Fanfics Brasil - Noites do Oriente {DyC} (Terminada)

Fanfic: Noites do Oriente {DyC} (Terminada)


Capítulo: 7? Capítulo

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     CAPÍTULO III


     


      Às vezes a aceitação de um pequeno convite acaba exigindo esforço
imensos, Dulce  constatou, enquanto
olhava pela janela do avião jato - um dos onze da companhia Qu`Har Air. Mas
aquele e especial, pois pertencia à família de Hassan.


      Um jovem gentil e prestativo, Saud, tinha sido deslocado do trabalho
normal nos escritórios da companhia para acompanhar Dulce  naquela viagem. E ela estava encantada com
isso.


      O barulho dos motores potentes do avião diminuiu, sugerindo q estavam
chegando ao destino.


      Perdendo o controle, Dulce  alisou
a saia de seda com dedos trêmulos. O tecido era verde-claro e discreto, e
realçava-lhe a cor dos cabelos e o bronzeado da pele. Examinou as mãos e os
braços surpreendeu-se por estar tão queimada, o que era raro para uma inglesa
típica como ela. Na verdade, tinha apenas tomado um pau do sol ameno da
Inglaterra e, segundo Hassan, deveria estar prepara para enfrentar o calorão de
todo o mês de agosto em Qu`Har, tem em que permaneceria por lá.


      Sentiu curiosidade de saber o que os familiares de Hassan iria achar
dela. Embora tivesse prometido a si mesma que não se preocuparia com esse tipo
de coisa, agora desejava que tudo corresse bem principalmente por causa do
padrasto. Por sorte, Christopher - aconselhado por Hassan, para evitar que se
encontrassem - estava em Paris numa viagem de negócios. Sem dúvida seria
embaraçoso conhecer, homem que não havia aceitado para ser seu marido.


      O jato aterrissava devagar. Pela janelinha, ela pôde ver um céu muito
azul e limpo. Voltou casualmente a cabeça para trás e viu que Saud a fitava.
Surpreendido, o rapaz desviou o olhar com timidez, evitando encará-la.
Trajava-se com bom gosto, tinha cabelos pretos e lisos e era filho de um dos
primos de Hassan e funcionário da companhia. Nos países árabes, essas trocas
familiares eram uma virtude não um hábito condenável, refletiu Dulce ,
lamentando não ter linda sobre a vida e os costumes da gente com quem iria
conviver durante um curto período de tempo. E se, desavisadamente,
transgredisse alguma lei? Na verdade, não tinha por que se preocupar...
Jamaile, a primeira mulher do irmão mais velho de Hassan, com certeza lhe
explicaria tudo o que precisasse saber.


      Em pouco tempo o avião parou no aeroporto, castigado pelo sol quente.
Agradecida pela presença do tímido acompanhante, ela desembarcou naquela terra
estranha.


      - Gostou da viagem, senhorita? - perguntou-lhe o piloto, com polidez.


      - Sim, obrigada.


      Embora estivesse acostumada com o respeito que as pessoas em geral
tinham por ela, Dulce  nunca soube
avaliar o verdadeiro sentido da palavra deferência até se tornar membro da
família Ahmed. E pela primeira vez, naquele momento, percebia o que significava
de fato pertencer àquela família. .. Isso a encorajava a enfrentar aquele solo
desconhecido.


      Com calma caminhou em direção ao carro que a esperava. Nenhuma palavra
seria suficiente para descrever o Mercedes preto e brilhante estacionado
pomposamente à saída do aeroporto, denunciando a posição de seus anfitriões.


      Durante grande parte do percurso até o palacete, Dulce  permaneceu calada, olhando encantada os
edifícios que se erguiam dos dois lados da avenida principal. À medida que se
afastavam do aeroporto, divisar, muito ao longe, uma, grande extensão de
deserto, entremeada aqui e ali por palmeiras. De repente, sem que esperasse,
surgiram estufas construídas sobre terras cultivadas que, conforme Saud lhe
explicou, faziam parte de um novo plano para diminuir a dependência de Qu`Har
dos produtos de importação.


      - A estufa e a usina recém-construídas no litoral são resultado da
vontade de xeque Hassan, para que todo o povo usufrua a riqueza petrolífera do
país.


      Sim, pensou Dulce , olhando os sinais da tecnologia em toda a sua volta.
Aqui está uma coisa de que esse rapaz pode se orgulhar!


      - Vê aquele prédio branco lá adiante? - perguntou Saud.


      - Sim. O que é? .


      - Uma nova escola só para mulheres. Foi uma idéia tão ousada que criou
uma porção de problemas, até os líderes religiosos resolveram concordar com a
implantação.


      Dulce  percebeu um tom de
desagrado na voz de Saud.


      - Tem alguma coisa contra a educação de mulheres? - perguntou, procurando
provocá-lo.


      Ele ficou sem saber o que responder, limitando-se a balançar a` cabeça.
Entretanto, nos .olhos, estampava-se um forte sinal de desaprovação.


      Dulce  preferiu suavizar a
conversa para não embaraçá-lo mais.


      - Bom, aqui é diferente do Ocidente - observou, diplomaticamente. -
Fale-me um pouco sobre sua família. Isto é, se não se


      importa.


      - Oh, não. Claro que não! Bom... o Emir é o chefe da família e do país.
Sou filho do primo em segundo grau dele e por isso não, tenho muita importância
na hierarquia da família. De fato, foi só trabalhando nos escritórios do xeque
Hassan, meu tio, que passei ocupar certa posição na companhia.


      - Mas você é formado, não? - Insistiu, lembrando o que padrasto tinha
falado a respeito do rapaz. - Por que não procuro trabalho em outro lugar?


      - Não quis sair daqui. Qu`Har é o meu lar, e o lar de meus pais O xeque
Hassan custeou meus estudos, e os de uma porção de gente e a única maneira que
encontrei para retribuir foi utilizar meus conhecimentos em prol do
desenvolvimento do meu país.Dulce  sentiu-se comovida pela simplicidade com que
Saud falava, ali estava o outro lado do soldado do deserto: a ingenuidade e a
lealdade.


      - Ele é um homem generoso e sensato - comentou Saud, com seriedade. -
Todos nós só temos de lhe agradecer...


      - Principalmente Christopher - arriscou Dulce , pensando cuidados de
Hassan para com ele, desde pequeno.


      - Ah, sim, Christopher - Saud repetiu com entusiasmo.


      Dulce  olhou para ele e viu um
olhar cheio de orgulho admiração.


      - Papai fala que Christopher é o sucessor natural do xeque Hassan, e que
sem ele nosso país ficaria numa situação tão ruim que logo desaparecia do mapa
- explicou o rapaz. - Ele é o que chamamos "dádiva do Profeta".


      - Como assim, dádiva do Profeta? - Apesar de sua aversão por aquele
homem desconhecido, Dulce não conseguia deixar de se interessar por ele.


      - É o nome que a gente dá para quem nasce com a força, o conhecimento e
a capacidade de manter nosso povo unido - Saud explicou. - Na nossa casa sempre
nasceu alguém com essas qualidades em épocas de conflito e a necessidade. O pai
do xeque Hassan também achou que o filho era uma dádiva, até saber que ele não
poderia ser pai. Numa família como a nossa, com tantos irmãos e filhos, existe
sempre rivalidade. E às vezes dessa tensão toda surgem os que lutam para
conquistar o poder e o controle de tudo. O país é pequeno, mas riquíssimo em
petróleo. - lamentável que a nossa gente não consiga administrar essa riqueza
com sabedoria. É importante planejar hoje para o futuro, quando talvez não
tenhamos o petróleo, e é exatamente isso que o xeque Hassan vem tentando fazer.
A maioria dos planos, contudo, já foram colocados em prática. Muito dos nossos
melhores homens estudaram no exterior, e somas incalculáveis de dinheiro foram
aplicadas no aprendizado e em equipamentos tecnológicos. Mas tudo isso de nada
valerá se ninguém estiver preparado para continuar o trabalho iniciado pelo
xeque Hassan.


      Precisamos de um homem fortíssimo, capaz de vencer todos os obstáculos,
feroz como um gavião e esperto como uma serpente. Christopher é esse homem...


      - Feroz como um gavião -, repetiu Dulce  com desagrado. Aquilo soava autoritário e
agressivo: Esperto como uma serpente. Imaginava uma mente maquiavélica capaz de
construir todos os meandros de uma intriga. Sabia quanto os muçulmanos
apreciavam a sutileza e precisavam desse dom para alcançarem sucesso no mundo
negócios árabes. Um homem que se deixasse enganar não seria bem-visto por um
árabe, para quem o respeito era tudo.


      - Você gosta muito de Christopher, não? - disse com naturalidade,
perguntando-se se Saud estaria ou não a par do casamento desfeito. Era estranho
que, sendo Christopher tão importante dentro da família real, não lhe tivessem
escolhido uma moça árabe.


      - Eu o admiro muito - concordou Saud. - Algumas pessoas só não entendem
por que ele segue a religião da mãe. Contudo o Corão


      reconhece o valor de todas as religiões, e Christopher aceita os preceitos
do Corão e procura segui-las como qualquer um da nossa raça.


      - Ele parece ser um modelo de perfeição - Dulce  observou, com certa frieza. - é uma pena não
poder conhecê-lo...


      Entretida com o cenário que se estendia até o horizonte, ela não
percebeu o olhar de surpresa de Saud.


      O carro avançava para um arco aberto numa enorme parede branca, tão
brilhante quanto a luz do sol, e Dulce  fechou os olhos para protegê-los. Quando
voltou a abri-los, o automóvel estava parando na frente de um edifício baixo e
comprido com muitas janelas fechadas e um delicado trabalho em mosaico
decorando a entrada.


      - Vou deixá-la aqui - disse Saud, saindo do carro. - O criado a levará
até o alojamento feminino, onde Jamaile a receberá.


      - Vamos nos ver outra vez?


      Saud corou e lançou um olhar ansioso para o motorista, que se
aproximava, como se dentro dele crescesse uma incontrolável vontade de ficar a
sós com ela, para que ninguém os ouvisse conversando.


      - Pedirei a papai permissão para revê-la - respondeu, quase murmurando.


      O motorista tomou o lugar e em poucos minutos o carro arrancou, passando
por baixo de outro arco decorado com frisas em arabesco, que dava para um pátio
fechado. Numa das quatro paredes, uma porta se abriu. Sentindo-se como Alice no
País das Maravilhas, Dulce  compreendeu
que devia entrar por aquela porta. Ela assim fez, como se vivesse um sonho,
ciente de que uma ou outra porta, na parede ao lado, também tinha se aberto.
Não se voltou para ver, mas alguém pegou sua bagagem e seguiu silenciosamente
atrás dela. Atravessou a porta escancarada e de repente viu-se envolvida pelo
aroma forte de incenso de jasmim.


      - Queira seguir-me, por favor!


      A moça que falava estava vestida de preto dos pés à cabeça e tinha a voz
baixa e melodiosa. Começaram a andar e Dulce  ouviu o tilintar de argolas colocadas nos
tornozelos dela. No final do longo corredor, ela abriu uma porta e indicou a Dulce
 que a seguisse.


      Era um aposento quadrado, com um pequeno divã debaixo de uma janela,
junto a uma pequena fonte.


      - Se me permite...


      A moça puxou Dulce  gentilmente
para sentar no divã e tirou-lhe as sandálias de salto alto. Em seguida,
lavou-lhe as mãos e os pés com a água da fonte, cujo perfume era suave e
exótico.


      Os gestos da jovem eram decididos e rápidos, o olhar modesto e triste.
Ela deve ser uma espécie de criada, Dulce  pensou, enquanto a moça se levantava e ia até
o outro lado do aposento, de onde voltou trazendo um par de chinelos bordados.


      - É necessário usá-los na presença de Jamaile - explicou.- É costume
ajoelhar-se e aproximar-se, depois sair sem voltar as costas.


      Mas no seu caso basta ajoelhar-se. Para você, as formalidades habituais
foram dispensadas...


      O inglês da jovem era perfeito, tão perfeito que fazia Dulce envergonhar-se
por não saber uma palavra da língua árabe.


      - Onde aprendeu falar inglês tão bem?


      - Foi papai quem me ensinou. E estou aqui só por causa disso. Jamaile
quer que todas as filhas e netas aprendam essa língua.


      - Por quê?


      - Para que possam estudar na Inglaterra. Ela deseja que as garotas da
família recebam uma boa educação. Diz que é importante para que elas não sejam
rejeitadas pelos homens por causa da ignorância. Mas agora, se permite, vou
levá-la até a presença dela.


      Estavam numa ante-sala que conduzia à câmara ampla com teto abobadado,
adornado com pinturas e alto-relevo.


      - Meu Deus! - exclamou Dulce , maravilhada com tanta beleza. Que cores!
Eram múltiplas e ricas em tonalidades, como se fossem jóias faiscantes sob um
intenso raio de sol!


      Numa extremidade da câmara, erguia-se uma plataforma com uma poltrona
luxuosa, delicadamente esculpida, e, atrás dela, uma parede com arabescos,
repleta de formas abstratas e coloridas que pareciam ter atingido uma beleza
inimaginável. Pedras semipreciosas tinham sido incrustadas e brilhavam com os
raios do sol que atravessavam as frestas das venezianas fechadas.Dulce , como
que voltando de um prolongado delírio, finalmente percebeu que a moça havia
saído. Uma porta no painel pintado se abriu e ela, lembrando das explicações,
ajoelhou-se com rapidez sobre o pequeno tapete colocado para esse fim no piso
ladrilhado.


      Com a cabeça abaixada, ouviu um leve tilintar de metais e o farfalhar de
sedas. Não ousou olhar para cima, até que uma voz macia, e agradável ecoou:


      - Venha cá, minha filha, quero conhecer o tesouro de Hassan...


      Dulce  pôs-se de pé e deu alguns
passos indecisos em direção ao trono. Deparou-se com o olhar atento de uma
mulher baixa, miúda, luxuosamente vestida, os dedos cobertos de anéis e jóias
penduradas no pescoço.


      - Os cabelos dela têm a cor do deserto depois da chuva - comentou a
mulher com uma outra, que estava parada atrás do trono.


      Dulce  não tinha notado a presença
dela até Jamaile falar.


      - Na Inglaterra - disse uma outra acompanhante -, essa cor indica
vivacidade.


      Jamaile sorriu e com um gesto pediu a Dulce  que subisse na plataforma.


      - Como são afortunados os homens ingleses - comentou. -, Enquanto aqui
nossos patrícios julgam as mulheres pela reputação, lá basta olhá-las para
perceberem se estão diante de uma mulher geniosa, temperamental como uma
potranca árabe, ou dócil como uma pomba.


      - Ela observou Dulce  com atenção. - Qual delas, na sua opinião, um
homem escolheria?


      - Não sei. - Dulce  respondeu,
hesitante. - Imagino que os homens, assim como as mulheres, têm necessidades
diferentes. Uns preferem mulheres serenas, outros, temperamentais.


      - Ela fala com prudência - Jamaile disse às acompanhantes.- Hassan não
mentiu: sua beleza é como a dos nenúfares e outras flores aquáticas, pálidas e
delicadas, que se fecham em si mesmas quando ameaçadas por algum perigo.
Enquanto estiver em Qu`Har, Dulce , você ficará aqui, sob minha guarda, certo?


      Dulce  assentiu com a cabeça,
encantada com a maneira da mulher se referir a ela.


      - Como Hassan deve ter explicado, nossas mulheres não andam sozinhas nas
ruas, e nunca se apresentam a um homem sem cobrir o rosto com um véu. A não ser
diante do pai ou do marido. Naturalmente, como européia, não precisa seguir
esse costume. Mas como filha de nosso irmão, talvez fosse aconselhável
adotá-lo. Deixo a seu critério a decisão... Caso prefira segui-lo enquanto
estiver entre nós, Zoe providenciará um chadrah e lhe dará explicações sobre as
leis de nosso país. Todavia, nós compreenderíamos se desejasse manter os
hábitos ocidentais...


      Como é que eu posso contestá-la?, perguntou-se Dulce , percebendo que
não havia outra saída senão aceitar a proposta feita por Jamaile. Se insistisse
em usar as próprias roupas, talvez a acusassem de ser egoísta e indiferente à
reputação de Hassan; se se vestisse e se comportasse como uma mulher muçulmana,
seria o primeiro passo para agredir sua própria personalidade.


      A mulher silenciou, aguardando a resposta. Dulce  lembrou da generosidade e do amor que Hassan
sempre lhe dedicou e compreendeu que havia apenas uma escolha.


      - Usarei o chadrah - disse, um tanto desanimada, dominada por uma
sensação de fatalidade da qual não conseguia fugir. Era como se tivesse
embarcado numa viagem sem rumo, como se a sua vida nunca mais pudesse voltar ao
normal pelo simples fato de ter pronunciado aquela frase.


      No fundo, porém, aceitava as regras do jogo esperando que a família de
Hassán não mais criticasse sua mãe, escolhida como segunda esposa do xeque.


      Jamaile sorriu.


      - Assim seja! Acompanhe Zoe. Mais tarde conversaremos. Há muitos anos
não vejo Hassan e você me dará notícias dele e da velha Inglaterra, que não
visito desde à minha infância.


      Dulce  afastou-se devagar de
Jamaile, sem voltar as costas, o que Zoe aprovou com um sorriso.


      Depois que saíram da câmara de recepção, Dulce  seguiu Zoe ao longo de um enorme corredor.


      - Seus aposentos já estão preparados...


      Subiram uma escada espiralada que parecia não ter fim. Chegando no
patamar, Zoe abriu uma porta e pediu a Dulce que entrasse. Dulce , então, ficou
maravilhada, acompanhando Zoe pelo salão exótico até darem num quarto suntuoso,
onde havia uma cama coberta com lençóis de seda adornados com pequenas e
delicadas folhas douradas. Ao lado, ficava o . quarto de vestir com
guarda-roupas espelhados, uma inovação evidentemente recente, e mais adiante um
banheiro com peças em mármore cor-de-rosa, que se harmonizava com o padrão de
cores do quarto.


      - A criada trará algumas roupas para você escolher - disse Zoe -, e
amanhã uma costureira providenciará exatamente o que desejar...


      - Oh, mas vou ficar aqui apenas três semanas - Dulce  argumentou. - Não há necessidade...


      - Recusar os presentes de Jamaile seria o mesmo que insultá-la - Zoe
avisou, com seriedade.


      - Bom, nesse caso...


     


     


      Zoe ficou com ela algum tempo, explicando detalhes da maneira correta de
agir em diversas situações.


      - Mas como é que vou me lembrar de tudo isso? - Daniel quis saber.


      - Não é tão difícil quanto parece. Sempre haverá uma de nós por perto
para ajudá-la... Eu a verei hoje à noite, no jantar - acrescentou, levantando
do divã. - Você sabe descer sozinha?


      - Oh, claro! Prestei muita atenção em todo o caminho! É tudo muito
bonito. Não me esquecerei!


      Zoe saiu e fechou a porta atrás de si. Dulce sentiu-se desamparada.


      Apesar das diferenças de cultura e de educação, gostava de Zoe, com seu
olhar meigo e a voz branda. Era sobrinha de Jamaile conforme tinha sido
informada, e uma de suas acompanhantes, que era motivo de alegria à família. Se
Jamaile se sentisse satisfeita com o desempenho dela até o final do ano,
retribuiria aumentando-lhe o dote e ajudando seus pais a encontrarem um bom
marido para ela.


      Dulce  ficou espantada com essa
revelação, mas Zoe parecia contente e feliz com o fato de o pai escolher o
companheiro de sua vida. Não tocaram no nome de Christopher embora o assunto
fosse propício, e Dulce  nada comentou
por imaginar que aquele casamento arranjado fosse mantido em segredo pela
família.


      Tão logo Zoe se retirou, Dulce  examinou os guarda-roupas. Um meia dúzia de
cáftãs de seda estava pendurada, com cores que ia , do rosa ao verde-jade mais
intenso. Pegou um deles e colocou sobre ó corpo, descobrindo que logo se
transformaria numa oriental desajeitada. Desajeitada, sim, mas com um ar
sensual de apaixonada.Imediatamente repôs o cáftã ao lado dos outros.


      Bateram de leve à porta e, antes que pudesse responder, uma criada
entrou.


      - Vim por ordem de Jamaile - explicou. - Trouxe-lhe este chadrah para
usá-lo no palácio.


      Dulce  pegou o véu grosso e negro,
disfarçando o desagrado, e arrepiou-se só com a idéia de usar aquela peça a
contragosto, pois estaria traindo seus princípios mais arraigados. Porém,
lembrou que ali ela representava o padrasto e não ficaria bem ofender a quem
quer que fosse. De repente, soou o alto e agudo som de um sino, e ela,
assustada, deixou cair o manto.


      A criada prostrou-se imediatamente, ficando imóvel por vários segundos
antes de levantar, calma e graciosamente, e dirigir-se a Dulce .


      - Com certeza deseja um bom banho antes do jantar e estou aqui para
ajudá-la. Trouxe-lhe um perfume feito com as rosas de nosso jardim.  Dulce  teve ímpetos de dizer que não precisava de
ajuda, mas antes que pudesse falar, a moça caminhou para o suntuoso banheiro,
abriu as torneiras e misturou uma essência forte dentro da banheira, o que fez
com que a água se tomasse leitosa.


      - Eu... eu prefiro me lavar sozinha - Começou Dulce .


      A expressão da criada era de mágoa e decepção.


      - Quer que eu me retire?


      - Sabe, as garotas européias não estão acostumadas com acompanhantes...
Como se chama?


      - Zanaide - respondeu a moça, intimidada. - Jamaile pensará que a ofendi
se me mandar embora...


      Os enormes olhos castanhos de Zanaide ficaram tão tristonhos, que Dulce  não teve como argumentar. Enquanto a moça
lavava-lhe o corpo com uma esponja macia, ela reconhecia que naquele momento
não poderia negar o prazer e a delícia que sentia por estar mergulhada numa
água aromatizada. Quando saiu da banheira e enrolou-se na toalha estendida por
Zanaide, percebeu que não tinha ficado nem um pouco inibida.


      - Sua pele é tão branca e macia! - observou Zanaide. - O homem que tiver
a felicidade de olhá-la ficará maravilhado diante de tanta beleza. Mas acho que
deveria comer mais para engordar uns quilinhos.


      - Nos países europeus os homens preferem mulheres magras e esguias - Dulce
 justificou com um sorriso malicioso,
adivinhando os pensamentos da criada.


      - Você não é noiva?


      - Não - respondeu, ainda sorrindo e balançando a cabeça.- E você é?


      - Há muitos anos! Sou noiva do meu primo de segundo grau, como é
costume. Vamos casar no ano que vem. - Suspirou, pôs-se de pé e abriu um
pequeno armário. - Se quiser deitar no divã, por favor...


      Perturbada, Dulce  obedeceu, e
pouco depois Zanaide começou a massageá-la com um óleo perfumado.


      -Não vejo Faisal há muito tempo - a moça continuou. - Ele estudou numa
universidade da Inglaterra e de lá foi trabalhar na Arábia Saudita. Meu irmão
disse que se transformou num homem muito bonito!


      Uma covinha apareceu nas faces de Zanaide quando sorriu com malícia do
comentário e, como. resposta, Dulce  também sorriu.


      - E você não se importa com esse casamento arranjado? Não gostaria de
conhecer um homem especial, apaixonar-se por ele e aí então optar pelo
casamento?


      - Eu me apaixonarei pelo meu marido - respondeu Zanaide, sem hesitar. -
Se me comportasse de outra maneira, só traria desonra para minha família.


      Sem dizer nada, retirou-se do quarto por alguns momentos e voltou com um
cáftã verde-jade no braço.


      - Não, esse não! - protestou Dulce , lembrando que já havia
experimentado aquele e constatado o péssimo resultado sobre o corpo.


      Zanaide franziu as sobrancelhas, sem compreender.


      - Por que não? É o mais bonito! Não quer insultar Jamaile, quer? Com
sinceridade, o que acha dele?


      - É deslumbrante - admitiu -, mas me sinto mais à vontade com minhas roupas.
Você também não gostaria de usar o tipo de roupa que se usa no meu país!


      Zanaide riu, piscando os olhos.


      - Também uso jeans, mas só em casa, com mamãe e minhas irmãs. Mamãe não
se conforma, mas meus irmãos dizem para ela que na Europa todas as moças
adotaram calças compridas. Isso é muito salutar! Aproveitar as boas coisas dos
dois mundos...


      Dulce  arregalou os olhos,
espantada com a confissão de Zanaide. Mas então as mulheres muçulmanas não se
submetiam completamente à dominação dos homens?


      Aparentemente sim. Enquanto Zanaide lavava-lhe e enxugava-lhe os
cabelos, procurava dar informações esclarecedoras, o que fez com que Dulce
formasse um quadro bastante diferente daquele que havia traçado inicialmente.
Além de estudarem no exterior, as mulheres eram encorajadas a fazer longos
treinamentos, e como mostravam-se discretas e observavam as leis muçulmanas,
também gozavam um certo grau de liberdade.


      - Claro, a gente não pode dançar e ficar à vontade entre os homens, como
acontece na Europa, mas o xeque Hassan fez muito por nós e prometeu ajudar-nos
ainda mais. Muitas de nós preferem continuar usando o chadrah e manter o antigo
padrão de vida. Não é verdade que o desconhecido oferece maior fascínio que o
conhecido? Nosso mistério é que fascina os homens...


     


     


      Dulce compareceu ao jantar e depois retirou-se, aliviada. Todas as
mulheres tinham sido gentis, mas o esforço para lembrar de todos nomes, somado
à longa viagem e ao ambiente estranho, cultivou na sensação de extremo cansaço.
O que mais desejava naquele momento era atirar-se numa cama confortável.


      Já havia tomado duas xícaras de café forte e sem dúvida teria tio
obrigada a aceitar outras se Zoe não notasse seu embaraço e desse um jeitinho
de poupá-la. A comida, embora deliciosa, pesava no estômago. Foi com satisfação
que Dulce  deixou a mesa e andou pelo
corredor em direção à escada em espiral que dava para o seu quarto. Lá, Zanaide
deveria estar à sua espera.


      Com o corpo e a cabeça pesados, sentiu que os degraus não tinham fim.
Mas dizendo a si mesma que aquilo era produto da sua imaginação, segurou o
tecido do chadrah e continuou subindo.


      Candelabros de parede iluminavam a escadaria e, nos cantos, as sombras
tremiam quando uma brisa mais forte agitava as chamas.


      Uma das sombras escuras pareceu avançar ao seu encontro. Deteve-se,
engoliu em seco e, observando com atenção, notou que não se tratava de uma
sombra, mas de um homem vestido com um manto preto, que parecia envolvê-la.


      O manto se abriu e mostrou um peito forte e bronzeado, coberto de pêlos
crespos ainda molhados, como se o desconhecido tivesse acabado de sair do
banho. Dulce ergueu os olhos e viu os cabelos pretos e úmidos. O rosto,
extremamente masculino, tinha ossos angulosos e acentuados, o olhar brilhante.


      O homem moveu-se e disse algumas palavras em árabe e então, na meia-luz,
Dulce  viu seus olhos negros que a
examinavam com arrogância.


      Ele tornou a falar, desta vez com voz ríspida, como se lhe desse alguma
ordem.


      - Eu... não entendo a sua língua. Só falo inglês...


      Os lábios dele se abriram e dentes brancos brilharam na penumbra.


      Ele a teria compreendido? Dulce  estremeceu e deu um passo atrás,
instintivamente.


      Uma mão magra agarrou-lhe o pulso e a puxou para a frente.


      - Está à minha procura? -ele perguntou num inglês quase perfeito. Mas
não havia gentileza na voz. Pelo contrário, parecia muito impaciente.


      Dulce  não soube fazer outra coisa
senão fitá-lo e, quando a soltou, automaticamente esfregou o pulso dolorido.


      - Estava indo para o meu quarto...


      Ele franziu as sobrancelhas espessas, com um ar incrédulo.


      - Nessa parte do palácio? Não sabe que não existem mulheres por aqui?...


      Mais que as palavras, o tom insolente fez Dulce enrubescer como se
acabasse de cometer um crime. Voltou o rosto e olhou para baixo.


      - Oh, mas eu tenho certeza que tomei o caminho certo...


      O homem agora parecia sério e indiferente à explicação.


      Quantos anos ele terá?, perguntou-se Dulce . Trinta? Talvez u pouco
mais? Fosse qual fosse a idade, sem dúvida alguma tratava-se de alguém que
gostaria de conhecer. Apesar da antipatia inicial, reconhecia a intensa
masculinidade dele, pressentia o tronco esguio, mas poderoso por baixo do
manto; as coxas de músculos tensos que a seda fina não conseguia esconder.


      - Então...?


      Os olhos dele não paravam de percorrer todo o corpo dela,fitando-a. E
quando paravam para encará-la, pareciam ler seus pensamentos com facilidade.
Ele sabia do efeito que causava em Dulce  Parecia sentir o pulsar acelerado do coração
dela.


      Ela lhe deu as costas, procurando esconder o tremor dos lábios, dominada
pelo desejo instintivo de desaparecer dali imediatamente. Mas como? O ambiente
a havia influenciado tanto, a ponto de se comportar como Zoe e Zanaide na
presença de um homem desconhecido? Onde estavam a segurança e a independência
conquistadas com tanto esforço?


      - Não notei que havia me distanciado da ala das mulheres... Não poderia
fazer a gentileza de me indicar o corredor certo?


      Ele sorriu com ironia. Dulce  endureceu o corpo, percebendo que zombava
dela. Mas os olhos não... os olhos a estudavam minuciosamente...


      - Você é bastante ousada - ele observou. - Ou será a simples ignorância
que fez a pombinha indefesa passar para o reino do poderoso gavião? Desconhece
por acaso o perigo que está correndo?...


      Cansada e confusa, Dulce  fitou-o
em silêncio, a respiração difícil. Ele então prendeu-a novamente pelos pulsos e
puxou-a contra o corpo másculo, os rostos quase colados. Sem esperar qualquer
reação, beijou-a com violência.


      Ela nunca tinha experimentado um beijo tão íntimo e tão ardoroso, nunca
havia sentido a pressão de mãos masculinas nos seus quadris, apertando-a contra
um corpo que, para seu espanto, estava completamente nu sob o manto!


      O contato lhe despertou os sentidos. Afastou-se com todas as forças
conseguiu reunir, mas as mãos dele de novo a prenderam. Apertando-lhe os pulsos
com mais força ainda, rindo da sua vã tentativa de livra-se dele, comentou:


      - Quer dizer então que as mulheres inglesas nem sempre são indiferentes
à preservação da castidade? Você fica vermelha como uma rosa que desabrocha no
jardim... Também está fechada no pátio, desconhecido e inexplorado... Mas...


      - Pare com isso! Não quero ouvi-lo! Me solte e deixe que eu vá hora...
Vou me queixar a Jamaile!


      Ele riu e deixou-a se afastar do corpo inquieto, embora continuasse
prendendo-lhe um dos pulsos.


      - Não, não, mignonne... talvez antes queira saber o nome do homem que se
comportou tão mal com você...


      Dulce , apreensiva e com um estranho pressentimento, encarou-o escutando
a revelação. Mas por que tremia tanto? O que estava acontecendo com ela? Não
acreditava que a simples presença de um homem arrogante e pretensioso pudesse
torná-la tão frágil e vulnerável!


      O rosto dele mergulhava quase totalmente na penumbra, mas ainda, sim ela
podia distinguir os músculos tensos das faces, a linha austera da boca, os
lábios ameaçadores esboçando um riso sarcástico.


      - Quer ou não quer saber quem sou?


      A mão dele soltou-lhe o pulso e pousou sobre o ombro, os dedos
pressionando para sentir melhor a carne oculta pelo tecido. Ali estava alguém
que conhecia profundamente uma mulher, pensou Dulce ; um homem que se divertia
com ela, que zombava do seu embaraço.


      Ao toque forte da mão, ela enrijeceu os músculos, tentando fazê-lo
recuar. Porém ele riu mais uma vez, deslizando as mãos e apalpando-lhe o seio. Dulce
 sentiu a respiração presa, o sangue
correndo veloz nas veias.


      - Seu coração está sob as minhas mãos, como um pássaro pego numa
armadilha - ele falou com suavidade, arfando levemente.


      Como se ardesse em chamas, Dulce  recuou, sentindo o calor das mãos no seio
estender-se por todo o corpo. Mas ele não permitiu qu se afastasse demais.


      Retirou as mãos e descobriu-lhe a cabeça, desmanchando o penteado feito
por Zanaide. A luz mortiça do candelabro iluminou a cabeça de Dulce , como uma
fogueira viva.


      - Essa luz embeleza a filha de Rassan...


      Uma frase como essa, pensou Dulce , teria sido ridícula em outra
circunstâncias. Mas ali, naquele antigo palácio povoado de pessoas estranhas,
simplesmente estimulava-a a se comportar como a heroína dos romances que sempre
desprezou...


      - Quem é você? - ela perguntou, afinal, numa voz trêmula.


      Ele sorriu com a mesma arrogância e ergueu as sobrancelhas. A entrar
numa área mais iluminada, Dulce  viu-lhe
o corpo poderoso, que se movimentava como se pertencesse a um mundo divino a
que nenhum ser humano tinha acesso.


      - Quer dizer que realmente não sabe meu nome?


      Ele agora falava com uma voz séria, que assustava Dulce . O ar à volta
parecia esfriar mais e mais, dominado por uma presença demoníaca e devastadora.


      - Como poderia saber? Acabei de chegar e...


      - Também acabo de chegar - cortou o homem. - Estava indo para os meus
aposentos quando a encontrei, e então pensei que pudesse estar, me procurando.
Uma conclusão lógica, não é mesmo, filha de Rassan? Sabe, conheço bem os
ingleses... Agarram-se muito, à lógica. Estou certo?


      - Não. .. está redondamente enganado! - Dulce  desejava contestá-lo a qualquer preço. - Eu
estava indo para os meus aposentos também... Creio que subi a escada errada, é
só. - Mas agora, "pensou", é tarde, muito tarde! Ah, se tivesse
voltado no momento que pressenti a proximidade daquele homem! - Depois, que
motivo teria eu para procurar um homem que sequer conheço? - concluiu.


      Sentiu uma grande satisfação ao falar com todo o desprezo possível, num
esforço de ferir-lhe o orgulho. De fato, o rosto tenso dele transmitia raiva,
uma raiva que poderia levá-lo a um gesto mais violento, a uma tempestade de
emoções que facilmente a derrotaria...


      - Existe um motivo mais forte do que imagina, filha de Rassan - ele
respondeu, com a voz macia e ao mesmo tempo ameaçadora. - Sou Christopher Saud
lbn Ahmed.




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Autor(a): lovedyc

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 842



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  • stellabarcelos Postado em 06/09/2015 - 17:17:04

    Que fanfic fofa!

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:11

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:10

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:10

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:08

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:06

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • anjodoce Postado em 14/03/2010 - 17:35:05

    Amei, perfeita.
    Que bom que meus amores ficaram juntinhos.
    Estarei com você na sua próxima web BB.
    Beijos!!!!! *-*

  • natyvondy Postado em 14/03/2010 - 17:24:49

    *-* linda

  • natyvondy Postado em 14/03/2010 - 17:24:42

    *-* linda

  • natyvondy Postado em 14/03/2010 - 17:23:59

    *-* linda


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