Fanfic: O apanhador de sonhos | Tema: Amizade, romance, sonhos, bissexualidade

Estávamos em pé na nascente do rio que atravessa a cidadezinha que minha avó mora. E a nascente era exatamente perto da casa dela. Assim que chegamos fomos curtir o nascer do sol na nascente e estava lindo. Parece que quanto mais triste a pessoa está, mais belo está o seu redor. Algo cósmico que transforma o ambiente triste em um ambiente irresistivelmente lindo e alegre. Assim que as cores do céu começaram a se mesclar no horizonte, dei um leve sorriso, e apoiei minha cabeça no ombro do Vini. Ele me abraçou e começou a cantar pra mim “Beautiful Goodbye” do Maroon 5. Antes que ele chegasse ao primeiro refrão eu já estava chorando novamente. Não por causa da Renata e do André. Mas por que eu deixei o Vinicius. Ele começou a me tratar mal por que era imaturo. Dias depois de termos dado um tempo – que durou até agora, 5 anos depois- ele me mandou uma carta, dizendo tudo o que sentia por mim. Mas Renata já tinha feito minha cabeça para que eu não o visse mais. Quer dizer, a gente estudava junto então isso não era fisicamente possível. Mas eu o ignorava. E doía no fundo do meu coração, mas eu fazia mesmo assim por que minha “melhor amiga”- que agora não tenho mais certeza do que ela é pra mim- pediu que eu o ignorasse. Ele terminou a música e suspirou.

- Eu queria cantar uma música pra você quando você começou ignorar. – ele levantou a mão para que eu não falasse – Eu sei de tudo agora. Está tudo bem. Eu sei que eu pisei um pouco na bola naquele tempo, e sei também que eu te fiz chorar...

- Como você...

- Renata resolveu ir me ameaçar. – ele deu de ombros- E eu queria cantar uma música pra você, pra que você não sofresse. E talvez seria um pedido de desculpas.

Ele suspirou e começou a cantar “Wipe Your Eyes” do Maroon 5. Eu parei e olhei no fundo dos seus olhos. Ele ainda estava sendo sincero com as palavras, mesmo depois de tudo. Me aconcheguei nele novamente enquanto ouvia sua voz melodiosa sair sem dificuldade. E eu poderia passar o resto da vida o ouvindo cantar. Enquanto ele cantava, ele enxugava minhas lágrimas com o dedão. Ficamos até às oito da manhã na beira da nascente. Oito e meia e chagamos na casa da minha avó, pra tomar café e descansar um pouquinho. Conversamos bastante com a minha avó, que lembrava perfeitamente do Vinicius, mesmo com 73 anos e um pouco de esquecimento natural da idade.

- Eu nunca esqueceria o primeiro namoradinho da minha neta mais velha.

- Vó! – protestei.

Vinicius sorriu e começou a fazer cócegas na minha barriga. Enquanto gargalhávamos da idiotice momentânea, nos deitamos no sofá, nos aconchegando nos braços um do outro. Decidi que eu deveria tentar pedir desculpas pela minha burrice há cinco anos. Passei minha mão por sua barba por fazer e comecei a cantar “Beija Eu” da Marisa Monte. Brincava com meus dedos nos seus pelos da barba que roçavam na minha pele fazendo cócegas. Assim que eu terminei de cantar ele beijou meu pescoço me fazendo arrepiar. Eu tinha me esquecido do que ele me causava. Os beijos foram subindo até que os seus lábios encontraram os meus. O que mais me deixou confusa, é que eu estou sentindo o que eu sentia quando estávamos juntos. Mas eu ainda gosto pra caralho da Renata. Mesmo assim me deixei levar pela emoção adormecida que eu estava sentindo nesse momento. Num instante, ele beijou minha testa e deixou que me aconchegasse em seu abraço, e ali dormimos até meio dia.

Ouvi alguém gritando e acordei. Vinicius não estava mais no sofá. Enquanto levantava ainda sonolenta, vi que duas pessoas muito chateadas estavam vindo em minha direção. Quando minha visão entrou em foco percebi que se tratava da minha mãe e da Renata.

- Você quer me matar do coração Marina? Que tal avisar aonde você anda? Pelo menos pra mim que sou sua mãe!

- Mãe, eu já tenho 22 anos. Acho que posso me cuidar sozinha. E a partir do momento que eu ganhei meu carro, eu ganhei liberdade pra ir onde quisesse sem pedir, não é?

- Marina, o que sua mãe quis dizer é que...

- Cala a boca Renata, a conversa ainda está entre eu e minha mãe.

- Vai ser assim?

- Você começou “isso” – fiz aspas com as mãos – quando se esqueceu de me contar que ia casar! Olha, mãe – falei mais calma- eu vim aqui relaxar na casa da minha avó. Só isso.

- E o Vinicius tá aqui por quê? – Renata perguntou

- Eu ia voltar pra casa no final da tarde mãe. Eu tô bem. De verdade. – falei abraçando minha mãe e ignorando completamente a Renata.

- Você sabe que eu me preocupo.

Vi que Vini estava encostado na parede com um papel que estava escrito: “RENATA TROUBLEMAKER” (Renata encrenqueira)

Ri para o vento. Eu estava bem. Eu iria ficar bem.