Fanfic: Monalisa, deusa com ar de menina | Tema: Monalisa

Para mim não existia lugar melhor do que a praia para recuperar as energias. E foi para lá que levei a minha Monalisa. O fim da tarde já se fazia presente, deixando o lugar um tanto mais deserto e romântico também. No momento, estávamos sentados e abraçados na areia de frente para o mar, e o único som era o das ondas. Sentia ao meu lado, seu corpo inquieto, parecendo que estava perdido em algo.

Bernardo: O que foi, Mona? Quer falar algo? - Perguntei enquanto lhe admirava os olhos. Ela assentiu apressada, me fazendo esboçar um pequeno sorriso.
Monalisa: Não aguento mais, Bê - Disse de início, soltando um suspiro logo depois. Assenti, tentando lhe passar segurança. Ela, por sua vez, voltou a me abraçar de lado e encostar sua cabeça em meu ombro, não me dando a oportunidade de ver seu rosto - O Thiago é meu irmão - Disse cabisbaixa, me deixando perplexo. "Como assim ela estava fugindo do irmão?", perguntei para mim mesmo, enquanto afastava um pouco para observar seu rosto, procurando essa resposta. Ela novamente voltou a me abraçar, escondendo o rosto em meu ombro. Depois de um suspiro pesado, voltou a falar - Quando criança, ele era o meu melhor amigo, sabe? Apesar de ser quatro anos mais velho que eu, não se importava em brincar comigo, me ensinar algo da escola ou até mesmo me colocar para dormir. Ele era realmente um anjo, era como o meu segundo herói - Suspirou novamente, me apertando no abraço.

Bernardo: O seu primeiro herói era o cara que te abusou, não é? - Perguntei, lembrando-me de uma das suas revelações. 
Monalisa: Sim - Disse de início, me apertando ainda mais - Ele era o meu pai - Revelou, me deixando perplexo mais uma vez. Senti a raiva da primeira vez que havia me contado aumentar, porém fiz de tudo para me controlar. Não podia expor minha raiva naquele momento, não podia - Depois daquele primeiro, que eu até cheguei a te contar, meu pai começou a me abusar. Já eu, tive que aguentar todo aquele sofrimento calada. Ele me obrigava a isso... Dizia que se eu contasse algo, mataria a mim ou a pessoa que estava sabendo - Pausou, deixando seus soluços que pareciam presos, finalmente saírem. Lhe apertei mais uma vez, imaginando o tamanho do trauma que havia se formado em sua mente - Em um certo dia, aos meus onze anos, o Thiago chegou um pouco mais cedo e viu meu pai me abusando. Eu pensei realmente que a partir dali as coisas iriam mudar, afinal, pensava que o Thiago por seu meu melhor companheiro, não deixaria mais nada me acontecer. Acontece que o meu pai... - Pausou, parecendo segurar o choro - Pai não, monstro... Isso, monstro - Sussurrou, parecendo procurar coragem para continuar. Lhe beijei a cabeça, enquanto também lhe acariciava. Logo pude ouvir sua voz novamente, um tanto retraída - Acontece que esse monstro tirou o Thiago dali e foi conversar com o mesmo... Quando voltaram, para a minha surpresa, o meu querido irmão decidiu fazer a mesma coisa do monstro, me abusar... - Pausou mais uma vez, dessa vez sendo invadida pelo choro descontrolado.

Bernardo: Como pode existir gente tão ruim assim? - Pensei comigo mesmo, mas acabei falando alto. Agora eu entendia o tamanho do seu sofrimento, e entendia também o motivo da mesma não querer falar do passado. Sentia minha raiva agora maior, muito maior. Sentia vontade de sair dali no mesmo instante para acertar as contas com esses babacas. Por outro lado, existia a vontade de ficar ali, cuidando da minha Monalisa. E essa última vontade era a que sobressaia. 
Monalisa: A partir daí tudo piorou, tudo! O Thiago era muito cruel... Tinha dias que chegava a me violentar com objetos cortantes - Travou, sendo invadida novamente pelo choro - A dor era tanta, Bê... Não só física, mas emocional também, essa que carrego até hoje - Completou, me apertando firme no abraço enquanto também se derramava em lágrimas. 
Bernardo: Ele é um canalha - Disse furioso, sentindo minha raiva crescer - Ele e o seu pai! Como podem fazer uma coisa dessas? - Perguntava mais para mim mesmo, enquanto sentia seus apertos.
Monalisa: E n-n-não foi só isso - Disse com dificuldade, ainda chorando bastante - Tem mais coisa, muito mais... - Pausou, deixando o choro lhe tomar por completa.

Bernardo: Ei meu amor... Não precisa me contar tudo agora, beleza? - Perguntei enquanto lhe acariciava as costas e os cabelos. Ela nada disse, apenas continuou chorando - Ei pequena, vem cá - Sussurrei, puxando-a para o meu colo, já lhe aconchegando. Ela se encolheu em meus braços, me apertando mais uma vez - Agora entendo porque você não queria me falar sobre o seu passado... Me desculpa por insistir tanto, tá? 
Monalisa: Tudo bem, Bê - Disse baixo, escondendo seu rosto entre meu ombro e meu pescoço. Continuei com as carícias, sentindo seu corpo relaxar aos poucos - Foi tão difícil ficar com essas coisas presas só para mim durante tanto tempo... E agora com você, me sinto tão mais leve, principalmente nesse momento - Disse, parecendo se recompor um pouco, enquanto voltava seu olhar para o meu - Acho que eu merecia algo bom depois de tanto sofrimento, não? - Sorriu, me fazendo ficar bobo - Promete que não vai sair nunca do meu lado? - Pediu, desfazendo o sorriso e apresentando uma expressão apreensiva.
Bernardo: Preciso mesmo prometer? - Perguntei divertido, analisando seus olhos perdidos nos meus. Ela logo assentiu, me fazendo sorrir - Boba, você sabe que eu sou louco por você e que não vou sair do seu lado - Conclui, selando nossos lábios e fazendo-a sorrir entre algumas lágrimas.

Monalisa: Você me dar forças, sabia? - Revelou, me deixando completamente sem jeito - E me alivia também... Obrigada, Bernardo. Obrigada por tudo - Agradeceu por fim, voltando a me abraçar apertado.
Bernardo: Boba - Sussurrei, ainda sem jeito e sem saber o que dizer. Ela pareceu perceber minha falta de jeito, e então me apertou ainda mais - Eu te amo demais, meu amor. E prometo que não vou deixar esses monstros chegarem perto de você, ouviu? - Perguntei, sentindo minha raiva de minutos atrás voltar - Aliás, vou aproveitar que esse Thiago está por aqui e vou ter uma conversinha com ele.
Monalisa: Não, Bernardo - Pediu rápido, já se afastando e me encarando - Você não vai fazer nada, ok? Me promete que não vai falar nada com ele sobre mim ou sobre esse assunto? - Voltou a pedir, visivelmente apreensiva - Por favor, você não pode falar nada!
Bernardo: E você acha que vou conseguir agir de boa quando encontrar com esse cara de novo? - Perguntei um tanto irritado, negando logo em seguida - Não adianta, Mona. Vou falar com ele sim e dar um trato nesse... - Me interrompeu.
Monalisa: Você não vai fazer nada, Bernardo - Disse firme e ainda apreensiva, segurando meu rosto entre suas mãos - Por favor... Você não imagina o ódio que esses monstros carregam... E eu não quero te colocar em perigo, ouviu? Não quero te perder - Sussurrou essa última parte enquanto tinha os olhos marejados. Suspirei, lhe puxando novamente para um abraço.

Bernardo: Tudo bem... Posso até não fazer nada, mas você vai fazer - Disse enquanto lhe abraçava apertado - Você precisa denunciar esses caras, Monalisa... Não pode deixar eles livres assim, impunes - Completei furioso, observando seus olhos voltando-se para mim. 
Monalisa: Eles vão dar um jeito de escapar, Bernardo - Suspirou, limpando algumas lágrimas que insistiam em cair - E assim eu só estaria correndo um risco maior... - Disse por fim, me encarando perdida. Acariciei seu rosto enquanto reparava em seus traços angustiantes. 
Bernardo: E vai viver fugindo deles e com medo? Não, Mona... Você tem que arriscar e denunciar logo esses... - Ela me interrompeu, colando nossos lábios. Depois de um longo selinho, e um breve suspiro meu, observei seus olhos novamente nos meus. 
Monalisa: Não quero mexer em nada, Bê... Tenho medo que eles se vinguem depois - Confessou medrosa - Mas enfim... - Pausou, soltando um suspiro pesado. Sorri e logo lhe puxei para um abraço curto. 
Bernardo: Acho que está na hora de irmos - Disse enquanto observava a noite cair naquela linda praia. Seu olhar medroso voltou-se para o meu mais uma vez - Não vamos para casa - Pisquei, sorrindo de canto e lhe deixando um tanto surpresa e curiosa.