Fanfics Brasil - Capítulo 31 O amor e um anjo ~

Fanfic: O amor e um anjo ~


Capítulo: Capítulo 31

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 Lari: Terminou com ele ? - disse quase gritando -  


Vick: Longa história Lari - disse por fim - 


Lari: Sabe quando vai achar um homem como Ablon ? Nunca. 


Vick: Ah, pode ter certeza que disso eu estou ciente - disse debochando -


 Lari: Então vamos pro quarto, vai me explicar o que aconteceu. 


Ela pegou na minha mão e saiu me arrastando.


 Eu não poderia contar tudo para ela, não queria ser internada, só falaria algumas coisas e se preciso inventaria outras.


 Lari: Vamos, desembucha - disse se jogando na cama - 


Vick: Não deu certo Lari, preciso dizer mais o que ?


 Lari: Quero saber o porque, e não venha com falta de compatibilidade que vocês estavam bem e sempre se deram bem.


 Pensei muito em onde jogar a culpa...Shamira, ela seria a minha desculpa. 


Afinal, ela tinha uma grande participação não tinha ? Aliás, será que Shamira também era um anjo ? 


Agora eu nunca saberia. 


Deixei meus pensamentos de lado e comecei a falar. 


Vick: Acho que... ele ainda gosta da ex. 


Lari: Ele te disse isso ?


 Vick: Ela esta morando lá. 


Lari: O QUE ? - gritou -


 Vick: Isso mesmo, morando lá, ela não é do Brasil, teve uns problemas familiares e Ablon a acolheu - fiz cara feia tentando convencê-la -


Lari: Está querendo me dizer que passou esse tempo de baixo do mesmo teto que ele e a sua ex ? 


Vick: Sim, e não foi nada fácil mesmo que ele dizia ser só uma amiga eu sentia a tensão toda vez que eles estavam perto sabe ? Decidi terminar antes que eu me apegasse mais, matasse ela ou castrasse ele - sorri maquiavélica - 


Lari: Sei bem que seria capaz, mas seria um graaaaaaaande disperdicio - deu risada -


 Vick: Larissa - a adverti -


 Lari: Que ? Vai me dizer que não é grande ? - fez cara de inocente -


 Vick: Não sei, nunca vi. - revirei os olhos -


 Lari: Mentirosa. 


Vick: É sério.


 Lari: Não acredito que passou todo esse tempo com ele e não tirou uma casquinha Vick, por favor. 


Vick: Eu não quis ta legal ? E fim de papo.


 Lari: Ainda não fez não é ?


 Vick: Não fiz o que ? 


Lari: Sexo né Victória. 


Respirei fundo, ela não pararia. 


Vick: Não Lari, não. 


Lari: Queria que fosse com ele ? 


Parei para pensar e meu inconsciente gritava: SIM, SIM, EU QUERIA, QUASE ME ENTREGUEI, AH SIM COMO EU QUERIA. 


Vick: Não sei, talvez.


 Lari: Sem talvez, sim ou não. 


Vick: Sim Lari, eu queria, mas não quero mais. 


Lari: Te entendo.


Vick: Vamos mudar de assunto. Como estão as coisas por aqui ?


 Lari: Bia está morando com o Fe. 


Vick: Sério ? - fiquei surpresa -


 Lari: Sim, se mudou semana passada. 


Vick: E você aqui sozinha ? Tsc.


 Lari: Rafa sempre está aqui. 


Vick: Huuuuuuuum, Rafa sempre está aqui. 


Lari: Para tá, somos apenas amigos.


 Vick: Sei que são. Amizade beneficiada, hoje em dia é normal - disso dando uma gargalhada - 


Lari: Sua besta - jogou uma almofada em mim -


 Vick: Mas me ama tá - fiz bico - 


Lari: Sempre - apertou meu bico -


 Vick: Vem, vamos atormentar o nosso gato lá na sala. 


Descemos e ele gritava enquanto estava vendo uma luta. 


Pulamos em cima dele, cada uma em uma perna.


Rafa: Meu Deus duas gordas.


 Vick: Ai Rafinha, só porque íamos te convidar para uma ménage, mas já que somos gordas você não vai querer né - disse manhosa e passando a unha em seu peito -


 Rafa: Putz, aí eu vou hein, gordas aonde ? Duas gostosas.


 Vick: Canalha - dei um tapa de leve em seu ombro -


 Lari: Na hora do bem bom não somos gordas né, só por causa disso o almoço é por sua conta - bateu nele também -


 Saímos de cima dele e nos jogamos cada uma de um lado.


 Rafa: Eu não sei cozinhar. 


Lari: Então vai comprar. 


Rafa: A luta está tão boa.


 Vick: Vai lá que eu te conto como foi depois - disse rindo - 


Rafa: Sacanagem isso ai hein, só vou porque a noite tem ménage – levantou - 


Vick e Lari: Some daqui - tacamos almofadas nele -


 Ele saiu rindo e logo escutamos o barulho do carro indo. Alguns minutos depois ele voltou e comemos. 


Passamos a tarde em meio a conversas e brincadeiras, já estava anoitecendo e quando Lari foi tomar banho fiquei conversando com Rafa.


 Vick: Ela está linda com essa mini barriga - disse assim que ela saiu - 


Rafa: Está sim, muito – sorriu - 


Vick: Vejo que está gostando dela Rafa mas, e a Carolina ?


 Rafa: Estou procurando uma forma de terminar Vick, mas ela não desgruda. Ameaçou se matar cara, não sei o que faço.


 Vick: Garota nojenta, vamos dar um jeito nisso, agora estou aqui para te ajudar.


 Rafa: Sei que vai, sempre ajuda.


 Vick: Dormi aqui hoje ?


 Rafa: Sério ?


Vick: Urrum, quero, sei lá, ter certeza que tem um homem na casa.


 Inconsciente: Sua idiota, só se acostumou com a presença de Ablon, mas Rafa não é ele. 


Rafa: Claro que durmo.


 Vick: Obrigada. 


Lari apareceu e ficamos mais um pouco ali, até que decidi ir pra cama, estava exausta. 


Vick: Gente, já vou. - disse levantando - Beijo boa noite - dei um beijo em Lari e depois fiz o mesmo com Rafa - Juizo hein.


 Lari e Rafa: Boa noite, pode deixar. 


Entrei no meu quarto, tomei outro banho e vesti uma camisola me jogando na cama logo em seguida. 


Rolei, rolei, rolei e não consegui dormir, as imagens de Hazai morto e Ablon mostrando as asas não saiam da moinha cabeça.


 Peguei meu celular e entrei na rádio. 


Queria escutar qualquer musica de fim de noite sabe ? 


Coloquei na rádio Jovem Pan e tocava: Primeiramente Bruno Mars, depois Rihanna, One Direction, Taylor Swift e quando eu já estava desistindo por só terem tocado as “animadas” tocou Katy Perry - Wide Awake. 


Ouvi a música inteira tentando prestar atenção na letra mas, eu definitivamente era um desaste para o inglês, se Ablon estivesse aqui faria a tradução, droga, tenho que parar de pensar nele. 


Depois que ela acabou eu peguei meu not e fui fazer a pesquisa, youtube, vídeo e tradução.


 Eu adorava a voz dela e não tinha nada contra então, porque não saber mais ? 


Comecei a ver e foi aquele ditado sabe ?


 Você está triste e escuta uma música mais triste ainda para acabar de se afundar ?


 A música realmente me fez pensar. 


Vi o vídeo várias vezes em meio as lágrimas.


 Tudo se passou na minha mente como um filme, tudo mesmo, desde que eu passei a entender o mundo aos olhos “ruins”. 


E agora a letra fazia sentido. 


Sim, eu estava no escuro, eu estava caindo com força, com um coração aberto.


 Estou bem acordada. Como pude ler as estrelas de forma tão errada?
Estou bem acordada. E agora está claro para mim
Que tudo que se vê. Nem sempre é o que parece. Estou bem acordada. Sim, estive sonhando por muito tempo.  Queria saber naquele momento. O que eu sei agora. Não mergulharia de cabeça. Não me curvaria. A gravidade machuca. Você tornou isso tão doce. Até que acordei no concreto.


 Porque Ablon, porque ? Porque fez isso comigo ? 


Eu o amo tanto, ai meu Deus como isso dói. 


Me encolhi na cama deixando o not de lado e me abracei, tentando tê-lo ali comigo.


 Sim, eu havia caído da nuvem mais alta, poderia parecer forte mas, estava em cacos, por quanto tempo eu aguentaria, chorei, chorei até que minha cabeça parecia que ia explodir, ainda ouvia a "minha música", continuei chorando o quanto pude e quando o meu corpo não aguentou mais, mergulhei inconscientemente em um sono profundo e escuro.


Acordei no outro dia parecendo que alguém tinha me partido ao meio, atropelada por um enorme trem e ainda de ressaca.


Levantei com cuidado, totalmente tonta, e fui tentando ir em direção ao banheiro. 


Quando estava na porta ouvi meu celular tocar, de inicio não quis atender, mas ele não parava, uma chamada atrás da outra, tomei coragem e voltei para o quarto, ele estava jogado ao lado da cama no criado, olhei o visor e lá indicava “Ablon”. 


Vick: Não vou te atender - disse baixinho - 


Coloquei no silencioso e o joguei na cama, fui para o banho, demorei cerca de 40 minutos lá e sai, me sequei, coloquei a primeira roupa que vi na minha frente e fui em direção a cama novamente. 


Quando eu fui puxar o edredom, senti o celular vibrando, peguei e olhei o visor. 


55 chamadas perdidas.


 Vick: Ele não desiste ? - joguei o celular novamente que iniciou a vibrar. Olhei para ele novamente - Será que aconteceu alguma coisa ? - peguei de novo -


 Esperei e ele começou a tocar. 


No terceiro toque eu atendi.


 


 Inicio da ligação.


Ablon: Vick ? - sua voz soou aliviada - 


Vick: O que quer ? - disse meio rouca - 


Ablon: O que você tem ? Você está... - Suspirei -  Bom, não é mais da minha conta não é ? 


Vick: Não. 


Ablon: Mesmo que não queira saber, estou ligando para avisar que vou viajar, tenho uns assuntos pendentes antes de... Bom, é melhor não saber disso. 


Vick: Vai sozinho ? 


Ablon: Não, com Shamira. 


Vick: Entendo - senti um nó na garganta - 


Ablon: Não sei se voltarei a te ver, eu queria muito mas, isso não depende só de mim, queria que soubesse que já sinto a sua falta, que não sosseguei um minuto desde que se foi, queria pedir desculpas por não ter contado para você antes que não era humano, me perdoe Vick, se eu pudesse, eu daria tudo para ser um humano, só pra você me aceitar, só pra ficar comigo, mas, eu não posso. Uma coisa eu posso fazer. Nunca te esquecer. Eu... - suspirou - eu te amo.


 Ouvi ele dizer e quando disse que me amava não aguentei e comecei a chorar no telefone.


Vick: Ah Ablon, como eu esperei ouvir isso de você, só que agora é tarde demais, tarde demais. Mentiu pra mim, e eu te amo, amo como nunca amei ninguém, me fez renascer Ablon, renascer e depois morrer novamente. Sinto muito mas, eu preciso ficar sozinha. 


Ablon: Não me verá mais. 


Vick: Boa viagem.


 Ablon: Obrigado.


 Fim da ligação.


 


Ablon narrando 


Shamira: Vamos ? 


Ablon: Acho que quero ficar um pouco Shamira. 


Shamira: Ficar ?


 Ablon: Sim, preciso colocar a cabeça no lugar, me de um tempo.


 Shamira: Bom não demore, não se esqueça, tem um compromisso daqui a alguns meses.


 Ablon: Estou completamente ciente disso. E creio que por isso preciso desse tempo. 


Shamira: Te esperarei.


 Ablon: Estarei lá. Boa viagem. 


 


 2 meses depois. 


2 meses se passaram e tudo o que eu fiz foi organizar as empresas e deixá-las em nomes de funcionário leais e confiáveis, pensar na Vick o tempo todo, mesmo quando estava trabalhando, e pensar no que eu faria a partir do momento que fosse a Sheol, como seria tudo ? Não a veria nunca mais ? Estava embarcando em um avião agora para o sul da Inglaterra, era onde Shamira me esperava. 


 


A floresta vermelha. 


Por todo o tempo até o crepúsculo, Ablon vasculhou a mata, investigou as árvores e farejou o ar, mas nada da encontrou. Começou a imaginar que suas suposições acerca da necromante estavam erradas. 


A floresta era grande, mas, com seu olfato apurado, já teria, seguramente, captado um cheiro tão familiar.  Cansado de procurar, o renegado fez uma pausa e sentou-se sobre a raiz protuberante de um grande roble de casca vermelha.


 Foi então que, subitamente, um fenômeno fabuloso teve inicio. Quando o último raio de sol se pôs, o tecido da realidade afinou, esticando-se como borracha ao fogo. 


Imediatamente, o Anjo Renegado entrou em alerta e examinou o terreno. Percebeu que, logo a frente, a membrana se rasgava, ao fim de um caminho através do qual as copas das árvores se encontravam, dando forma a um túnel de galhos. Sem hesitar, o querubim caminhou até lá, alerta aos perigos que poderiam estar a espreita na penumbra.


Mesmo com toda sua experiencia nas questões espirituais e mundana, Ablon nunca tinha presenciado um evento de igual natureza. Não sabia se aquele caminho levava a uma armadilha, se era um convite, ou se a passagem se abria independentemente de sua presença. Não tinha ideia para onde estava seguindo nem a sorte de criaturas que lá encontraria. Já não tinha certeza se a feiticeira habitava aquela floresta. A cada passo, a esquisitice aflorava. 


Ainda meio confuso, o renegado seguiu pelo túnel e, de repente, notou que as árvores do inverno se tornavam mais vivas, e suas folhas congeladas ganhavam o calor do verão. Uma névoa fina encheu o ar, trazendo o aroma das flores silvestres. Sob seus pés, a neve derretera, e agora o anjo pisava em relva macia. Era quase noite, mas havia luz, um fulgor azulado que emanava de cima, clareando o corredor florestal. Os animais, antes escondidos, voavam, corriam e pulavam, indiferentes a passagem do andarilho. Uma cotovia piou, e as cigarras cantaram. Uma lebre saltou no meio da passagem e, com os olhos astutos, fitou o visitante. Ainda deslumbrado com o espetáculo fantástico, o querubim não se deu conta de que, naquela expressão inocente, havia intenções resolutas. O animal disparou e desapareceu nas folhagens. 


Quando Ablon chegou ao fim da passagem, deparou-se com uma ampla clareira, muito bela, flanqueada por carvalhos enormes. O chão era como um magnifico jardim, cheio de flores coloridas e cogumelos vermelhos. Partículas de pólen dançavam no ar, e em um nicho uma poça profunda guardava a água que descia de um riacho. 


Uma abelha zumbiu, rondou o espaço e voou para cima. As brumas que enchiam a clareira se dissiparam, e foi com espanto que o renegado se viu cercado. Por todos os lados, um grupo de seres incríveis o analisava, com faces mais hostis que curiosas.


 Lembravam seres humanos, mas estavam longe de sê-lo. Eram mais baixos e mais delgados do que os homens comum, as orelhas pontudas tudo captavam, e os olhos amendoados desafiavam a mais profunda das trevas. A pele era delicada e alva, e o semblantes, frio e insensível. Trajavam roupas e capas multicolores, de tecido finíssimo. A maioria portava esplendidos arcos de prata, com setas na corda, mas um deles segurava uma espada longa, de um só gume. O celeste reparou ainda que as fêmeas tinham dois pares de asas translúcidas, tal qual as libélulas. 


Quem eram aquelas criaturas ? De onde saíram ? Como teriam surpreendido um lutador tão sagaz ? Ablon não foi capaz de deduzir as respostas, mas compreendeu um fato chocante. O tecido da realidade, de uma hora para outra, não mais existia. Mas como isso era possível, se ele estava preso no mundo físico ? Lembrou-se de seu combate no bosque Tin-Sen.


 Recordou-se do momento em que entrara no templo pagão, deparando-se com os três espíritos antigos. O encontro só fora visível porque aquele ponto era vértice, onde os mundos físico e espiritual se interseccionam. Esses lugares, esses vértices, vem sumindo a cada dia. São uma herança dos dias remotos, quando o tecido não existia e os dois mundos eram unos. Em alguns raros locais, cheios de misticismo e magia, os vértices continuam a existir – é a banalidade dos homens que os destrói. Aqueles humanoides eram figuras etéreas, e Ablon concluiu que só podiam ser...


XXX: Meu nome é Mercurion, do povo das fadas - anunciou o portador da espada, arrogante - O que o traz aqui, celestial ? Sabe que sua gente não é bem-vinda em nossos domínios. 


O duende que o abordara era uma entidade espiritual e podia sentir a aura de Ablon, a energia característica dos anjos. 


Não seria enganado nem persuadido.


 Mas o guerreiro não procurava confronto.


 Ablon: Minha gente ? Não sou bem um celeste, Mercurion, sou um anjo renegado. Procuro pela Feiticeira de En-Dor - arriscou - 


A figura de espada na mão fez um sinal para que os outros relaxassem os arcos. 


Mercurion: Você afirma ser um celestial renegado - quis confirmar, ainda cauteloso - 


Ablon: Sou um velho amigo da feiticeira. 


Uma criaturinha, que de inicio Ablon pensou ser um inseto, veio por trás e pousou em sua cabeça. Antes que pudesse afugentar o intrometido, o estranho animal decolou e levou consigo dois fios dourados de cabelo do general. 


A figura pousou no ombro de Mercurion, e Ablon entendeu que não era um bicho silvestre. Como nas lendas, aquela era uma fada pequenina, de asas azuis e vermelhas, semelhantes as das borboletas.  O corpo minúsculo brilhava com luz própria, como o ventre dos vaga-lumes. Em uma atitude bizarra, a luminosa mastigou e engoliu o cabelo do intruso, arregalando depois os olhos miúdos.


Mercurion: O que acha do nosso visitante, Serena ? - indagou o chefe dos duendes - 


Serena: É bonitão - retrucou a fadinha - 


Não havia malicia em seu coração nem em suas ações. 


Mercurion: E o que mais, além disso ? 


Serena: Tem um cabelo gostoso - falou, deglutindo o ultimo fio - 


Com isso, estranhamente, os elfos se sentiram mais seguros e confortáveis. 


O general não entendia como aquela figurinha nanica podia ser tamanha influencia sobre as fadas maiores, mas o fato é que Mercurion embainhou a espada. 


Mercurion: É meu convidado, Anjo Renegado - decidiu o duende, abrindo um sorriso - Como se chama ? 


Ablon: Ablon, dos querubins - replicou, em meio a recepção surreal - 


Mercurion: Ablon, dos querubins... - o outro repetiu, considerando a sonoridade do nome - A Feiticeira de En-Dor é nossa hóspede. Vou levá-lo até ela. 


Os guardas quiméricos desmancharam o círculo e formaram uma fila.


 Ablon: Hóspede... - Ablon pensou alto - É como eu tinha imaginado. 


O anjo guerreiro perseguiu a trilha dos elfos através da floresta, a luz azulada das árvores.


 O frio congelante do inverno não penetrava naquelas partes, só o calor do verão.


Mercurion: Ela nos contou de você, mas apenas superficialmente - comentou o duende - É uma das poucas humanas que nos conhecem de perto. A maioria dos homens vem destruir nossas casas. 


Ablon: Suas casas ? - estranhou - 


Até ali, só vira mata fechada, e nenhuma choupana.


 Foi nesse exato instante que chegaram a uma segunda clareira, mais espaçada, onde as raízes davam vida a robles ainda maiores. Buracos no tronco simulavam portas e janelas, por onde saíam e entravam seres feéricos. Alguns voavam com suas asas de insetos, outros escalavam o caule, e um grupo brincava e saltitava na grama.


No meio da miscelânea de seres, havia aqueles que se pareciam com os animais da floresta, mas a maioria das fadas era como os seres humanos, porém em miniatura, e dotadas de características fantásticas. 


O Anjo Renegado caiu em contemplação. 


Ablon: Seu domínio é fascinante, Mercurion.


 Não encontrara tal beleza nem nos campos do paraíso. 


E existia também um tipo de sensação quente no ar, uma energia única, revigorante.


 Mercurion: Em todo carvalho mora uma fada. Sempre que uma árvore morre, a fada morre também. Por isso estamos indo embora deste mundo.


Ablon continuou observando a clareira e, por um segundo, esqueceu-se de seus compromissos, absorto em fantasia.


 Mercurion: Vamos - chamou, puxando o lutador pelo braço - O caminho para a feiticeira é por aqui. 


Anjo e duende rumaram por uma picada estreita, orlada por amora, framboesas e cogumelos pintados, e alcançaram um sítio em que, fixada ao chão, havia uma tenda de seda, com uma das lonas aberta. 


No interior, uma mulher, sentada a uma mesa natural de raízes, estudava pergaminhos e objetos mágicos, à luz amarelada dos vaga-lumes. E ao seu lado, como guardião do lugar, descansava um ser extraordinário, de corpo longo e reptiliano, olhos de fogo e dentes enormes. Era tão grande quanto um leão, e a cauda duplicava a silhueta assustadora. A pele estava protegida por escamas de cobra, e das costas nasciam duas asas escuras. O monstro parecia os dragões mitológicos, tão bem retratados nas esculturas vikings e nos desenhos dos bárbaros do norte.


 Mercurion: Feiticeira - chamou, e Shamira virou-se na hora -


As pupilas da moça brilharam ao perceber a presença de seu amigo celeste. Deixou tudo de lado e correu para abraçá-lo.


 Shamira: Ablon! - exclamou, comovida - Finalmente veio, nem vou perguntar como me encontrou – brincou - 


Ablon: Tive sorte desta vez, posso me considerar um viajante afortunado – sorri -


 Entendendo que havia total cumplicidade entre os dois, o elfo resolveu ir embora.


 Estava convencido de que Ablon não era ameaça.


 Mercurion: Vou deixá-los a vontade - e dirigiu-se ao general - A feiticeira conhece as trilhas do bosque. Ela vai orientá-lo. 


Quando Mercurion já se afastava, Ablon, ainda fascinado com a maravilhosa floresta Vermelha e seus habitantes, achegou-se a amiga.


 Ablon: Quem são essas criaturas ? Que lugar é este, Shamira ? Tudo é tão belo, tão rico, tão farto. Parece um sonho, embora eu raramente sonhe.


Ela também estava encantada com o cenário sublime. 


Shamira: Você já deve ter notado que estamos no centro de um vértice. Com o adensamento do tecido, essas áreas sobrevivem como bolsões, alheios ao mundo dos homens. Já faz alguns meses que venho estudando o povo das fadas. Mercurion e os duendes altos fazem parte da corte dos elfos, e são os mais solenes. São os últimos de sua espécie que continuam na terra. As fadas e as riaturas quiméricas são entidades espirituais. A medida que a membrana engrossa, elas ficam mais fraca. 


A necromante apontou para o dragão que repousava de olhos abertos dentro da tenda. Estava atento, apesar de imóvel. 


Muitos dragões, tem a habilidade de se conservar inativos por dias, anos ou séculos. Por vezes, usam feitiçaria para assumir a forma de blocos de pedra ou de troncos de árvores, para que os seres humanos não os possam identificar. 


Shamira: Gorath foi designado como meu guardião durante o tempo em que estou no reino das fadas -continuou a mulher- ele também é o último de sua raça, é a cria caçula de Margath, um dos dragões anciãos, que morava nesta região antes da chegada dos usurpadores romanos. 


Ablon: Ele não me parece muito ameaçador, apesar de suas presas e garras. 


Shamira: Os dragões são como as fadas. São seres da natureza, de essência etérea. Alguns conseguem se materializar onde o tecido é muito fino, mas tais lugares são uma raridade hoje em dia. Venha - ela o puxou pela mão - Vou levá-lo ao lago dos Puros.


Sozinhos, Ablon e Shamira caminharam pelas árvores vermelhas, e toda a noção do tempo lhes foi apagada da mente. De repente, o general sentiu o aprazível aroma das framboesas fantásticas, o cheiro mais gostoso que já provara. 


A fragrância despertou seu paladar, e ele identificou, no canto da trilha, um ramo da fruta. Separou o pomo do galho, na intenção de levá-lo a boca, mas a feiticeira o impediu. 


Shamira: Não coma isso, a não ser que queira ficar aqui para sempre. 


Ablon: Como assim ? - estranhou, largando a framboesa -


 Shamira: O lampejo do país das fadas fascina todos os sentidos, mas não é nada comparável ao paladar. Se você foi preso a visão dos carvalhos, imagine o que aconteceria se experimentasse os gostos feéricos. Dizem que aqueles que provam as iguarias quiméricas ficam eternamente atados a este mundo. 


Ablon: É melhor não arriscar – concordou - 


Terminaram o passeio a beira de um lago pequeno, sobre o qual flutuava a mesma bruma gelada que cobria a primeira clareira, na entrada do bosque. Plantas aquáticas se levantavam da água como dedos gigantes, e os sapos coaxavam sobre as vitórias-régias.


 Shamira: O lago dos Puros é, assim como o corredor de árvores, uma passagem para dentro do vértice - esclareceu a mulher - Além dele há uma saída da floresta Vermelha, que só se abre no crepúsculo.


Ablon: É esta bruma ? É tão estranha, tão fria. 


Shamira: É uma manifestação etérea. Marca os limites da área compartilhada pelos dois mundos. Em breve, acredito, este vértice desaparecerá, e as fadas ficarão limitadas ao plano etéreo. Foi assim com a ilha de Avalon, que um dia podia se alcançada tanto por homens quanto por elfos. Agora, só existe além do tecido. Em uma tarde clara de verão, quando a membrana se estica, os sensitivos ainda podem avistar o brilho de seus faróis. Logo, até mesmo as luzes se apagarão. 


Ablon: E o que acontecerá aos duendes ? 


Shamira: Não sei. Provavelmente alguns, como Mercurion, ficarão aqui para sempre vagando pelo etéreo, para ver as plantas morrerem, os rios secarem e a relva queimar. Mas a maioria deles já regressou a Arcádia, que é sua dimensão de origem. Lá é sempre verão, e o calor nunca fenece. 


Ablon: É uma história triste - admitiu o anjo - Foi por isso que veio para cá ? Para marcar o curso final desta saga ? 


Shamira: Provavelmente sou a única humana com quem eles ainda mantém contato direto. Sou uma ponte entre o reino quimérico e o plano material. Os sacerdotes druidas, que adoravam os elfos, foram exterminados pelos legionários de Roma. E hoje a Igreja condena os ritos pagãos. Como as tradições célticas eram quase todas orais, não sobraram relatos sobre as fadas e sua ligação com o povo primitivo.


 Ablon lamentou a tragédia daqueles pequenos, mas nem que quisesse poderia ajudá-los. Tinham também sua própria missão a cumprir, e os querubins são obcecados pela conclusão de suas demandas. Shamira sentou-se a margem do lago, e seu semblante entristeceu-se ao encarar o espelho noturno. O contentamento de receber o amigo se foi, e, em seu íntimo, lembrou que ainda sabia o porque daquela visita. 


Ablon: O que foi feiticeira ?


 Shamira: Estou feliz em tê-lo comigo, Ablon, mas, sei que ainda temos o término de um assunto pendente.


 Ablon: Quer que te explique agora ? 


Shamira: Não, antes, prefiro me aperfeiçoar mais nos feitiços que estive buscando, sinto que precisarei deles. Quando estiver pronta, você fala. 


Ablon assentiu, e eles ficaram ali naquele maravilhoso mundo, por mais algum tempo.



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Autor(a): Fraanh

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Comentários da Fanfic 1



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  • fraanh Postado em 16/10/2014 - 20:18:52

    Por mais que eu esteja postando a primeira temporada rapidamente só para continuar a segunda (já que tive que sair do orkut), eu devo, com toda a educação do mundo, dar as boas vindas as leitoras que não me acompanharam antes, então, sejam bem vinda meninas, espero que estejam gostando, comentem por favor, eu não mordo não *-*


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