Fanfic: antigo amor

Acordei com um calor masculino ao meu lado. Lindo, forte e grisalho. Meu coração ameaçou saltar pela boca e eu já não poderia mais me controlar por muito tempo. Todo amor que eu entregara a ele no dia anterior, estava me sufocando agora.

Ele estava deitado de barriga para baixo, com o braço direito em volta da minha cintura e a mão de dedos longos de William Bonner aquecia a região em que tocava desde quando acordei. Já não sou mais dona do meu próprio corpo há muito tempo! Me mexi de leve e ele acabou virando-se para o lado oposto, me lembrando de uma situação de seis anos atrás.

- Eu fui embora para Paris e ele não foi atrás. Ficou rondando os meus pais e a minha irmã por telefone. Seu amor não é tão grande para movê-lo até outro continente. - Pensei alto e pus a mão no peito, bem onde doía. Ele se mexeu e parei para fitá-lo. - Ah!, William! Acredito no seu amor, só sei que ele não é tão grande como o meu. - Sentei na cama e ele não moveu um pelo de seu corpo. - E eu preciso de um amor maior. Um amor compatível com o que eu tenho pra dar. Eu sinto muito...

Me inclinei um pouco e beijei seu cabelo, inspirando seu cheiro com ardor. Poderia ficar ali, me inebriando naquele perfume até o fim dos tempos, mas eu precisava de mais. Essa é a palavra. Um "eu te amo" como o de ontem não valeria caso não viesse um "eu te amo mais" também de sua boca.

Levantei tímida, com medo de que ele acordasse. Estava nua, mas com o corpo quente. Peguei minha saia e lembrei que minha blusa estava no meio da sala, provavelmente jogada na escada. Sorri quando me lembrei da noite anterior, virei para a cama e aquele homem que fora meu no dia anterior estava deitado, pouco preocupado se eu vou estar ao seu lado quando ele acordar. Coloquei duas mexas do meu cabelo para trás da orelha e não pude conter as lágrimas que já estavam caindo... Peguei meu sutiã que estava caído no chão - aliás, quando foi que ele tirou meu sutiã? - e o coloquei com pressa, já que ele ameaçava acordar. Coloquei meus sapatos e saí dali o mais rápido possível. Corri para a escada e, lá de cima, encontrei minha blusa jogada no chão, ao lado da sua de maneira sugestiva.

- Tudo bem, Fátima. Você consegue. - Encorajei a mim mesma e desci as escadas com uma velocidade quase perigosa. Assim que pisei na sala, peguei minha blusa e a coloquei sem jeito algum. Ouvi um barulho vindo do quarto e peguei minha bolsa, que achei em cima do sofá. Eu só não sei como ela foi parar lá! Saí daquela casa com o celular na mão, implorando para haver um ponto de táxi próximo dali. Liguei para a redação do jornal e comuniquei que teria que voltar para Paris e não sabia se voltaria.

- Mas por que, Fátima? Aconteceu alguma coisa? Você se desgostou com alguém ou algo - Perguntou um dos responsáveis pelo jornalismo da emissora, claramente preocupado.

- Não foi nada, eu só quero mais. - E, de repente, me senti desabafando com um alguém não tão próximo sobre a minha relação com o meu ex-marido. Parei de falar no exato momento em que me dei conta.

- Mais? Mais o quê? Ancorar o Jornal Nacional não está bom?

- Não é isso. Está ótimo para mim, até mais do que eu me acho digna! O problema é que isso é pessoal, mas acaba interferindo no trabalho.

- É o Bonner, não é? Eu sabia que você recuaria assim que percebesse que era tudo uma grande mentira!

- Não é ele. Sou eu. Isso tem a ver comigo. Mas agora eu tenho que desligar.

Eu estava andando sem rumo, rezando para cruzar com algum táxi. Assim que cruzei com um, desliguei o telefone e o chamei.

Cheguei na casa dos meus pais e fui recebida com um abraço saudoso de meu pai, que eu não via há muito tempo.

- Minha filha, como você está? Passou a noite onde, meu amor?

- Ah!, pai... Não dá pra explicar nada agora. Eu só preciso sair daqui. - Disse enquanto subia as escadas correndo, implorando com o pensamento para que ele não fosse atrás.

- Sair daqui onde? Daqui de casa? Para onde você vai?

Finalmente chego no meu quarto. As malas ainda estavam em cima da cama, o que facilitou muito o meu plano de fuga. Fechei ela do jeito que as roupas estavam ali dentro e nem me dei o trabalho de trocar de roupa. Estava com fome, mas não podia arriscar cruzar com o William novamente. Eu não aguentaria e acabaria cedendo, mais uma vez.

Desci as escadas com as malas nas mãos e meu pai me olha torto, não aprovando o que eu faria.

- Fátima Gomes Bernardes, aonde a senhorita pensa que vai? - E, de repente, minha mãe surge na sala, deixando cair um copo de vidro no chão.

- Pai, mãe, eu decidi voltar para Paris. Não consigo continuar aqui, vivendo no mesmo país que meu ex-marido, aquele que eu não via há seis anos. - Larguei as malas no chão, botei uma mecha do cabelo para trás da orelha e segurei a mão de meu pai, levando-o até minha mãe. - Eu passei a noite com ele ontem, a propósito, mas hoje, assim que acordei e o vi virado de costas para mim, lembrei que ele não foi capaz de me procurar em Paris. Eu sei que o erro foi meu - me antecipei em dizer assim que vi minha mãe abrindo a boca para protestar -, mas ele não foi atrás de mim lá onde eu me encontrava. Seu amor foi suficiente para não se afastar de vocês, mas não foi grande o bastante para movê-lo até outro continente. Eu preciso de um amor grande, gigante. O amor que ele pode me oferecer não é o suficiente para mim.

- Mas Fátima, ele procurou você. - Minha mãe, enfim, abriu sua boca. - Ele manteve contato até com a Vânia!

- Sim, mãe. Mas não foi atrás de mim. Isso mostra que ele não estava tão interessado. E ainda eu saiba que ele me ama, eu preciso de mais. Por favor, respeitem a minha decisão. - Beijei as mãos de cada um dos dois e expliquei o que faria dali por diante. - Eu vou até Paris e lá decido o que fazer. Preciso me acostumar com a ideia de me reaproximar do William antes me reaproximar, de fato. Ligo quando chegar lá.

- Tudo bem, mas você promete que volta?

- Pai, eu não posso prometer o que não sei se posso cumprir.

Me despedi dos dois por uma última vez e segui rumo ao aeroporto.

Logo eu já estava em Paris.