Fanfic: Monalisa, deusa com ar de menina | Tema: Monalisa

Três horas da madrugada e a droga do meu celular não parava de tocar. Antes que o mesmo pudesse acordar a Monalisa, peguei, atendendo-o em seguida.

Bernardo: Alô? Quem é? - Perguntei com um tom baixo enquanto tentava levantar da cama com uma certa dificuldade, tentando não acordar a Monalisa - Quem é? - Insisti na pergunta, já saindo do quarto e ouvindo em seguida algo parecido com um choro. 
-XX-: Amor... Estou com saudades de você - Disse com um tom choroso. Logo reconheci a voz, era a Nathália. "Mas como danado ela havia conseguido meu número novo?" Antes que pudesse lhe perguntar isso, ouvi sua voz novamente - Estou aqui na frente da república, amor. Aparece - Pediu com um tom manhoso e meio confuso - Eu te que-que-quero, Bê - Gaguejou, rindo alto em seguida.
Bernardo: Nathália, você está bêbada? É isso? - Perguntei, revirando os olhos - Cara, eu não estou na república, beleza? E por favor, desapega... Eu agora estou namorando, você sabe disso!
Nathália: Não por muito tempo, amorzinho... Você vai voltar para mim, vai sim - Voltou a falar com o tom manhoso e também confuso - Onde você está? Me diz, Bê. Eu quero você, eu... - E antes que ela pudesse falar mais alguma coisa, desliguei.

Foi impossível voltar a dormir depois da péssima ligação. No momento, enquanto esperava o sono chegar, observava a expressão angelical da Monalisa. Ela parecia tão calma dormindo, tão longe de todo seu sofrimento e das lembranças do passado. Lembranças essas que me intrigavam muito, me deixavam curioso, e também ansioso para arrumar uma forma de lhe ajudar. E foram com esses pensamentos que lembrei-me de sua última recordação, essa que envolvia o Charles. Foi então que a curiosidade aumentou, principalmente por saber que ele estava ali tão perto, e que eu poderia descobrir algo a mais do passado perturbador da minha amada. Levantei-me no mesmo instante, fazendo o possível para não acordar a Mona, essa que dormia tão tranquila e serena. Assim que desci para a área do salão, onde ocorria a festa, pude observar o movimento menor, com apenas poucos pessoas. No canto, especificamente no balcão, pude encontrar meu velho amigo. Ele pareceu me notar também, pois logo acenou. Apenas sorri e me aproximei, enquanto também me preparava para ouvir suas confissões.

Bernardo: Então... - Pausei, respirando fundo em seguida - Será que podemos conversar agora?

Charles: Claro - Assentiu, mostrando um sorriso sincero. O Charles, apesar de muitas vezes parecer metido e uma pessoa de má fé, era super gente boa... Era um verdadeiro parceiro desde os tempos do colégio - Então, o que você quer saber? - Perguntou, me fazendo despertar e voltar a respirar fundo. 
Bernardo: De onde conhece a Monalisa? 
Charles: Bom, já faz um bom tempo... Hm, lembra quando tive que sair do colégio pois iria me mudar para uma cidade próxima? - Perguntou, fazendo-me relembrar de um passado não tão distante, de cinco anos atrás, e assentir em seguida - Pois bem, essa mesma cidade era onde a Monalisa, seu irmão e seu pai moravam.
Bernardo: Ué, e a mãe dela? - Perguntei, interrompendo-o. 
Charles: Fazia poucos meses que a mesma havia morrido - Respondeu, me deixando intrigado e curioso para saber o motivo. Ele, parecendo entender, logo continuou - O Thiago sempre falou que ela havia morrido por uma doença rara. 
Bernardo: Doença rara? Que estranho - Comentei enquanto arqueava a sobrancelha, relembrando também da história que a Mona havia me contado sobre sua mãe - Tem certeza que ela morreu disso?

Charles: Certeza absoluta não tenho - Respondeu, negando com a cabeça - Sempre quando o Thiago era perguntado sobre a mãe ou a morte dela, ele ficava meio perdido, sabe? Como se não estivesse falando a verdade. E pior ainda, e até mais estranho... Disseram-me que não houve enterro algum, que nem mesmo o corpo chegaram a ver - Comentou, deixando-me ainda mais intrigado - Na boa, sempre desconfiei disso, mas nunca comentei - Continuou, dando de ombros em seguida.
Bernardo: Estranho... Muito estranho - Foi a única coisa que disse, deixando um breve silêncio na nossa conversa - Mas enfim... Conta mais - Pedi, ainda mais interessado.
Charles: Bom, depois que me mudei e fui estudar num colégio perto de casa, acabei conhecendo o Thiago e o seu grupo. Eles eram tipo o nosso grupo, os rebeldes do colégio - Riu, relembrando-me os tempos de colégio, me fazendo rir também - Porém, lá a coisa era bem pior. O Thiago, que parecia ser o líder desse grupinho, sempre dava as ordens para fazer algum ato contra alguém ou algo na própria escola... Eu, não querendo bater de frente com o grupo, acabei me juntando - Pausou, parecendo relembrar seu passado - Bom, apesar deles serem pessoas desastrosas e complicadas, também eram parceiros... Quando menos esperava, lá estavam eles lhe tirando de uma roubada, sabe? 
Bernardo: Hm - Disse, assimilando tudo aquilo - E a Monalisa? Ela também estudava nessa escola?

Charles: Estudava sim - Assentiu apressado, sorrindo em seguida - Nos conhecemos logo que entrei. Estava perdido procurando a diretoria quando a mesma apareceu e me ajudou - Disse, me fazendo assentir, atento a cada detalhe - Depois disso não conversamos muito, pois a mesma vivia escondida pelos cantos. Acho que ela não gostava muito de ser vista... Principalmente em certos dias que aparecia com uns arranhões e uns machucados esquisitos - Pausou, respirando fundo enquanto parecia lembrar dessas cenas. Também respirei fundo, visando controlar a raiva que sentia no momento - Bom... Depois acabei conhecendo o Thiago e ele revelou que era irmão da "estranha", como ele mesmo dizia - Negou com a cabeça, parecendo não gostar do termo dado - Cara, ela não tinha nada de estranha. Ela era a garota mais linda daquele colégio... Tinha esse rostinho de menina que tem agora, além do jeito também de menina. E tinha o corpo já bem desenvolvido, não tanto como agora, claro - Riu um tanto malicioso, me fazendo revirar os olhos.
Bernardo: Só falta me dizer que você e o colégio inteiro eram apaixonados por ela - Comentei um tanto irritado, ainda tentando me controlar.
Charles: Olha que isso era uma possibilidade - Riu ainda mais, me fazendo revirar os olhos mais uma vez e bufar em seguida - Mas enfim, nunca tentamos nada com a Monalisa. Até mesmo porque ela sempre recuava antes mesmo que alguém se aproximasse, entende? - Assenti, juntando o seu trauma dos estupros com as situações ali me apresentadas.

Bernardo: Era de se imaginar - Comentei, vendo-o arquear a sobrancelha, parecendo confuso. Neguei com a cabeça enquanto voltava ao foco - Continua, continua!
Charles: Então, depois de um tempo, os meus amigos, os do grupo, chegaram com um papo estranho. Diziam que finalmente iam ter a Monalisa, que ela se transformaria depois de uma noite com um deles e essas coisas todas - Pausou, parecendo observar a minha expressão de espanto - Também fiquei assim quando soube dessas conversas, e fiquei ainda pior quando soube do que realmente se tratava - Fez uma nova pausa enquanto respirava fundo.
Bernardo: Do que se tratava? - Perguntei apressado, já com algumas ideias formadas - Continua, caramba! 
Charles: Do mais óbvio, não? A Monalisa estava vendendo o corpo - Respondeu, me fazendo fechar a mão em punho e esmurrar o balcão. 
Bernardo: Não - Neguei apressado e raivoso, ainda com a mão fechada - Isso não é verdade, não é! - Gritei, esmurrando mais uma vez o balcão - Ela não se vendia. Aquele idiota quem fazia isso, ele a vendia - Respondi firme e ainda aos gritos. Ao reparar que algumas pessoas ao redor me observavam, respirei fundo, tentando controlar mais uma vez a raiva.

Charles: Sempre suspeitei disso - Comentou, voltando a me prender a atenção - Na realidade, tudo indicava a culpa para o Thiago. Afinal, foi ele quem jogou essa ideia para os garotos, esses que logo gostaram, né? E o pior de tudo era ele dizer que aceitava aquilo numa boa, e pior ainda, que a Monalisa também aceitava - Balançou a cabeça negativamente, parecendo inconformado - Estava na cara que aí tinha o dedo sujo dele, pois a Mona, que sempre foi tão retraída com tudo isso, não iria querer se vender assim, não é? E pior, quem recebia o dinheiro disso era ele. Não só recebia o dinheiro, como também agendava as datas e os horários.
Bernardo: Idiota - Voltei a gritar, esmurrando mais uma vez o balcão. O Charles, percebendo que eu poderia me manifestar ainda mais, voltou a falar.
Charles: Já nos encontros, quando ela ficava sozinha com alguém, não comentava nada sobre isso. Muitos falavam que ela não queria iniciar o ato e até recuava quando era tocada. E aí chantageavam-a, dizendo que falariam com o Thiago, e então ela cedia. Era incrível, ela parecia ter um medo fora do normal do Thiago - Comentou, me fazendo balançar a cabeça negativamente ao imaginar tamanho sofrimento - Eu até tentei não fazer nada com ela na minha vez, mas juro que não resisti. Ela já vinha me fascinando havia algum tempo, e naquela noite ela estava tão linda, tão... - Lhe interrompi com um soco, esse que lhe fez desequilibrar e quase cair.

Bernardo: Você é outro idiota, Charles - Gritei, voltando a lhe socar, desequilibrando-o ainda mais e derrubando-o por fim - Como pôde fazer isso com ela? Como? - Perguntei aos gritos, já me preparando para lhe dar outro soco. Para o meu azar, algumas pessoas aproximaram e me seguraram - Me solta! - Ordenei raivoso, encarando o meu velho amigo levantar-se com uma certa dificuldade. Depois de passar a mão perto da boca e notar o sangue, me encarou, dessa vez negando com a cabeça.
Charles: Podem soltá-lo - Disse calmo enquanto encarava as pessoas que me seguravam, me deixando um tanto surpreso - Ainda não acabamos a conversa - Voltou a falar, dessa vez para mim. Respirei fundo, resmunguei baixo e logo senti os grandalhões me soltarem. Assim que finalmente se afastaram, o Charles voltou a se aproximar - Sei que não devia fazer isso com ela, mas estava tão cego e tão fascinado que acabei... - Pausou, respirando fundo ao perceber minha expressão ainda raivosa - Enfim, acabei me apegando ainda mais a ela depois dessa noite. Ela me odiou depois disso, lógico, mas não me importei. Aliás, não me importava mais com nada. A única coisa que queria era tê-la mais uma vez, e mais uma e mais uma... Ela era muito boa, se é que me entende, e isso me deixava ainda mais apegado - Comentou retraído, me fazendo esmurrar o balcão novamente. 
Bernardo: Qual é a sua? Quer apanhar de novo? É isso? - Perguntei irritado, me controlando ao máximo para não partir para cima e acabar de vez com meu querido amigo.

Charles: Desculpa - Pediu, respirando fundo em seguida - Mas é a verdade, Bernardo. Ela era incrível e eu a queria cada vez mais. Lembro-me até que na época, lhe pedi e implorei para fugir comigo, mas ela disse que não podia pois havia muita coisa rolando em jogo, e que um passo falho seu poderia provocar uma tragédia - Confessou, me deixando cada vez mais intrigado - Depois disso, infelizmente tive que voltar para cá, a cidade onde nasci - Suspirou, parecendo não gostar dessa lembrança - E então perdi o contato com ela, e ganhei no lugar daquele apego que guardava um sentimento de tristeza, esse que logo foi transformado em raiva. Raiva por ela não aceitar fugir comigo, e raiva de mim mesmo, por ter me apegado tanto. Hoje, quando a encontrei, senti essa raiva ressurgir, e por isso a tratei daquela forma - Completou, me fazendo tremer de raiva. 
Bernardo: Na boa, a minha vontade é de acabar com você - Disse firme, voltando a fechar as mãos em punho.
Charles: Cara, eu não tive culpa em me apegar a Monalisa - Respondeu-me intrigado.
Bernardo: Mas teve culpa por deixá-la nessa situação e por não ter feito nada. Por que não falou com o Thiago para acabar com isso? Por que não falou com a polícia? Por que não... - Me interrompeu.
Charles: E colocá-la em perigo? Não, Bernardo - Negou apressado - Ninguém sabe o que estava rolando por trás disso tudo... E com certeza não seria eu quem quebraria as regras. 
Bernardo: Você é um frouxo mesmo - Gritei, socando-lhe mais uma vez - E fica longe dela, ouviu? - Ordenei por fim, saindo dali o mais rápido possível.