Fanfic: Monalisa, deusa com ar de menina | Tema: Monalisa

O resto do domingo passou tranquilo, assim como o início e manhã daquela segunda-feira. Depois de um almoço improvisado, seguimos viagem de volta para casa. Quando chegamos, notamos a república vazia, sinal de que os meninos ainda estariam na faculdade. Arrumamos algumas coisas e logo seguimos para a delegacia mais próxima, um tanto pequena e desestruturada. A Monalisa, que parecia bastante nervosa, ficou ainda mais ao chegar naquele local. Tentei ao máximo lhe acalmar, mas parecia bem difícil, e não era para menos... Ela estava prestes a denunciar os caras que lhe roubaram parte da infância e da adolescência, que lhe tiraram pessoas queridas e sua vida social. 

Monalisa: Quando eles descobrirem que foram denunciados vão querer me matar - Comentou enquanto me abraçava apertado. No momento, estávamos escorados na parede que ficava próxima da porta do delegado. Esse, que era o único daquele lugar, atendia por coincidência, o ex-namorado da garota que havia sido abusada - Não sei se quero realmente fazer isso, Bê... Estou com medo - Confessou, despertando-me um pouco. 
Bernardo: Não fique com medo, meu amor - Disse, afastando um pouco e segurando em seguida seu rosto entre minhas mãos - É claro que eles vão ficar cheios de ódio de você, mas não poderão fazer nada, pois vão estar presos, entendeu? - Perguntei, acariciando e enxugando levemente algumas lágrimas que insistiam em molhar sua face - Você tem a chance de colocá-los atrás das grandes, de fazer a justiça, tanto por você, como pela sua mãe e também pelo seu amigo - Completei, observando suas lágrimas um tanto mais grossas.
Monalisa: Mas não sei, Bernardo. E se eles arrumarem um jeito e saírem da prisão? E se eles resolverem se vingar? E se... - Lhe interrompi, pousando com um dos dedos sob seus lábios. 
Bernardo: Para de ser tão pessimista, meu amor - Sussurrei, vendo-a revirar os olhos tristonhos. Segurei firme seu rosto e fixei meu olhar no seu - Essa vai ser a sua justiça. A justiça por ter sofrido tanto... Por favor Mona, não se deixe tomar pelo medo agora - Pedi, vendo-a assentir sem graça - Tente ser forte e enfrente isso. Eu sei que você vai conseguir - Completei, selando rapidamente nossos lábios e observando em seguida um pequeno sorriso surgir em meio as lágrimas.

Depois da nossa pequena conversa, ela entrou um tanto mais cofiante na pequena sala do delegado. O homem que saíra dali, que havia também batido no Thiago, estava com a cabeça baixa e um tanto cabisbaixo, além de um policial alto e um tanto forte lhe acompanhando, o que me fez temer por minha provável pena. Voltei a sentar numas das cadeiras daquele pequeno ambiente e esperei apreensivo por longos minutos a Monalisa sair daquela sala. Quando finalmente saiu, percebi seu rosto e olhos inchados e avermelhados, além da sua expressão perdida. Levantei-me num impulso e corri até lá, abraçando-a firme em seguida. 

Monalisa: É tão... Tão difícil, Bê - Tentava falar em meio ao choro, apertando-me ainda mais - É tão... Tão difícil ter que lembrar de tudo e ainda contar - Comentou com uma certa dificuldade e entre soluços, me fazendo engolir em seco. 
Bernardo: Eu te entendo, meu amor... Entendo o quanto deve ser difícil para você - Sussurrei próximo ao seu ouvido, acariciando suas costas enquanto ainda lhe abraçava - E fico feliz em saber que você conseguiu enfrentar mais essa dificuldade, que você foi forte nesse momento para se abrir, mesmo prometendo não fazer mais isso. E fico orgulho também, meu amor. Principalmente por te ver assim, enfrentando finalmente o seu passado - Continuei, ouvindo seus soluços ainda mais altos e pesados - E pode ter certeza, eu não sou o único que está orgulho e feliz com isso. Aposto que sua mãe também está. Bastante - Conclui, recebendo seus maiores soluços como resposta. 
Monalisa: Eu... Eu... - Pausou, tentando controlar ao máximo o choro e os gaguejos enquanto afastava-se para me encarar. Fiz sinal para que ela não falasse e até tentei lhe puxar novamente para um abraço, mas ela recuou e encarou meus olhos, como se implorasse para falar. Sorri, lhe passando segurança e então a ouvir sussurrar - Eu devo isso a você, Bernardo. E se hoje estou aqui, conseguindo finalmente enfrentar tudo isso, com certeza é por conta da força e da segurança que você me passa - Sorriu abobalhada em meio ainda as lágrimas, me provocando um sorriso parecido - Obrigada meu amor, de verdade. Por tudo - Concluiu, entregando-se por fim a um novo e apertado abraço.

Entrei na pequena sala do delegado cerca de quinze minutos depois. A Monalisa, naquele momento, encontrava-se mais calma e falava com os meninos pelo celular. Quanto a mim, tentei ao máximo me equilibrar e ficar tranquilo, mas parecia bem complicado. Depois de finalmente confessar e detalhar toda a situação daquela noite de sexta-feira e das minhas impulsividades por conta das emoções, pude ouvir de imediato um mandato de prisão. Senti meu mundo desabar ali. Era evidente que teria uma punição, mas talvez não estivesse tão preparado para o que viria. Tentei não entrar em desespero, mas foi impossível. Um policial logo se aproximou de mim e me levantou num impulso rápido. Respirei fundo e lhe segui, abaixando imediatamente a cabeça ao sair daquela sala. Meu coração, que já estava a mil, deve ter dobrado com os batimentos ao ouvir a voz apreensiva da Monalisa.

Monalisa: Bernardo - Gritou nervosa, parecendo se aproximar - Por que estão te levando? Por quê? - Perguntou apreensiva, fazendo-me respirar fundo para controlar aquela vontade enorme de chorar enquanto ainda tinha o rosto abaixado - Você não é culpado por nada, caramba! - Voltou a gritar, tentando me puxar em seguida. Foi aí que levantei o rosto para lhe encarar, percebendo seu rosto completamente vermelho e molhado. 
-XX-: Por favor, moça... Tenho que levá-lo - Disse de maneira firme o policial que me segurava. Ela pareceu não lhe dar ouvidos e continuou a me puxar, parecendo colocar toda sua força ali. Porém, o policial era bem mais forte que ela, e num novo impulso rápido, me puxou novamente para o lugar - Por favor, controle-se!
Monalisa: Por favor digo eu, seu policial! O culpado não é o Bernardo. Você não pode prendê-lo. Não pode - Gritou, tentando me puxar novamente. 
-XX-: Que bagunça é essa aqui? - Perguntou o delegado, saindo de maneira apressada da sua sala.

Monalisa: Bagunça vai ficar a minha vida se o Bernardo for preso - Gritou novamente, provocando-me um sorriso bobo em meio a tanta angústia - Vocês não podem prendê-lo! E se ele bateu no idiota do meu irmão e o deixou em coma, foi por toda raiva que ele tinha daquele desgraçado. Ele fez o que eu deveria ter feito... Não, não - Negou apressada, sorrindo irônica em meio as lágrimas - Era para eu ter feito pior, desde o início. Era para eu ter matado-o... Aquele desgraçado - Gritou mais uma vez, fazendo-me criar forças e soltar-me do policial, abraçando em seguida a Monalisa. Ela desabou em meus braços, deixando o choro vir mais uma vez. 
Bernardo: Logo irei sair daqui, meu amor - Sussurrei em seu ouvido enquanto tentava manter a tranquilidade - Eu vou sair daqui e vou cuidar de você como sempre venho cuidando, ouviu? Por favor, tenta ficar calma.
Monalisa: Não tem como, Bernardo - Sussurrou de volta em meio aos soluços altos - Eu não quero ficar sozinha, caramba. Eu preciso de você do meu lado.
Bernardo: Ei, você não vai ficar sozinha, ok? - Comentei, acariciando de leve o seu rosto - Você vai ficar com os meninos... E além disso, daqui a pouco estarei fora daqui - Sussurrei, selando brevemente nossos lábios. No segundo seguinte, senti o policial me puxando de volta.
Monalisa: Por favor - Gritou novamente enquanto tentava se aproximar. Porém, o delegado que estava calado e quieto um tanto ao seu lado, lhe puxou - Não! - Gritou mais uma vez entre soluços altos, me deixando com o coração partido. Era horrível aquela sensação... De vê-la chorando e desesperada, e não poder fazer simplesmente nada. 
Bernardo: Eu amo você, Mona. Não esquece - Disse alto e num bom som enquanto era puxado para longe dali. Quando infelizmente lhe perdi de vista, deixei cair as lágrimas que mantive presas por todos aqueles minutos.