Fanfics Brasil - Noites do Oriente {DyC} (Terminada)

Fanfic: Noites do Oriente {DyC} (Terminada)


Capítulo: 12? Capítulo

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CAPITULO IX


 


- Não se aproxime demais dos
cavalos - Zanaide avisou. - São muito perigosos.


Sem dar-lhe atenção, Dulce
continuou caminhando, passando de estábulo para estábulo, encantada com a
beleza das éguas árabes de puro-sangue. Cavalariços ocupavam-se com suas
tarefas e de vez em quando observavam-na com discrição. Só depois de insistir
muito com o secretário de Christopher foi que ela havia conseguido permissão para
visitar os estábulos. Mesmo assim duvidava que a autorização tivesse partido do
próprio Christopher.


Uma dor aguda parecia
penetrar-lhe o coração: Não tinha a menor idéia de onde ele estaria. Havia
desaparecido desde a manhã seguinte à noite em que se encontraram no quarto da
torre. E pensar que sua ausência agora lhe fazia tanta falta!


O secretário tinha sido gentil,
embora firme, afastando qualquer possibilidade de emprestar-lhe um carro. Sem
dúvida, seguia instruções de Christopher, que não desejava que ela saísse do
castelo. Mas daria um jeito de ir embora dali antes da volta dele. Não
conseguiria tomar a vê-lo sem se deixar trair pelo amor que sentia.


O castelo ficava muito diferente
sem Christopher, e ansiava por tê-lo por perto, ouvir sua voz austera e ver
aquele sorriso irônico. Nunca pôde imaginar que sentiria aquilo por alguém e
com tal intensidade. Ainda mais que Christopher não a desejava realmente. Tudo
o que queria era o poder alcançado através do casamento, e mesmo assim tendo em
vista os benefícios de seu povo. Mas com o tempo ele não se, aborreceria com um
casamento completamente irreal? Com uma esposa escolhida só por ser a enteada
do tio dele? O que Philippe tinha contado mesmo, a respeito de Christopher? Que
havia muitas mulheres dispostas a se atirarem aos pés dele? Agora ela sabia que
isso era verdade.


Um empregado se aproximou do
secretário e murmurou qualquer coisa. O secretário dirigiu-se a Dulce e
desculpou-se, dizendo que precisava sair para resolver um assunto importante.


Dulce ficou sozinha e,
observando os cavalariços prepararem a comida das éguas, teve uma idéia.


- Zanaide! - chamou.


A criada, que estava um pouco
longe, foi até ela.


- Sim, senhora?


- Mande selarem uma égua para
mim.


- Aonde vai, senhora?


- Quero passear até o oásis.


- Mas ele fica a alguns
quilômetros daqui...


Sei disso, Zanaide.


- Pois não, senhora.


Embora preocupada, ela não ousou
discordar de Dulce e, dirigindo-se para um jovem cavalariço, falou rapidamente
em árabe. Momentos depois, o rapaz trouxe uma égua saltitante e elegante para Dulce,
cujos olhos brilharam, esperançosos.


- Diga-lhe que esta serve - ela
ficou com Zanaide. - E avise que volto daqui a dez minutos.


Em menos de dez minutos, Dulce
vestiu suas calças de brim, surradas, e uma blusa de mangas compridas de tecido
leve. Não tinha idéia de quanto precisaria cavalgar, mas com certeza iria além
do oásis. Não sabia a distância entre o castelo e a cidade, mas não devia ser
longa. Afinal, Christopher não viveria num lugar tão afastado, a ponto de
interferir nos negócios.


Lembrou que tinham saído da
cidade pelo lado leste, e portanto, deveria tomar o lado oeste... Com mil
pensamentos na cabecinha atarantada, Dulce voltou depressa para o pátio, onde o
cavalariço a esperava segurando a égua.


- Vou com a senhora - ofereceu o
rapaz.


- Não - respondeu, balançando a
cabeça. - Quero ir sozinha. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Dulce
montou. Sabia cavalgar bem, graças às aulas de equitação que teve quando era
ainda uma adolescente apaixonada por pôneis. Mas, por melhores que tivessem
sido essas aulas, não estava preparada para uma égua como aquela. Agora
entendia o que os árabes queriam dizer ao afirmar que seus cavalos eram velozes
como o vento.


A égua não resistia aos comandos
de Dulce, para levá-la na direção do oásis, o que a tranqüilizava e estimulava
a pôr seu plano
em prática. Por um momento imaginou a reação de
Christopher ao dar pela ausência dela. Quando isso acontecesse, já estaria
segura na cidade e lá exigiria que Jamaile permitisse sua volta para Londres.


Apressou a égua ignorando uma
voz dentro dela que a acusava de traiçoeira; de tola, e dizia que, com o tempo,
Christopher poderia vir a amá-la. Por que ele a amaria?, perguntou-se. Apesar
do sangue francês, ele era um oriental educado para possuir e dominar as
mulheres... Insistir naquele casamento só a levaria à destruição! O oásis
estava deserto. Ela esperava encontrar pelo menos alguns membros de tribos
nômades descansando à sombra das palmeiras.


Passou o olhar pela estrada para
se certificar de que tinha tomado o caminho correto. De repente a égua
estancou, recusando-se a continuar. Dulce puxou as rédeas inutilmente.


- Vamos, ande! O que você tem?


Insistiu alguns minutos, não
querendo bater no animal que permanecia parado, as orelhas abanando a cada
comando.


Finalmente conseguiu fazer com
que a égua prosseguisse. Tinha perdido muito tempo ali no oásis e quando
começou a seguir pela trilha do areal, o sol pareceu descer com uma rapidez
impressionante.


Em breve seria noite e ela
ficaria sozinha na vastidão daquele deserto, sem esperança de encontrar outra
coisa senão o vazio, a escuridão.


Um sentimento de pânico fê-la
engolir em seco, ao mesmo tempo que a égua dava a impressão de andar cada vez
mais lentamente, como se estivesse cansada.


As sombras da noite baixaram com
rapidez, como se um manto negro e pontilhado de luzes prateadas tivesse sido
atirado sobre o universo por mãos gigantescas e implacáveis.


Dulce esfregou as mãos nos
braços para se esquentar, pois soprava uma brisa fria. Poderia ter se precavido
contra o frio, pensou, mas na verdade àquela hora imaginava ter alcançado a
cidade ou algum vilarejo próximo do castelo. Olhou o relógio e constatou que já
cavalgava há quatro horas! Por isso estava exausta daquele jeito!


A noite escondeu definitivamente
toda a paisagem. O alívio por estar fugindo deu lugar a um medo que lhe tomava
o corpo todo tão desconfortável quanto a friagem do deserto. Até a égua parecia
insegura e amedrontada. As esperanças de Dulce desaparecera mais depressa que o
dia. Seu plano de fuga tinha sido mal executado e precipitado; era apenas o
resultado de um impulso momentâneo. Agora via-se, sozinha no deserto, sem
condição de se guiar naquela imensidão.


Lembrou das histórias de
viajantes que se perdiam naquelas regiões inóspitas, os dedos segurando com
firmeza as rédeas enquanto o medo aumentava a cada instante. Um vento gelado e
forte soprou fazendo-a estremecer. Ah, como tinha sido estúpida em escapar sem
considerar, todas as dificuldades, pensou, as lágrimas turvando a visão.
Poderia morrer ali na vastidão do deserto onde apenas a águia conseguia
sobreviver.


A égua tropeçou e cambaleou. Dulce
quase caiu da sela, os arreios querendo escapar-lhe das mãos que sustentavam.
No fundo do coração, sabia quem era a pessoa de quem necessitava naquele
momento. O homem que lhe devolveria a confiança e afastaria o medo com sua
simples presença. Christopher!, suspirou, estremecendo inteira. Que ironia ela
chamar por ele! O mesmo homem que a protegeria do frio, que a salvaria da
solidão daquele lugar desconhecido, tinha motivado sua fuga... seu marido! As
orelhas da égua moveram-se num sinal de alerta e o animal estancou. Dulce
firmou a vista e olhou para dentro da escuridão, mas não via nada. Ao imaginar
que poderia estar cercada de cobras e escorpiões, encolheu o corpo e sentiu um
frio subir pela espinha.


Quando decidiu que precisaria
descer e conduzir a égua pelas rédeas, o animal voltou a andar, hesitando a
princípio, depois com segurança ao ouvir a voz de Dulce. Pouco depois, ela resolveu
não mais comandar o animal, deixando seguir seus instintos quanto à direção a
tomar.


Não fazia idéia de onde poderiam
estar ou para onde iam. No céu, bem no alto, erguia-se a lua com sua luz
prateada e fria, que iluminava o areal, transformando as dunas num imenso mar
branco e infinito.


Cansada, quase esgotada, Dulce
fazia o possível para manter o equilíbrio sobre a sela. O relógio tinha parado,
mas sem dúvida estava viajando há bem mais de seis horas. Pela primeira vez,
tentou relaxar um pouco e pensou nas pessoas do castelo, que àquela altura
estariam preocupadas com seu desaparecimento. Interrogariam o cavalariço, mas
ele não teria nenhuma informação a dar-lhes a não ser que ela havia saído para
um passeio até o oásis.


Dulce lembrou do grupo de resgate
da criança que tinha se perdido, mas agora Christopher nem sequer encontrava-se
no castelo para organizar uma expedição de busca. O secretário não o avisaria?


Estremeceu ao imaginar a reação
de Christopher. Ficaria preocupado?


Mas que razões teria para isso?
O casamento deles baseava-se apenas numa necessidade já satisfeita. Caso
morresse, dificilmente o padrasto culparia o marido dela. Afinal de contas, ele
estava distante e não pôde evitar a fuga.


Os músculos adormecidos e o nervosismo,
combinados com o movimento monótono da égua, faziam Dulce fechar os olhos e
adormecer, para em seguida despertar sobressaltada. Aos poucos, porém, já não
conseguia resistir ao sono que a arrastava para o torpor. Com os olhos
fechados, mas ainda consciente, parecia penetrar num mundo de sonho onde tudo
ficava desfocado e vago, o que dava um certo conforto ao corpo e ao espírito.


Quando alcançou o oásis, suas
pálpebras estavam fechadas, o corpo delgado debruçado sobre o pescoço do
animal. A égua continuava avançando, bufando levemente e arqueando o pescoço,
como se quisesse chamar-lhe a atenção para o ambiente. Dulce permanecia
adormecida.


Mas de alguma maneira o
inconsciente dela foi alertado para uma sombra em meio à escuridão. Abriu os
olhos de repente, os sentidos de prontidão. As rédeas haviam escorregado de
suas mãos e arrastavam-se na areia. O olhar de Dulce percorreu o oásis para
descobrir o que a tinha despertado. Não viu nada, mas sentia que não estava
sozinha...


A égua parecia querer empinar,
cavalgando com nervosismo, esperando ordens de Daniel1e. Mas ela, dominada pelo
medo, não pôde controlá-la, desmontando imediatamente ao reconhecer o lugar.
Estava num oásis próximo do castelo! Sentia-se aliviada por ter chegado até
ali, mas ao mesmo tempo alarmada com a presença de um vulto que parecia avançar
para ela, saindo da escuridão. Sentiu vontade de gritar, desesperada pelo ato
impensado que não havia dado certo e por causa do cansaço da égua! O vulto
usava trajes de montaria, o manto` negro e pesado agitando-se à medida que
soprava uma brisa gelada. A égua correu prontamente na direção dele.


Com os nervos à flor da pele, Dulce
finalmente reconheceu as feições daquele homem. Entendia agora por que a égua
tinha se aproximado dele tão depressa!


- Christopher... pensei que não
estivesse no castelo. - Ele continuou em silêncio, acariciando o pescoço da
égua. - Como foi que...


Interrompeu-se, imaginando o
quanto os dois eram tolos, e imaturos.


Christopher devia pensar assim
também, disse para si mesma, observando-lhe as linhas endurecidas da boca, o
olhar frio fixo no seu rosto.


- Como foi que a encontrei? -
completou ele. - Achei que Zara tivesse a cabeça no lugar, porque você não tem,
naturalmente.


Ela voltou para cá por causa da
água... sem o faro esses animais morreriam no deserto.


Dulce ficou atônita, sem saber o
que dizer.


- Quer dizer que a nossa vida
será assim, mignonne? - Christopher continuou. - Toda vez que eu lhe voltar as
costas tentará fugir de mim?


- Não sou propriedade sua, Christopher
- Dulce replicou. - Você me enganou, forçou-me a um casamento que eu não
queria.


Como pode me culpar por tentar
fugir?


- Fugir do quê? Por que tudo
isso? Você tem coragem de negar que no casamento que tanto repudia viveu
momentos de incrível prazer? Um prazer que não conhecia até então?


Ela nada respondeu, mas
deixou-se trair, o rosto ardendo ao reconhecer a verdade que ele acabava de
dizer. Christopher sabia quais eram seus pontos fracos e como manipulá-los! Era
absurdo tentar convencer-se de que o odiava; era mais absurdo ainda lutar
contra o destino que os tinha aproximado e unido. Pela primeira vez desejou ter
aquela postura de submissão própria das moças árabes, aquela capacidade de
sorrir e dizer com doçura: é a vontade de Alá!


- Venha comigo... você está
dormindo em pé - Christopher falou com rispidez, uma das mãos segurando-lhe o
braço e a outra, as rédeas do animal. Dulce esperava que ele a levasse até um
jipe, ou coisa assim, mas para sua surpresa Christopher a conduziu até umas
palmeiras, onde o cavalo dele estava apeado.


Zara relinchou de contentamento
e Christopher sorriu pela primeira vez.


- Está vendo, ma petite? Zara
não é como você. Ficou felicíssima com a presença de seu companheiro!


- Pare com isso, Christopher!


- Não seja ingrata! Não vai me
agradecer por resgatá-la?


- Eu não estava perdida. Você é
que pensou isso. Deve ter se divertido muito imaginando meus medos, sabendo o
tempo todo que Zara iria me trazer de volta.


- E por acaso você se preocupou
com as pessoas que deixou por aqui? Zanaide ficou fora de si, o cavalariço que
selou a égua não sabia o que fazer, andando de um lado para o outro
desnorteado... Compreendo que queria me humilhar, e que não poupou esforços
para conseguir seu intento. Mas Zanaide e o rapaz...


O olhar de Christopher feriu-a
mais que qualquer palavra de desdém.


Por um momento Dulce quis dizer
a ele o quanto estava errado.


Ela nunca tinha pensado em
humilhá-lo...


- Você está cansada - repetiu
ele com firmeza. - Zanaide é uma criatura muito bondosa e pediu-me para não
castigá-la pelo que fez...


- Castigar-me?


- Sim... mas não vejo
necessidade...


- Não?


- Você vê?


Dulce balançou a cabeça
negativamente, sem responder.


Christopher tinha toda a razão,
refletiu. O fato de perder-se no deserto tinha sido o maior castigo que poderia
receber!


- Esta noite você não volta para
o castelo... - Ele decidiu.


- Mas precisamos voltar.


- É melhor ficarmos aqui no
oásis, por dois motivos: você e Zara descansarão para recobrarem as forças, e
meus criados terão todas as razões para acharem que a puni de acordo com os
direitos dos homens árabes. - Dulce arregalou os olhos. - Naturalmente você não
vai concordar comigo, mas as mulheres ficam uma seda depois que levam uma boa
surra de seus maridos...


Ela recuou, receando que ele lhe
pusesse a mão.


- Não tenha medo - ele disse,
sorrindo. - Nunca bati numa mulher até hoje. Mas você me provocou tanto, que
bem merecia isso...


- Existem outras maneiras de
punição entre um homem e uma mulher... - Dulce sussurrou, quase sem forças para
falar. Mas ele a escutou com clareza e segurou-lhe os braços, apertando-os com
amargura. Em vez de sacudi-la com violência, como pareceu querer fazer,
soltou-a e voltou-se para a égua, agarrando firme nas rédeas.


Christopher estendeu um saco de
dormir sobre a areia, debaixo das palmeiras, enquanto ela o observava
distraída.


- Lamento, Dulce - ele murmurou
com frieza -, mas vamos ter de dormir juntos...


Essas palavras cortaram o
devaneio de Dulce, que ainda não, tinha pensado sobre a angústia que seria
passar toda uma noite e estreita intimidade com Christopher.


- Tem certeza que não dá para
voltarmos ao castelo? Faltam apenas alguns poucos quilômetros e, além disso,
gostaria de tomar


um banho... Estou suja de areia
dos pés à cabeça...


- Se é um banho que quer, posso
providenciar um. - Ele apontou o oásis. - Não precisa ter medo, porque estamos
absolutamente


sozinhos.


Mas então ele não percebe que é
por isso mesmo que estou tom medo? Dulce se perguntou, passando a língua pelos
lábios ressequidos, sem notar o olhar provocativo de Christopher.


- Não, não... deixe pra lá...


Christopher riu e insistiu.


- Por que está com medo?


- Medo? Eu?


- Se quer saber, a mera visão de
seu corpo nu, envolto na escuridão, não me levará a fazer nenhuma loucura...


- Isso nem me passou pela
cabeça...


- Tem muito que aprender sobre
os homens, mignonne. Nada acaba com o desejo de um homem tão depressa quanto a
indiferença de uma mulher...


Envergonhada, Dulce desviou o
olhar. Não havia necessidade de Christopher sugerir que tinham feito amor
simplesmente para confirmar que aquele casamento não podia ser ignorado... Ela
sabia, e muito bem, assim como sentia que bastava olhá-lo para seu coração
disparar, para o corpo estremecer de desejo, a ponto de mal poder respirar...


- Vá ver como a água do oásis é
quente - ele continuou, com calma. - Vim para cá pensando em nadar, por isso
trouxe uma toalha... que lhe ofereço...


Nadar! Dulce arriscou um olhar
para o corpo atlético do marido, que a encarava com insistência. Então ele
tinha o hábito de ir sempre ao oásis nadar?


- Dulce, pare com esse medo! -
ele brincou. Ela baixou o olhar, corando. - Fique tranqüila porque nem vou
chegar perto...-


Confesso. que, em circunstâncias
diferentes, não há nada mais excitante que o toque da água na pele nua, ou
fazer amor debaixo de um céu estrelado em meio ao deserto e no silêncio da
noite. É como se encontrássemos o Paraíso aqui na Terra.


Atônita com as palavras dele, Dulce
desviou o olhar para o oásis, passando a mão na pele para tirar os pequeninos
grãos de areia.


Disfarçadamente, deu um
sorrizinho baixando o rosto.


De repente sentiu o desejo de
entrar na água, como que para comprovar a afirmação de Christopher... Ele
afastou-se dela para acender uma fogueira com folhagens secas e gravetos, que
provavelmente tinha trazido consigo.


- Sabe, Dulce, pareceu-me mais
sensato esperar por você e Zara em vez de ir ao seu encalço - Christopher falou
de repente.- O deserto é muito vasto e eu tinha certeza de que, cedo ou tarde,
nossa boa égua a traria até aqui.


Christopher lançou um olhar para
o fogo que começava a se avivar e estendeu os braços.


- Estamos num lugar um tanto
primitivo, é verdade, mas apesar disso esse nosso cantinho me parece
confortável... Os homens buscam um pouco de conforto até mesmo no deserto, e o
fogo é o que há de melhor para se aquecerem. - Olhou-a bem nos olhos, suspirou
e continuou: - Depois que se banhar, tomaremos café e comeremos alguma coisa.


- Sabe, quando eu era menino
passei muitas noites aqui e em outras partes menos agradáveis do deserto... - Christopher
contou. - Meu tio, xeque Hassan, é um sábio, como poucos! Trazia-me para
conviver com os membros de algumas tribos durante as férias da escola pública
da Inglaterra. Então pude aprender com eles o que nenhum livro, nenhuma escola
conseguiria me ensinar. No começo, via tudo como um menino maravilhado, mas à
medida que fui crescendo, compreendi a liberdade que a vida nômade oferecia,
percebi sua pobreza e seus perigos. Finalmente conheci bem nossa gente, pois
esses homens do deserto também pertencem a Qu`Har, e têm a mesma importância
daqueles que enriqueceram a região com a produção do petróleo e com a
tecnologia moderna... Esses homens, Dulce, não exigem nada da vida, e esperam
conservar apenas o direito de viver. Dinheiro, posição, propriedades... nada
disso tem o peso da liberdade adquirida por eles...


Dulce ouviu-o com atenção,
surpresa por vê-lo falar tão longa e descontraidamente. Será que Christopher
não invejava a vida daqueles homens do deserto, perguntou-se, já que não tinham
responsabilidade de espécie alguma, a não ser pelas suas próprias vidas?


Conversando com Zanaide, já
havia aprendido muitas coisas que não sabia. Sem Christopher, sua energia e
sabedoria, o país se dividiria e ficaria à mercê da inveja, da cobiça, das
rivalidades destrutivas. Agora compreendia a extensão e importância para Christopher
daquele casamento realizado às pressas, para garantir sua permanência naquele
lugar. Ela fora egoísta ao desprezar os nobres intentos do marido!


Talvez devesse dizer a ele tudo
o que pensava, como encarava, aquela situação, naquela cultura que pouco tinha
a ver com a sua. Só assim, quem sabe, conseguisse partir livre e com o
consentimento dele! Afinal, Christopher não era um homem cruel! Estava certa de
suas boas intenções e de seus sentimentos.


Mas aquele não era o momento
propício para uma conversa desse tipo, ponderou. No dia seguinte talvez criasse
coragem e então deixaria claro o que sentia em meio a toda confusão. Além
disso, estava abatida pelo cansaço, perturbada até a alma com aquela presença
masculina, desejando, no íntimo, ser abraçada, beijada, amada, possuída com
avidez, o que anularia qualquer vontade se ver livre de novo.


 Suspirou e interrompeu o fluxo de pensamentos
que começava a se misturar com sentimentos que temia. Foi caminhando devagar em
direção ao oásis e parou. Voltou-se e viu que Christopher continuava ocupado
com o fogo, aparentemente ignorando sua presença.


Finalmente decidiu tirar as
roupas, sacudindo a areia. Sem esperar mais nenhum minuto, entrou na água.


Como Christopher tinha dito, a
água estava morna e parecia acariciar-lhe a pele delicada. Relaxou o corpo e,
boiando, ficou a contemplar as estrelas trêmulas contra o negro infinito do
céu.


No dia seguinte seria obrigada a
admitir que Christopher não a amava de verdade, porém naquela noite... naquela
noite não hesitaria em acreditar no amor que poderia ultrapassar o mero desejo
carnal...


Não se importaria com o
fingimento, com a mentira...


Foi então que sentiu um toque
leve nos ombros. Só podia ser Christopher, pensou, que não cumpria com a palavra
de não chegar perto.


Mas quando se voltou constatou
que continuava sozinha e, no entanto, ainda sentia o mesmo toque, agora nas
pernas e coxas.


Arrepiou-se de medo e gritou,
cortando o silêncio da noite.


Christopher correu para
socorrê-la e viu-a em pânico.


- O que é, Dulce?


- Alguma coisa... está se
colando ao meu corpo, Christopher!


- O quê?


- Não sei, parece que está em
toda parte...


Christopher entrou na água e
segurou-lhe os braços trêmulos.


- Calminha...


- Estou com medo!


- Estique o corpo e bóie outra
vez!


Ela obedeceu, enquanto ele
deslizava as mãos pelo corpo dela, por baixo da água.


- Christopher! Está aí! Estou sentindo!


- Não se preocupe - disse,
tranqüilo, erguendo as mãos.- Vê? é só um pedaço de erva daninha...


- Está brincando!


Deve ter se enroscado nos seus
pés, quando você entrou na água.


- Não sou mesmo uma boba? - Ele
sorriu, compreensivo. - Desculpe, sim?


Dulce tentou se desvencilhar das
mãos de Christopher, mas, para seu espanto, ele não a soltava.


- Christopher...


Ele a abraçou e Dulce, quando
percebeu, estava sobre ele.


- Sim? Eu a desculpo, não se
preocupe...


- Deixe-me tomar banho...


- Sabe o que estou pensando
neste exato instante?


- Não...


- Que de fato nosso casamento é
a vontade de Alá, não apenas resultado da minha vontade pessoal...


- Por que está dizendo isso?
Como sabe?


- Porque a todo momento ele não
perde a oportunidade de me mostrar que seu corpo é de uma perfeição
estonteante. Como agora... mergulhado nesta água iluminada pelo luar, tremendo
entre minhas mãos. Não sente o mesmo que estou sentindo?


Ela sentia, e por isso tremia
daquele jeito, o corpo solicitando desesperadamente ser tomado e envolvido pelo
dele. Ah, como queria ser possuída!


Sem perda de tempo, os braços
dele se fecharam em torno dela.


Os lábios de Dulce se abriram
para corresponder ao beijo, vagarosa e intensamente, como se ambos penetrassem
num universo que há muito queria explorar. O tempo parecia ter parado. Dulce
não tinha noção de nada, a não ser de Christopher. Como um choque rápido,
sentiu a areia macia sob os pés, mas Christopher ainda a suspendia nos braços e
começava a levá-la para junto da fogueira, que agora ardia como seus corpos.


Ele a deitou com cuidado as
gotas de água escorrendo rápidas pelo corpo molhado e avermelhado pela luz do
fogo. Sem se conter, Dulce olhou bem as linhas esculturais do corpo dele, com a
respiração ofegante, num misto de medo e de desejo. Ele parecia uma escultura
grega. Ombros largos, tronco musculoso, ainda mais sensual porque estava
molhado, com gotas d`água descendo velozes como setas e riscando desenhos
variados na pele bronzeada. As coxas vigorosas tocavam-na enquanto Christopher
se debruçava sobre ela, decidido a não abandoná-la.


Dulce o acariciou com mãos
tensas e nervosas, fazendo com que ele também a tocasse e juntassem os corpos
frementes de desejo. Os lábios dele exploravam-lhe com doçura as linhas do
rosto. Os olhos dela suplicavam-lhe que a beijasse, que apagasse o menor sinal
de razão, de medo; imploravam-lhe que não a deixasse escapar; que lhe desse uns
breves momentos de felicidade amarga e doce ao mesmo tempo!


Como se o toque dos lábios dele
lhe tirassem todas as forças para resistir, Daniel1e respondeu com abandono
apaixonado e reconheceu em Christopher os ecos da mesma urgência. Ele sussurrou
algumas palavras em francês como num gemido, enquanto aquecida pelo corpo
potente, ela sentiu-se derreter sob a pressão dos músculos inquietos.


Ofegantes, seus corpos falavam
uma linguagem primitiva, só compreensível pelos sentidos.


Christopher acariciou-lhe os
seios, beijou-os, sondando-os demoradamente, enquanto Dulce agarrando-lhe a
cabeça com as mãos, gemia febril como que exigindo a fusão dos corpos. De vez
em quando chegavam-lhe as palavras distantes de Christopher, palavras que se
misturavam a grunhidos e estremecimentos. Ela não estava apta para entender
nada; ansiosa, deslizava as mãos pelos ombros tensos, os sentidos incendiados
pelas carícias intermináveis e crescentes que ele lhe fazia nos quadris, as
coxas entrelaçadas como se nada pudesse detê-los ou separá-los!


Dulce exultava de contentamento
ao descobrir que até mesmo um homem como Christopher podia se render às suas
carícias. E seu próprio corpo também parecia gritar, desmanchar-se a cada beijo
dele.


Então suas pernas se abriram
para recebê-lo, numa urgência tão grande que só os excitava mais e mais.


Num gemido, abraçaram-se com
força, as peles úmidas de suor, os lábios unidos num beijo devastador. A partir
de então Dulce perdeu toda a noção de equilíbrio, toda a noção de limites!
Ambos explodiram juntos num prazer incontrolável e selvagem, cedendo a uma
força natural que os fazia esquecer do resto do mundo!


Como um mar que se acalma após
uma tempestade, permaneceram abraçados, quietos e calados por alguns minutos,
apenas sentindo-se plenos no paraíso terrestre.


- Quanta paixão escondida
debaixo daquela capa de indiferença - Christopher murmurou, a boca entre os
cabelos molhados dela, os dedos acariciando-lhe os lábios.


Ela entreabriu a boca e fez
menção de dizer alguma coisa.


- Não, não... não diga que não
sentiu prazer algum, não diga que me odeia - continuou ele. - Não minta, Dulce...
Seja sincera e admita a alegria que demos aos nossos corpos, o prazer que
nossos corpos nos deram. Confesso que nunca vi tanta sensualidade em nenhuma
outra mulher...


Deslizou a mão pelas pernas
delgadas e relaxadas, até descansar sobre a coxa dela. Dulce compreendeu, sem
que Christopher precisasse dizer, que o desejo dele ainda não tinha sido
aplacado. Algo dentro dela concordou com essa descoberta e os corpos se
aproximaram novamente.


Sensualidade, Dulce repetiu para
si mesma. Então ele achava que ela dava importância tão somente ao prazer? Ele
não percebia os seus verdadeiros sentimentos? Como era possível pensar que ela
havia agido movida apenas pela paixão?


Christopher puxou-a para si,
murmurando palavras carinhosas nos ouvidos dela e procurando-lhe os lábios.
Mais uma vez o corpo de Dulce estava trêmulo, a pele eriçada, sensualmente
iluminada pela luz do fogo.


- Olhe só o que está fazendo
comigo, mígnonne... - Abraçou-a tão fortemente que Dulce sentiu o tremor do
corpo dele, o coração batendo acelerado, os músculos tensos. - Por esta noite
vamos esquecer as razões que nos levaram ao casamento... Tentemos viver estes
momentos, atentos apenas à vontade de nossos corpos...


Dulce sentiu-o vibrar mais uma
vez, sentiu a fraqueza que a obrigava a se entregar, sentiu o amor que parecia
transbordar do próprio coração. Como um suspiro, abandonou toda cautela, toda
mágoa.


Deu-se inteira aos apelos que
nunca mais podiam ser negados e disse para si mesma que, fosse qual fosse o
futuro, ao menos teria vivido aqueles momentos em toda a sua plenitude.




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Autor(a): lovedyc

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qoeridas leitoras jah arrumei o capitulo 12     CAPITULO X   Dulce acordou nos braços de Christopher. Antes de fazer qualquer movimento, ele abriu os olhos e ela sentiu por um instante, que seu amor não era ignorado. - Bom dia - Christopher disse, beijando-a com carinho no rosto. - Bom dia - respondeu, com ternura. - Nosso casamento co ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 842



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  • stellabarcelos Postado em 06/09/2015 - 17:17:04

    Que fanfic fofa!

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:11

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:10

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:10

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:08

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:06

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:05

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • natyvondy Postado em 14/03/2010 - 17:24:49

    *-* linda

  • natyvondy Postado em 14/03/2010 - 17:24:42

    *-* linda

  • natyvondy Postado em 14/03/2010 - 17:23:59

    *-* linda


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