Fanfic: Monalisa, deusa com ar de menina | Tema: Monalisa

Meus sentidos pareciam tão aguçados naquela noite que meu corpo flutuava de uma forma diferente e estranha. Uma agonia fora do comum me dominou enquanto sentia meu coração apertar. Existia ali uma dor, essa que me consumia, que me sufocava. Algo extremamente ruim aconteceria... "Mas com quem? Onde? E de que forma?", perguntava-me tola enquanto via os pequenos ratos correrem de um lado para o outro soltando seus ruídos. Não demorou muito para que outro som me dominasse no momento. O som das risadas maléficas, aquelas risadas que conhecia tão bem. Suspirei pesadamente e tratei de seguir aquele som enquanto tateava as paredes ao meu redor. A escuridão aos poucos foi diminuindo e foi dando lugar por fim a uma claridade generosa. As risadas continuaram e aumentaram a cada movimento do meu corpo. Meu olfato, que antes estava tão acostumado com os odores de um lugar sujo, deu espaço para odores diferentes, e um bastante conhecido por mim: o de ferrugem, de sangue. Senti todo o meu corpo estremecer e minha cabeça girar com aquele cheiro. Dentre tantos ruins, aquele me parecia o pior. Não pelo o odor em si, mas pelas situações onde aquele cheiro se fazia tão presente. E aquela parecia ser mais uma, mais uma cena traumatizante dentre tantas outras. Soltei um novo suspiro e deixei-me seguir para o lugar de onde vinha as risadas. Senti meu corpo novamente estremecer ao parar de frente para uma porta entreaberta. Era dali que vinham as risadas e o cheiro pesado de sangue. Sem hesitar, abri o restante da porta e me deparei com pedaços de pele espalhados juntamente com poças de sangue. Senti minha cabeça girar com aquela cena, com aquele cheiro enjoativo e com as risadas que não paravam. Subi o olhar devagar e pude ver um homem de costas, parecendo fazer algo com uma outra pessoa em sua frente. Aproximei um pouco e acabei sendo surpreendida pelo Thiago virando-se para mim com um sorriso satisfeito nos lábios enquanto mantinha-se na frente da tal pessoa. Tremi de medo ao lhe observar com aquele sorriso tão maligno e me deixei ir ao chão ao vê-lo sair de frente da tal pessoa... O Bernardo estava ali, completamente cortado e afogado em uma poça de sangue. 

Monalisa: Não - Gritei ao mesmo tempo que senti meu corpo erguer naquele chão frio. Abri os olhos lentamente enquanto deixava-os se acostumarem com a escuridão daquele quarto. Meu coração parecia querer sair, minha respiração estava completamente descontrolada e as forças que me fizeram erguer foram as mesmas que me derrubaram ao lembrar-me daquelas cenas - Não... O meu Bernardo não - Sussurrei ofegante enquanto tentava me convencer de que era apenas um pesadelo - Não posso perdê-lo.

Não consegui mais pregar os olhos depois do pesadelo. Mesmo passando vários minutos ainda sentia meu coração apertado, meu corpo gelado e trêmulo, e as lágrimas em meu rosto. A dor estava presente juntamente com um medo fora do normal. E foi exatamente com tal medo que reagi ao ouvir o Thiago abrir a porta. 

Thiago: Levanta agora, vagabunda - Me encolhi de imediato e logo o vi se aproximar, puxando-me rudemente pelo braço - Levanta... Vamos sair dessa casa.
Monalisa: Vamos para onde? - Perguntei medrosa enquanto me colocava de pé. Senti todo o meu corpo pesar e minhas forças falharem, mas tentei me manter de pé. 
Thiago: Não interessa - Voltou a me puxar, tirando-me rapidamente daquele quarto. Reparei de imediato que a casa estava vazia, sem mais nenhum capanga do Thiago, e confesso que fiquei curiosa para saber o porquê. Ele, parecendo notar isso, sorriu - Já estão todos nos esperando na nossa nova casinha. Estão esperando bastante ansiosos até - Comentou, soltando uma risada alta logo depois ao observar minha expressão confusa - Não tenha medo, pequena.
Monalisa: O que você está preparando? - Perguntei com o tom falho, vendo-o rir ainda mais.
Thiago: Te deixarei imaginar durante o caminho - Piscou, me fazendo parar ao se aproximar de um carro. Ele pegou uma corda e enrolou em volta dos meus pulsos. Na hora de amarrar, porém, seu olhar desviou-se para um carro que aparecia na pista deserta. Seu semblante mudou no mesmo instante e então ele deu um nó frouxo e me jogou de forma bruta e rápida no banco traseiro - Se abaixe e fique quietinha - Comentou apressado enquanto dava a volta e já ligava o carro de forma imediata. 
Monalisa: O que foi? - Perguntei confusa e medrosa enquanto lhe encarava pelo espelho do carro. Ele não me respondeu, apenas partiu na maior velocidade enquanto desviava o olhar para trás de maneira apreensiva. Respirei fundo e me virei enquanto também desviava o olhar para um carro que agora parecia nos seguir. Observei os rostos por algum tempo e logo voltei a encarar o Thiago, esse que já estava com seus olhos focados na pista - Quem são esses? Por que estão nos seguindo?

Thiago: São policiais - Disse furioso enquanto aumentava ainda mais a velocidade.
Monalisa: Como você sabe? - Perguntei confusa enquanto voltava a encarar os tais policiais. Por mais que estivesse um pouco longe pude observar as roupas normais dos homens, assim como o carro. Eles não pareciam ser policiais. No mesmo momento que iria voltar a indagar o Thiago, observei alguns carros realmente de polícia adentrando a pista, juntando-se ao tal carro que começara a nos seguir.
Thiago: Não acredito nisso - Gritou, me fazendo virar no mesmo instante para lhe encarar. Minha expressão que devia ser de susto com certeza ficou bem pior ao observar seu semblante transtornado e furioso. Encarei o velocímetro do carro e me surpreendi com o número alto que ali estava. Antes mesmo que pudesse reclamar, senti meu corpo ser arremessado para o lado direito do carro com a manobra radical que o Thiago acabara de fazer, parecendo entrar em um novo caminho - Esses idiotas não vão nos pegar!

Pensei realmente que o Thiago iria conseguir se livrar com a tal manobra, mas ao olhar para trás mais uma vez pude ver que os carros voltavam a nos seguir. Um carro conhecido em meio a tantos de polícia foi o que mais me chamou a atenção. Semicerrei os olhos para ter uma melhor visão e logo pude reparar melhor no carro da república. Senti todo meu corpo tremer, principalmente quando observei quem estava dentro desse último carro. O Miguel dirigia apressado e com o semblante nervoso, assim como o garoto ao seu lado... O Bernardo. Meu corpo novamente voltou a tremer e um sorriso bobo surgiu em meus lábios. Apesar de estar em uma situação complicada, talvez prestes até a morrer, não consegui deixar de transparecer a felicidade que sentia ao observar o garoto que havia me dado tantas forças para continuar viva e lutando... A saudade estava me sufocando e tudo o que mais pedi em pensamentos, naquele momento, foi para que eu estivesse naquele carro da república, abraçada com o meu amor enquanto ouvia as palhaçadas dos meus amigos. Esse último pensamento desapareceu no mesmo instante que fui arremessada para o outro lado do carro, fazendo-me bater até com a cabeça. O Thiago agora dirigia como um louco e eu tinha quase que certeza que não escaparia daquilo.

Monalisa: Vai devagar, Thiago - Gritei enquanto colocava uma das mãos na cabeça, sentindo ali uma grande dor. Ele grunhiu algo enquanto dava uma nova manobra e entrava em uma área cheia de mato. Quase fui arremessada novamente, a sorte foi que consegui me segurar no banco. Me encolhi em um canto do carro, longe do Thiago e então tentei retirar o nó que estava tão frouxo em meus pulsos. 
Thiago: Droga - Gritou, me fazendo saltar espantada no banco traseiro. Ao lhe observar pude ver seus olhos fixos nos carros que pareciam voltar a nos seguir. Desviei o olhar rapidamente e pude avistar novamente os carros de polícia juntamente com o carro da república um tanto atrás. Respirei fundo e voltei a encarar o Thiago, vendo-o agora pegar uma arma, disparando em direção aos carros logo depois - Esses desgraçados vão morrer. 
Monalisa: Eles são muitos e você é só um, Thiago. É melhor parar - Gritei nervosa enquanto me abaixava e voltava a tentar tirar o nó. No mesmo instante ouvi novos disparos, mas dessa vez parecia vir da polícia. Me encolhi ainda mais e encarei a expressão furiosa do Thiago. Ele colocou a arma em suas pernas e aumentou, se possível, a velocidade.
Thiago: Não vou parar - Disse firme e com uma risada maléfica. Tremi de medo e apressei-me em tirar a corda dos meus pulsos. No exato momento que consegui livrar minhas mãos, desviei o olhar para a frente e notei ao longe algo parecido com o abismo - Beleza, se for para morrer... - Pausou, seguindo sem medo algum para a área do abismo - Que pelo menos você venha junto - E então sua risada ficou ainda mais maléfica. Senti todo o medo me invadir, principalmente ao ouvir um novo disparo e ao perceber o carro ficando um tanto desgovernado - Atiraram no pneu... Droga! - Gritou enquanto tentava voltar a equilibrar o carro. As lágrimas invadiram meu rosto e senti toda a adrenalina do momento me dominar de forma pesada. Em um impulso bastante rápido destravei a porta, abri a mesma e então me joguei para fora do carro enquanto sentia meu corpo arder a cada arremesso que ganhava no mato.