Fanfic: Monalisa, deusa com ar de menina | Tema: Monalisa

Foi impossível não deixar as lágrimas virem à tona com as lembranças da conversa de pouco tempo atrás. No momento, estava no meu lugar preferido, a praia. A mesma estava deserta, afinal ainda eram quatro e meia da manhã, hora em que a maioria das pessoas dormiam, inclusive a Monalisa, dona dos meus pensamentos. Sentia meu coração apertar com as lembranças do seu passado tão triste e amargurado, e apertar também por saber que ela, a minha Mona, poderia ter dormido com vários e provocado o amor de vários. "E quantos seriam? Quantos haviam lhe tocado? Quantos?" Perguntava-me enfurecido, chutando a água de forma inútil enquanto também deixava as lágrimas caírem sob meu rosto.

Perguntava-me também como poderia existir pessoa tão ruim ao ponto de vender o corpo da própria irmã, além de abusá-lo também. Perguntava-me e enchia-me cada vez mais de raiva, de ódio e de uma vontade incomum de justiça. E foram com essas perguntas e com esses sentimentos que observei o dia nascer, trazendo-me a lembrança da Monalisa acordando com aqueles pequenos raios. Ela era assim, acordava até com os pequenos raios solares das sete horas da manhã. Sorri lembrando disso e decidi então voltar para casa. O caminho foi cansado e pensativo, já a chegada, foi uma surpresa. Lá estava a minha Monalisa, em pé em frente a mesa, essa que estava cheia de comidas, com um belo café da manhã. Foi inevitável não sorrir, principalmente ao vê-la se distrair e quase derrubar um copo ao notar minha presença. 

Monalisa: Er... Bom dia, Bê... Bom dia! - Disse sem graça e com um sorriso de lado enquanto afastava rapidamente o copo para o centro da mesa - Onde você estava?

Bernardo: Fui... - Pausei, já desfazendo o sorriso ao relembrar dos fatos da madrugada - Fui dar uma volta. Caminhar um pouco, sabe?
Monalisa: Nossa! - Exclamou surpresa enquanto parecia arrumar alguns pequenos detalhes - Você acordando cedo para caminhar? Isso é um verdadeiro milagre - Disse risonha, afastando um pouco da mesa e seguindo em minha direção. 
Bernardo: Pois é. Não estava com muito sono hoje - Respondi retraído, principalmente por vê-la tão perto. Ela pareceu não notar minhas expressões, abraçou-me de maneira rápida e levou os lábios aos meus. Antes que pudesse iniciar um beijo, me afastei, lhe arrancando uma expressão surpresa - Estou sujo e fedendo... - Tentei explicar, carregando junto um sorriso sem jeito. 
Monalisa: Bobo - Sussurrou sem graça, voltando a se aproximar - Você sabe que nem ligo para isso - Completou, parecendo querer me abraçar novamente. Porém fui mais rápido e me esquivei, lhe deixando ainda mais surpresa e confusa também - Bê... Não estou te entendendo - Voltou a sussurrar sem jeito, desviando em seguida o olhar para a mesa, me deixando com o coração apertado mais uma vez.
Bernardo: Vou tomar um banho, Mona. É rápido - Foi a única coisa que consegui dizer antes de sair dali e entrar no banheiro.

Sentia meu corpo pesado e meus olhos cansados, mas nada parecia pior quando comparado ao aperto que sentia junto com aquele nó na garganta. Logo as lágrimas voltaram junto com alguns soluços, esses que tentei abafar pelo som do chuveiro. Entrei no mesmo e parei ali, deixando as lembranças voltarem. Eu simplesmente não me conformava com o passado da minha namorada e ainda mais, com suas atitudes diante de tanto sofrimento. "Por que ela não lutou contra isso? Por que não evitou ser tocada pelos outros? E aliás, por que concordou em ser tocada por aqueles desconhecidos? Por que tanto medo do Thiago? O que ele mais poderia fazer?", perguntava-me enfurecido enquanto soluçava ainda mais alto.

Por mais que no fundo acreditasse que algo realmente grave estava por trás daquilo, não conseguia focar nisso. Afinal, o pensamento que me perturbava era o seu consentimento ao ser tocada por vários. "E se ela realmente gostasse dessa vida?", perguntei-me e neguei com a cabeça no mesmo instante. Era óbvio que ela não gostava, ela já tinha um grande trauma com os estupros e ainda iria querer se entregar assim facilmente para os outros? "É lógico que não!"

Monalisa: Bê - Gritou do outro lado da porta, me fazendo despertar dos pensamentos. Respirei fundo e desliguei o chuveiro para lhe escutar melhor - Você está bem aí?
Bernardo: Estou sim, Mona - Respondi enquanto tentava controlar a voz por conta dos soluços - Já estou acabando - Disse por fim, voltando a ligar o chuveiro.

Ainda me perguntava como ela havia conseguido preparar tudo aquilo tão rápido e com tanta coisa, afinal, o apartamento estava fechado por algumas semanas e com certeza não havia muita comida na geladeira, e se tivesse, com certeza estaria fora da validade. Foi quando ouvi sua voz ecoar, fazendo-me olhá-la atencioso.

Monalisa: Você está tão estranho hoje - Comentou enquanto comia umas bolachas e me encarava atentamente. Apenas neguei com a cabeça e desviei o olhar - Bê... Você andou chorando?
Bernardo: Eu? - Perguntei surpreso, me engasgando um pouco com o leite que acabará de tomar. Ela assentiu preocupada, aproximando um pouco a cadeira da minha, batendo em seguida de leve nas minhas costas. Recuperei-me e então encarei seus olhos, esses que sempre me fascinavam - Por que está perguntando isso?
Monalisa: Porque seus olhos estão meio avermelhados - Respondeu baixo, levando a mão em seguida para o meu rosto, acariciando-o - O que aconteceu? 
Bernardo: Nada - Respondi apressado, desviando o olhar mais uma vez - Deve ter sido o shampoo que entrou um pouco no meu olho - Completei, sentindo agora suas mãos fora do meu rosto. O silêncio reinou e logo me incomodou. Por mais que estivesse desnorteado com tudo aquilo que acontecia, sem saber exatamente o que fazer, não poderia jogar isso em cima da Monalisa e culpá-la assim - Er... Onde arrumou todas essas comidas? - Perguntei sem graça tentando puxar assunto, olhando-a de lado.

Monalisa: Queria fazer uma coisa diferente hoje para agradecer todo esse cuidado que você vem tendo comigo, e aí resolvi comprar algumas coisas na padaria aqui ao lado do prédio e preparar esse café da manhã - Respondeu sem me olhar, dando de ombros em seguida. 
Bernardo: Não precisava, Mona - Pausei, encarando-a ainda. Ela, por sua vez, não fez questão nem de me mostrar um sorriso - Obrigado - Agradeci, voltando a encarar meu copo com leite. 

O silêncio durou pelo resto da refeição. Assim que acabamos por fim, juntamos algumas coisas para levar para os meninos e lavamos alguns pratos sujos, isso tudo com poucas palavras trocadas. Já na saída, para o nosso azar, encontramos o Charles entrando no prédio. Ele nos deu um sorriso sem jeito e encarou a Monalisa, essa que parecia também lhe encarar. Ao perceber aquilo, puxei-lhe rapidamente dali, saindo do prédio o mais rápido possível.

Monalisa: Você viu o rosto dele? - Perguntou, referindo-se as marcas roxas perto da sua boca e olho. Apenas assenti sem graça - O que será que aconteceu?
Bernardo: Não sei, Mona - Respondi impaciente ao perceber sua preocupação com meu velho amigo, encarando-a em seguida - Ficou preocupada foi? - Perguntei, fazendo-a negar rapidamente, desviando junto o olhar. Respirei fundo e calei-me.