto - me arrependendo logo em seguida. - Por quê, Fátima? Por quê?

- Me solta. - Mas meus olhos pediam o contrário e abri minha boca instintivamente. Ele sabia bem o que eu queria.

- Só depois que você me disser porque foi embora. O que houve com aquele amor todo? E não venha me dizer que deixou de me amar porque eu estou vendo exatamente o contrário agora. Por que você foi embora?

- Eu fui embora porque - mas não havia um motivo certo. Nós brigamos, eu joguei a aliança em sua cara e disse que não queria mais. Assim, consegui fugir pra Paris e estávamos sem nos ver há 6 anos. Mas isso não é fácil admitir quando se está sendo prensada na parede pelo grande amor de sua vida.

Com a falta de uma explicação, ele baixou a cabeça e eu depositei o peso do meu corpo sobre o seu corpo.

- Eu imaginei... Eu só queria saber porque você não atendeu meus telefonemas, não respondeu meus emails, nada... Por quê?

- Eu só queria saber porque você não foi atrás de mim quando eu fui embora. - Sussurrei. E então duas lágrimas foram até o chão.

Ele me soltou e eu quis fugir, mas fiquei preocupada com ele quieto e de cabeça baixa. Perguntei se ele estava bem, mas ele continuou em silêncio.

Uma espécie de campainha tocou e ele levantou a cabeça, fugindo dos meus olhos. Tentei tocar em seus ombros, mas recuei por saber como eu me sentiria caso tocasse.

- Vamos embora, Fátima. Está na hora da reunião e somos indispensáveis, principalmente agora com essa mudança. Depois eu mostro pra você a redação.

- Tudo bem... Obrigada.

Sorri sincera e fomos até a sala de reuniões, em silêncio absoluto.

Perto da hora do almoço, fui até minha mesa provisória e liguei para Vânia. Estava muito perturbada e precisava dividir com alguém de confiança tudo que eu estava sentindo.

- Fá? Como está o Brasil?

- Está lindo, como sempre! Os nossos pais estão bem e morrendo de saudades de você, mas não foi por isso que eu liguei.

- Você parece estar com pressa... O que aconteceu?

- O William...

- Ele ainda está aí? - Ela pareceu tão surpresa quanto eu.

- Sim, Vânia. E ele também não vai embora. É ele o meu colega de bancada, era tudo mentira. Vou trabalhar novamente com ele, Vânia. E estou dividida quanto a isso.

- Calma. Até onde isso pode ser ruim?

- Até onde ficamos sozinhos hoje e dividimos um pouco dos sentimentos de seis anos atrás. Ele perguntou porque eu fui embora e eu perguntei porque ele não foi atrás de mim. Além disso, ele me prensou contra a parede e eu me derreti toda, entregando tudo que eu ainda sinto. E agora?

Ela riu. E, espero eu, de nervosa. Senti vontade de rir também, mas tive que desligar o telefone para conhecer a tal redação - que o William ainda não havia me apresentado.

- Quem vai me levar?

- Eu. - E então surgiu ele novamente diante de mim, lindo, grisalho e alto. Massageei meu peito e mordi meu lábio inferior, me despedindo de Vânia. - Era a Vânia?

- Era sim. - E saímos caminhando de onde estávamos.

- Da próxima vez que você falar com ela, mande lembranças.

Sorri e, novamente, ficamos em silêncio.