Fanfic: Monalisa, deusa com ar de menina | Tema: Monalisa

Monalisa: Quem era?

Miguel: Do hospital - Respondeu, deixando-nos ainda mais curiosos - Disseram que o Thiago acordou do coma no começo dessa madrugada.
Renato: Nossa... E ele ficou com alguma sequela ou algo do tipo? 
Miguel: Não falaram nada disso - Deu de ombros, voltando a colocar o telefone em seu lugar - Falaram apenas que ele havia acordado e que a polícia já havia sido informada. Agora é com eles. Vamos ver no que vai dar!
Gabriel: Aquele desgraçado tinha que morrer de vez, isso sim!
Renato: Claro que não - Comentou enquanto negava com a cabeça. Observei a Monalisa de relance e vi sua expressão indecifrável junto com seu olhar perdido num ponto qualquer daquela sala. Em seguida a voz do Renato soou mais uma vez, me despertando um pouco - Ele tem que viver mesmo para poder ser preso e pagar por todas as maldades que causou. 
Miguel: Exatamente. Ele e o Aleff - Comentou também, deixando o silêncio dominar por um momento. Os olhares então pareceram voltar-se para o casal quieto e calado. Confesso que havia ficado um tanto contente pelo Thiago ter acordado, não por ter medo que ele morresse e eu pudesse voltar novamente para a prisão, mas pelo fato de saber que ele agora estaria a um passo de pagar por suas crueldades, um passo da cadeia. Já a Monalisa, apesar do seu silêncio e aparente quietação, parecia continuar perdida em lembranças e pensamentos que faziam agora seu rosto transformar-se num mar de expressões - E vocês? Não vão falar nada? - Perguntou um tanto alto, nos despertando.
Bernardo: Eu acho bom ele ter acordado - Dei de ombros também enquanto voltava o olhar para os meus amigos - Vai ser um prazer vê-lo preso - Conclui, desviando mais uma vez o olhar para a Monalisa - E você, meu amor? O que acha?

Monalisa: Sinceramente? - Suspirou e logo em seguida caminhou de forma lenta para o sofá, onde logo sentou. Depois de apoiar os cotovelos nas pernas, a Monalisa enfiou a cabeça em suas mãos e emitiu algo parecido com um soluço - Eu já não sei mais o que achar, ou até mesmo o que sentir. Está tudo confuso dentro de mim - Confessou com a voz embargada, ainda de cabeça baixa. Logo me aproximei e lhe abracei de lado, sentindo de imediato seu corpo estremecer - Eu não sei se sinto alegria por saber que agora ele vai para a cadeia ou se sinto tristeza por duvidar que sua prisão não leve a nada... Ele pode fugir, ele pode querer vir me procurar e procurar vocês também - Comentou com certa dificuldade, levantando o rosto bastante molhado para encarar os amigos e a mim - Parece que fiquei acomodada por vê-lo impossibilitado de fazer qualquer coisa, entende? E agora que sei que ele pode novamente fazer algo, sinto o medo de antes me invadir de forma mais forte, me dominar - Continuou em meio as lágrimas, deixando-nos ainda mais preocupados e também angustiados - Estou perdida!
Bernardo: Ei, não diz isso. Você não está perdida, Monalisa. Você tem a mim e aos meninos - Tentei acalmá-la, apertando ainda mais seu corpo - E não fique com medo, ele não fará nada.
Miguel: Pois é, Mona - Concordou comigo enquanto sentava do seu outro lado no sofá. Já o Renato e o Gabriel aproximaram um pouco e logo agacharam perto de onde estávamos sentados - A polícia já deve até estar na cola do Thiago lá no hospital... Fica tranquila!
Gabriel: Isso - Concordou também enquanto segurava uma de suas mãos e apertava - E mesmo que ele fuja da prisão, estaremos aqui para te proteger. 
Renato: Exato. Não vamos deixá-lo tocar em você, nem chegar perto, nem nada do tipo.

Monalisa: E vocês vão se arriscar desse jeito? Não. Não posso deixar - Disse apressada enquanto tentava de forma rude limpar as lágrimas - Eu entrei nessa sozinha e tenho que sair sozinha também, ok? Já me arrisquei muito contando toda a verdade para vocês, e agora não quero e não posso deixá-los tão vulneráveis. Não é justo, não é. 
Bernardo: O que não é justo é você não aceitar a nossa ajuda. 
Monalisa: Acontece que vou colocá-los ainda mais em riscos se aceitar essa ajuda. E eu não quero isso - Comentou, abaixando novamente a cabeça - Já basta carregar a morte da minha mãe e do Leoni na bagagem por conta das coisas que contei-lhes e ainda mais por causa da ajuda dos mesmos. E agora não posso deixar que isso se repita - Pausou, passou a mão rudemente no rosto mais uma vez e então voltou a nos encarar com novas lágrimas nos olhos - Eu não posso perder vocês.
Miguel: Seria ótimo se você não pensasse pelo lado negativo - Comentou e logo em seguida lhe abraçou de lado também - Fica tranquila Mona, nós sabemos nos cuidar.
Gabriel: Com certeza, sabemos nos cuidar muito bem - Assentiu, concordando com o Miguel - E se acontecer algo, os mortos da história serão eles. Aliás, seria um prazer... - E então interrompeu-se ao perceber os olhares negativos de mim e dos amigos - Qual é, gente? Vai dizer que não seria um prazer para vocês também acabar de vez com esses caras?
Monalisa: Para que isso, Biel? Para ir para cadeia depois? - Perguntou alto enquanto levantava inquieta e tristonha - Também não quero vê-los perder anos de suas vidas pagando por um crime que está ligado apenas com os meus problemas, apenas meus. Será que vocês não entendem isso? 
Bernardo: Os seus problemas são os nossos problemas também, Monalisa - Quase gritei, também me levantando. Ela me encarou firme e limpou mais uma vez o rosto de forma raivosa - Deixa de ser cabeça dura.

Monalisa: Não, Bernardo. Eu não sou cabeça dura - Gritou de volta, me fazendo revirar os olhos e respirar fundo - E outra... Esses problemas são apenas meus. Afinal, fui eu quem passei por tudo isso sozinha. Fui eu quem tive boa parte da minha vida marcada por crueldades e estupros, quem perdeu pessoas queridas, quem sofreu de um aborto e tudo mais... Fui apenas eu - Pausou, tentando ao máximo controlar a respiração e a voz que já saia desconfigurada. Depois de respirar fundo e controlar o que parecia ser o choro, ela voltou a falar, um tanto mais baixo - Não posso agora deixar que vocês tomem as minhas dores e matem esses monstros para depois serem presos, entendem? Simplesmente não posso - Pausou mais uma vez, fechou e apertou os olhos e então concluiu -Preciso enfrentar isso sozinha. 
Renato: Você já sabe que não vai enfrentar isso sozinha, Mona - Disse, levantando-se também - E relaxa que ninguém vai matar ninguém, beleza? O Gabriel só falou aquilo porque é muito esquentado, mas é lógico que ele não faria isso, não é Biel? - Perguntou firme enquanto desviava o olhar para o amigo.
Gabriel: Pois é. Só falei isso pela raiva do momento - Respondeu, assentindo apressado.
Monalisa: E se essa mesma raiva aparecer quando vocês estiverem de frente com eles?
Renato: Mona... - Iniciou, mas eu logo o interrompi. 
Bernardo: Não adianta falar, Renato. A Monalisa só quer entender o lado dela - Comentei, já voltando aos gritos e prendendo os olhares de todos ali - Ela não enxerga que queremos apenas ajudar, que queremos enfrentar isso tudo junto dela. Simplesmente se fecha nessa teoria de que tudo vai dar errado, que eles vão conseguir sair da prisão e nos matar, ou então na possibilidade de sermos irresponsáveis e matá-los.

Monalisa: Mas isso pode acontecer - Disse, dessa vez bem mais baixo, quase num sussurro - E eu queria que vocês me entendessem, apenas isso. 
Miguel: Tudo bem Mona, isso pode realmente acontecer - Comentou enquanto encarava a amiga, ainda sentado no sofá - Mas eles podem também ser presos e pagarem por tudo que fizeram lá na cadeia, beleza? - Mesmo cabisbaixa e parecendo contraditória àquilo, ela assentiu - E outra, nós te entendemos.
Monalisa: Não entendem - Repetiu manhosa, me fazendo respirar fundo mais uma vez, já impaciente - Você principalmente, Bernardo. 
Bernardo: Ah, qual é? Vai me dizer agora que não te entendo? - Perguntei perplexo enquanto arqueava a sobrancelha e a via assentir, me fazendo bufar - E você acha que eu venho fazendo o que desde que você chegou nessa república?
Monalisa: Estou falando de agora, Bernardo - Voltou a aumentar o tom de voz, me encarando firme - Você diz que estou pensando apenas no meu lado, mas não estou... Estou pensando em todos vocês com essa minha decisão de enfrentar tudo sozinha, pois assim sei que não irei colocar a vida das pessoas que amo em risco.
Bernardo: Cara, você disse que viveu tudo aquilo sozinha, mas agora está vivendo isso junto com a gente também, o que custa aceitar a nossa ajuda? - Perguntei inconformado enquanto lhe observava - Você precisa no mínimo de alguém para te dar um empurrão para conseguir enfrentar essas coisas e lutar pela justiça Monalisa, e somos esse alguém. Então para de pensar que vai conseguir resolver isso sozinha porque você não vai, beleza? - Comentei ainda mais alto e um tanto furioso - E na boa, vamos parar com essa discussão besta.

Miguel: Também acho melhor vocês pararem, isso não vai levar a nada.
Monalisa: Eu posso enfrentar isso sozinha sim - Gritou firme, ignorando totalmente o comentário do Miguel - Quem é você para dizer que eu não posso?
Bernardo: Você pode mesmo? E por que não enfrentou isso tudo antes? - Perguntei novamente aos gritos, ainda mais furioso. Ela recuou um pouco, demonstrando um certo medo com aquele meu tom - Por que sempre fugiu então? Por que não enfrentou de vez aquelas crueldades sozinha? Por quê? - Perguntei incrédulo, recebendo o seu silêncio - A resposta é simples, Monalisa... Porque você não tinha o suporte que tem agora, você não tinha o amor e carinho necessário que estamos te passando. Você não teve por muito tempo um motivo que te fizesse lutar. E agora você está aí, fortalecida e querendo enfrentar as coisas por causa da gente, por causa dessa fortaleza que te passamos. Será que não percebe que somos importantes sim nesse processo? 
Monalisa: Eu nunca disse que vocês não eram importantes - Gritou de volta, passando a mão rapidamente nos olhos que insistiam em derramar novas lágrimas - E quer saber? Me arrependo de ter contado para vocês sobre o que passei. Aliás, me arrependo até de ter conhecido vocês - E então o silêncio reinou, deixando a surpresa e a tristeza soar no ar diante daquelas palavras - Seria menos doloroso passar por tudo isso sabendo que não estaria colocando a vida de pessoas queridas em risco. 
Bernardo: Qual é, cara? Por que não foi viver isolada então? - Gritei ainda mais alto, nitidamente irritado - Ou melhor, por que não morreu de vez? Teria evitado bastante coisa se tivesse feito isso - E então o silêncio novamente reinou. Dessa vez pior. Senti meu peito apertar no momento em que a Monalisa me lançou o pior olhar amargurado e frio desde que chegara naquela república, sumindo no minuto seguinte das minhas vistas.