Fanfics Brasil - Noites do Oriente {DyC} (Terminada)

Fanfic: Noites do Oriente {DyC} (Terminada)


Capítulo: 10? Capítulo

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Capítulo V


     


      O dia seguinte foi tão agitado que Dulce
não teve tempo de se preocupar com coisa alguma. Depois de tomar o delicioso
café da manhã, desceu apressada com Zanaide para um enorme pátio onde um
Rolls-Royce a esperava com o motor ligado.


       Um motorista abriu-lhe a porta de trás.
Ela entrou e sentou-se obedientemente ao lado de Jamaile, que a cumprimentou
com um sorriso.


      - Dormiu bem, filha de Hassan?


      Dulce fez que sim com a cabeça e teve
vontade de lhe pedir que a chamasse pelo nome. Filha de Hassan lhe trazia
lembranças que desejava esquecer. Toda vez que lhe falavam assim, um arrepio
lhe corria pelo corpo.


      - Os vendedores de seda costumam vir ao
palácio quando queremos roupas novas - explicou Jamaile. - Normalmente vêm uma
vez por mês, por sinal essa é uma ocasião de grande alegria para minha casa,
quando todos os membros se reúnem na câmara de recepção. Minhas noras também
comparecem, junto com os parentes passamos um dia inteirinho escolhendo tecidos
e tomando café.


      - Deve ser muito agradável! - Dulce
respondeu com polidez.


      Jamaile, porém, percebeu que ela não
tinha se interessado realmente e deixou isso bem claro lançando-lhe um olhar
perspicaz.


      - Kadir - disse ela ao motorista -, por
favor, feche o painel.


      Kadir obedeceu-a, isolando-se com o
guarda-costas no banco da frente. Em seguida, o carro arrancou.


      - Quando nós, mulheres, vivemos desse
modo recatado, precisamos encontrar diversões que nos ocupem - disse Jamaile. -
E você, Dulce, não deve estranhar-nos tanto... Minhas noras são formadas em
universidades. Falam inglês e francês com fluência, e todas cuidam de uma
família numerosa. É norma da nossa religião os sexos não se misturarem a esmo,
e nós respeitamos esses princípios. Só isso!


      Fez uma pausa breve. A seriedade de seu
rosto deu lugar a um sorriso de tolerância e compreensão.


      - Sei que isso lhe parece rígido demais,
mas não é bem assim. Meu marido, embora não seja tão avançado quanto Hassan,
permite-nos participar de conferências sobre certos assuntos de interesse
geral, e todas estamos a par de acontecimentos e temas internacionais.
Promovemos debates bastante estimulantes para exercitar nosso espírito. E se
esses pequenos prazeres se restringem ao nosso sexo, não quer dizer que sejam
obrigatoriamente desagradáveis do ponto de vista de um europeu. Se o único
objetivo de um encontro ou de uma discussão é a reunião de nossas amigas, seria
injusto imaginar que a companhia de mulheres não é também muito agradável.


      Jamaile sabe argumentar bem, refletiu Dulce.
E, na verdade, pensou, estava sendo muito sensata. Mas no fundo não se opunha à
falta de companhia masculina, e, sim, à falta de liberdade de opção.


      Quando disse isso, Jamaile balançou a
cabeça e sorriu.


      - Isso é o que você pensa, não a nossa
realidade... Pode-se ter a companhia do marido, ou do pai...


      - Mas sempre com a prudência que a
presença deles impõe.


      Jamaile franziu as sobrancelhas.


      - Você duvida que uma mulher
tenha poderes para fazer com que um homem, principalmente um marido, se sinta
bem na companhia dela? Dulce, você me decepciona! Tenho a impressão de que O
movimento de libertação das mulheres roubou de vocês, européias, capacidade de
atrair um homem e de cultivar um relacionamento, coisas que nossas mulheres
aprendem desde crianças! Se alguma de nós quiser, pode transformar a vida do
marido num inferno ou num mar-de-rosas. A mulher inteligente, é claro,
escolherá o segundo caminho, pois quando reina harmonia num lar a felicidade
torna-se evidente. Na minha opinião, você subestima seu próprio sexo. Pense
nisso com seriedade.


      Interrompeu-se bruscamente, como que para
estudar a reação de Dulce.


      -Bom - disse, mudando de assunto, depois
de alguns minutos de silêncio -, agora Kadir nos levará até a rua Muhammad para
você conhecer os edifícios que a família está construindo. Temos uma nova
biblioteca - acrescentou, apontando para um prédio em estilo oriental-, uma
nova escola de medicina e um novo hospital. Hassan sempre fala ao meu marido
que Precisamos educar nossos filhos, preparando-os para o dia em que o petróleo
acabar e deixar de ser a fonte de riqueza e poder. Por isso estamos criando
indústrias e desenvolvendo tecnologias, tudo isso concentrado numa área
distante da capital. Mais tarde irá conosco até o outro lado da cidade, junto
do litoral. Você verá as praias e uma pequena ilha, que antes era o centro da
nossa indústria de pérolas.


      - Os homens ainda mergulham em busca
delas? - Dulce perguntou, curiosa.


      - Alguns, principalmente europeus. É uma
atividade muito perigosa e passageira. Para se ganhar bem, é preciso encontrar
pérolas perfeitas na formato e na cor.


      O carro saiu da avenida principal e desceu
uma rua com canteiros de flores e postes de iluminação...


      - Vejo que está gostando de nossas flores
- observou Jamaile.


      - Elas fazem muita bem aos olhos,
principalmente para quem se lembra de quando toda essa região não passava de um
deserto árido. É tudo obra do meu irmão - acrescentou com orgulho. - Com o
estímulo de Hassan, ele construiu uma enorme usina que fornece água para as
plantações com uma capacidade excedente que permite que, aqui na cidade,
irriguemos nossos gramados e as flores. De fato, para os árabes é um verdadeiro
milagre, pois a vegetação cresce onde existe apenas areia. Isso é o maior
testemunho do progresso que alcançamos.


      Nos dois, lados da rua, viam-se inúmeras
lojas especializadas em vários ramos, principalmente joalherias. O carro tomou
uma ruazinha estreita e parou na frente de uma loja pequena e discreta.


      O guarda-costas, de uniforme e portando
uma arma, desceu. Dulce ficou assustada quando viu o revólver na cintura dele.


      - Par que ele está armado?


      - Mera precaução. - explicou Jamaile,
tentando. tranqüilizá-la.


      - As coisas não andam nada bem no Oriente
Médio. Qu`Har é um pais pequeno, mais muito rico, e não temos condições de
vigiar todas as regiões. Se nossos vizinhos quisessem, poderiam nas destruir
com facilidade. Mas hoje, Dulce, não é dia de falarmos sobre coisas
desagradáveis - acrescentou, sorridente. - A tristeza apagaria as cores vivas
das tecidos de seda que eu quero que veja com seus próprias olhos. É uma
beleza!


      Para alívio de Dulce, o guarda ficou do
lado de fora da loja.


      Assim que entraram, uma mulher correu
para atendê-las, curvando-se para Jamaile e levantando em seguida, rápida e
elegantemente.


      Dulce engoliu em seco quando observou o
rosto dela: era uma das mulheres mais lindas que tinha visto em toda a sua
vida.


      - Zara - disse Jamaile -, esta é Dulce,
filha de Hassan.- Dulce, esta é Zara, minha prima, uma mulher que vive para a
carreira profissional... Não é verdade, Zara?


      Jamaile parecia se divertir com o espanto
de Dulce.


      - Minha prima gosta de provocar você, não
é? - disse Zara, sorrindo. - E verdade que papai me autoriza a comprar seda e
dirigir esta lojinha, mas atendo apenas as senhoras do palácio... Posso dizer
que sou uma mulher feliz por ter uma família tão generosa. Se não fosse assim,
já teria enlouquecido. Meu marido morreu numa explosão no campo de petróleo
logo depois da primeira semana do nosso casamento.


      Os olhos de Zara encheram-se de lágrimas.


      - Eu tinha dezoito anos, na época - ela
continuou contando. - Como não possuía filhos com quem pudesse me confortar,
nem ânimo para viver sem o amor de meu marido, que conhecia desde criança, Christopher
me sugeriu que começasse no ramo dos negócios... Por mais absurda que pareça,
sem a sugestão dele não sei o que teria acontecido comigo. Christopher é um
homem bondoso e compreensivo.


      - E muito atraente também -acrescentou
Jamaile.


      Ao ouvir isso, por um momento o coração
de Dulce quase parou de bater. Christopher lhe parecia um animal selvagem e
Zara era


      uma mulher belíssima. Seria possível que
as dois tivessem algum envolvimento afetivo?


      Não teve tempo de refletir sobre aquela
possibilidade. Zara disse qualquer coisa em árabe e apareceram duas moças
trazendo muitas peças de seda, que foram colocadas sobre uma mesinha cercada de
almofadas, forradas com tecidos coloridos.


      - Por favor, Dulce, sente-se - convidou
Zara. - Enquanto escolhemos a seda, tomaremos um delicioso café.


      Elas sentaram em seguida, com a
solenidade de quem começaria uma cerimônia religiosa.


      - Tem alguma preferência, prima? - Zara
perguntou a Jamaile, que fez um sinal afirmativo com a cabeça.


      Dulce invejava a facilidade com que as
duas mulheres podiam cruzar as pernas, sentadas apenas em almofadas, porque
seus músculos doíam naquela posição. De maneira alguma devia estar tão elegante
quanto as companheiras. Uma criada tímida e muito jovem trouxe o café, que
foram bebendo enquanto novas mostras de seda eram colocadas sobre a mesinha já
abarrotada. Só depois que elas se serviram é que Zara assumiu um ar
profissional e começou a descrever os tecidos, indicando os que considerava
mais adequados para Dulce.


      - Acho que este aqui lhe fica muito bem,
querida... e este, todo verde com bordados dourados...


      Passou-se muito tempo, os dedos delicados
e ágeis das mulheres segurando e largando dezenas de tecidos, cada um mais
atraente que o outro.


      - Muito bem - Jamaile disse afinal -, vou
levar estes cinco padrões diferentes para ela.


      - Mas... - Dulce protestou.


      - Não queira me contrariar, filha de
Hassan - Jamaile cortou-a.


      - Jamaile sabe o que quer - brincou Zara
-, e quando cisma com alguma coisa é inútil tentar convencê-la do contrário.


      As
costureiras do palácio vão lhe fazer túnicas maravilhosas, Dulce. Muitas das
nossas mulheres preferem comprar suas roupas em Paris ou em Nova York. Eu,
pessoalmente, prefiro mandar fazê-las ao nosso modo... Não há nada mais
agradável que um cáftã.


      - É uma roupa muito exótica - Dulce
admitiu, alisando uma seda turquesa com contas de cristal. - Mas não quero nem
pensar em abandonar meus jeans.


      - Meu Deus! - Jamaile exclamou sem
prestar atenção às palavras dela. - Ainda precisamos comprar perfumes e sapatos
para você.


      - Muito bem! - Zara brincou, sorrindo. -
Agora que comprou meu estoque já está pensando em me deixar sozinha de novo...


      - Os sapatos -  Jamaile  continuou, como se Zara não a tivesse
interrompido - serão feitos sob medida no palácio. Mas, quanto ao , perfume, é
preciso que procuremos com calma um bom especialista no assunto. Afinal, a
perfumaria é uma arte e nós, orientais, acreditamos no valor dos perfumes.
Quando apropriados, podem ter grande influência sobre os sentidos... muito mais
do que você possa imaginar... No nosso país, acredita-se que uma mulher se
desnuda por completo e mostra sua verdadeira personalidade pelo perfume que
usa. Por isso, mesmo oculta por véus numa noite escura como breu, ela pode ser
identificada num instante! Temos toda razão em nos orgulharmos de nossas
essências, já que fazem parte de nós, mulheres!


      Quando já estava de volta ao palácio, Dulce
sentiu curiosidade em conhecer o pátio reservado às mulheres. Depois de passar
uma maquilagem e de dispensar a companhia de Zanaide desceu com rapidez.


      Andou tranqüila à sombra das palmeiras e
examinou as primaveras que cobriam alguns arcos. Depois se aventurou nos vários
caminhos de pedra, que formavam um desenho semelhante a um labirinto. Sentou-se
junto a uma das piscinas ornamentadas e ficou olhando as carpas que, de vez em
quando, talvez para se aquecerem, subiam perto das folhas flutuantes dos lírios
d`água...


      O pátio era um oásis sereno em meio a uma
casa movimentada.


      Ficava evidente que não tinham poupado
nenhum tostão para construí-lo e havia beleza espalhada por toda parte. As aves
cantavam e desciam para bicar um inseto indefeso, voltando a voar tão depressa
que sumiam no ar num piscar de olhos. Pombas pousavam suavemente para ciscar e
de longe se ouvia o som de um pavão, sem quebrar o silêncio e a paz da tarde.


      Dulce recostou-se no banco e fechou os
olhos. Mas, de repente, imaginou um rosto moreno e sarcástico e, alarmada,
voltou a abrir os olhos endireitando o corpo. Christopher! Não posso mais
pensar nele, disse com firmeza para si mesma, e levantou para andar a esmo.
Dali a pouco, viu-se diante de um muro de pedras muito alto, que tinha uma
porta de madeira pesada. Estimulada pela lembrança de um romance que havia lido
uma vez, O Jardim Secreto, pôs a mão na maçaneta, com intenção de abri-la.


      Atrás `do muro havia um outro pátio, com
carros para o transporte de cavalos e diversos animais, um mais bonito do que
outro.


      Dulce parou no limiar da porta, hesitante,
quando viu que uma figura familiar caminhava na sua direção. Esquecendo os
conselhos de Zanaide, correu para ela, sorrindo de contentamento.


      - Saud! - exclamou.


      Aproximaram-se. Tímido e com o rosto
vermelho, Saud segurou as mãos de Dulce, os olhos brilhando de alegria.


      - O que está fazendo aqui? - Dulce
perguntou.


      Não O via desde o dia em que chegou a
Qu`Har, mas sentiu que o considerava como um velho amigo.


      - 0 xeque quer andar a cavalo e vim pedir
aos cavalariços para porem as selas no garanhão - ele explicou, apontando o
cavalo árabe preto que levavam para dentro do pátio. A pele do animal brilhava
como seda, as orelhas pequenas estremecendo à medida que avançava pelas pedras.
- Ele pertence a uma linhagem criada especialmente para a família real. Ninguém
mais pode montar esses animais... Há muito tempo já eram usados para testar a
masculinidade de um jovem xeque... Hoje não se faz mais esse tipo de teste, mas
o homem que puder controlá-los e montá-los será respeitado.


      Dulce compreendeu bem o que Saud dizia ao
ver que eram necessários dois cavalariços para segurar o garanhão, que batia o
casco contra as pedras e bufava, irritado por estar preso pelas rédeas.


      - Está gostando de ficar aqui? - Saud
perguntou. - Minha irmã me contou que hoje de manhã você saiu para fazer
compras.


      - Sua irmã?


      - Zoe - ele explicou, sorrindo. De
repente, ficou sério e olhou para trás. - Desculpe, senhorita Dulce, mas... não
devia estar aqui, e muito menos conversando com você... Digo isto por sua
causa, não por mim - acrescentou, os olhos meigos fixos em Dulce.


      - Quanto a mim, adoraria poder conhecê-la
melhor, passear à noite por um oásis, eu, você, e a lua nova...


      - Mas, Saud, você está noivo! - Dulce
lembrou, sentindo-se incomodada com a conversa.


      Antes que ele respondesse, ouviu-se uma
voz autoritária.


      - Saud! Onde está meu cavalo de montaria?


      O coração de Dulce bateu acelerado quando
viu alguém se aproximando; alguém que trazia um falcão pousado na mão,
protegido por uma luva grosseira. Era ele, o homem que a amedrontava e
perseguia nos pesadelos, cuja presença fazia com que seu sangue subisse para o
rosto, despertando-lhe o desejo de desaparecer num passe de mágica.


      Saud sentia-se como uma criança culpada
de alguma traquinagem, olhando para Dulce com ar de desculpa.


      Christopher, ao contrário, parecia
perfeitamente calmo e dono da situação. Enquanto passava o falcão para um,
empregado, lançou um olhar frio para Dulce e Saud, como se fossem dois canalhas
surpreendidos no momento exato em que cometiam um crime hediondo, Dulce cerrou
as pálpebras, recusando-se a ouvir uma voz que falava dentro dela, dizendo-lhe
que Christopher preparava dentro de si uma tempestade avassaladora.


      - Saud, mais tarde quero conversar com
você - Christopher disse.


      Ele olhava para Saud sem nenhuma
compaixão, despertando no rapaz um medo intenso. Saud voltou-se para Dulce, sem
saber o que dizer, mostrando-se tímido e abatido.


      - A culpa é minha, não de Saud -
adiantou-se Dulce , com pena dele. Sua voz ecoou fracamente pelo pátio,
chamando a atenção de alguns criados. - Entrei aqui por engano e falávamos
sobre isso...


      - A filha de Hassan vive cometendo
enganos - ironizou Christopher - Você defende meu sobrinho como a leoa faz com
os seus filhotes... Pode me dizer por quê?


      As palavras dele estalaram como um
chicote, mas ela não cedeu.


      - Primeiro porque detesto que as pessoas
discutam... E segundo porque gosto de Saud e sou amiga dele.


      Fez-se um silêncio tenso. O rosto de Saud
iluminou-se de alegria, e Dulce arrependeu-se imediatamente de ter dito aquelas
palavras de uma maneira tão violenta. Sem dúvida, Saud as tinha interpretado
mal, e Christopher? Olhou-o de relance e viu o rosto bonito e impassível.


      Não expressava nada... apenas a estudava,
boca marcada por linhas severas...


      - Volte para o seu lugar, filha de Hassan
- ordenou Christopher.- E lembre que Saud é noivo.


      Deu as costas a Dulce para montar o cavalo
trazido pelo cavalariço e, segurando as rédeas com mãos de ferro, aproximou-se
dela.


      - Outra coisa... Se quiser alguma
aventura, mignonne, escolha um outro homem. Se não mais velho, pelo menos
mais... inteligente.


      Sem olhá-la, afastou-se rapidamente, o
som dos cascos nas pedras ecoando no mesmo ritmo das batidas do coração de Dulce.


      Ela ficou ali parada, com a resposta a
ser dada presa na garganta.


      Afinal reanimou-se, e voltou correndo
para a tranqüilidade do jardim de Jamaile.


     


     


      Descansando no quarto, abatida pelo calor
da tarde, Dulce entregou-se a um silêncio angustiante, os pensamentos
atormentando-a incessantemente.


      Pouco depois, uma criada a procurou para
dizer que Jamaile a chamava para tirar medidas para as roupas novas. A idéia
não a


      entusiasmou muito, mas pelo menos era uma
oportunidade de se distrair e esquecer as sensações desagradáveis provocadas
por Christopher.


      Desceu logo em seguida e encontrou
Jamaile à espera.


      - A costureira vai lhe tirar as medidas
agora,Dulce.


      - Sim, senhora.


      - Vai ver como os cáftãs a deixarão ainda
mais bela e jovial...


      Dulce não soube o que responder, mas
esforçou-se para sorrir não deixar transparecer nada.


      Enquanto a moça, humilde e obediente,
passava-lhe a fita métrica em torno da cintura, Dulce ouviu-a comentar qualquer
coisa com Jamaile. . .


      - Naomi está dizendo que você é magra
como uma figueira antes de dar frutos - Jamaile explicou. - Ela vai fazer
também o vestido de noiva de Zoe. Já é uma tradição na família de meu marido as
mulheres usarem seda vermelha e cento e um botões de pérola no cáftã nupcial. A
túnica de Zoe terá o emblema da fertilidade e o futuro marido dará a ela o
cinto de prata que só ele terá o direito de tirar depois da cerimônia de
casamento.


      As mulheres aqui se sujeitam de muitas
maneiras, Dulce pensou.


      Mas, embora se condenasse por isso, não
foi Zoe que imaginou vestida numa túnica vermelha enquanto as mãos morenas e
delgadas de um homem desatavam o cinto de prata. Viu-se a si mesma, os olhos
inquietos fixos no marido alto e arrogante...


      - Você está há muito tempo aqui em casa,
sem fazer nada - disse Jamaile, quebrando-lhe o devaneio. - Fará um passeio
hoje a


      tarde para conhecer o litoral. Além do
motorista, Zanaide irá acompanhá-la.


      Dulce entendeu que a sessão estava
terminada e que poderia se retirar. Agradeceu à costureira e às ajudantes e
voltou para o quarto, onde Zanaide a esperava.


      Entrou e viu sobre a cama a bela túnica
vermelha que Zanaide havia levado. Tinha pensado em usar algo mais informal no
passeio mas antes de dizer qualquer coisa Zanaide foi até o banheiro. Não
querendo contrariá-la, recusando o cáftã, Dulcee tirou a saia e blusa e foi até
o quarto de vestir para pegar roupas íntimas novas.


      Não pretendia tomar um banho completo,
porém, mais uma vez Zanaide, adiantou-se e, quando saiu do quarto de vestir, Dulce
viu-se envolvida pelo agradável aroma de sândalo.


      - Zanaide...


      - Sim, senhorita?


      - Quem disse para você, que desejo tomar
banho? - protestou.


      - Oh, senhorita, perdoe-me.


      Arrependida com a indelicadeza, e vendo a
tristeza estampada no rosto de Zanaide,não teve outra saída senão entrar na
banheira com água perfumada.


      Dulce teria morrido de rir se dias antes,
alguém lhe dissesse que mergulharia numa banheira de mármore tão grande quanto
uma piscina, e que contaria com uma criada para lhe passar um suave óleo
perfumado no corpo. Mas agora achava aquilo tão natural e delicioso, que
parecia absurdo resistir. Se protestava, era na verdade, porque dentro dela os
hábitos europeus ainda predominavam.


      Pouco depois, saiu da banheira,
enxugou-se e vestiu-se rapidamente com as roupas leves de seda, ideais para um
dia quente como aquele. O amarelo dourado do tecido enfatizava os cabelos
loiros e o verde cristalino dos seus olhos. Um pouco de sombra esverdeada e um
simples toque de batom encarnado transformaram-na repentinamente numa mulher
belíssima.


      Olhando-se no espelho, parecia uma
estranha. Seus lábios não eram assim tão carnudos e sensualmente trêmulos! E
nos olhos nunca tinha notado tanto mistério e insinuação!


      Desceram em seguida. O carro que as
esperava dessa vez não era o Rolls-Royce, mas um discreto BMW. Zanaide entrou
com calma na parte da frente e sentou ao lado do motorista. Um criado abriu a
porta traseira para Dulce. Ela acomodou-se, o ajudante fechou a porta e o carro
arrancou com suavidade. Só então, como que despertando de um sonho profundo e
fantástico, Dulce percebeu que não estava sozinha.


      - Ficou pálida de repente, filha de
Hassan - brincou a voz masculina.


      - Christopher! - ela exclamou, as sílabas
do nome se, atropelando nos lábios entreabertos de surpresa. - Que está fazendo
por aqui?


      - Cumprindo uma tarefa. Jamaile pediu-me
para acompanhá-la, e aqui estou.


      Apesar da explicação lógica e clara, Dulce
ficou intrigada. E profundamente ansiosa. Afinal, Christopher não era o tipo de
homem que aceitava ordens de uma mulher, mesmo que esta fosse esposa do chefe
de Qu`Har.


      - Talvez preferisse que Saud estivesse no
meu lugar... Parece que você exerce má influência sobre rapazes
impressionáveis, filha de Hassan...


      - Eu e Saud estávamos apenas conversando
- ela replicou.- Não tínhamos segundas intenções.


      - Ousaria dizer que eram dois inocentes?


      - Mas é claro!


      - Não existe inocência entre um homem e
uma mulher. Alega inocência significa desconhecimento absoluto do mundo. Ou
então, uma capacidade incrível de iludir-se.


      Dulce não respondeu. Desviou o rosto e
ficou olhando para fora.


      Viu à distância a água azul esverdeada do
golfo, além de jardins repletos de palmeiras. Mas, enquanto observava o
litoral, sentiu que em vez de se aproximarem dele, estavam se distanciando.
Olhou para a frente e constatou que a estrada que tinha tomado não levava para
as praias.


      Chegando numa bifurcação, o carro não
tomou a direção do golfo.


      Indo para o lado oposto, com certeza
rumava para os subúrbios da cidade, com casas esparsas e grandes extensões de
deserto.


      Preocupada, Dulce olhou para trás e
reacomodou-se com impaciência no banco. Para onde estariam indo?


      - Pode me dizer para onde vamos? -
perguntou a Christopher.


      - Espere e verá - ele respondeu, seco.


      A ansiedade de Dulce se transformou em
apreensão. Que intenção teriam eles, fazendo mistério de um passeio que antes
lhe parecia tão simples? Pensou em pedir ao motorista que parasse o carro, mas
lembrou da presença de Zanaide e acalmou-se um pouco. Christopher estava
pregando uma peça nela, refletiu. Havia feito questão de assustá-la, e,
inocente, ela reagiu como ele esperava!


      Decidiu relaxar e ficar quieta, enquanto
o automóvel continuava adentrando cada vez mais no deserto. Nós dois estamos
lutando em silêncio, Dulce disse a si mesma, e eu não quero perder!


      O carro rodava já por mais de uma hora e
os únicos sinais de civilização eram pequenos grupos de tendas que apareciam às
vezes em tomo dos oásis. Provavelmente estamos andando em círculo, pensou Dulce,
procurando não se deixar amedrontar pela vastidão do deserto que os envolvia.
Só conseguia divisar as dunas imensas. O sol começava a descer, feito uma
gigantesca bola de fogo, tingindo de vermelho a areia.


      Finalmente, não suportando mais aquela
demora, ela suspirou e disse:


      - Muito bem, Christopher. Acho que você
já se divertiu bastante comigo. Confesso que estou impressionada! Mas a esta
altura devemos ter chegado perto do palácio, não? Jamaile estará nos esperando?


      - Mais ou menos... Estamos perto do
palácio, filha de Hassan, mas não do palácio do meu tio.


      Mal ele acabou de falar, Dulce avistou
uma construção no horizonte, uma grande muralha com enormes portas de madeira,
como tinha visto em filmes de aventura. Quando se aproximaram, a porta se
escancarou, devorando-os como uma boca gigantesca. Dulce não compreendia o
silêncio de Zanaide, que parecia conivente com aquilo tudo...


      O carro avançou sobre as pedras de um
pátio, passando por ricas vegetações de flores e palmeiras, e parou na frente
da escadaria da entrada, guardada por dois leões esculpidos em mármore.


      Dulce e levou a mão à maçaneta.


      - Espere que eu saia primeiro – Christopher
 adiantou-se. - O que a minha gente vai
pensar de mim? Que não respeito minha esposa?


      - Sua esposa!


      Não podia acreditar no que tinha acabado
de ouvir. Estava confusa, com um misto de calor e perplexidade. A cabeça
girava, girava, e não encontrava uma maneira de responder a Christopher. Afinal
saiu do carro pata se expor aos últimos raios vermelhos do sol que morria
lentamente.


      Subiram os degraus de mármore e pararam
sob a sombra de uma marquise com desenhos em mosaico.


      - Mas não sou sua esposa, Christopher - Dulce
conseguiu protestar.


      Ele parou, voltou-se e a examinou com o
mesmo ar de arrogância que nunca abandonava. Dulce estremeceu.


      - Ainda não, filha de Hassan - Christopher
concordou. - Mas a partir de amanhã será.




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Autor(a): lovedyc

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CAPITULO IX   - Não se aproxime demais dos cavalos - Zanaide avisou. - São muito perigosos. Sem dar-lhe atenção, Dulce continuou caminhando, passando de estábulo para estábulo, encantada com a beleza das éguas árabes de puro-sangue. Cavalariços ocupavam-se com suas tarefas e de vez em quando observava ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 842



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  • stellabarcelos Postado em 06/09/2015 - 17:17:04

    Que fanfic fofa!

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:11

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:10

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:10

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:08

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:06

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:05

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • natyvondy Postado em 14/03/2010 - 17:24:49

    *-* linda

  • natyvondy Postado em 14/03/2010 - 17:24:42

    *-* linda

  • natyvondy Postado em 14/03/2010 - 17:23:59

    *-* linda


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


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