Fanfic: Monalisa, deusa com ar de menina | Tema: Monalisa

Quinze. Esse era o número de presos que encontravam-se na mesma cela que a minha. Assim que cheguei, bastante calado e quieto, e depois de observar alguns rapazes com certos ares de curiosidade, me retraí num cantinho sujo e escuro que havia naquela pequena cela, que mal cabiam seus presos. Tentei passar o olhar por cada um daqueles homens, porém, seus olhares curiosos ainda continuavam ali. Um dos homens, um tanto alto e musculoso, aproximou-se de mim, me deixando um pouco amedrontado, confesso.

-XX-: O que te trouxe aqui? - Perguntou firme enquanto me encarava. Os outros faziam o mesmo, parecendo esperar curiosos pela minha resposta - Alguma briguinha de playboy? - Voltou a perguntar, fazendo alguns dali rirem. 
-XX-: Só pode ser... Ou você acha que um mauricinho desse iria ter coragem de matar alguém ou coisa do tipo? - Perguntou outro rapaz, menos musculoso que o primeiro - No mínimo poderia ser o mandante. Mas não o executor - Comentou com o outro, dando um risinho irônico. 
-XX-: Não dou dois dias para o papaizinho rico tirá-lo daqui - Comentou um terceiro, fazendo alguns assentirem. Apenas revirei os olhos e deixei meu silêncio como resposta - Ei playboy, não vai responder? - Voltei a revirar os olhos, bufando em seguida, já um tanto impaciente.
Bernardo: Minha namorada foi abusada pelo pai e pelo irmão durante algum tempo da infância e também da adolescência... Eles lhe tiraram boa parte da vida e também pessoas queridas, e ainda lhe deixaram cheia de traumas e sofrimentos. E eu, tendo a chance de encontrar com o desgraçado do irmão dela, resolvi fazer justiça com as próprias mãos e o deixei em coma - Contei, focando num ponto qualquer daquela cela. Ao final, ao perceber o certo silêncio que havia nascido, subi com o olhar para os rapazes - E por isso estou aqui. Satisfeitos?

A partir daí a conversa surgiu. Contei um pouco mais da história que me levara para aquele lugar e logo pude ouvir também suas histórias. Quanto a mim, sentia-me um tanto perdido e inseguro, e um tanto ansioso com os dias que viriam. Esses, inclusive, foram bem tensos no começo... Três dias se passaram para que eu pudesse finalmente saber por mais quanto tempo ficaria ali. E, devido ao meu estado emocional naquela noite juntamente com os golpes que haviam sido recíprocos, e com a confirmação de que o tal sujeito, ex-namorado de uma das garotas estupradas, batera bem mais no Thiago ao encontrá-lo já caído, levando-o ao coma, fez com que minha pena fosse um tanto reduzida para um período de três meses. E ainda mais, tal pena poderia ser afiançável, substituída por uma multa. E um dos grandes problemas estava aí. Eu não tinha dinheiro suficiente para pagar a altíssima quantidade que era pedida para sair daquele lugar, e era exatamente sobre isso que conversava com a Monalisa naquela tarde de quinta-feira, no horário da visita. Depois de matarmos a saudades e trocarmos palavras de carinho, entramos nessa conversa. 

Bernardo: Tenta falar com meus pais, Mona - Pedi, apertando firme suas mãos que estavam sob a mesa - Por favor... Eles com certeza tem o dinheiro que preciso e... - Pausei, vendo seus olhos, que voltaram a ser misteriosos naquele momento, desviando-se para longe dos meus. Em seguida, percebi sua apreensão voltada para a expressão preocupada e confusa junto com os lábios trêmulos que eram mordidos frequentemente - O que aconteceu?

Monalisa: Nada - Respondeu de imediato, voltando a me encarar - Por quê? - Perguntou com um tom baixo e apreensivo. 
Bernardo: Eu te conheço, Monalisa - Disse firme, voltando a apertar suas mãos - Sei que você está me escondendo algo - Continuei, vendo-a suspirar pesado logo depois - Não vai me contar?
Monalisa: Bernardo... Eu não estou escondendo nada, ok? - Perguntou, me fazendo negar apressado - Só acho melhor não envolvermos sua família, e... 
Bernardo: Então o problema é a minha família? - Voltei a perguntar, interrompendo-a rapidamente. Ela novamente soltou um novo suspiro e então passou a deixar suas mãos por cima das minhas, apertando-as em seguida - Me fala, por favor.
Monalisa: Então... Eu e os meninos tentamos ligar para os seus pais, mas de início não conseguimos - Começou, um tanto cabisbaixa - E ontem, no final da noite, o Renato conseguiu finalmente falar com seu pai.
Bernardo: E... E o que ele disse? - Perguntei um tanto retraído, vendo-a me encarar tristonha - Me fala, Mona... O que o meu pai disse?
Monalisa: Ele deu um pequeno surto, sabe? O Renato falou que seu pai começou a gritar, dizendo que você era um irresponsável e que teria que arcar com as consequências sem a ajuda dele - Comentou, fazendo-me engolir em seco - E contou que ele havia lamentado-se também por ter deixado você viver numa república, alegando que isso estava te fazendo muito mal e te levando para um caminho negativo. E além disso, disse que ele e a sua mãe não mereciam passar por esse desgosto em ver o filho fazendo coisa errada e numa cadeia, e por isso, confessou que preferia ficar longe.

Bernardo: Isso... Ficar longe - Quase gritei ao ouvi-lá terminar de falar - É apenas isso que eles sabem fazer... Ficar longe, ficar distantes de mim - Continuei, afastando minhas mãos e levantando irritado dali - Eles sempre fora assim, preferiam priorizar qualquer coisa ao seu redor, principalmente o trabalho, do que o próprio filho - Pausei, negando apressado com a cabeça enquanto andava de um lado para o outro com um sorriso irônico - E ainda vem dizendo que lamenta por ter me deixado viver numa república... Ah, qual é desse papo deles? Até parecem que eles se importam com alguma coisa que me envolve - Completei aos gritos, fechando de imediato aquele sorriso. 
Monalisa: Ei... - Disse calma, aproximando de mim no segundo seguinte e me envolvendo de forma rápida num abraço - Se eles não quiserem te ajudar, eu e os seus amigos vamos fazer isso, ok? - Comentou enquanto me apertava firme naquele caloroso abraço - Nos importamos com você e não vamos te abandonar, meu amor - Continuou, afastando um pouco para me encarar. Tentei desviar o olhar, afinal, já estava com os olhos cheios d`água e não queria que ela me visse assim, porém, foi impossível. Ela ergueu meu rosto entre suas mãos e sorrio enquanto me olhava fixamente - Fica calmo, Bê. 
Bernardo: Vou ficar - Disse de início, sentindo umas lágrimas inconvenientes em meu rosto. Limpei rapidamente as mesmas, de maneira rude até, e então voltei o olhar para a Mona - Agora sou eu quem agradeço - Sorri fraco, vendo-a assentir enquanto abria um pouco o sorriso - Obrigado, meu amor... Eu amo você - Disse baixo, puxando-a novamente para um novo abraço.