Fanfics Brasil - Capítulo 44 O amor e um anjo ~

Fanfic: O amor e um anjo ~


Capítulo: Capítulo 44

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 Ablon: Pode ter sido um traidor. 


Aziel ponderou por um segundo e depois respondeu, convicto: 


Aziel: Não acredito nisso. Mesmo que um anjo estivesse trabalhando para Lúcifer, jamais conseguiria adquirir essa chave. É claro que o Diabo pode ter espiões espalhados por Sion, nós mesmos temos vários. Mas entrar na Sala dos Portais significa estar cara a cara com o arcanjo Miguel. 


Ablon: Então a chave pode ser falsa ?


 Aziel: É possível, mas acho que não. Posso sentir o poder do artefato – opinou Aziel, deslizando o dedo indicador sobre as runas misticas que delineavam a superfície do barro - 


Os dois ficaram em silencio por um momento, arriscando hipótese mentais que os ajudassem a lançar alguma luz sobre o mistério que apresentava. 


Sieme estava atenta ao diálogo, mas continuava calada, lendo os pensamentos das pessoas que passavam na rua. 


Achava que isso a ajudaria a compreender melhor o mundo onde estava, sobre o qual quase nada sabia. 


A reunião está começando; Essa não! Eu tenho um amigo que mora em Pequim; Puxa, que noite; Acho que vou comprar uma trava para o carro; Ah, ele é maravilhoso!; Vão jogar uma bomba na nossa cabeça.


 Ablon: Há alguma peça desse quebra-cabeça que não se encaixa, Aziel - constatou Ablon, preocupado - 


O ishim limitou-se a concordar. Também não conseguia pensar em nada que esclarecesse a situação. 


O general devolveu a chave de barro ao bolso do sobretudo. Depois, voltou a olhar a Chama Sagrada e retomou a conversa do ponto onde parara.


Ablon: Com ou sem chave, você acha que pode me ajudar a salvar Vick ?


 Aziel: Eu não. Mas talvez Gabriel possa. 


 Ablon: Gabriel ? - reagiu Ablon, surpreso. Agora era sua vez de estranhar as palavras do amigo - Gabriel é um arcanjo! Os arcanjos são nossos inimigos. 


 Aziel trocou olhares com Sieme, que enfim entrou na conversa.  Até ali, os dois celestes não tinham parado para pensar quanto tempo fazia que o renegado estava na terra, e que realmente não tinha como saber o que se passava no céu.  Pela primeira vez, a Mestre da Mente falou: 


 Sieme: Muita coisa aconteceu desde que você foi confinado a Haled, general. 


 Aziel adicionou: 


 Aziel: Acho que você está defasado em relação a mais de dois mil anos de história celeste. 


 O querubim nada disse, apenas se ajeitou na cadeira, esperando que os enviados lhe explicassem o que de tão importante teria ocorrido em sua ausência, Aziel começou: 


 Aziel: Logo depois do expurgo dos renegados, muitos de nós fomos tomados por um estranho sentimento, uma mistura de remorso e confusão. Queríamos estar ao seu lado, mas nada fizemos para impedir que Miguel os expulsasse. E também não tínhamos iniciativa para continuar sua luta. Talvez fosse o medo dos arcanjos, ou simplesmente a falta de uma liderança coesa... Não sei ao certo. 


 Ao terminar a frase, o ishim foi interrompido.  A garçonete trazia uma lata de suco de laranja e três copos. 


 Sieme analisou o recipiente, sem saber como funcionava ou para que servia. 


 Ablon puxou a tampa e serviu aos amigos, mas a serafim recusou o liquido amarelo, indiferente ao paladar. 


 Quando perceberam que estavam a sós, Aziel continuou: 


 Aziel: Alguns tomaram a decisão errada e se uniram a Lúcifer, na esperança de que a rebelião do Arcanjo Sombrio fosse uma continuação da sua, porém com mais chances de sucesso. Outros, como eu e Sieme, vimos as verdadeiras intenções da Estrela da Manhã e o rechaçamos. É claro, muitos abraçaram a revolução por anseios sinistros e diabólicos. Quando a batalha no céu eclodiu, só havia dois lado: ou você estava com Miguel ou com Lúcifer. Preferi o Príncipe dos Anjos porque, mesmo reconhecendo que era um tirano, achei que as coisas poderiam ser piores se os rebeldes vencessem. -  Ablon bebeu um pouco de suco, sem tirar os olhos de Aziel. - Lúcifer caiu, junto com seus aliados - prosseguiu o ishim - Com a vitória sobre os revoltosos, Miguel se fortaleceu e começou a se isolar cada vez mais no poder. Dos cinco arcanjos que governavam o paraíso, agora só sobrava quatro: Gabriel, Uziel, Rafael e o próprio Príncipe dos Anjos. Destes, apenas o Mestre do Fogo era páreo para o ditador, mas seu desinteresse quanto a politica celestial ajudou o irmão a galgar as escadas do trono. Sem Lúcifer para se opor a ele, o balanço do forças no conselho ruiu. 


Sieme: Diante desse quadro – interferiu - tudo levava a crer que em pouco tempo a Haled e seus habitantes sofreriam novos desastres. 


Ablon: Sim - concordou, acompanhando o raciocínio -


 Aziel: Sim - retomou Aziel - E era isso que aconteceria no longo prazo. Mas então alguma coisa ocorreu, algo que mudaria para sempre o rumo das forças no céu. - O guerreiro pousou o copo sobre a mesa, interessado. O ishim seguiu com suas palavras: - Há cerca de dois mil anos, o até então passivo Gabriel pôs-se em conflito com seu irmão. As divergências estavam relacionadas ao destino da Criança Sagrada. Miguel queria dar fim ao menino, mas Gabriel se opôs ao assassinato. A contenda gerou um racha permanente nos Sete Céus. Com isso, o ideal da conjuração, semeado por você e pelos renegados, ganhou um novo impulso. O arcanjo Gabriel deixou o Palácio Celestial solicitou exílio na Cidadela do Fogo. É claro que teve todo o meu apoio. Uma legião fabulosa e imensa o acompanhou. Todos ali ansiavam por derrubar o Príncipe dos Anjos e pôr fim ao seu reinado de medo, tanto sobre os celestes quanto sobre os seres terrenos. Desejavam acabar com a tirania e salvaguardar os mortais na Haled. 


Ablon: Miguel nunca entendeu que a humanidade é parte da criação divina – argumentou - Feri-la significa ferir também uma parte de Deus.


 Aziel: Mas mesmo depois de o paraíso ter sido palco de duas rebeliões, Miguel não se deu por vencido. Sua insistência arrastou as duas facções para uma guerra civil. O Quarto Céu transformou-se em um infinito campo de batalha, onde os exércitos lutaram, por mais de mil anos, em pé de igualdade. A cada instante, uma fortaleza caía e outra era retomada. As tropas estavam tão niveladas em termos de contingente e perícia que os progressos eram ínfimos. As forças do tirano não conseguiram invadir o Primeiro Céu e sitiar a Cidadela do Fogo, e nosso exército não foi capaz de subir ao Quinto Céu e atacar o palácio.


Sieme: Mas com a chegada do Apocalipse tudo muda – afirmou - 


Aziel maneou novamente a cabeça, um uma afirmativa emocionada.


 Aziel: O Príncipe dos Anjos moveu sua base de operações para a fortaleza de Sion, no plano etéreo, de onde espera iniciar a dominação da Haled, quando o tecido da realidade cair. Ele e os anjos que o acompanham já estão posicionados ao redor da bastilha. Mas essa manobra do inimigo, ironicamente, nos foi muito propícia. Diferentemente das investidas no Quarto Céu, onde as forças travavam combates isolados, no etéreo os exércitos poderão se enfrentar até o fim, digladiando-se na grande Batalha do Armagedon. E aos ganhadores será reservado o premio de assistir ao despertar do Altíssimo. 


A expressão do Anjo Renegado encrespou-se. A emissão do nome divino lançou sobre ele novas preocupações, trazendo à tona questões que supunha ser de menor importância. 


Sieme: No que está pensando, general ? - perguntou, evitando ler seus pensamentos -


 Ablon: Só em uma coisa que Lúcifer me disse. Para o Arcanjo Sombrio, Miguel estaria arquitetando um plano pelo qual usaria a energia liberada no despertar de Deus para atingir a própria divindade. 


Aziel e Sieme se entreolharam, mostrando-se absolutamente descrentes. 


Aziel: Essa ideia é absurda – protestou - Você acredita mesmo naquele traidor ? 


Ablon: Não, mas devo reconhecer que há algum sentido em seu discurso. Vocês acham mesmo que Miguel passará impune aos olhos do Criador no Dia do Juízo Final ? Não, sem duvida será o primeiro a ser condenado. Além disso, o retorno de Yahweh tira o arcanjo do rol das decisões. E não foi apenas o Diabo que levantou essa teoria. Uma entidade com quem conversei propôs a mesma coisa. Eu também custei a aceitar, mas, se você raciocinar bem, é bastante lógico. Só não consigo compreender por que Orion e Lúcifer não me contaram sobre isso, sobre a guerra civil e o exército de Gabriel. Seguramente o demônio estava tramando alguma coisa ao ocultar-me todas essas informações. 


Aziel: Imagino que sim – retrucou - a Estrela da Manhã está sempre maquinando algo. Você tomou a atitude certa em não firmar aliança com ele.


Ablon: Isso eu nunca faria, de uma forma ou de outra. Mas se a batalha será entre Miguel e Gabriel, qual é a participação de Lúcifer nessa guerra ? 


Sieme opinou: 


Sieme: A julgar por sua natureza vil, ele esperará que os dois exércitos se matem, para só então tentar um acordo com os vencedores, já enfraquecidos pelo combate. Todos sabemos quanto as hostes infernais são belicosas, mas ainda assim não são suficientemente fortes para enfrentar os anjos estacionados da Fortaleza de Sion nem nossa legião comandada pelo Mestre do fogo. 


O Mestre do Fogo - esse era o principal titulo ostentado pelo famoso arcanjo Gabriel, graças ao seu absoluto poder sobre o calo e as chamas.  O único que poderia fazer frente a ele nesse domínio era Lúcifer, que, além de muitas maestrias, também era perito na arte elemental.  Além desse, Gabriel tinha outros nomes, entre os quais O Mensageiro, Força de Deus, Príncipe da Justiça e O Anjo da Revelação.  Foi ele quem ditou as palavras do Alcorão a Maomé.  Diferentemente de Miguel, Gabriel sempre atuou na esfera terrena.  


Talvez isso o tenha feito, em determinado momento, recusar as ideias brutais de seu irmão - pensou o renegado, e então recordou-se, espontaneamente, dos outros arcanjos, Uziel e Rafael. Onde estariam ?


 Ablon: O que aconteceu com os outros arcanjos ? - inquiriu Ablon, dando-se conta de que ainda não havia escutado a história toda - Qual foi a posição que tomaram nessa guerra ? 


Aziel sacudiu a cabeça, desta vez indicando a negativa. 


Aziel: Rafael há muito deixou o reino dos anjos, desiludido com a atitude de seus irmãos. Perdeu toda a vontade de continuar governando e desistiu de tudo e de todos, isolando-se em alguma dimensão desconhecida. Já Uziel esteve ao lado de Miguel, liderando os querubins, há até bem pouco tempo, mas então, certo dia, sua aura simplesmente se apagou.


 


Tsafon, o Monte da congregação, alguns dias atrás. 


 Certo dia, o Arcanjo Uziel, cansado daquela espera infindável, resolveu galgar o monte Tsafon e afrontar seu irmão. Armou-se de sua espada de fogo, vestiu uma armadura dourada e tomou a longa escadaria de mármore que levava a construção de pedra no topo do morro. 


 Ao fim dos degraus, o Santuário do Alvorecer aparecia meio oculto pelas nuvens geladas, um aposento imponente, erguido por largas colunas redondas.  Uma forte luz azulada coruscava em seu interior, um brilho que o arcanjo acreditava ser as emanações do próprio Deus.  Mesmo através de seu elmo polido, que completava o conjunto da bela couraça, o rosto de Uziel era austero e demostrava sua vontade.


 Sozinho, ele ponderara por anos a fio e agora enfim decidira visitar o Altíssimo, só para ter certeza de que o espirito de Deus continuava adormecido, deitado no santuário, e não morto, como as vezes suspeitava.  Um dia, havia muito tempo, Uziel contemplara a face do Criador, uma dádiva reservada aos arcanjos- nem os anjos tiveram esse jubilo- 


 E o que ele viu foi fraternidade, amor e compreensão.  Então, como teriam os celestiais chegado aquele grau de corrupção ? 


 O paraíso caíra em decadência, e com ele também o mundo dos homens.  Mas o caminho ao santuário não seria facilmente vencido.


Miguel, o Príncipe dos Anjos, irmão direto de Uziel, guardava o trono divino e não estava disposto a permitir seu ingresso.  Sozinho, ele bloqueava a passagem, brandindo sua espada sagrada, a insuperável Chama da Morte.  Envergava uma armadura completa, prateada como os raios da lua e adornada por detalhes douradas no peito, que formavam desenhos complexos no metal espelhado.  O capacete, de crista vermelha e queixada pontuada, fora posto de lado, deixando aparentes as feições masculinas, a barba por fazer e o rosto cheio de cicatrizes horríveis, adquiridas nas Batalhas Primevas, confronto ancestral sucedido antes mesmo da criação do universo.


 Miguel era o mais forte dos cinco arcanjos, o primogênito, o herdeiro do Criador. Seu cabelo, negro e comprido, era cortado por uma mecha alva que corria a nuca, e os fios estavam presos em um rabo de cavalo pouco alinhado. 


 Se avistado por olhos humanos, poucos o reconheceriam como uma entidade celeste, não fossem as asas branquíssimas, afiadas como navalhas. O vento ameno da aurora agitou o cabelo do príncipe e soou como apito aos ouvidos de Uziel. 


O visitante estacou a dez metros do guardião, na parte mais baixa da escadaria. Silenciosos, os dois gigantes se encararam - Miguel, Forte e confiante; Uziel, indignado e decidido. O invasor levantou sua espada em posição de defesa, segurando a arma com ambas as mãos. 


Uziel: Saia do meu caminho, Miguel. Estou reivindicando o direito de visitar o nosso Pai, Yahweh, em seu leito de repouso. É meu direito como arcanjo e descendente do Criador. 


Por um momento, o príncipe nada disse. Em seguida, desceu um degrau. 


Miguel: Você não vai a lugar algum, caro irmão. Minha paciência esgotou-se. Estou farto de sua insolência. Sou o Príncipe dos Anjos, e isso significa que sou o líder dos arcanjos também. A minha palavra é lei -determinou- Yahweh está dormindo, como sabemos. E não pode ser perturbado. Estou aqui para defendê-lo, e não será você ou qualquer outro que me destituirá de minha função principal.  - Uziel pareceu ainda mais irritado. -


Uziel: E como saberei que Ele está ai dentro, Miguel ? Você nos diz o mesmo há milênios, insistindo que, um dia, o Criador despertará para punir os injustos. Pois eu digo que este dia chegou. A podridão tomou conta do mundo. Já é hora de sabermos se o que fala é correto. 


Miguel: Atreve-se a questionar os meus comandos ? Sou o seu irmão mais velho! Não duvide de seu comandante. 


Uziel: Veja aonde você nos levou e pergunte a si mesmo se é realmente algum tipo de líder. Gabriel arrastou metade dos nossos anjos para uma guerra civil contra nós, e Rafael nos abandonou, caindo em desgraça. Se você se opuser a mim, que outro arcanjo terá ao seu lado ? Lúcifer ? -ironizou, evocando o nome do maior de todos os inimigos do céu- 


O Príncipe dos Anjos lançou ao invasor um olhar de desdém, ao mesmo tempo em que levantava sua espada fulgente. 


Miguel: Eu não preciso de você, Uziel. Não preciso de ninguém.


 Então, o guardião empunhou sua arma e a moveu para o ataque. Suas chamas cresceram, e a luz do fogo sagrado refletiu nos olhos castanhos do príncipe. Uziel sentiu vontade de fugir ante a majestade do inimigo, mas sua pujança o motivou ao combate. 


Uziel: Então é verdade, não é ? É verdade o que Gabriel disse aos seus anjos... 


Mas, antes que Uziel terminasse, Miguel alçou voo, abriu as asas e desceu para ferir o irmão com um golpe violento de espada. Ofuscado pelo brilho do sol, o visitante quase não se esquivou, mas conseguiu rolar para o lado no instante preciso. 


 Um estrondo titânico abalou a montanha, e a lamina flamejante tocou a escadaria de mármore, abrindo uma fenda larga no solo.  O invasor teria caído pela encosta do morro, não tivesse adejado em reflexo. 


 Ascendeu as alturas e em seguida mergulhou, aterrizando em um sitio acima do guardião, muito perto da passagem ao santuário. Dando as costas ao perigo, disparou para dentro do templo, subestimando a potencia de seu algoz. 


 Mesmo entendendo que jamais venceria o impiedoso vigia, Uziel continuou em sua trilha. Queria entrar no Santuário do Alvorecer e vislumbrar a face do Onipotente, só mais uma vez, nem que isso lhe custasse a vida. 


 Se o Altíssimo estivesse realmente adormecido, ele teria obtido a resposta que procurava – a de que sua luta ao lado do arcanjo Miguel tinha sido legitima. 


Mas e se nada encontrasse ? E se Yahweh não estivesse deitado em Tsafon ?


 Essa hipótese o apavorava, mas ainda assim pereceria feliz, sabendo que desafiara seu tirânico irmão, mesmo que num derradeiro momento.  Teria, então, se redimido de todas as matanças, de todas as catástrofes que promovera, de todos os cataclismos que comandara.


 Correndo e voando, ele pulou para o interior do edifício, venceu as colunas e ultrapassou o umbral da entrada.  Uma luz intensa confundiu seus sentidos, mas logo a vista se adaptou a claridade. 


No centro do grande aposento, surgiu um pedestal trabalhado, e sobre ele descansava um livro grosso, de aparência antiga, escrito por dentro e por fora. Aquele era o Livro da Vida, um magnifico artefato deixado ao Príncipe dos Anjos pelo próprio Deus, e que relatava em detalhes toda a história do sétimo dia, desde a criação do homem, até o crepúsculo dos tempos.


 Estava marcado com o código secreto dos malakins, um idioma anterior a aurora do mundo.  Miguel nunca deixava que qualquer um se aproximasse do tomo, e sua obsessão pelo objeto chegava a ser psicótica. 


 Quando percebeu o que se passava, Uziel sentiu as costas rasgarem em um corte abrasado.  A dor do fogo queimou suas asas, e o sangue escorreu pelo ferimento.  Como um raio certeiro, a espada flamejante do furioso Miguel dilacerou suas costas, lançando o invasor ao estado letal. 


 Atordoado, desabou contra o chão, largando o sabre e se esticando a espera da morte.  O guardião pisoteou o busto do visitante, esmagando o metal da armadura dourada.  Então, apontou a lamina ao rosto do irmão, em prelúdio ao choque final. 


 Uziel: Miguel, você nos traiu! - protestou o ferido, cuspindo um refluxo de sangue - Você traiu a confiança dos arcanjos e de todos os celestiais. 


 Miguel: Eu não trai ninguém, Uziel. Foi você que traiu a si próprio. 


 Uziel: Onde está Deus, Miguel ? Onde está o nosso Pai Luminoso ? 
Prestes a desfalecer, Uziel ainda resistia, procurando resposta a sua busca desesperada.  Não distinguira sinais do Altíssimo no templo de mármore, apenas os contornos de um livro envelhecido. 


 O que teria acontecido ao Criador ?


Miguel: O Onipotente está aqui mesmo, Uziel. Será que não percebe ? Ele está aqui, no Santuário do Alvorecer! 


 Uziel maneou a cabeça, convencido da insanidade do irmão. 


 Uziel: Yahweh está morto, é isso! Ele morreu ao fim do seto dia! Não está apenas adormecido, como você contou. Você nos enganou por todos estes anos, Príncipe Celeste – acusou - Eu me sinto envergonhado por ter acatado as suas ordens, mas estou feliz por ter enfim alcançado a verdade. 


 Assim, Uziel se acalmou.  A vida o estava deixando, mas ele havia cumprido sua missão.  Agora, sua essência vital poderia finalmente se dissipar e regressar ao ventre do infinito.  Pronto para a execução, Miguel deteve a espada por mais um segundo.


Miguel: Perdeu o juízo, pobre irmão. Se preferisse esperar só mais um pouco, não estaria agora estendido neste piso gelado. A Roda do Tempo não tardará a anunciar o Apocalipse. Mas não é sua culpa. Você não poderia ter feito nara para evitar o destino. Assim está escrito - completou, fatalista -


 Então, o príncipe levantou sua lamina, e Uziel aguardou a sentença. 


 Miguel: Não me tome por louco - acrescentou, em inesperado discurso - Antes que morra, quero que saiba que só digo a verdade e faço tudo pelo bem da criação. Deus está adormecido, e se você não o encontrou quando entrou nesta sala - pausou e em seguida atacou com a espada, perfurando o estomago do moribundo - é porque não teve a dignidade de olhar para trás.


 Quando a arma encravou, o invasor se contorceu em espasmos de dor. Miguel trespassara seu peito, a parte mais sensível da anatomia angélica.  Com uma mão, o príncipe despedaçou a couraça, e com a outra arrancou o coração do irmão. 


 Uma luminosidade mistica envolveu o cadáver, e o corpo se dispersou em vibrações cintilantes. E esse foi o fim do arcanjo Uziel, patrono da casta dos querubins. 


 Vitorioso, Miguel se aproximou do pedestal, onde repousara o livro fechado.  Deslizou os dedos sobre as inscrições, e sublinhou com os olhos os caracteres marcados. 


 Virou-se para trás, para a nave do templo, agora vazia.  Então, voltou a atenção ao tomo sagrado.  Com um misto de seriedade e loucura, o arcanjo falou num sussurro: 


 Miguel: Concordo com você em um ponto, irmão: chegou o dia de Deus despertar de seu sono.



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Autor(a): Fraanh

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • fraanh Postado em 16/10/2014 - 20:18:52

    Por mais que eu esteja postando a primeira temporada rapidamente só para continuar a segunda (já que tive que sair do orkut), eu devo, com toda a educação do mundo, dar as boas vindas as leitoras que não me acompanharam antes, então, sejam bem vinda meninas, espero que estejam gostando, comentem por favor, eu não mordo não *-*


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