Fanfics Brasil - Capítulo 43 O amor e um anjo ~

Fanfic: O amor e um anjo ~


Capítulo: Capítulo 43

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Cidadela do fogo, região central do Primeiro Céu. 


 


 Ajoelhado no chão de mármore, envolto pelos vapores do templo, o arcanjo Gabriel meditava.  A expressão era serena, como o orvalho da manhã que escorre pela superfície das plantas, ao encontro dos primeiros raios de Sol. 


 Tinha longos cabelos cor de mel, atados em uma trança comprida. O corpo magro, porém musculoso, estava coberto por uma belíssima armadura de ouro, com placas que protegiam não só o tronco, mas também as pernas e os braços. 


 Lindas ombreiras suportavam uma capa branca, dividida ao meio para não prejudicar o movimento das asas. E diante dele, a um palmo de distancia, descansava a Flagelo de Fogo, a espada flamejante que, no passado, servira para expulsar Lúcifer e seus seguidores da morada divina.


 O Templo da Harmonia era um salão gigantesco, todo trabalhado em pedra alva e sustentado por grossas colunas, medindo cem metros de altura. O chão, em toda sua amplitude, fora preenchido com água fervente, a exceção de uma ponte que leva a plataforma do arcanjo. 


 O liquido puro evaporava, inundando o lugar com brumas quentes e confortantes, de aroma revigorante.  A nevoa confundia a visão, mas a escuridão era afastada por feixes de luz que entravam por aberturas no teto. 


 O templo era a principal construção da Cidadela do Fogo, cerne politico do Primeiro Céu.  Essa era a morada dos ishins, a casta de anjos que controla os elementos da natureza.  A cidadela ficava na boca do maior vulcão do paraíso, o Netúnia. 


 Quatro grandes correntes, presas por ganchos as paredes do vulcão, suportavam um bloco pesadíssimo de pedra, sobre o qual fora moldada a cidade fortaleza.  Poucos metros abaixo, a lava borbulhava.


 Agentes leais a Gabriel patrulhavam as redondezas, alertas a qualquer invasor, fosse ele anjo ou demônio.  Em um passado distante, a Cidadela do Fogo fora governada por Amal, o Senhor dos Vulcões, mas este se aliou a Lúcifer, deixando as rédeas do poder nas mãos de seu pupilo Aziel, a Chama Sagrada. 


 Mais tarde, quando a unidade dos arcanjos começou a ruir, Aziel cederia o templo a Gabriel, dando abrigo a seus anjos, que não mais desejavam permanecer no Quinto Céu, próximos a tirânica opressão de Miguel.


Gabriel, com as mãos pousadas sobre os joelhos e os olhos fechados, respirou fundo, deixando que o vapor quente deslizasse as narinas. Relaxou, buscando sentir o universo, procurando tocar a imensidão do cosmo com sua aura pulsante. 


 Na concentração, sentiu uma presença.  Ergueu as pálpebras, revelando seus sublimes olhos castanhos.  Tranquilo, observou o visitante a caminhar pela ponte de mármore. 


 Era o ishim Aziel, que viera atender a seu chamado.  Pisava com leveza na pedra, quase não deixando escapar nenhum som. Vestia uma túnica delicada, de seda e algodão.  Aziel ajoelhou-se diante de seu patrono, não ousando invadir a plataforma. 


 A Flagelo de fogo interpunha-se entre eles, desembainhada, com a lamina a crepitar, pronta para decepar qualquer invasor desagradável. 


 Aziel: Venho atender a seu comando, Mestre do Fogo - esse era o principal titulo do Arcanjo Gabriel, famoso por seu domínio sobre os elementos - Em que posso ajudá-lo ?


 Gabriel: Ablon ainda está vivo - disse o gigante, direto -


 Aziel: Sim. Captei as emanações de sua aura. 
O Mestre do fogo respirou a nevoa escaldante e encarou o subordinado. 


 Gabriel: O Anjo Renegado ocultou sua presença por incontáveis séculos, provavelmente para impedir que os agentes de Miguel o encontrassem. Mas, agora, expandiu novamente a aura que guarda no coração. E essa energia é tão forte que foi sentida até mesmo aqui, no Primeiro Céu.


 Aziel abaixou a cabeça, em duvida. 


 Aziel: Não compreendo, mestre. Por que ele faria isso ? Logo agora que o Sétimo Selo foi rompido... Imaginei que ele fosse esperar pelo Juízo Final, para só então executar sua vingança. 


 Gabriel: Eu diria que é um chamado - respondeu, conclusivo - Ablon está pedindo nosso auxilio. E nós também precisamos da ajuda dele. 


 Aziel: Mas é provável que ele nem saiba que existimos. Como poderia saber que nos separamos de Miguel e montamos um exército próprio ? Ablon é um fugitivo e, vagando escondido na terra, não teria como assistir aos nossos progressos. 


 Gabriel: Isso é correto, Aziel. De fato, talvez nem o próprio general saiba que suas ideias dividiram o céu e lançaram as sementes da guerra civil. Mas, apesar de tudo, estou certo de que ele ainda confia que há anjos leais a sua causa. É para eles que o querubim expande sua aura. É com eles que conta. É por isso que temos o dever de ir ao seu encontro. 


 Ao dizer isso, o arcanjo fez um minuto de silencio.  Depois, pegou a Flagelo de Fogo e ficou um longo tempo a olhar sua folha.  Assim como Ablon, Gabriel também temia esquecer – esquecer as situações pelas quais passara e, principalmente, as coisas que aprendera. 


 A espada estava ali como testemunha, para ajudá-lo a se recordar das falhas antigas e obrigá-lo a não voltar a cometer os erros de outrora. Aziel aguardou pacientemente até seu mestre retomar o pensamento.


Gabriel: Envie nossas tropas para o plano etéreo e as posicione próximas a Fortaleza de Sion, bastião das forças inimigas - ordenou o arcanjo - Ao que tudo indica, a batalha final será mesmo travada na terra, ainda que não no plano físico, mas no mundo espiritual. Quem vencer essa guerra garantirá a soberania sobre a Haled. 


 Aziel: Nossos espiões reportaram que um anjo de asas negras levou uma humana a Sion - acrescentou o ishim - 


 Gabriel: Talvez seja Shamira, a Feiticeira de En-Dor. Soube que Ablon convive com ela. Se for mesmo ela, então tudo se encaixa. Ablon quer nossa ajuda para libertá-la. 


 Aziel: Não é a feiticeira mestre, é uma humana. 


 Gabriel: Mas por que Miguel raptaria uma humana ? É difícil prever as intenções de meu irmão. Sou um arcanjo, mas nem mesmo eu sei tudo. Na verdade, sei muito menos do que pensava saber. Mas a única coisa que um terreno tem e os anjos não possuem é a alma. -  Gabriel devaneou por mais um curto instante e depois completou, enérgico: - Execute as manobras militares e entregue o comando a Baturiel, o Honrado. Em segui vá ao encontro de Ablon e leve-o ao acampamento de nossas tropas. Soube que foram bons amigos no passado. É um dos poucos a quem o guerreiro admira. -  Fez uma pausa, mas logo prosseguiu: - Há um portal para o etéreo na montanha Horeb, através do qual o general poderá passar, mesmo estando preso a seu avatar. Eu os estarei aguardando. Sieme, da casta dos serafins, acompanhará você nessa jornada. 


 Aziel desagradou-se, mas não demonstrou.  O problema não era a missão, mas a companhia. 


 Não tinha nada em particular contra Sieme, mas a postura fria e calculista dos serafins as vezes o irritava. 


 Isso não quer dizer que fossem anjos maléficos, eram apenas autoconfiantes demais.  Mas não os culpava. 


 Como poderia ?  Essa era a natureza deles. 


 Os serafins são políticos, diplomatas e conselheiros, para isso foram concebidos.  Era natural que gostassem de comandar e tivessem sérios problemas em receber ordens e aceitar opiniões divergentes.


Estavam sempre tentando convencer os outros de seus próprios pontos de vista, eram irredutíveis, e esse era o tipo de coisa que Aziel mais detestava. 


 Gabriel: O Anjo Renegado é o elemento que faltava ao nosso teatro de operações, Aziel - explicou o Mestre do fogo – Só ele poderá liderar nosso exército no Armagedon. 


 Aziel: Sim, mestre -respondeu o ishim, recurvando-se em sinal de respeito. -


 Logo, ao perceber que seu líder tinha concluído o discurso, virou-se respeitosamente e deixou o Templo da Harmonia.  


Gabriel observou a Chama Sagrada sair. Pousou a Flagelo de fogo novamente a sua frente, pôs as mãos sobre os joelhos, fechou os olhos e voltou a meditar.  Antes de mergulhar no transe mistico, disse para si mesmo, com a voz sossegada. 


 Gabriel: Enfim, poderá lutar por seu ideal, general. Sua revolta não foi em vão. 


 E retornou a harmonia do cosmo.


Aziel e Sieme chegaram a terra nas primeiras horas da manhã, antes mesmo de o Sol despontar no horizonte. 


 Para viajar entre as dimensões, utilizaram-se de um vórtice que ligava o Primeiro Céu a uma praia no plano astral, relativamente próxima a cidade de onde partiram, na noite anterior, as emanações do anjo Renegado. 


 Voaram pelo astral sobre o mar e, ao atingir as ruas da metrópole, deslizaram por entre os prédios até encontrar um beco, onde o tecido da realidade era mais fino, e então se materializaram, alcançando finalmente o mundo físico. 


 Aziel e Sieme, saíram do beco bem ao lado do apartamento de Ablon.


 Sieme sentia-se pouco confortável em sua carcaça física, pois os serafins não costumam atuar na Haled, posto que seu oficio, essencialmente politico, tem os Sete Céus como centro de atividade. 


 Não obstante, seu avatar não devia nada a seu corpo espiritual em matéria de elegância e imponência. 


 Era uma bela mulher, de cabelos prateados e corpo escultural, rosto fino e expressão séria. 


Vestia-se de forma impecável, com uma parca de couro, botas longas e óculos de Sol espelhados que lhe protegiam os olhos azuis.



Sieme: Não sinto nada – avisou, com aquela confiança tipica dos serafins, que beirava a arrogância - Nenhuma emanação. Tem certeza de que este é o local certo ? 


Aziel: Absoluta – respondeu - Eu mesmo captei a essência do general na noite passada. 


Eram por volta de seis horas da manhã, e a vizinhança de sobrados e prédios baixos ainda não atingira o ápice de dua atividade urbana. Em uma hora ou duas, as lojas estariam abertas, os ambulantes invadiriam as calçadas e os carros circulariam sem parar. 


Agora, contudo, só havia um grupo de lixeiros juntando os dejetos acumulados no meio-fio pela chuva da noite anterior, e algumas pessoas que cortavam caminho para tomar o metro em uma das grandes avenidas mais adiante. 


Sieme: Veja! - Sieme apontou para o ultimo andar do prédio, para a vidraça quebrada do apartamento de Ablon - A janela foi despedaçada. Há fragmentos de vidro no chão - e mostrou os pedaços pequeninos em que quase pisara sobre o asfalto molhado – São marcas de luta. Houve combate aqui durante a noite. 


Aziel: Sim, é verdade - concordou Aziel - O Semblante da Chama Sagrada destoava imensamente do de Sieme. Usava roupas simples, claras, que realçavam sua pele morena- Você sente algum cheiro ? 


Sieme: Sou um serafim, Aziel, não um querubim com sentidos de predador. O único cheiro que sinto é de toda esta sujeira. - Ela se referia a podridão da calçada - Mas também estou curiosa. Eu posso, melhor do que ninguém, captar os abalos no tecido, e não percebo coisa alguma. Ou o Anjo Renegado está ocultando sua aura ou então ele foi a vitima da peleja que ocorreu aqui. 


Aziel: Não seja tola, Sieme. Se ele tivesse morrido, não teríamos sentido a explosão de sua aura pulsante. 


Ela não deu importância as palavras de seu comparsa. 


Sieme: Seja como for... Chega de suposições. Vamos subir e verificar. Não estou disposta a passar todo meu tempo na Haled parada em frente a esse prédio -e caminhou em direção a porta, adentrando o estabelecimento- 


Aziel a acompanhou.


A porta no quarto de Ablon, no ultimo andar do sobrado, estava entreaberta. 


 Sieme a empurrou com cuidado e observou o espaço interno. 


 No apartamento reinava uma completa bagunça, porém, nada disso chamou a atenção da serafim, que buscava por indícios misticos.Não encontrou nenhum sinal do renegado, então se precipitou para dentro do quarto e imediatamente percebeu a diferença no ambiente.


 Sieme: Magia! - exclamou em voz baixa - 


 Aziel: O que ? - indagou, já que vinha logo atrás - 


 Sieme: Utilizaram magia para transformar este lugar em um santuário. Não percebe que aqui o tecido é incrivelmente frágil ?


A Chama Sagrada acabara de entrar no comodo e também sentiu a mudança.


 Aziel: Sim, é um bom sinal. Então a Feiticeira de En-Dor deve ter estado aqui. Estamos na pista certa. Mas onde está... 


 O ishim calou-se subitamente.  Antes que qualquer um dos recém-chegados pudesse reagir, Ablon emergiu das sombras, por trás deles, e pousou a lamina da Vingadora Sagrada sobre a nuca de Sieme, submetendo-a.


 A Mestre da Mente sentiu o toque gelado do aço no pescoço, e seu sangue frio de serafim congelou.


 Aziel entendeu que o general estivera ali durante todo o tempo, oculto, esperando para surpreendê-los. 


 Conseguira permanecer escondido mesmo naquela sala bem iluminada, e isso deixou a Chama Sagrada impressionada. 


 Aziel foi assaltado por emoções conflitantes. Estava feliz em rever o amigo, mas ao mesmo tempo precisava convencê-lo, o mais depressa possível, de que Sieme não era inimiga, mas aliada. 


 Parecia que algo se repetia ali, e Aziel por um instante lembrou de Hazai.


 Ablon: Aziel - exclamou o Primeiro General em tom cordial, porém firme, sem desviar a atenção de Sieme.-


 A Chama Sagrada sentiu-se mais aliviada com a receptividade, mas ainda tinha um impasse a resolver.  O renegado não afrouxara a lamina um milimetro sequer. 


 Aziel: Ablon... Muitos de nós no Primeiro Céu captamos a expansão cósmica de sua aura, e por esse motivo estamos aqui. Desejamos oferecer-lhe nosso auxilio. Acho que sabemos para onde levaram a humana que estava com você e quem a capturou - falou com sinceridade - Não há com o que se preocupar. Pode confiar em mim. 


 Ablon: Confio em você, Aziel. Mas quem é ela ?- perguntou, indicando Sieme com um movimento de olho - 


 Aziel: Está é... - o ishim ia começar a falar, mas a mulher anjo o interrompeu -


 Demonstrando coragem, virou lentamente o corpo, ficando de frente para o general.  A espada estava agora a ameaçar-lhe a garganta.  Tirou os óculos espelhados e fitou profundamente os olhos de seu algoz.


Sieme: Eu sou Sieme, Mestre da Mente, da casta dos serafins – apresentou-se - Viemos encontrá-lo, general, não para julgá-lo, mas porque decidimos segui-lo. Resolvemos trilhar os seus passos. Assim como muitos, acreditamos em seu ideal e estamos dispostos a morrer por ele. Sei que nós, serafins, não somos tão rápidos ou tão espertos na arte do combate quanto vocês, querubins, mas ofereço minhas habilidades psíquicas em defesa de nossa causa -e, dizendo isso abaixou a cabeça, desviou o olhar e entregou sua sorte nas mãos do guerreiro- 


 Os serafins são peritos em politica e oratória.  Aziel não acreditava que Sieme estivesse mentindo - pelo contrário, sabia que ela lutava pela mesma causa que ele.  Também não cogitava que fosse uma espiã ou algo do gênero. 


Entretanto, supunha que a forma demasiado respeitosa com que ela conduziu o discurso fora uma manobra diplomática para livrar-se daquela enrascada.  Os serafins se tornam mais humildes quando postos sob o fio da espada.


 Ablon era perspicaz e havia aprendido, ao longo de anos submetido a trapaças, a ler a verdade na fisionomia dos outros. 


 Era um soldado e tivera que desenvolver essa pericia para reconhecer seus inimigos.  Foi isso, aliado as traições do passado, que o impedira de pactuar com Lúcifer.  Resolveu, então, acreditar nas palavras calculadas de Sieme. 


 Também não nutria muita simpatia pelos serafins, mas as virtudes da casta eram inegáveis. Se a celestial subjugara-se a ele, coisa que raramente os serafins fazem, era porque acreditava na legitimidade do general. 


 Ablon: Muito bem, Sieme - disse o renegado, abaixando a espada - Aceito sua ajuda. Não se espante com minha atitude. Você deve compreender que ainda há muitos que teriam o prazer em acabar comigo, apesar da situação conturbada. 


 Aziel: Não é de se surpreender que seja tão precavido – constatou Aziel, quando o clima de tensão amansou - 


 Ablon: É exatamente por isso que continuo vivo – acrescentou Ablon, agora tranquilo quanto a presença dos novos celestiais - 


 Não havia mais necessidade de confinar sua aura, e mais uma vez ele a libertou. 


 Sieme e Aziel captaram na totalidade a forte emanação que partia do general e entenderam que ele era mesmo o único que poderia ter liderado a ousada revolta que o tornara famoso. Era uma força intensa, envolvente, inspiradora, digna de alguém que ascendeu ao mais alto ciclo de poder.


Ablon afastou-se e pegou alguns panos soltos, em meio as estantes. Começou a enrolar a Vingadora Sagrada no tecido, procurando ocultá-la. Aziel imaginou que ele se preparava para deixar o apartamento. 


Sendo uma sensitiva, Sieme não pode deixar de notar as nuances do tecido.


 Sieme: Sinto os remanescentes de uma energia terrível nesta sala. Mas não consigo perceber sua natureza exata. É uma força estranha, misteriosa. 


Ablon: O Anjo Negro - esclareceu, enquanto amarrava com uma corda os panos que escondiam a espada - Uma criatura de procedência desconhecida que se autointitula Anjo do Abismo Sem Fundo - completou, atando firmemente dois nós as extremidades do volume, formando uma alça para carregar as costas - Ele esteve aqui, ontem a noite, juntamente com dois querubins. Foi ele quem levou Vick ao soar da Primeira Trombeta - e voltou a encarar a Chama Sagrada - Aziel, você disse que tinha informações sobre o rapto. 


Aziel: Sim. 


Ablon: Quero saber tudo. Mas antes vamos deixar este apartamento. O santuário que havia aqui foi profanado – explicou, ao mesmo tempo em que caminhava a porta - Acompanhem-me. Conheço um bom lugar para o desjejum. 


Sieme: Desjejum ? - sussurrou para Aziel, em sua ignorância quanto aos assuntos mundanos -


Aziel: É um tipo de ritual alimentar humano - indicou seu parceiro de missão - 


Sieme: Entendo – replicou a celestial - 


Tinha vindo pouquíssimas vezes a Haled, e não conhecia quase nada sobre os costumes mortais. Felizmente era a Mestre da Mente, e aprenderia rápido.


Ablon guiou Aziel e Sieme por seis quarteirões, até que os três chegaram a uma das avenidas principais. 


O general aproveitou a caminhada para contar a Chama Sagrada o que tinha lhe acontecido desde que os sinais do Apocalipse começaram, do encontro com Orion ao sequestro de Vick. 


No meio do caminho, o cenário urbano se transformou, e quando os celestiais menos esperavam tinham deixado a vizinhança de sobrados e adentrado a área moderna, com seus arranha-céus de vidro e concreto. 


Igrejas barrocas, protegidas por leis de tombamento, escondiam-se em recantos decadentes, as sombras de construções magnificas. 


A sujeira enegrecera a fachada dos templos, e a poluição enfraquecera suas vigas, deixando-os praticamente arruinado. 


O movimento e a correria aumentaram com a abertura dos pontos comerciais. 


Eram quase oito horas da manhã, e a temperatura subia cinco graus. O Sol arrastava-se pelo leste, e agora a bola de fogo já podia ser avistada no topo dos edifícios. 


Para a infelicidade de Sieme, o clima ia ficando cada vez mais abafado a medida que penetravam o labirinto de prédios - onde o ar encontra dificuldade para circular. 


O calor excessivo a obrigou a retirar a parca e a continuar o trajeto apenas de camisa. Para ela, que era uma novata nas questões corpóreas, as duras condições tropicais eram um aborrecimento a parte. 


Entretanto, as descobertas desagradáveis que a Mestre da Mente fazia eram compensadas por novas experiencias, muito mais interessantes. 


Ao observar a massa de pessoas que a toda hora cruzava seu caminho, Sieme percebeu quão débeis eram as defesas psíquicas dos seres humanos. 


Os pensamentos dos mortais brotavam-lhes da mente como água da fonte, e ela podia ouvi-los sem nenhum esforço: A bolsa caiu 2.3% esta semana; Meu Deus, então a coisa deu em guerra mesmo; Tenho que levar meus filhos ao jogo; Acho que o supervisor não vai ficar satisfeito; A receita leva ovo batido. 


Com isso, em poucos minutos, a inteligente serafim já acumulara uma quantidade considerável de informação a respeito do comportamento terreno, e tentava, em sua mente, organizar e processar todas essas ideias, para então desvendar seus reais significados.


Passaram em frente a uma banca de jornal, e em volta dela havia uma aglomeração incomum. Mesmo atrasados para seus compromissos, muitos não conseguiam prosseguir sem antes dar uma olhadela na primeira página dos jornais pendurados. 


As manchetes de todos eles, sem exceção, falavam sobre o ataque nuclear a Pequim da noite anterior. 


A guerra mundial ainda não fora oficialmente declarada, mas todos acreditavam que seria em breve, com uma sangrenta resposta oriental a ofensiva que, supostamente, partira de um dos postos militares da Liga de Berlim no oceano Pacifico. Os periódicos sensacionalistas alertavam para a proximidade do “fim do mundo”, enquanto os mais moderados indicavam que certos países, os chamados países neutros, como o Brasil, estavam fora do eixo de combate. 


As paginas principais também mostravam entrevistas com cientistas, que afirmavam que a capacidade de destruição dessas novas armas era muitíssimo superior aquelas que devastaram Hiroshima e Nagasaki, na Segunda Guerra Mundial. Um só míssil seria capaz, segundo eles, de aniquilar um pais inteiro. 


O coro – como os celestiais chama um grupo de três ou mais anjos- andou mais uma quadra e entrou em uma cafeteria pequena, de formato estreito e profundo. De longe, Ablon sentiu o aroma do ébano, com que foram talhados os móveis. 


O renegado descobriu aquele lugar logo que chegou ao Rio de Janeiro, e rapidamente se acostumou com ele. Era calmo, silencioso, e passava a maior parte do tempo vazio. 


O movimento era maior a noite e depois do almoço, quando os executivos vinham tomar uma xícara de chá ou degustar uma dose de uísque. A fachada era antiga, devia ter mais de cem anos. 


Quando foi inaugurado por volta de 1900, era uma chapelaria, depois passou a vender charutos e por fim converte-se em uma casa que servia cafés, drinques e petiscos. No fundo do bar, sobre o balcão, uma televisão com o volume baixo transmitia um jogo de futebol. 


Os três sentaram-se em uma mesa próxima a janela, de onde tinham uma excelente visão da rua e da confusão metropolitana. O Anjo Renegado pedia a garçonete uma lata de suco de laranja e esperou a mulher se afastar, para só então iniciar o diálogo.


Ablon: E então, onde ela está ?


Aziel: Na Fortaleza de Sion – respondeu - Um anjo desconhecido a levou as câmaras internas. Pela descrição que você me deu, trata-se de fato do Anjo Negro, o mesmo que invadiu seu apartamento.


 A Fortaleza de Sion – pensou o general, intrigado pela coincidência. 


Aziel: O que foi ? - inquiriu a chama Sagrada, reparando no devaneio - 


Ablon voltou a realidade. 


Ablon: A Fortaleza de Sion. Era para lá que Lúcifer queria me mandar quando me apresentou seu plano.


 Aziel: E o que a Estrela da Manhã pretendia ?


Como resposta, Ablon pôs a mão no bolso do sobretudo e sacou um objeto rústico, circular, moldado em barro sólido. Media mais ou menos dez centímetros de diâmetro e tinha a forma de uma cruz envolvida por um anel. Pôs a relíquia sobre a mesa.


 Ablon: Reconhece este artefato ?


 Aziel: É a chave de uma das passagens dimensionais da Sala dos Portais, localizada no interior da Fortaleza de Sion - rebateu Aziel, aguçado - Pelas inscrições, eu diria que ela abre um vórtice para os domínios do Arcanjo sombrio nas profundezas. Lúcifer deu isso a você ? 


Ablon: Sim. 


Aziel: Muito estranho... 


Ablon: Por quê ? 


Aziel: Não imagino como ele possa ter conseguido este objeto. A fortaleza de Sion é completamente impenetrável a qualquer demônio.



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Autor(a): Fraanh

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Comentários da Fanfic 1



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  • fraanh Postado em 16/10/2014 - 20:18:52

    Por mais que eu esteja postando a primeira temporada rapidamente só para continuar a segunda (já que tive que sair do orkut), eu devo, com toda a educação do mundo, dar as boas vindas as leitoras que não me acompanharam antes, então, sejam bem vinda meninas, espero que estejam gostando, comentem por favor, eu não mordo não *-*


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