Fanfic: Era só pra ficar | Tema: Era só pra ficar

Acordei na segunda-feira já quando anoitecia. Meus olhos estavam profundos e minha barriga doía de fome. Levantei totalmente indisposta, tomei um banho demorado e depois preparei uma janta reforçada. Depois de comer bastante, resolvi voltar a dormir. Assim que deitei na cama, ouvi meu celular tocar. Era o Carlos. 

Carlos: O que você tem? Desde cedo que eu te ligo e nada de você atender.
Luiza: Não escutei - Falei, olhando para o teto. 
Carlos: O que aconteceu?
Luiza: Nada.
Carlos: Nada? - Fiquei calada - Eu estou indo aí com o Rodrigo, ok?
Luiza: Não, por favor.
Carlos: Por quê?
Luiza: Eu quero ficar sozinha.
Carlos: Ih, qual é? O que aconteceu, hein? Me diz.
Luiza: Depois eu falo, tá? Agora eu tenho que desligar, tchau - Desliguei e coloquei o celular de lado.

Implorei em pensamentos para mim mesmo para não chorar e então fechei fortemente os olhos para que o sono chegasse. Demorou, mas chegou. No dia seguinte acordei um tanto mais cedo e com uma grande ânsia de vômito de novo. Passei o dia todo no quarto, e mesmo morrendo de fome, não saí para comer. Nem ao menos tomar banho. O Matheus apareceu no meu quarto por volta das oito horas juntamente com um semblante preocupado. 

Matheus: Eu não acredito que você passou o dia todo sem comer, Luiza. Não acredito - Falou irritado. Dei de ombros e olhei para o teto - Caramba, será que eu vou ter que parar de trabalhar pra vir cuidar de você? - Dei de ombros novamente e logo senti ele sentar na cama, me fazendo encará-lo - Você não pode ficar desse jeito - Quando eu ia responder, senti uma enorme vontade de vomitar e me levantei rapidamente, correndo em direção ao banheiro logo depois.

Me ajoelhei de frente para a bacia e fiquei lá por volta de cinco minutos, tentando vomitar, mas nada saia. Logo o Matheus apareceu e se ajoelhou ao meu lado. 

Matheus: Como você quer vomitar se não comeu, nem bebeu nada? - Acariciou meus cabelos.
Luiza: Mas eu tô com vontade de vomitar - Mantive o olhar na bacia. Ele ignorou, se levantou e logo depois me puxou. 

Acabei me levantando, meio que cambaleando, e lhe segui até a cozinha. Sentei numa das cadeiras e deitei a cabeça na mesa enquanto lhe observava preparar alguma comida. Depois de alguns minutos, o Math colocou sob a mesa um prato com dois sanduíches, algumas bolachas, frutas e suco, e me obrigou a comer. Logo depois tomei um banho rápido e voltei a dormir. 

No dia seguinte, quarta-feira, foi um pouco diferente. Durante a tarde a Juliana me fez companhia e me obrigou a sair do quarto e a comer. O Carlos e o Rodrigo também vieram me ver, porém, eu não estava muito no clima de conversa, e acabei pedindo para a Juliana dar uma desculpa a eles. Durante a noite o Otávio me ligou, mas não atendi. E assim passei mais um dia.

Na quinta-feira acordei com o sol nascendo. Fiquei deitada na cama e pude refletir. "O que eu estou fazendo com a minha vida?", pensei. Enquanto o Bruno estava lá, todo feliz com a nova namorada dele, eu estava aqui sofrendo e me acabando por ele. Era isso que eu queria pra mim? "Não, não era". Depois de refletir mais um bocado, resolvi me levantar e me cuidar. Tomei um banho demorado, preparei um café reforçado e logo depois fui dar uma volta na praia. Segui o caminho a pé mesmo, e logo cheguei. Caminhei bastante no calçadão, aquele que estava bem deserto, e depois resolvi parar debaixo de um coqueiro. Sentei e fiquei observando o mar enquanto pensava na vida.

Bruno: Lú - Me perdi nos pensamentos ao ouvir sua voz e logo lhe encarei.
Luiza: O que você tá fazendo aqui?

Bruno: Eu estava andando por aqui e te vi - Respondeu meio sem jeito. 
Luiza: Hm. E está esperando o que para ir embora?
Bruno: Nossa, que grosseria - Falou, me fazendo estranhar. 
Luiza: Ué, você me manda uma mensagem pedindo para que eu te esquecesse, dizendo para te deixar em paz com a sua nova namorada e mais um monte de coisa, e agora vem falar comigo? Você quer que eu reaja como? - Ele arqueeou a sobrancelha, confuso.
Bruno: Que história é essa? Eu não te mandei mensagem nenhuma, nem estou namorando - Falou, me deixando um tanto confusa.
Luiza: Como assim? - Peguei meu celular, coloquei na mensagem e lhe mostrei - Olha aí, vai dizer que não foi você quem mandou? - Ele olhou para a mensagem, e depois para mim.
Bruno: Lógico que não. Eu nunca te mandaria isso - Engoli em seco.
Luiza: E quem foi então?

Bruno: Deve ter sido a Bianca. Isso é bem a cara dela - Respondeu irritado.
Luiza: Hm, então quer dizer que a Bianca está frequentando muito a sua casa, né? Pegando seu celular e... - Ele me interrompeu.
Bruno: Não, ela não está - Ele respondeu e sentou ao meu lado - Enfim, foi bom te encontrar aqui, eu estava mesmo querendo falar com você - Senti meu coração acelerar e desviei o olhar do seu rosto para o mar.
Luiza: Sobre o quê?
Bruno: Sobre... Sobre você - Lhe encarei assustada e curiosa - Andei falando com seu irmão, e ele me contou umas coisas.
Luiza: O que ele contou?
Bruno: Contou que ultimamente você anda meio estranha, só vive trancada no quarto, sem comer, nem beber nada. E ainda disse que você anda vomitando muito. E... - Ele mesmo se interrompeu e observou bem a minha expressão. Segundos depois, voltou a falar - Você está com algum problema?

Luiza: Não - Respondi rapidamente. E logo parei para observar isso. Sim, eu só vivia trancada e sem comer nada, mas tudo bem, isso devia fazer parte de algum tipo de tristeza profunda ou algo do tipo. "Afinal, quando a pessoa fica muito mal, é comum ficar assim, não? Mas, quanto ao vômito..." Realmente, tinha algo muito estranho nisso.
Bruno: Não é melhor você ir em um médico e ver isso? - Ele perguntou, me despertando dos meus pensamentos.
Luiza: Não precisa. Não deve ser nada.
Bruno: Mas... - Lhe interrompi.
Luiza: Por que você está tão preocupado comigo? - Ele coçou a nuca, mostrando que estava nervoso.
Bruno: Não posso me preocupar com você? - Dei de ombros e voltei a olhar o mar - Se você quiser, eu vou no médico com você. 
Luiza: Obrigada, mas não precisa. Eu não tenho nada e estou muito bem.
Bruno: Não Luiza, você não está nada bem - Ele falou um pouco alto - E seja lá o que você tiver, eu não quero que piore e você acabe com uma doença mais grave, ok? Então, mesmo que seja uma besteira, você vai no médico sim. Precisamos saber o que você tem. E já está decidido! - Lhe encarei surpresa e vi a sua expressão séria - Qual é? Mesmo não estando mais com você, continuo me preocupando do mesmo jeito - Deixei um sorriso escapar ao ouvir aquilo e desviei o olhar sem graça.

Luiza: Tudo bem, tudo bem. Eu vou.
Bruno: Agora sim - Ele falou, parecendo sorrir. Depois de alguns minutos em silêncio, ele voltou a falar - Mas quanto essa história de ficar trancada no quarto e sem comer... - Lhe interrompi.
Luiza: Tenho que ir - Falei e me levantei rapidamente. Ele também levantou e parou na minha frente, me impedindo de andar.
Bruno: Quer que eu te leve em casa? Ainda tá cedo, e o caminho deve estar esquisito - Assim que ia responder, ouvimos uma gritaria vindo do lado oposto. Olhamos e vimos cerca de quatro caras armados se aproximando, correndo. Me desesperei e puxei o Bruno enquanto saía correndo - Não corre, Luiza. É pior. Vamos nos esconder - Assim que ele falou, ouvimos barulho de polícia e logo depois, tiros.

Me desesperei mais ainda e puxei o Bruno novamente. Saí correndo pelo calçadão enquanto sentia a mão do Bruno escorregar. Soltei sua mão, olhei para trás e o vi pedindo para parar, porém, não dei ouvidos e continuei correndo. Ao olhar para frente, percebi que já estava no meio da avenida, essa que não estava muito movimentada. Olhei para o Bruno novamente e quando ia gritar pra ele vir, vi sua expressão de choque misturada com angústia e desespero, correndo em minha direção, gritando e fazendo gestos para algo parar. Ouvi barulhos de buzinas e ao olhar para o lado, vi uma luz branca se aproximar e logo depois, vi tudo ficar escuro.