Fanfics Brasil - Capítulo 36 O amor e um anjo ~

Fanfic: O amor e um anjo ~


Capítulo: Capítulo 36

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Ablon: Isso foi um resumo.


Vick: Está querendo me dizer que Deus está dormindo ? - ele assentiu - Que quem comanda o céu são os Arcanjos ? Mais especificamente Miguel ? - ele suspirou - E que ele foi quem provocou as catástrofes conhecidas pela humanidade como Diluvio, e os acontecimento de Sodoma e Gomorra ? 


Ablon: Isso, você entende rápido.


 Vick: Ablon isso é...


 Ablon: Loucura ? Eu sei. Você está acostumada com os testemunhos da Bíblia não seria de um carácter religioso acreditar nisso. 


Vick: Se você que é testemunho de tudo isso está me dizendo, como vou duvidar ? Você é o próprio milagre Divino pra mim. Um anjo, de verdade. 


Ablon: Tem mais coisa, muito mais. 


Vick: Renegados, que tal começar me dizendo mais sobre isso. 


Ablon: Sou apenas um viajante, um guerreiro perdido, um desertor de meu próprio exército. Um renegado, um desagarrado talvez. 


Vick: Exército ? 


Ablon: O meu exército não viaja por terra, mas pela vastidão do céu azulado, acima das nuvens e além da realidade comum – revelou - Não é um exército mundano, tampouco uma tropa terrena, mas uma legião invisível.


 Vick: Você faz parte de um exército celestial ? - abri a boca -


 Ablon: Sou um General.


 Vick: General ? 


Ablon: Sim, o Primeiro General - o encarei incrédula - No que está pensando ? 


Vick: Na verdade em muitas coisas, mas to imaginando você com armaduras e no comando - mordi o lábio. Ele abaixou a cabeça negando e sorriu - Ok, conte-me tudo...- pedi - Fale sobre o Universo, sobre as coisas que viu, revele-me o aspecto de Deus. 


Ablon: Mas eu sei muito pouco. Só os arcanjos conhecem os verdadeiros mistérios do cosmo. Sou só um guerreiro, um executor, ou pelo menos era... Posso lhe contar o que sei, o que ouvi dos malakins, os anjos sábios que moram no Sexto Céu e vivem para estudar os segredos antigos. Houve um tempo, muito anterior a aurora do universo, em que o infinitos estava dividido em duas províncias, a província das trevas e a província da luz. A escuridão era então governada por uma divindade hedionda, Tehom, a deusa do caos. Essa monstruosidade cósmica era assistida por diversos deuses menores, entre eles Behemot, o Horrendo, com sua lamina negra, e controlava a maior parte do extremo vazio. Seu opositor era o deus da luz, o resplandecente Yahweh. Em determinada ocasião, Yahweh e Tehom entraram em guerra.


 Vick: Um só Deus contra muitos ?


 Ablon: Para ajudá-lo nesse combate, o Reluzente fez nascer os cinco arcanjos, seres de poder fabuloso, que lutaram a seu lado contra os deus das trevas. Yahweh e seus arautos venceram o confronto, ao qual nos referimos como Batalhas Primevas, e lançaram ao inferno os cadáveres de seus inimigos. Com Tehom derrotada, o Pai Celestial assumiu as duas províncias, comandando tanto a luz quanto as trevas e consagrando-se onipotente sobre todas as coisas. Invencível, Ele teve tempo para iniciar a criação do universo. Com um estalo, o Altíssimo deu vida aos anjos, todos de uma vez, povoando o espaço com legiões celestes. Depois, produziu uma fagulha de luz e principiou a feitura do cosmo. 


Vick: E sobre Deus, o que sabe Dele ?


Ablon: Só sentimentos e energia. O Senhor nunca foi acessível, mesmo enquanto moldava o infinito. Só os arcanjos falavam com Ele, e não creio que falassem muito. Yahweh era como um pai ocupado, um progenitor que dava muita importância ao seu trabalho. Mas podíamos senti-lo em nosso coração, e no fundo não estávamos sozinhos. Tolo é o filho que depende do pai, que se apoia em sua segurança e desiste de desbravar o mundo por si. 


Vick: E depois, o que aconteceu ? 


Ablon: Ao correr de bilhões de anos, o Criador cultivou seu labor, dividindo seu projeto em dias. Cada um desses dias sagrados corresponde a milhares de anos humanos. No primeiro dia ele criou o céu, o Sol e os primeiros astros do firmamento. Construiu uma miríade de luas e planetas, até descobrir seu mundo perfeito. Por incontáveis séculos, a terra foi o lar dos animais, o canteiro dos anjos, até que, no fim do sexto dia, surgiram os homens, a maior de todas as obras de Deus.  Encantado pelo resultado final, Yahweh deu a eles uma alma, concluindo a tarefa da criação.  Então, exausto e realizado, o Reluzente caiu em letargo.  Voou até o Sétimo Céu, a seu santuário no topo do monte Tsafon, e ali adormeceu, deixando aos arcanjos o serviço de governar em seu nome.  Terminou assim o sexto dia, e começou o sétimo, que persiste até hoje. 


Vick: O sétimo dia – repeti - E quando será concluído ? 


Ablon: É impossível dizer. Os arcanjos, e também os malakins sustentam que o Altíssimo despertará no futuro, para punir os injustos, e esse será o tempo do Apocalipse, um vento universal que encerrará o ultimo dia. Miguel, detém, no pináculo de sua fortaleza, em Sion, a Roda do Tempo, um artefato incrível que marca, supostamente, a continuidade do sétimo dia. Quando seu ciclo estiver terminado, o Onipotente ressurgirá w instaurará um reino de paz.


 Mas isso é só previsão. 


Vick: Posso te perguntar mais uma coisa ? 


Ablon: Tudo o que quiser.


Vick: Os manuscritos ensinam que os homens surgiram do barro, até hoje me pergunto se isto está correto. 


Ablon: O barro é metafórico - explicou - Ele representa a carne, a matéria física, a substancia palpável do universo concreto. 


O ser humano é parte de uma escala evolutiva que se iniciou no mar, no quarto dia, e que deu inicio ao nascimento de várias espécies.


 Vick: Ma você disse que os terrenos foram criados por Deus. 


Ablon: A força de Deus sempre esteve presente na evolução. Ela é a energia essencial que move o curso do infinito e o engrandecimento das coisas. Os clérigos costumavam comparar o trabalho de Yahweh com o labor da gente comum, para que possam compreendê-lo. Mas o oficio de um marceneiro ou de um pescador não se equipara a potencia divina. A criação movimentou energias supremas, misteriosa e invisíveis.


 Vick: Então os documentos sagrados nada mais são do que velhas parábolas ?


 Ablon: As parábolas não são desprezíveis, mas representam o ápice da comunicação humana. Assim, cabe ao indivíduo interpretá-las. Não há nada mais adequado a uma raça dotada de livre vontade, aberta a encontrar as próprias respostas. As escrituras estão cheias de símbolos que ajudam os homens a entender o significado do cosmo. Mas a verdade perfeita só existe na mente de cada um. 


Vick: E quem foram os nosso ancestrais, antes do surgimento de Adão ? 


Ablon: Uma espécie de hominídeos que habitava a escuridão das cavernas. Os anjos os desprezavam na época, até que eles alcançaram o cimo da evolução, e Deus os concedeu alma, instigando o ciúme dos perversos arcanjos. É por isso que muitos celestiais invejosos preferem se referir ao mortais como bonecos de barro, ou primatas, uma alusão a sua origem material. 


Vick: É curioso pensar que um anjo nunca tenha visto a face de Deus. 


Ablon: Mas isso é o que menos importa. Prefiro pensar Nele como um conceito, uma inspiração, um objetivo. Acho que a fé é justamente a propriedade de acreditar no indecifrável.


Vick: E você ? - perguntei - Porque está aqui ?


 Ablon fez uma pausa e fitou o nada com o olhar distante.


 Ablon: Yahweh sempre foi muito dedicado a sua criação o que entristecia os arcanjos que disputavam sua atenção. 


Então, quando o Reluzente deu a alma ao homem, os arcanjos e também muitos anjos, se encheram de ciumes e raiva. Assim, no instante em que o Altíssimo adormeceu, o príncipe Miguel iniciou sua politica de destruição. Alegando falar em nome de Deus, avisou que o Pai estava farto da crueldade humana e que decidira eliminar todo mortal da face da terra. Começou, com isso, a era das grandes catástrofes, dentre as quais a maior foi o diluvio. 


Vick: Se eu entendi bem, você não tem alma, é isso ?


 Ablon: A alma é uma propriedade humana, é um presente de Deus aos Filhos do Éden, como nós, anjos, chamamos a espécie mortal. É na alma que reside a capacidade dos homens de guiar seu destino e comandar a própria vontade. 


Vick: Mas como alguém, mesmo um celeste, pode não ter alma ? Qual é a energia que os move ? 


Ablon: Todos nós temos um espirito: humanos, deuses, animais e até plantas. O espirito é a energia vital que alimenta os seres viventes, mas espirito e alma são elementos distintos, embora poucos o saibam. É a alma que faz dos terrenos especiais no universo. É a força da alma que os torna conscientes, autônomos, que dá a vocês o livre-arbítrio, a dadiva que foi negada as entidades aladas. 


Vick: E como regem sua vida, se não pela rota do coração ? 


Ablon: Os celestiais não são conduzidos pelos próprios anseios, mas por sua natureza divina. No céu, estamos divididos em castas, cada qual com sua função. Existem anjos guerreiros, estudiosos, protetores, juízes e também aqueles que governam as províncias elementais.


 Vick: Entendi, em relação as catástrofes, o diluvio se refere a inundação que sepultou Enoque e Atlântida, certo ? 


Ablon: Sim, o cataclismo indignou metade do paraíso, mas os anjos ainda não estavam preparados para reagir nem para desafiar a autoridade do Monarca Alado. Por isso, decidi articular uma conjuração.


Vick: Você ? - o olhei surpresa - Achei que fosse só um guerreiro.


 Ablon: É no exército que reside o poder das revoluções, como eu disse era um general, um líder militar consagrado, mas subordinado ao chefe de minha casta e logicamente aos arcanjos também. Sozinho, seria esmagado. 


Vick: E o que resolveu fazer ? 


Ablon: Formei um circulo de conjurados, todos eles confiáveis, composto por dezoito querubins, que não me trairiam jamais, ou assim pensei. Contudo, precisava de apoio contra o enfadonho Miguel, e para isso recorri a outro arcanjo. 


Vick: E quem era ele ? 


Ablon: Lúcifer, a Estrela da Manhã. Ainda que fosse um arcanjo, Lúcifer sempre se mostrou favorável a causa humana, mesmo que só para desafiar seu irmão. Ele era o único que tinha poder para debelar o Príncipe Celestial e era perfeito ao quadro da conjuração. 


Vick: Qual foi a resposta dele ? 


Ablon: Ele aceitou o meu plano, e achei que juntos poderíamos por fim as hecatombes e talvez despojar o tirano. Mas nem tudo correu como esperado. Séculos depois do diluvio, os homens voltaram a se multiplicar, o que enfureceu sobremaneira o ditador. Sua fúria caiu, então, sobre a cidade de Sodoma,  Miguel resolveu devastar o lugar e convocou todos os anjos para uma assembleia, com o intuito de anunciar sua decisão. Após um demorado discurso, confirmou o extermínio não só de Sodoma, mas de todas as cidades na vastidão da planície. Irritados, eu e os conjurados levantamos a palavra, e tudo não teria passado de discussão se o ardiloso Lúcifer não tivesse nos delatado. Ali, diante do conselho, o Arcanjo Sombrio nos traiu, revelou a conjuração, e então pegamos em armas. Uma luta violenta se sucedeu, até que os pilares do paraíso racharam, e despencamos. Fantástico e insuperável é o poder do sinistro Miguel, ele nos amaldiçoou, condenando-nos a pior sentença que poderia se dada aos celestiais. Ele nos encarcerou em nosso corpo físico e nos expulsou para a terra. E assim fomos relegados ao plano material.


Vick: Mas por que Lúcifer preferiu traí-los, se era Miguel o seu verdadeiro inimigo ?


 Ablon: A Estrela da Manhã não desejava nossa aliança. Ele não se preocupava verdadeiramente com a preservação da humanidade, mas só em contrariar o tirano. Almejava tomar o trono e depois ascender acima do próprio Deus, firmando seu palácio em Tsafon, o Monte da Congregação. 


Vick: É difícil concluir qual dos dois é pior, um ditador assassino ou um vilão ardiloso. 


Ablon: Delatar a conjuração deu a Lúcifer influencia e prestigio, poder que ele usou para arquitetar sua própria revolução. Atraiu milhões a seu lado, prometendo um governo de paz e o fim da tirania. Alguns anjos bons aderiram a sua revolta. Desiludidos com o ministério do príncipe. Pouco tempo depois do expurgo dos dezoito renegados, uma guerra sangrenta agitou o paraíso, mas a rebelião foi derrotada. O Diabo e seus anjos foram lançados ao Sheol, e ali permanecem como demônios do desespero. 


Vick: Como soube de tudo isso, se já não frequentava o céu a época da batalha ? 


Ablon :Por Orion, um anjo caído que aceitou, erroneamente, os termos da revolução. Éramos amigos nos dias da velha Atlântida, e ele subiu do inferno para me procurar. Falou-me sobre a guerra, e disse-me também que Lúcifer pusera toda a culpa de sua derrota nos renegados, que teriam sido o inicio de tudo. 


Vick: A corda sempre arrebenta do lado mais fraco.


 Ablon: Orion veio me avisar que a Estrela da Manhã designara caçadores para nos acossar. E, por uma detestável ironia, Miguel, no céu fizera o mesmo, sustentando que a conjuração semeara o fruto da revolução. Embora nunca tenhamos tido nada a ver com a insurreição de Lúcifer, ambos os lados precisavam encontrar um alvo para descarregar sua raiva. 


Já prevendo a perseguição, nós os renegados, preferimos nos separar e nos espalhar. 


Vick: Uma decisão arriscada - fechei os olhos imaginando no que poderia ter acontecido - 


Ablon: Logo que chegamos a terra, fomos ao único lugar que conhecíamos. Enoque, então uma ruína submersa no deserto de Nod, povoada pelos fantasmas daqueles que morreram na devastação do diluvio. Lá, a Irmandade dos Renegados ficou oculta por séculos, estudando as obras de arte, a arquitetura e os documentos humanos. E no fim desse período de exílio, resolvemos partir solitários, porque juntos seriamos achados e mortos de uma só vez. 


Empalideci ao mesmo tempo que senti um calafrio pensando em Ablon, morto!


Ablon: O que foi ? - segurou minha mão - Está gelada. 


Vick: Só estou pensando, no que não deveria. Você ainda pode ser morto Ablon, isso ainda não acabou não é ? É só o começo, eu sei que sim. 


Ablon: Não, ainda não acabou, por isso Shamira está aqui - ele desviou o olhar - 


Vick: Como assim ? O que ela tem a ver com isso ?


 Ablon: Quero contar, mas para as duas, assim que ela falar com você seja lá o que for.


 Vick: Antes será que posso ter alguns segundos de vida de casal normal com você ? - o puxei já que estava se levantando - Vem. 


Sai do sofá e sentei com ele no chão encostada em uma prateleira. 


Vick: Como dois adolescentes – sorri - quer me contar a melhor parte disso tudo ? 


Ablon: Melhor parte ?


 Vick: Sim, você, que tal uma narração descritiva, talvez na terceira pessoa. 


Ele pareceu pensar um pouco e então começou.


Ablon: O Sol estava se pondo. Em pé, sobre a gigantesca mão da estátua do Cristo Redentor, o Anjo Renegado observava a cidade, a aproximação do crepúsculo. Sua expressão, inabalável e serena, era de alguém que muitas vidas vivera, de um andarilho que percorrera o mundo, desvendara seus infinitos mistérios e enfrentara toda sorte de criaturas, abissais e celestes. Mas era também o semblante de um pioneiro, que visitara nações já perdidas e se sentara a mesa com os grandes homens de outrora. Era como se, nas profundezas daqueles olhos azuis, estivesse gravada uma parte singela de cada civilização, de cada povo, de cada cultura ancestral e moderna história de toda uma espécie vivia agora na mente do fugitivo, um guerreiro de jovem aparência, tão preservado quanto aos mortais no auge da casa dos trinta.  - O encarava sorrindo. Ele ficou esperando alguma resposta minha mas, não disse nada, apenas assenti para que continuasse -  As vezes o lutador ficava imóvel por horas, em absoluto silencio, meditando sobre os amigos já mortos, para que jamais lhe deixassem a memória. Padecia de um único temor: o medo de esquecer- esquecer os seus ideais, o seu passado e a sua luta incansável. Uma rajada de vento sacudiu a montanha, balançando os loiros cabelos do renegado. Ele os prendeu com uma fita e caminhou sobre a estrutura de pedra. Seu equilíbrio era impecável, mesmo na estreita passagem, que completava o braço da escultura titânica. Não se parecia com um anjo de fato, porque escondia as asas, enfiadas na carne.  O rosto era tipicamente nórdico, e o corpo, atlético, forte e delgado. Guardava um aspecto felino - era a face de um caçador, sempre alerta ao perigo e pronto a responder ao ataque.  A barba, mais espessa a volta da boca, formava um cavanhaque dourado, e as roupas escuras delineavam uma silhueta sombria. Estático, inabalável ao vento, o querubim esperava por algo. Provava o cheiro do ar, escutava o movimento das nuvens e enxergava a despedida do Sol. Dali, do cume da imensa montanha, mesmo os maiores arranha-céus eram agulhas, farpas minusculas no coração da cidade. As águas da baia de Guanabara, cercada pelo morro Pão de Açúcar e pelas brancas areias da enseada, refletiam o róseo brilho poente, Foi então que, à contemplação da paisagem, o celeste percebeu quanto a metrópole crescera, desde sua chegada ao Brasil, havia exatos trezentos anos.  As praias estavam interditadas, e as fábricas poluíam a baía. As pessoas haviam construído pontes e ruas e levantado antenas no alto dos morros. Agora, era só uma questão de tempo até que o Sol extinguisse seu fogo, e a civilização mortal perecesse.  E o gigante dos tempos entendeu por que estava triste.  Por mais que um dia tivesse sido um anjo, ele agora era humano também. - Ele parou me olhando fixamente e depois de uma longa pausa, me beijou, carinhosamente e ao mesmo tempo rápido, com mistura de amor, desejo, desespero e saudade -



Ablon: Eu te amo - encostou a testa na minha - muito. 


Vick: Eu também amo você, muito. 


Me aconcheguei no colo dele e ficamos assim, por segundos, minutos, horas ? Não sei.


 Parece que naquele momento tudo que queríamos um do outro era sentir que estávamos ali, sem palavras, apenas sabendo que pertencíamos um ao outro. 


Quebrei o silencio me lembrando que Shamira ainda queria falar comigo.


 Vick: Tenho que ver o que ela quer - disse me levantando - 


Ablon: E deve estar com fome não é ? Se ela ainda não preparou nada, vou fazer algo para comermos. 


Saímos de lá e encontramos Shamira na sala.


 Vick: Acho que podemos conversar agora se quiser. 


Ablon: Vou fazer o almoço. 


Shamira: Ok. Quer voltar pra lá ? - me olhou - 


Vick: Pode ser. 


Ablon me deu um beijo na testa e foi para a cozinha. 


Subi novamente seguida por Shamira e entramos na biblioteca.


 Vick: Então ? - sentei na poltrona - 


Shamira: Ablon já deve ter te explicado tudo não é ? 


Vick: Acho que o suficiente.


 Shamira: Tem uma coisa que ele ainda não me contou, embora eu já saiba do que se trata. 


Vick: O assunto que ele disse que contaria para as duas. 


Shamira: Isso, bom, é uma coisa complicada Vick, mas sei que você não é nenhuma humana tola, ele vai precisar de nós duas, e eu não queria ficar com esse clima. 


Vick: Sei que você chegou primeiro, na verdade a muitos anos atrás, sei que a intrusa aqui sou eu Shamira, mas eu o amo. E parece que você também, o que torna as coisas muito mais difíceis.


 Shamira: Tive ele por tempo demais para saber que nós dois nunca vamos ficar juntos, não foi a sua chegada que indicou isso, eu só fiquei um pouco... frustrada. 


Vick: Somos adultas não somos ? Apesar de você ser uma feiticeira, é mulher, e sabe como eu sei, como as mulheres reagem em relação a isso. 


Shamira: Sim, só que eu já aceitei, ele ama você, e é com você que ele quer ficar, então, não vou pedir para sermos amigas, só quero que nos entendemos, por nós, e principalmente por ele.


 Vick: Tudo bem, posso fazer isso. 


Shamira: Que bom Vick, que bom - ela sorriu - Tenho uma outra proposta para você mas, será o nosso segredo. Acho que é um dos últimos favores que faço para ele, e para você também, se você topar é claro. 


Vick: E o que seria ? 


Ela foi até a porta, olhou no corredor, foi para o seu quarto e depois de um tempo voltou. 


Shamira: Vamos conversar melhor, sem que ele escute, depois que eu fizer isso. 


................................


 


Ablon narrando


Não ouvi mais nada do que elas falavam, pensei em interferir mas, acho que elas precisavam desse tempo, voltei minha atenção para o almoço e já tinha terminado e elas ainda não tinham voltado.


 Encostei na janela que dava de vista para o mar e fiquei pensando.


 O Dia com certeza estava próximo, eu sentia isso no ar, logo agora que estou com ela. 


Será que valeria a pena colocar a vida de Vick em risco por amor ? 


Não, eu estava sendo egoísta, muito egoísta, só que, ela aceitaria tudo de outra forma ? 


Também acho que não, e agora que já estamos envolvidos, prefiro que ela corra risco ao meu lado, do que longe de mim. 


O que eu esperava que nunca acontecesse, de nenhum modo. 


Fui tirado dos meus pensamentos assim que ouvi elas novamente. 


XXX: Ablon ? - ouvi ela me chamar - 


Ablon: Estou aqui. 


Vick e Shamira sorriam e aquilo me deixou mais tranquilo, ao menos um pouco. 


Ablon: Posso saber o que as madames tanto conversavam ?


 Vick e Shamira: Não - responderam juntas - 


Shamira: Coisa e mulher não se meta.


 Vick: Estamos bem agora está vendo ? Shamira é legal.


 Ablon: Estou sonhando ? 


Shamira: Desde quando você sonha hein General ? 


Ablon: Não custa nada acreditar. 


Vick: Bora parar com esse papo que eu to com fome ?


 Shamira: Vamos, ele não sabe o que é isso. 


Shamira pegou na mão de Vick e as duas desceram rindo.


 O que havia acontecido naquela sala afinal ?


 Acho que eu demoraria para saber, de qualquer forma era uma coisa boa.


 Balancei a cabeça negativamente e desci atrás delas.


Por volta das 17h:30, manobrei o carro entre os carros em direção a zona sul, alcançando o litoral. 


Percorremos a avenida a beira mar até o fim, onde a pista para automóveis continua, circundando a encosta de uma montanha rochosa. No meio do caminho há um ponto turístico, um mirante belíssimo próximo a falda, que exibe uma das mais belas paisagens do mundo.


 Daquele local avistamos toda a praia do Leblon e de Ipanema, que juntas, formam uma enseada, com sua faixa de areia terminando em um calçadão de pedras portuguesas. Além da calçada está o asfalto, e em seguida inúmeros prédios altos com sacadas de vidro e coberturas milionárias erguem-se como gigantes de concreto. 


Partindo da orla, em direção ao oeste, o terreno vai aos poucos se inclinando para cima, dando aos observadores a falsa impressão de que a cidade está apoiada em solo plano. É aí que fica a grande parte da área urbana.


 No extremo oeste, o horizonte é recortado por uma cadeia de morros verdes, sobre os quais estão fixas inúmeras antenas de transmissão de rádio e TV. O ponto mais alto desse maciço montanhoso é uma saliência afinada chamada de Pico do Corcovado, coroada pela impressionante estátua do Cristo Redentor, com os braços abertos.


Parei o carro em uma pequena área de estacionamento ao redor do mirante.


 Shamira e Vick caminharam até a mureta de pedra. 


Dez metros abaixo, as ondas do mar se chocavam contra a falésia, lançando respingos, e as duas ficaram ali por alguns instantes, tranquilas, contemplando o espetáculo marinho. Cheguei logo depois trazendo duas garrafas de água mineral, que tinha comprado no quiosque.


 Eu sabia que a necromante ainda guardava necessidades humanas, mesmo que já tivesse aprendido a evitar a próprio morte. E Vick, bom, era a única humana de fato por ali. 


Ela olhou toda a paisagem, até que sua vista foi para lá longe onde o Cristo Redentor se erguia imponente.


 Vick: É tudo tão lindo - ela disse assim que a abracei por trás -


 Nenhuma das duas conheciam o Rio de Janeiro de fato, nem aquela parte, uma das mais visitadas. 


Shamira: Agora entendo por que você escolheu esta cidade para esperar o Dia do Ajuste de Contas - ela também olhava para o Cristo - 


Ablon: Parece sugestivo, não ? - concordei, desviando a visão a estátua - Mas, não é isso. Eu tenho a impressão de que, quando tudo começar a ruir, este será o ultimo lugar a desaparecer. O Brasil é um dos chamados países neutros, um dos Estados fora da linha de conflito entre a Liga de Berlim e a Aliança Oriental.


 Vick: Acho que perdi alguma coisa... - ela franziu a testa -


Ablon: Não sei como será o fim do mundo. Não acredito que estrelas caíram do céu, ou que a Lua se transformará em sangue. O que essas profecias nos indicam são sinais. E esses sinais são evidencias.


 Shamira me encarou, séria. 


Shamira: Você acha que o Apocalipse se aproxima ?


 Ablon: Ele já começou. Não há duvida. Os quatros cavaleiros iniciaram sua marcha. 


Shamira: Guerra, fome, doenças... já vimos isso antes. O que te faz pensar que agora é diferente ? 


Deslizei o olhar pelos morros. Feixes de Sol cortavam as nuvens,colorindo as encostas verdejantes. Era um raro momento de paz, que em muito lembrava os tempos antigos. Era triste pensar que tudo aquilo - a terra, o céu, os oceanos - acabaria em breve.


 Ablon: A humanidade está corrompida, Shamira - disse mais frustado do que melancólico - No coração dos homens, a esperança foi suplantada pelo ódio. 


Vick: Mas não em todos eles.


 Ablon: Como sempre, poucos pagarão pelos erros de muitos.  Foi assim no diluvio, que destruiu enoque e Atlântida. Foi assim em Sodoma e Gomorra. E será assim no Armagedon. Acontecerá mais cedo ou mais tarde. A roda do Tempo não pode ser contida. Somente o próprio Deus tem poder para movê-la. E, como sabemos, Ele se encontra ausente por ora. 


Shamira: A Roda do Tempo - murmurou, como se estivesse buscando algo guardado no fundo da mente - Você me falo dela uma vez.


 Ablon: A Roda do Tempo é um artefato divino. Foi criada por Yahweh com o objetivo de marcar a continuidade do sétimo dia. Quando seu ciclo chegar ao fim, o sétimo dia também estará terminando. O Altíssimo acordará , e o tecido da realidade cairá por completo. Os dois mundos, o físico e o espiritual, se tornarão um só, e esse será também o principio do reino de Deus.


 



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Autor(a): Fraanh

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 Vick escutava em silencio, compenetrada.  Ablon: É isso o que nos conta o manuscrito sagrado dos malakins – continuei - Mas ele não diz que o fim dos dias será precedido por episódios cruéis e sangrentos. Foram os humanos que profetizaram o Apocalipse desta forma. Eu, particularmente, sempre acreditei no contr&aa ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • fraanh Postado em 16/10/2014 - 20:18:52

    Por mais que eu esteja postando a primeira temporada rapidamente só para continuar a segunda (já que tive que sair do orkut), eu devo, com toda a educação do mundo, dar as boas vindas as leitoras que não me acompanharam antes, então, sejam bem vinda meninas, espero que estejam gostando, comentem por favor, eu não mordo não *-*


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