Fanfic: Herança Fatal - Portiñon | Tema: Adaptada

O motorista arrancou. E durante o trajeto, Dulce acalmou-se e foi possuída por uma grande tristeza. Era triste,  sair assim da casa de Helen. Ela era uma boa garota. O defeito dela era não medir as palavras ditas numa crise de ciúmes. Mas agora, não dava para continuar aquela relação. Helen falara coisas horríveis e não poderia mais ter nada com ela, como se nada tivesse acontecido. Fora melhor assim. O tempo a faria esquecer a paixão que sentia.

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 A  posse de Dulce na presidência da Portilla Corporation realizou-se dois meses depois, após ela ter vencido a batalha judicial que travara com Mary Portilla. Jefferson Boderick fora peça fundamental para essa vitória. Era mesmo um advogado brilhante e refutara todas as acusações do promotor com argumentos incontestáveis: o testamento era claro e válido. O tabelião Wilfred ouvira de Anahi Portilla a declaração que  Dulce, a principal beneficiária, não sabia que estava fazendo aquele testamento e manteria isso em sigilo absoluto, sem dizer à beneficiária a decisão que tomara.

O tabelião foi convocado a depor e confirmou a declaração do advogado de Dulce: Anahi Portilla não queria que Dulce tomasse conhecimento do testamento, por que não iria aceitar aquele benefício e poderia até sair da empresa.

Com esse testemunho, a acusação de Mary Portilla, de que contestava o testamento por suspeitar que Dulce assassinara a filha, para herdar a fortuna dela, perdeu a credibilidade. A sentença foi favorável à ruiva e ela tomou posse no dia seguinte.

Antony Portilla não compareceu à posse, o que Dulce já esperava. Nas reuniões da diretoria, ele sempre mandava um representante. Tinha uma sala no trigésimo andar, mas Dulce nunca o vira na empresa. E isso a deixava aliviada. Afinal, era o irmão de Anahi e não gostaria de ter que ficar em disputas verbais com ele.

E Helen? Não era mais sua secretária. June, como antes, é quem secretariava a presidente. Uma semana depois que saiu da casa dela, Dulce havia telefonado para dizer que gostaria que ficassem amigas, que mesmo depois da briga, tinha um  carinho muito grande por ela. Que era grata pela ajuda e dedicação que ela demonstrara no tempo que moraram juntas.

Helen havia chorado, implorado para Dulce voltar. Quando a ruiva negara, dizendo que era melhor continuarem separadas, ela havia gritado que esquecesse que ela existia, que Dulce era uma mulher fria e egoísta. Ou voltava para ela, ou esquecia. Amizade, não queria ter com Dulce.

Dulce desligara lamentando a decisão dela. Helen não entendia que não daria certo aquela relação, porque não podia dar à ela o que queria: amor .

Se cruzaram na sala das secretárias quando Dulce chegava, mas Helen mal a cumprimentava, com ar frio. Ela voltara a ajudar June, porque não havia mais assistente na presidência. Não tinham um contato direto de trabalho e Dulce gostava disso. Seria horrível se isso fosse necessário, pois Helen parecia odiá-la agora. Dulce sabia que o amor e o ódio são sentimentos bem próximos.

E agora, ali sentada na mesa da presidência, Dulce pensava. Seus esforços para descobrir o assassinato de Anahi até então se mostraram inúteis. Havia contratado um detetive particular para investigar tudo que pudesse ajudar a desvendar o crime, mas ele não   fizera nenhum progresso. Havia telefonado para Phil Scott, procurando saber como iam as investigações, e tivera a surpresa de saber que ele havia pedido demissão da polícia. O chefe de polícia que o substituía não estava muito interessado em investigar um caso que já saíra das páginas dos jornais.

Algo lhe dizia que a solução de tudo estava na família Portilla. Lembrava que Anahi havia dito que suspeitava de uma pessoa da família. Mas para descobrir alguma coisa, tinha que se aproximar deles. Como?

O telefone de linha direta tocou. Dulce atendeu, pensativa.

-- Alô.

-- Dulce Maria? – Perguntou uma voz feminina aveludada.

-- Ela mesma. Quem está falando?

-- Boa tarde, Dulce. É April Portilla.

Dulce levou um choque. Ficou calada, sem saber o que dizer.

-- Alô? Está me ouvindo, Dulce?

Dulce suspirou.

-- Fale. Estou ouvindo.

-- Gostaria de conversar com você. Poderíamos nos encontrar no bistrô Le Comptoir, na rua 67?

-- Bem. . . a que horas?

-- Seis da tarde.

-- Pode me adiantar o assunto?

-- É pessoal. Até às seis.

Ela desligou. Dulce ficou imóvel, com o telefone na mão por um bom tempo, até desligar.

O Le Comptoir era um restaurante com uma clientela selecionada, com pratos franceses dignos de Paris. A fachada era despretensiosa, com cadeiras na calçada, mas seu interior se notava o requinte da decoração, com mesas com toalhas brancas e taças de cristal, centralizadas por delicados jarros de flores. As paredes em tom pastel eram decoradas por reproduções de quadros franceses.

Dulce já o conhecia. Desceu do carro em um estacionamento e andou uma quadra à pé, porque lá era difícil arranjar vaga.

O maitre veio ao seu encontro, quando entrou.

-- Boa tarde, senhorita.

-- Há uma pessoa à minha espera.

-- Qual é o seu nome, senhorita?

-- Dulce Maria Saviñon.

Ele sorriu, consultando uma caderneta.

-- Tenho instruções para encaminhá-la à mesa de April Portilla. Por favor, siga-me.

O maitre a conduziu até uma mesa nos fundos, de poltronas estofadas. Dulce viu April sentada e ela sorriu, quando chegou diante dela. Assentiu com a cabeça para o maitre, que se retirou discretamente.

Dulce sentou diante dela, olhando-a com atenção. Ela estava linda, com um vestido de linho branco. Devia adorar aquela cor. Aqueles olhos verde-água a olharam também atentadamente, com um sorriso nos lábios perfeitos. Ela era refinada e cheia de charme... como Anahi.

-- Obrigado por ter vindo, Dulce. . . – Disse, suavemente.

Dulce cruzou os dedos sobre a mesa, olhando-a direto nos olhos.

-- Fiquei curiosa. O que uma Portilla quer comigo?

-- Nada que você não possa fazer, Dulce.

-- O quê, por exemplo?

Ela riu suavemente.

-- Oh, como você é direta! Não quer pedir uma bebida? O que você gostaria de beber?

Dulce tentou relaxar. Realmente estava muito tensa.

-- Ok, vou pedir um Martini seco.

Ela ergueu a mão e um garçom surgiu por encanto. Pediu dois Martinis. Apanhou uma carteira de cigarro na mesa, de ouro, e acendeu um cigarro com um isqueiro finamente trabalhado. Olhou-a nos olhos e Dulce leu neles uma admiração discreta.

-- Você é uma mulher admirável, Dulce. Quando surgiu lá em casa, fiquei impressionada.

-- Impressionada com o quê?

-- Sua coragem. Enfrentou a todos com uma classe e frieza que surpreendeu-me.

Dulce sorriu com ironia.

-- Enfrentei inclusive a sua frieza. Nem estendeu-me a mão para cumprimentar-me.

Ela enrubesceu levemente. Sorriu, contudo, calmamente.

--mNão podia agir de outra forma. Os Portillas estavam furiosos com você.

-- Não esqueça que também é uma Portilla.

-- Sou, mas não tenho os mesmos interesses deles. O poder, para mim, é indiferente.

Os martinis chegaram. April ergueu a taça, olhando-a nos olhos.

-- Ao nosso conhecimento.