Fanfic: Monalisa, deusa com ar de menina | Tema: Monalisa

Flashback Monalisa

Saí daquele beco inconformada e ainda em apuros enquanto tentava entender como o Thiago havia se livrado tão fácil da cadeia. Pensei em abrir o jogo de vez e chamar rapidamente a polícia, mas no fundo sabia que não daria certo mesmo que ele fosse preso, afinal, ele já havia me provado aquilo. Enchi rapidamente meu rosto de pó para diminuir a vermelhidão das lágrimas e dos tapas e logo segui para a lanchonete, puxando de imediato o Vinicius para um canto. Contei-lhe que precisava viajar urgentemente e lhe implorei para não contar nada para os meninos, principalmente para o Bernardo. No fundo, porém, sabia que o meu futuro ex-namorado não iria querer me procurar depois das palavras que lhe diria, essas que tentava ensaiar em minha cabeça para não hesitar na hora ``H``. Aquela seria a pior parte, sem dúvidas. Por um lado imaginava que poderia ser mais fácil pois já vínhamos brigando durante toda a semana e ele poderia acabar convencendo-se mais rápido. Segui para a república naquele dia de forma rápida e com o coração na mão com aquele pensamento fixo.

Confesso que tive que controlar ao máximo o choro assim que cheguei na frente da casa. Ali, olhando aquela porta pude relembrar de toda a minha trajetória naquele lugar... Desde a minha chegada com a certa implicância do Bernardo, a minha expressão espantosa com a minha nova moradia, as minhas rápidas amizades com os meninos e logo após com outras pessoas... Meus segredos contidos e guardados, os ciúmes, as provocações, o laço forte da amizade e do companheirismo, as brigas, os beijos... E por fim, o amor como um todo. O amor que mudou, revestiu, que me fez enxergar a vida de uma forma mais leve, mais pura, com novas sensações e esperanças. O amor de verdadeiras amizades, o amor profundo de um homem e uma mulher... Sorri por fim em meio as lágrimas, lembrando-me de como havia valido a pena viver mais alguns dias e meses para conhecer pessoas tão maravilhosas. Em seguida, sem muitas delongas, enxuguei rapidamente meu rosto e tratei de invadir aquela república transvestida com meu novo personagem. Senti meu corpo tremer todo de dor e raiva de mim mesma ao inventar tamanhas mentiras para o Bernardo. Queria poder lhe contar toda a verdade, mas todo o medo que sentia pelas atitudes do Thiago pareciam me dar forças para continuar com aquele teatro. Eu precisava salvar o meu amor, nem que para isso eu tivesse que magoá-lo. O pior de tudo era vê-lo daquele modo, magoado e sofrendo, e ainda mais por minha culpa. Sentia-me perdida e com uma enorme vontade de lhe abraçar e dizer que era tudo mentira, uma farsa... Mas não podia, não podia deixá-lo em risco de forma alguma, eu não me perdoaria por isso. 

Me perdi nas lembranças ao ouvir resmungos atrás da porta do quarto onde estava. Tentei prestar atenção na conversa, mas as únicas coisas que conseguia realmente ouvir eram as palavras confusas e distantes. Uma coisa, porém, deu para decifrar. As vozes: Uma era do Thiago e a outra era do Aleff. Sim, eles estavam juntos nessa... Depois de sair da república aos prantos segui perdida para uma rua qualquer e logo fui ``tomada`` pelo Thiago. Ele me vendou com uma faixa escura e logo depois me fez cheirar algo estranho e forte, o que me deixou no inconsciente. Ao acordar pude reparar de início o lugar que estava, completamente diferente do quartinho onde minha mãe costumava ficar... Dali tirei que não estava na mesma casa de antes, o que complicaria caso alguém fosse me procurar... O que realmente parecia muito difícil. Ao reparar nas paredes pude notar a cor preta com traços vivos de vermelho, me deixando um tanto apavorada. Já no chão, onde estava jogada, pude reparar o cenário sujo e caótico que se encontrava. Senti nojo e logo depois senti dor. Essas duas sensações aumentaram ainda mais quando o Thiago e o Aleff adentraram sorridentes naquele cômodo. Depois de prometerem me fazer sofrer o bastante, me violentaram sexualmente, com agressões físicas e psicológicas, e depois saíram como se nada tivesse acontecido. Chorei... Isso foi a única coisa que consegui fazer depois daquelas novas cenas... ou repetidas cenas. Tudo parecia voltar a ser como era antes e isso me assustava muito. Me perdi novamente em pensamentos ao ouvir as vozes mais nítidas e altas. Antes mesmo que eu pudesse formular qualquer coisa, vi o Thiago abrir a porta e adentrar o cômodo sorridente.

Thiago: Minha querida irmã... Preparada para mais um dia? - Perguntou irônico enquanto mostrava seu sorriso triunfante.

Aquele pareceu ser o final de semana mais demorado e sofrido de toda a minha vida. As palavras da Monalisa ainda estavam claras em minha memória, assim como a dor provocada pelas mesmas. Meu coração apertava ainda mais com cada lembrança dos momentos que passamos juntos, das nossas trocas e juras de amor, dos nossos aprendizados um com o outro, do sentimento enorme que parecia existir entre nós. Pena que só parecia. Ou até existia, mas somente pela minha parte. Era doído recordar isso, recordar que ela havia sido tão grosseira com o nosso amor. A dor era tamanha e tudo o que eu mais desejava e pedia era que ela cessasse pelo menos um pouco. Os meninos me ajudaram um tanto nisso... Eles deixaram de sair durante todo o fim de semana para me fazerem companhia. 

Gabriel: Que tal uma festinha hoje pra animar um pouco?
Bernardo: Amanhã tenho estágio logo cedo, não dá - Respondi cabisbaixo enquanto encarava a televisão. Os meus amigos pareceram se entreolhar como quem busca uma nova solução, mas não pareceram encontrar nenhuma - Bom, vou dormir.
Renato: Como assim? Não são nem nove horas da noite, Bernardo. 
Bernardo: Estou cansado - Voltei a responder, já levantando e seguindo em direção à escada. Eles pareceram se entreolhar mais uma vez e então o silêncio reinou. Assim que cheguei no quarto e cai de qualquer jeito na cama, observei a porta se abrir. Era o Miguel. 
Miguel: Tentei ligar para a Monalisa, mas só dava desligado ou fora de área - Comentou, me fazendo revirar os olhos e sentir a dor apertar ao ouvir aquele nome - Tentei falar com o Vinicius também, e ele disse que a Monalisa havia viajado. 
Bernardo: Essas informações não me servem de nada - Disse enquanto tentava ser firme e frio nas palavras - Aliás, essa garota aí não é mais preocupação minha. 
Miguel: E você está querendo enganar quem? - Perguntou, aproximou um pouco e logo sentou na beirada da cama. Me ajeitei rapidamente e encarei meu amigo - Eu sei que vocês se amam e... - Lhe interrompi.

Bernardo: Ela falou olhando nos meus olhos que não me ama!
Miguel: E você acreditou? - Voltou a perguntar com uma expressão séria, me fazendo revirar os olhos mais uma vez enquanto soltava uma risada irônica - Você devia procurá-la.
Bernardo: Qual é? Isso só pode ser piada - Comentei irônico e aos risos sem qualquer ponto de humor - A garota diz que não me ama, diz que prefere ficar com outro cara, me deixa completamente no chão e você ainda quer que eu vá atrás? - Perguntei com um tom já elevado e um tanto furioso ao lembrar-me das cenas - Eu não sou besta, Miguel. Não vou correr atrás de uma pessoa que não quer ficar comigo - Comentei impaciente, levantando-me apressado e seguindo em direção à porta - E você, como meu amigo, deveria estar ao meu lado e não do lado daquela lá que me desprezou e foi embora sem se importar com os meus sentimentos.
Miguel: É claro que ela se importa - Elevou o tom de voz, também levantando-se da cama - Você acha mesmo que ela chegaria ao ponto de se cansar e ir embora por causa daquelas brigas durante a semana? Tudo bem que ela poderia se cansar, mas não chegaria ao ponto de ir embora, Bernardo. A Monalisa te amava, ou melhor, te ama como ninguém - Disse firme, me encarando do mesmo modo - E quer saber? Ainda acho que tem alguma coisa por trás dessa história. 
Bernardo: Não tem nada - Quase gritei, vendo-o revirar os olhos. Respirei fundo e apontei para a porta - E é melhor sair se for continuar com esse papo. 
Miguel: Beleza - Comentou baixo e com a expressão derrotada enquanto seguia até a porta. Ao chegar ao meu lado, parou e me encarou firme mais uma vez - O amor de vocês é maior do que qualquer coisa que tenha por trás dessa história, e no final vai acabar sobressaindo.
Bernardo: Não vivo em um conto de fadas, Miguel - Comentei cabisbaixo e logo o vi balançar a cabeça em sinal de negativo antes de sair. Voltei a respirar fundo e fechei os olhos, apertando-os e lutando contra as lágrimas.