Fanfic: Monalisa, deusa com ar de menina | Tema: Monalisa

Monalisa: Vou acabar enlouquecendo ou sufocando com toda essa angústia - Confessou, entortando os lábios de maneira apreensiva - Não aguento mais guardar isso só para mim... Não aguento - Negou apressada enquanto respirava fundo e desviava seus olhos tão misteriosos para os meus - Eu preciso desabafar.

Bernardo: Pois bem... Estou aqui, meu amor - Pausei, dando um pequeno sorriso de lado enquanto tentava lhe passar segurança - Na verdade, sempre estive né? - Conclui, vendo-a assentir apressada, retribuindo o sorriso.
Monalisa: Me desculpa demorar tanto tempo para te contar... É que, como te disse uma vez, acabei me acostumando a guardar tudo para mim, não dividir nada com ninguém - Suspirou, abaixando em seguida o olhar - Até porque nunca fui de confiar muito nas pessoas. A única que confiei de verdade foi minha mãe - Pausou, soltando um novo suspiro - Ela era minha base naquela casa, sabe? Me dava forças para continuar viva mesmo quando a minha maior vontade era a de acabar de vez com toda aquela tortura.
Bernardo: E ela sabia dos abusos? - Perguntei apressado enquanto lhe observava atento.
Monalisa: Não, não - Negou com a cabeça, voltando agora a me encarar - O meu pai... - Pausou, voltando a balançar a cabeça em sinal de negativo - Ou melhor, o monstro, Aleff, me obrigava a manter tudo em segredo, dizendo que não era para contar nada pois poderia me matar ou a pessoa que soubesse - Continuou, me fazendo lembrar de uma de nossas conversas onde a mesma havia me confessado isso - E depois veio o Thiago, lembra? - Assenti apressado, recordando-me do seu segundo herói que transformou-se num monstro, chegando até a abusá-la da mesma maneira que o pai, e certas vezes até de forma mais agressiva, com objetos cortantes. Senti a raiva voltar a me invadir, mas não deixei transparecer. Afinal, tudo que eu menos queria era desestabilizar a Monalisa naquele momento.

Bernardo: Lembro sim, meu amor - Respondi depois de algum tempo com ela em silêncio. A Mona parecia agora lembrar-se de tudo com uma dor tremenda, pois sua expressão estava dolorosa e seus olhos já marejavam. Respirei fundo e lhe apertei as mãos de forma calma, fazendo-a sorrir sem jeito - Você tinha onze anos naquela época, não era?
Monalisa: Era - Respondeu, soltando em seguida um novo suspiro e já voltando com a expressão de antes - A minha mãe, Dona Fátima, como todos a chamavam, descobriu tudo depois de dois anos da descoberta do Thiago, uma semana depois do meu aniversário de 13 anos - Assenti enquanto prestava atenção em cada detalhe - Ela sempre foi muito trabalhadora... Vivia fora de casa por conta do trabalho, mas sempre quando estava comigo, fazia daquele momento único, sabe? Quanto ao Aleff e ao Thiago, aproveitavam que ela não estava em casa e me abusavam. Eu resmungava, tentava xingá-los ou fugir daquela situação, mas eles eram bem mais fortes e me chantageavam também, dizendo sempre que matariam a minha mãe se eu não cooperasse - Pausou, respirando fundo.
Bernardo: E sua mãe não notou nada de diferente? - Perguntei cuidadoso, observando sua expressão. 
Monalisa: Notou sim... Não com eles, mas comigo - Assentiu apressada, voltando a continuar - Acabei me transformando numa pessoa quieta, sem alegria alguma e que buscava sempre me afastar de todos, ficar no meu próprio canto, sabe? Lembro-me que antes era bem comum ficarmos todos juntos a noite para assistir novela ou algum filme, mas depois dos abusos, tudo mudou. Passei a me trancar cedo no quarto... Mesmo sabendo que eles não abusariam de mim com a minha mãe em casa, sentia um medo fora do comum de tudo aquilo e por isso me trancava. Ela, minha mãe, percebendo tudo isso, passou a me procurar mais, perguntando sempre sobre o que estava acontecendo comigo. Já eu, sentindo todo aquele medo de perdê-la, dizia que não era nada.

Bernardo: Mas ela descobriu? 
Monalisa: Eu lhe contei - Disse quase num sussurro, suspirando pesado - Na semana seguinte do meu aniversário de treze anos, ela chegou um pouco mais cedo do trabalho. Uns quinze minutos antes eu estava sendo abusada pelo meu irmão. Eu chorei muito naquele dia e lutei muito também para que nada acontecesse, pois o Thiago parecia diferente naquele fim de tarde. Ele estava todo bagunçado e chegará em casa aos gritos, quebrando tudo. Ainda tentei me trancar, mas foi em vão. Ele correu para o meu quarto e me abusou ali mesmo. Eu tentava sair daquilo, chorava e berrava de forma descontrolada. Ele, já impaciente com tudo aquilo, começou a me bater. Eu tentei sair dali mais uma vez, mas não adiantou. Ele estava mais cruel e tinha um cheiro forte e desconhecido até então por mim. Apenas depois vim descobrir que era a droga - Disse, fazendo-me recordar de uma das nossas primeiras conversas na república, quando a mesma pareceu ter medo de pessoas drogadas - Foi a primeira vez que lhe vi drogado. E foi a primeira vez também que ele me cortou... - Pausou, mordendo de forma apreensiva seu lábio em seguida. Depois de abaixar a cabeça e limpar algumas lágrimas, voltou a falar - Ele pegou um pequeno estilete do seu bolso, tirou a lâmina com cuidado e depois me encarou de forma cruel, como sempre fazia... Eu gritei ainda mais, desesperada pelo que estava por vir. Tentei evitar dizendo que iria cooperar, mas era tarde demais. Ele enfiou a lâmina entre as minhas pernas e começou a me cortar bruscamente, sem piedade alguma - Interrompeu-se, dessa vez sendo invadida por completa pelo choro alto. 
Bernardo: Nossa! - Exclamei completamente surpreendido enquanto lhe puxava para os meus braços e lhe abraçava forte. Por mais que quisesse, não conseguia dizer nenhuma palavra. Ela também não disse, apenas chorou. Quando finalmente voltou a se acalmar, afastou-se, já continuando a história, dessa vez sem me olhar.