Fanfic: O amor e um anjo ~
Vick narrando
Já era a centésima vez que comia e vomitava, não estava aguentando mais aquilo, eu sentia fome, muita fome, mas toda vez que fazia um esforço para me alimentar meu organismo não colaborava, e eu colocava tudo pra fora.
Sentei na cama exausta, só fazia algumas horas que Ablon tinha ido e eu já estava totalmente diferente do que ele me deixara. Tomei folego e desci as escadas, queria ficar na sala, com Shamira.
Ao me aproximar ao pé da escada, senti uma tontura e ela que passava me segurou.
Shamira: Ei! - disse me segurando - O que está acontecendo ?
Vick: Eu não sei, sinceramente não sei.
Shamira: Senta aqui - disse me levando para o sofá - deve ser a preocupação, ele vai ficar bem Vick, sempre fica.
Vick: Estou preocupada com ele sim Shamira, muito, mas meu mal estar não é tolerável, quando eu não como sinto fome, quando eu tento comer sinto enjoo, quando eu finalmente consigo comer eu coloco tudo pra fora, e essa tontura, tem alguma coisa errada comigo, será que estou doente ?
Shamira levantou rapidamente depois que disse tudo e me olhou apreensiva, parecia que seu olhar tinha uma mistura de preocupação e pena.
Vick: O que foi Shamira ? - disse me exaltando -
Shamira: Posso ? - apontou pra minha barriga -
Vick: Não sei o que quer fazer mas, pode fazer o que quiser se for pra saber o que eu tenho.- Ela se aproximou e colocou as mãos. -
Ficamos em silencio por alguns instantes, Shamira mantinha os olhos fechados e aquilo estava me matando. Quando ela finalmente abriu eu não esperei.
Vick: O que foi ? - ela não respondeu - Me diz o que tem de errado comigo ? -continuou em silencio -Fala Shamira – pedi desesperada -
Shamira: Está grávida. - ela praticamente sussurrou -
Dei um pulo para trás me afastando dela e balançando a cabeça em negativa sem acreditar.
Vick: Não, eu não, não posso estar.
Shamira: Está Vick, eu pude sentir.
Vick: Mas... Shamira – suspirei - Não tem como.
Shamira: E por que não teria ?
Vick: Por que... - levantei - Droga! A única pessoa com quem fiz sexo na vida foi um anjo! Não pode ter acontecido.
Shamira: Ele é homem Vick, e você deve ter percebido já que chegaram a tal ponto - apontou pra mim- Independente de que ele seja anjo, ele é homem.
Vick: Mas, ele é um anjo, como.... - passei as mãos no rosto - como pode gerar filhos ? Eu sei que ele é homem mas, não sabia que... droga, como fui burra, sou estudante de biologia, ou era, e deixei isso passar ? Se ele gera sêmen, consequentemente tem que ter esperma ali no meio não é ? E ser fértil, tem isso também. Como eu adivinharia que ele era fértil ? Droga! Droga! Droga! - Eu andava de um lado para o outro sem saber o que fazer. - Eu tomo pilula, isso deveria servir. Mesmo que não seja 100%, deveria servir. Ai meu Deus! - minha voz ficou chorosa, eu estava desesperada -
Shamira: Fique calma Vick, Ablon vai te apoiar. - ela se aproximou me pegando pelos ombros -
Vick: Eu não tenho duvida disso Shamira, só que eu e você sabemos que ele é um anjo, você é uma feiticeira, meu mundo não é como o dos outros, eu descobri e estou vivendo muita coisa, estamos praticamente em meio a uma suposta guerra, meu namo... - olhei para a aliança - noivo, está no inferno agora e EU SÓ TENHO 19 ANOS – gritei -
Shamira: Vem aqui – me sentou de novo -
Vick: O que será meu filho Shamira ? Anjo, humano ? Eu não sei, juro que não sei, e esses não eram meus planos - cai no choro -
Shamira: Quando ele chegar, vamos resolver isso tá bom ? Agora se acalme, e tente dormir. - e me aninhou em seus braços, me fazendo carinho até que eu parasse de chorar -
Vick: Não vou dormir, vou esperá-lo.
Shamira narrando
Eram quase onze horas da noite quando troquei de canal para assistir ao ultimo telejornal do dia.
Desde que Ablon saíra, estive atenta as principais noticias, e a maioria delas detalhava os fatos associados a tensão internacional. As hostilidades se agravaram imensamente naquela tarde, após a rejeição, pelos dois lados, da ultima proposta de paz apresentada pelo secretário-geral das Nações Unidas, que poria fim a guerra civil na Turquia, principal ponto de confronto entre a Liga de Berlim e a Aliança Oriental.
Depois de mais de dois anos de inimizades, que sucederam a Guerra dos Trezentos Dias, pelo domínio de Taiwan, estava claro que as alianças para uma nova guerra mundial já tinham sido definidas e rachavam o planeta ao meio. As trocas de ameaças, que havia meses vinham se tornando mais concretas, incluíam a utilização de mísseis de longo alcance para levar a cabo ataques com armas nucleares.
Diante disso, as vias diplomáticas, esgotadas, perderam força e falharam em seu intento de buscar uma solução pacifica para a crise. Temerosas, milhões de pessoas na América do Norte, Europa e Ásia já deixavam as grandes cidades rumo ao campo, onde estocavam alimentos, construíam abrigos e adquiriam toda sorte de material isolante e roupas contra a radiação.
Aqueles que tinham parentes ou residencia nos países neutros emigravam aos milhares, já esperando pelo pior. Na fronteira entre os dois blocos, o Oriente Médio padecia de uma situação singular.
Animada com o fortalecimento da aliança Oriental, a população civil dos países árabes ocupados pelos Estados Unidos - Afeganistão, Iraque, Síria, Irã e Líbia - formava milicias para se insurgir contra a potencia estrangeira.
O estado de Israel, tradicional aliado dos americanos, abrigava as únicas instalações seguras aos soldados estadunidenses na Ásia Central, mas por uma ironia histórica a Terra Santa era, agora, uma das áreas menos conflituosas da região, porque tanto israelenses como palestinos desejavam preservar seus santuários sagrados em Jerusalém e arredores.
Mesmo assim, o clima era tenso. Ninguém atacava e ninguém defendia, porque todos temiam que o banho de sangue que se seguiria ao barulho do primeiro tiro viesse a arrasar a Terra Santa para sempre, pondo abaixo templos e monumentos adorados pelos dois povos.
Perto da meia-noite, a luz da TV oscilou. Aquele tipo de fenômeno estava associado a um abalo no tecido, e a conclusão óbvia era a de que alguma entidade havia se materializado ali perto.
O apartamento, a principio, estava lacrado a invasão espiritual, eu mesma havia efetuado um ritual para assegurar esse tipo de proteção, o que significava que qualquer visitante que tentasse entrar teria que estar no plano físico.
Como toda boa necromante, sabia que o mundo espiritual é tudo aquilo que está por trás do tecido. É um espelho do mundo físico, com diversas passagens e tuneis para outros inúmeros reinos dimensionais, tais como o céu e o inferno.
No mundo espiritual, há muitas camadas sobrepostas, que refletem o plano material, e entre elas as mais importantes e acessíveis são o plano astral e o plano etéreo. O astral, a primeira camada, é um reflexo, puro e simples, do plano físico.
A camada mais profunda, o plano etéreo, está separada do astral por uma membrana semelhante ao tecido da realidade, chamada de membrana etérea. Esse é o lar dos poderosos espíritos desencarnados e dos deuses pagãos.
Embora a geografia do etéreo seja a mesma que a do mundo físico, as construções e objetos feitos pelo homem não encontram reflexo ali. Na verdade, as entidades que habitam o etéreo ergueram sua própria civilização além das fronteiras da realidade humana. Por essa razão, as cidades, torres e palácios existentes nessa camada não são vistos ou percebidos pelos mortais, a exceção de magos ou sacerdotes dotados de poderes para isso.
É no plano etéreo que fica a famosa ilha mistica de Avalon, venerada pelos povos celtas e que por isso era avistada apenas por algumas pessoas, quando a membrana afinava e a conexão com o mundo espiritual permitia sua observação.
O templo dos deuses localizado no topo do monte Olimpo, na Grécia, é igualmente uma construção etérea. Além do astral e etéreo, há outros planos sobrepostos ao físico, porém menos conhecidos e visitados e de mais difícil acesso.
Alguns são curiosos, como o mundo dos sonhos; outros enigmáticos como a dimensão dos espelhos; e há também aqueles perigosos e sinistros, como o plano das sombras.
Ablon sempre chegava sem ser notado, então, ao perceber o abalo no tecido da realidade, entendi que não era ele que se aproximava.
Vick tinha acabado de se levantar e ir para a cozinha, preparar algo para comer. Cautelosa, me afastei lentamente da televisão e andei de costas, em direção a mesinha, onde estava apoiada minha mala menor.
Pus a mão direita lá dentro, procurando um de meus artefatos especiais, e voltei a atenção a porta, por onde esperava que o perigo surgisse. Ouvi passos no corredor e concluiu que estavam vindo ao “meu” apartamento.
Uma pancada forte escancarou a madeira, e eu distingui dois homens lá fora.
Eram fortes como lutadores e guardavam expressões arrogantes. Não enxerguei a alma, então supus que não fossem humanos.
O primeiro tinha os cabelos escuros e o olhar perigoso; o outro, que vinha atrás, exibia na testa, abaixo da cabeça raspada, o inconfundível símbolo dos querubins, inscrito como tatuagem. O moreno que parecia deter a autoridade, mostrou um sorriso maldoso, feliz por me ver acuada, com a mão para trás. Avançou para dentro da sala, provando o gosto do ar.
XXX: Uhh...ahhhh... - suspirou, ao sentir o perfume feminino -
Tinha sentidos aguçados de predador, comuns aos guerreiros celestes, e pelo olfato notou que eu era humana.
Vick: Que barulho foi esse Shamira ? - ela disse entrando no comodo -
Ao se deparar com os homens fechou a cara, eu a puxei para perto de mim.
Shamira: Fique aqui, comigo, quieta – sussurrei -
XXX: Então são duas ? Acho que temos uma festa das boas hoje – zombou, olhando agora para Vick com um saquinho de biscoito nas mãos -
Shamira: Quem é você ? - perguntei, controlando o medo -
XXX: Sou Euzin. E este aqui - ele apontou para o companheiro, que fechava a saída - é Ankarel, o Chicote de São Miguel - acrescentou com um orgulho ameaçador, deixando claro que não era amistoso -
Mas não me intimidei. Tentei pensar rápido, procurar uma estratégia, pois só a inteligencia me deixava em vantagem.
Recordei-me, então, de algumas coisas sobre aquele tal Euzin, informações que poderiam ajudar numa contenda moral.
Ablon, tinha me contado, certa vez, que Euzin era um anjo covarde e inseguro, características que o levaram a ruína dentro de uma casta em que os membros, supostamente, não deveriam temer coisa alguma.
Shamira: Euzin ? - aproveitei, devolvendo o sorriso maldoso - Ablon me falou de você. É o anjo que só desafia inferiores e recua diante de seus iguais. Estou certa ?
Se não estivesse, provavelmente o celeste não teria ficado tão furioso. A raiva subiu-lhe a cabeça, precisamente por ter sido insultado por uma feiticeira humana. Era um lutador invejoso e detestava, assim como seu líder Miguel, a simples existência dos homens.
Precipitou-se com os punhos fechados para me agredir, mas nessa hora o surpreendi e saquei uma pistola de groso calibre, a temida Desert Eagle .50, uma das armas de mão mais potentes do mundo.
Era grande e cromada, e seu cano espesso como um polegar.
Euzin parou, impressionado pela atitude. Esperava de tudo, desde a faca enfeitiçada até encantos pirotécnicos, mas nunca uma arma de fogo.
Mal sabia ele que a força dos sábios está, justamente, na capacidade de se aproveitar do imprevisível, de enganar o oponente e atacá-lo no ponto mais fraco, de fingir debilidade e depois investir feito leão.
Felizmente para o invasor, as armas mundanas não eram perigosas para os anjos, e dificilmente uma delas furaria seu avatar. Ao raciocinar isso em sua mente vagarosa, Euzin se desfez do assombro e continuou caminhando para cima, ainda irado, mas satisfeito por desbancar minha tática.
Euzin: É isso que usa para se defender ?
Shamira: Afaste-se! - ameacei - Encantei o metal dos projéteis. São tão mortais a você quanto uma adaga ritual.
Ele hesitou, novamente, mas então Ankarel, seu comparsa, que até ali nada dissera, estimulou o atacante, disparando um conselho:
Ankarel: Ela está blefando.
Incentivado pelas palavras de confiança, Euzin retomou a ofensiva e replicou:
Euzin: Uma pistola mágica! Isto é patético - desdenhou, e em seguida acometeu -
Abriu os dedos em forma de gancho, para me estrangular e depois quem sabe estuprar. Os anjos perversos apreciavam tais crueldades, quando encarnados em seus avatares.
Sem pensar duas vezes, reconheci o perigo e puxei o gatilho. O tiro atingiu a cabeça dele, estourando parte do cranio e espalhando miolos quentes por todo o apartamento.
Imediatamente, o invasor foi atirado ao chão, num arrojo desengonçado.
Ankarel, o careca tatuado, recuou.
Euzin: SUA VACA! - gritou, esparramado no assoalho - Sabe quanta energia preciso gastar para materializar esta carcaça ? - praguejou -
Estava inútil, embora vivo. Não podia mais caminhar nem enxergar muito bem, mas seu avatar não seria destruído enquanto o coração estivesse pulsando.
Shamira: Você tem um péssimo vocabulário, querubim. Seu príncipe lhe ensinou isso ?
Do outro lado da sala, porém, o espantado Ankarel, mais desesperado do que corajoso, ameaçou saltar sobre mim.
Shamira: Fique onde está, eu já disse! - avisei, puxando o cão da pistola - Estou mirando no seu coração.
Ele deu um passo atrás, erguendo a mão em sinal de derrota. Não aliviei a mira e retrocedi a porta dos fundos.
Tinha agora que sair daquela ratoeira e procurar um refugiu seguro, junto com Vick, pelo menos até o regresso do general.
Nessas horas, o melhor é ficar em lugares cheios de gente, onde o tecido da realidade é espesso.
Ablon nos encontraria, seguramente, não importava onde estivéssemos.
Vick: O que aquelas coisas queriam Shamira ?
Shamira: Não sei Vick, talvez algo que pudesse chamar a atenção de Ablon.
Vick: Reféns ? Era só o que me faltava - ela disse ao parar cambaleando -
Shamira: Você está bem ?
Vick: Acho que estou sem energia, não consegui que nada parasse no meu estomago, a não ser aqueles biscoitos, que eu mal havia começado a comer. E correr sem energia não é nada bom.
Shamira: Venha, vamos entrar nessa loja - abri a porta sem problemas - Descanse um pouco e logo voltaremos a caminhar ok ? Preciso mantê-la segura. Na verdade, nós duas.
Parei para pensar um pouco.
Ablon. Estes anjos... Eles não me atacariam na presença do renegado. A não ser que soubessem que ele estaria em viagem!
Mas como ? Eram anjos, não demônios. O general fora ao inferno encontrar o Diabo. Como Miguel teria descoberto sua ausência ? Engoli em seco e subitamente algo sinistro virou a balança.
Uma criatura de aspecto ameaçador arrebentou a vidraça e voou para dentro da loja, desfraldando as asas escuras. A aura era confusa, indecifrável, e o rosto estava oculto por uma máscara de aço. O corpo era forte, musculoso, e uma couraça negra protegia o peito. Se era anjo ou demônio, eu não sabia dizer.
Até onde me lembrava, os anjos tinham asas brancas, não pretas, e raramente as manifestavam na terra, pelo exorbitante gasto de energia.
Afobada, disparei com a pistola, enquanto puxava Vick pelo braço, mas a armadura refletiu os projéteis.
Era rápido, apesar do tamanho, e aterrissou no meio da “sala”, destruindo as estantes. Reparei em seus olhos por dentro do elmo e percebi uma vontade assassina. Parecia obstinado, como Ablon, porém voraz e malvado.
O Anjo Negro! - imaginei -
Shamira: Vick, temos que sair daqui, eu não posso com ele.
Vick: Vai você Shamira, eu fico.
Shamira: Como assim ? NÃO! - gritei -
Vick: Ele quer uma refém não é ? Serei eu, você precisa ficar, encontrar Ablon e ajudá-lo, eu sou apenas uma humana, não posso fazer nada.
Shamira: Ele ama você, não me perdoaria.
Vick: Ou você vai agora, ou iremos nós duas morrer, vai Shamira. VAI! - ela gritou me empurrando -
Não tive tempo de protestar, Vick correu ao encontro do anjo sem medo algum enquanto o insultava.
Tentei raciocinar rápido mas ela me olhou mais uma vez assentindo. Então eu corri, o mais rápido que pude.
Seria ele mesmo ? O terrível predador do Mar de Rocha ?
O Anjo negro - pensei novamente, tentando imaginar quem era, de fato, aquela entidade abominável, e por que nos atacava.
Não encontrei a resposta. E se fosse, Vick agora estava em suas mãos.
Autor(a): Fraanh
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 1
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fraanh Postado em 16/10/2014 - 20:18:52
Por mais que eu esteja postando a primeira temporada rapidamente só para continuar a segunda (já que tive que sair do orkut), eu devo, com toda a educação do mundo, dar as boas vindas as leitoras que não me acompanharam antes, então, sejam bem vinda meninas, espero que estejam gostando, comentem por favor, eu não mordo não *-*