Fanfics Brasil - Capítulo 45 O amor e um anjo ~

Fanfic: O amor e um anjo ~


Capítulo: Capítulo 45

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 De volta a atualidade. 


 O Primeiro General respirou fundo. Por um momento, amaldiçoou sua falta de conhecimento. 


Se soubesse dessas coisas antes teria as respostas certas para os momentos oportunos -como Lúcifer tinha- 


Mas não podia se culpar. A verdade, por mais fatalista que fosse, era que, fora as oscilações do tecido, não tira outra maneira de obter noticias do mundo espiritual. 


As nuances da membrana carregavam apenas fracos resquícios sobre os acontecimentos que se sucediam em outros planos. 


Ainda preocupado com Vick, voltou a questão do rapto. 


Ablon: E esse Anjo Negro, ou Anjo do Abismo Sem Fundo, como gosta de ser chamado. Não pude identificar sua aura. Carregava em si uma energia diferente de tudo o que já senti. O que sabem sobre ele ? 


Sieme: Tanto quanto você, general – rebateu - Ele serve apenas ao Príncipe dos Anjos, e a ninguém mais. É forte e poderoso, cruel e impiedoso. Nossos espiões reportaram que nem mesmo os lacaios de Miguel conhecem sua verdadeira identidade. 


Ablon bebeu de uma vez todo o suco que restava no copo. 


Percebeu que o jogo de futebol, antes transmitido pela TV, havia acabado, e agora os clientes no bar assistiam ao noticiário matinal. 


Ablon fechou os olhos por alguns instantes, pensando nos últimos acontecimentos.


 


Flash Back


Assim que Shamira foi embora, comecei a vasculhar tudo no apartamento, querendo encontrar a aliança. 


 Eu precisava, precisava tê-la comigo.  A encontrei em um canto, dentro da caixinha, ainda tinha o perfume de Vick. 


 Tirei a aliança de dentro da caixinha e a encarei por alguns instantes. 


Vick: Meu coração esta apertado e eu sinto que uma parte de mim está indo embora, isso é definição para “ficar bem” ? 


 Ablon: Eu vou voltar. 


 Vick: Promete ? - segurou minha mão apertando forte - 


 Ablon: Sim. 


 Vick: Posso te pedir mais ?


 Ablon: O que quiser. 


 Vick: Só acho que agora é uma boa hora para aceitar aquela caixinha. 


 Ablon: A caixinha ? - me surpreendi -


 Vick: Sim, a caixinha, ou melhor, o que está dentro dela. 


 Ablon: Ok, espera um minuto - corri escada acima, estando de volta logo em seguida - 


 Vick: Deveria estar no seu bolso - cruzou os braços - 


 Ablon: Estava muito bem guardada, o inferno não é um bom lugar pra ela - peguei sua mão e entreguei - 


 Vick: Isso significa que não vai colocá-la não é ? Eu até acho melhor, assim, ela fica comigo, esperando a sua volta. 


 Abriu a caixinha com cuidado e seus olhos brilharam. 


 Vick: São... são perfeitas. 


 Ablon: Queria que você escolhesse, então, a do casamento você escolhe tá ? 


 Vick: Urrum - olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas - 


 Ablon: Aceita se casar comigo Victória Emanuelle ? Aceita ficar do meu lado, para o resto da vida ? Ser minha ? Exclusivamente minha ? 


Vick: Sim, ainda mais depois de dizer meus dois nomes - sorriu nervosa - aceito meu amor, aceito ser sua para o resto da vida. 


 Peguei a aliança da caixinha, ergui sua mão esquerda e coloquei lentamente no seu dedo, dando um beijo logo em seguida. 


 Vick: Prometa por favor que ainda temos muito o que viver juntos, que não vai sossegar enquanto não estiver ao meu lado ? Que vai voltar para buscar a sua aliança ? 


 Ablon: Prometo, eu não sossegaria nem por um minuto se não estivesse ao seu lado, vou te buscar, onde quer que esteja, e vou te encontrar. 


 Vick: Jura de coração ? - uma lágrima escorreu - 


Ablon: Juro - limpei a lágrima e com ela fiz o gesto na frente do coração - 


 Vick: Eu te amo – pulou passando as pernas por minha cintura - 


 A segurei imediatamente. 


 Ablon: Eu também meu amor, eu também te amo. 


 Ablon: Eu juro amor, juro - disse colocando a aliança no meu dedo - Vou te encontrar, onde quer que esteja - Dessa vez, foi a minha vez de sentir lágrimas escorrendo - Nem que eu tenha que enfrentar o mundo para isso, vou te encontrar, apenas me espere. 


 Fim do Flah Back .


 


Narração na terceira pessoa


Aziel e Sieme vieram a Haled prestar auxilio ao general, mas ele tinha a impressão de que não era só por isso que estavam ali. Havia algo mais. 


Tinham sido enviados por um arcanjo e, por mais que aceitasse a redenção de Gabriel, custava a acreditar que o Mestre do Fogo fosse tão altruísta. Voltou os olhos aos dois celestes e resumiu: 


Ablon: Vocês tem uma inigualável legião de querubins e um líder forte como Gabriel. O que querem de mim ? 


Aziel: O Armagedon é a grande batalha – reconheceu - o combate pelo qual todos os celestiais tem esperado. Você é o Anjo Renegado, aquele que primeiro desafiou as ordens do inimigo, e por isso tornou-se uma lenda. Os feitos de bondade e bravura perpetrados pela conjuração inspiraram muitos de nós, até mesmo o próprio Mestre do Fogo. 


Sieme: Gabriel não pretende continuar nos liderando por muito tempo -revelou- Até então os dois exércitos lutaram em equilíbrio, mas em Sion nós seremos os invasores, e eles defenderão suas posições. Terão a vantagem de estar confinados em sua fortaleza. Por isso precisamos de você. Se o último anjo renegado puder comandar nossas tropas, se o próprio ícone da resistência erguer a bandeira da liberdade, então a vitória será certa. 


Os serafins costumam ser frios e controladores, mas Ablon percebeu um brilho apaixonado na ultima frase da mulher anjo. Seguramente havia ali uma imensa admiração, que a natureza autoconfiante de sua casta a impedia de demonstrar. Quando foi expulso do céu, o anjo guerreiro não esperava se tornar um mito. 


Era irônico pensar sore isso, mas não foi ele quem cultivou essa reputação, e sim o arcanjo Miguel, que ordenou a caçada aos renegados. Se pelo menos um deles sobrevivesse as perseguições, como foi o caso de Ablon, se tornaria um mártir. 


Aziel e Sieme ficaram quietos, esperando ansiosos pela resposta do Primeiro General. O segundo que se seguiu pareceu-lhes uma eternidade.


Ablon: Este é o tipo de proposta que se faz - disse Ablon, decidido, arriscando um leve sorriso com o canto da boca - 


 Quando, havia milhares de anos, jurou vingar-se de Miguel e confrontá-lo no Dia do Ajuste de Contas, não esperava fazê-lo com uma legião sob seu comando.  Mas se era assim que a situação se apresentava, tanto melhor.  Aziel sorriu e pôs a mão no ombro do amigo, oferecendo-lhe apoio incondicional e jurando nunca mais abandoná-lo. 


 Sieme fez apenas um gesto de aprovação, mas seu contentamento não era menor que o do companheiro. 


 Ablon: Contudo – ponderou - há um porém. Não posso me desmaterializar. Como espera que eu encontre as tropas de Gabriel acampadas no plano etéreo ? 


 A Mestre da Mente tinha a solução.


 Sieme: Tomamos conhecimento de um portal pelo qual você poderá passar sem ter de atravessar a membrana. A passagem nos levará as proximidades do local onde o exército do Mensageiro está se preparando. 


 Ablon: Um portal ? Portais são muito raros. Com quem obtiveram essa informação ? 


 Aziel: Com o próprio arcanjo Gabriel – revelou -


 O general tranquilizou-se.  Se quisesse entrar de cabeça nessa guerra, não teria outra opção a não ser confiar em Gabriel e em seus anjos. 


 Ablon: E onde fica esse canal mistico ? 


 Aziel: Em uma caverna na montanha de Horeb, no deserto do Sinai. 
O deserto de Sinai pertence hoje ao Egito, mas fica próximo a Terra Santa.  Ao imaginar aquele milenar, Ablon lembrou-se de uma passagem do Êxodo bíblico.  Conhecia bem as escrituras.


 Ablon: A montanha de Horeb ? É onde o Antigo Testamento sustenta que o profeta Moisés teve sua primeira revelação de Deus. É compreensível. Só Gabriel poderia saber a localização desse portal. Ele é o Anjo da Revelação, que apareceu ao hebreu em forma de fogo, ao lado da árvore que ardia em chamas. Por isso alertou Moisés para tirar as sandálias e não se aproximar da sarça. Se o profeta pisasse naquele solo sagrado, seria atirado para dentro do túnel místico. 


 Sieme: Então devemos partir imediatamente – propôs - Qual é o barco mais veloz que vocês tem por aqui ? 


 Ablon: Vamos tentar uma coisa um pouco mais rápida - sugeriu, achando graça na inocência da serafim - 


 Ela não imaginava o que era um avião ou mesmo um carro, embora já estivesse visto alguns automóveis circulando nas ruas. Ablon e Aziel, que já conheciam melhor os recursos modernos, não deram importância ao anacronismo da Mestre da Mente. 


 Estavam mais preocupados com como chegar a Terra Santa, em um momento tão critico como aquele, quando a Haled sacudia por um conflito mundial.  O Anjo Renegado, que já presenciara centenas de guerras humanas, saia que todo tipo de locomoção se tornava difícil em tempos de crise.


 Calculou, pelo que vira nos jornais, que os aeroportos nos países árabes estariam todos fechados, portanto era inviável tentar chegar ao Egito de avião. 


 A opção mais óbvia era embarcar em um voo para Israel e, a partir de Jerusalém, seguir de carro para a península do Sinai. 


 Só não tinha pensado ainda como colocava os dois anjos, Aziel e Sieme, sem passaporte ou documentos, dentro de uma aeronave.


 Jerusalém, a Cidade Santa – o nome soou como uma musica triste na mente do general. 


 Por anos, ele sonhou em conhecer aquela região que, no passado, fora palco de momentos históricos tão insignificantes e grandiosos. Imaginava como seria caminhar sobre suas muralhas, vagar pelo monte das Oliveiras e explorar os santuários judeus, cristãos e muçulmanos.  Mas Ablon era um exilado. 


 Nunca pode se aproximar da Terra Sacra, território proibido a todo anjo renegado.  Jerusalém sempre esteve cercada pelos agentes de Miguel, que estendiam suas rondas desde o mar Morto até a linha do Mediterrâneo. Ultrapassar aquelas fronteiras era, para qualquer inimigo dos arcanjos, um ato suicida.


 Agora, porém, com a chegada do Apocalipse, Miguel chamara todos os seus soldados para defender a Fortaleza de Sion, suspendendo as patrulhas e posicionando esses guerreiros na linha de frente.


 Pela primeira vez, a cidade estava desprotegida, e o Anjo Renegado poderia adentrá-la sem problemas. 


 Ablon: Sieme está certa. Não devemos perder mais tempo - concordou o guerreiro, olhando por cima dos ombros e procurando a garçonete. Ao ver a moça, fez sinal para encerrar o serviço - 


 Os três anjos já se preparavam para levantar, quando uma dor terrível os acometeu.  Não sabiam e onde vinham, e diante dela ficaram inúteis.  Chegou sob a forma de um barulho estrondoso, um eco estridente que os perfurava e paralisava. 


 O flagelo auditivo os queimou por dentro, e Aziel, tomado pelo sofrimento, tropeçou e caiu.  A cabeça de Sieme, que era a mais sensível dos três, ameaçou explodir. 


 A serafim apagou por um segundo, mas logo retornou a consciência, quando o assobio mistico se calou.  Aziel, ainda desorientado, pôs-se de pé. 


 As pessoas no bar, curiosas, olhavam para ele, imaginando por que um homem jovem e saudável desmaiara tão de repente. 


 A garçonete, solícita, veio ajudá-lo, e a Chama Sagrada constatou que ele, Ablon e Sieme haviam sido os únicos afetados pela sensação.


 XXX: O senhor está bem ? - perguntou a garçonete, amparando Aziel -


 Aziel: Ah, sim... obrigado, foi só uma leve tontura - disfarçou o ishim, ainda desnorteado - 


 Garçonete: Vou buscar um copo d`água - ofereceu a moça, correndo ao bar - 


 Ablon: A Segunda Trombeta – os anjos ouviram Ablon dizer, enquanto se recuperavam - 


 O renegado já tinha ouvido o sinal da primeira, por isso não ficara tão impressionado.


Sieme: No Primeiro Céu, onde estávamos, o sopro não foi tão agudo - resmungou Sieme - 


Ablon: O que acabamos de sentir foi um rasgo permanente no tecido - explicou o general, pondo algumas moedas na mesa - A Haled está toda permeada por ele, e é natural que o ruído seja mais forte no mundo físico. O que vocês ouviram no Primeiro Céu foi apenas um eco do que aconteceu aqui - concluiu, dirigindo-se a saída- 


Aziel e Sieme o seguiram. 


Ablon: A guerra dos humanos acaba de ser declarada. O mundo está sendo atacado -disse o querubim- Temos de chegar a Jerusalém antes que a cidade se converta em cinzas. 


Aziel: E como pretende viajar ao Oriente Médio ? - questionou - Conheço alguns atalhos pelo plano astral, mas você não pode se desmaterializar.


 Ablon: Vamos embarcar em um voo para Israel hoje mesmo. Eu tenho um passaporte. Mas não há como mascarar a identidade de vocês dois. Ainda não sei o que fazer. 


Sieme: O que é um passaporte ? - perguntou -


 Aziel: É como uma carta de fronteiras - esclareceu a parceira - Precisamos dela para ingressar em outros países. Sem esse papel, não temos como entrar na Terra Santa. 


Sieme: Deixe isso comigo – retrucou - 


Ela tinha métodos mais eficientes, porém menos éticos, para ajudá-los a passar pelos postos da policia.


 Ablon aceitou de imediato o inestimável auxilio da mulher anjo e abençoou Gabriel por tê-la enviado aquela missão. 


Certamente o Mestre do Fogo previra sua utilidade. 


A ajuda de uma telepata era indispensável, mas aquele não seria o único obstáculo que precisariam superar. 


Ablon viajaria pela primeira vez a Jerusalém e sentiu um frio na barriga ao lembrar-se da ultima vez em que caminhara por aquelas bandas e de como fora barrado ao alcançar os portões da cidade, muito tempo atrás.


 Foi uma das poucas vezes em que fora obrigado a recuar e dar as costas ao seu objetivo. Determinado, decidiu que, desta vez, entraria em Jerusalém e não retrocederia de novo. 


Por um segundo, o Primeiro General fechou os olhos e, em um único instantes, recordou-se daquela que, provavelmente, fora a mais célebre de suas aventuras. 


 


Lembrança de Ablon - No Monte das Oliveiras. 


 Foi então que, na escuridão noturna, em meio aos pontinhos de luz, uma estrela começou a brilhar com majestosa intensidade.  Da altitude extrema, o astro começou a descer, e o céu inundou-se com seu fulgor dourado. 


 Não era uma estrela que caía, não era um meteoro errante nem mesmo um tanto de poeira cósmica.  O esplendor que eu contemplava era um anjo, uma entidade que descia a terra. 


 E por seu lume ficara evidente que era um ofanim.  Ao perceber a que casta pertencia o visitante celeste, inflei-me de paixão. 


Sua simples presença me inspirava coragem e, tranquilo, observei a estrela viva suprimir seu brilho ao descer em minha direção.  Mesmo ofuscado, eu agora já podia distinguir suas formas, mas não as feições que lhe compunham a face. 


 Seguramente eu o conhecia, mas ainda era impossível dizer quem era.  Voava gracioso, com o auxilio de um par de asas. 


 Ao fim de sua trajetória descendente, o ofanim aterrissou, recolhendo as penas. 


 A luz, outrora deslumbrante, foi murchando e enfim resumiu-se a um único pulso brilhante, concentrado no coração. 


 XXX: Paz, meu amigo! Rogo-lhe que não tema, pois não venho como juiz ou carrasco -anunciou uma voz masculina, que soava como uma melodia infinita- Procuro por Ablon, o Primeiro General, e não pelo anjo renegado que os agentes da vergonha insistem em perseguir. 


 A audição, o timbre soou familiar, mas minha mente ainda estava confusa. 


 Ablon: Se não me deseja mal, então aproxime-se para que eu veja seu rosto. 


 O anjo chegou mais perto e, a luz de seu coração pulsante, reconheci o semblante de Nathanael, um celestial que carregava a alcunha de O Mais Puro. 


 Tinha longos cabelos dourados, e os olhos eram como peças de cobre. Eu e Nathanael havíamos sido grandes amigos.


Mesmo pertencendo a uma casta de natureza pacifica, ele tinha a coragem de um leão, e a história de seus feitos era coroada de glórias.


 Eu sabia que, mesmo sendo um anjo e tendo acabado de descer dos céus, Nathanael jamais levantaria um só dedo contra mim. 


 A amizade que eu tinha por ele era tão forte quanto a que eu sentia por Orion e Aziel.  Ao perceber minha fisionomia de contentamento, o ofanim abriu os braços e nos abraçamos forte.


Além da felicidade de reencontrar um companheiro, as emanações de sua aura transmitiam harmonia e confiança.


Ablon: Nathanael, meu bom Nathanael. Que bons ventos o trazem, velho amigo ?


 Ele sorriu brevemente, mas logo retornou a expressão séria, indicando, pelo olhar, que a situação era critica.


 Nathanael: Refiz seu rastro desde a Cidade das Sete Colinas e felizmente o encontrei a tempo. Você é difícil de achar, general. 


O tom grave empregado pelo Mais Puro me deixou apreensivo. Poucas vezes o vira tão sisudo. 


Ablon: Então suponho que o que tem a me dizer seja muito importante. 


Nathanael: Talvez nunca tenha havido algo de tamanha importância, e provavelmente nunca mais haverá - afirmou Nathanael, em caráter épico- Se não fosse assim, não voaria do Ocidente para alcançá-lo. Mas, apesar de minha jornada ter sido árdua, preciso ser breve. Estou correndo um risco enorme. Ninguém deve saber que vim a sua presença. Todavia, nossa amizade é duradoura, e achei que você deveria saber o que se passa. 


Evidentemente havia um risco tremendo em Nathanael vir ao meu encontro, afinal eu era um criminoso, e ninguém desejava ser cúmplice de um fugitivo. 


O Mais Puro me encarou profundamente com seus olhos de cobre, preparando-se para proferir a mensagem que tanto se empenhara em trazer. 


Nathanael: A oeste, na terra de Canaã, o arcanjo Gabriel profetizou a vinda de uma criança sagrada- anunciou- 


Ablon: Uma criança sagrada ? - eu ainda não percebera a gravidade do fato.- O que ela é ? Algum tipo de santo ? 


Nathanael: É muito mais do que isso, general. Essa criança poderá mudar o destino da humanidade. É nesta alma que estamos depositando toda nossa esperança. Sem ela, a civilização humana dentro em pouco cairá em desgraça. 


Que figura prometida seria aquela ? Qual seria e extensão de seu poder ? 


Ablon: Não compreendo, Nathanael. Como posso ajudá-lo ?


Nathanael: O arcanjo Miguel anseia pela corrupção da humanidade. Ele deseja ver o ódio crescer no coração dos homens, para que possa justificar os próprios massacres. Por isso sabemos que tentará matar a criança. Alguns anjos, como eu, se uniram para proteger a vida do Salvador e dar-lhe a chance e espalhar sua mensagem ao mundo. Ainda somos poucos, mas estamos crescendo em número. Não sei se estou certo em meu julgamento, mas achei que esta seria a oportunidade para você retomar a luta. Conheço uma legião que o seguiria. 


As palavras de Nathanael, e a maneira como ele falara, me fizeram, de antemão, entender que a chegada daquela criança sagrada afetaria não só a história humana, mas também o balanço de forças no céu. 


Se o ofanim viera até mim, então havia, com certeza, outros anjos dispostos a pegar armas para defender a legitimidade do Iluminado. 


Mas por natureza eu era precavido, e deixei escapar o comentário. 


Ablon: Como posso ter certeza de que esta não é uma cilada armada pelos arcanjos para reunir e capturar os renegados ? Talvez eles tenham induzido você a vir até mim. 


Se na época eu soubesse a grandiosidade do acontecimento que estava por vir, não teria sido tão pretensioso. Mas ameaças de traição viviam povoando minha mente. Era algo inevitável, uma cicatriz perpétua deixada pela falsidade de Lúcifer. 


Nathanael: Conheço bem a perspicácia dos arcanjos, Ablon, e posso lhe garantir que ninguém me mandou aqui. Vim sozinho. Além do mais, vi a mãe e a criança iluminada no ventre dela. Se você também as tivesse visto, entenderia o que estou falando. Infelizmente, não há como por em palavras esse tipo de sensação. Você deve prová-la por si mesmo. Por isso acho que deveria ir a Terra Santa. Eu não mentiria para você, meu amigo. Você acredita em mim ?


 E claro que sim, claro que acreditava nele. Em quem mais poderia acreditar, se desconfiasse de alguém cuja principal missão fora, em uma época longínqua, invalidar os argumentos do Príncipe dos Anjos e tentar evitar o diluvio ? Confesso que me senti envergonhado por, ainda que por um momento, ter questionado as intenções do Mais Puro. 


Ablon: Acredito em você Nathanael.


 Ele se permitiu um sorriso, e, naquele instante, eu o vi como realmente era: um anjo alegre, confiante, caridoso, que agora carregava um tremendo fardo nos ombros, uma responsabilidade que, supostamente, todos os celestiais deveriam assumir.


Nathanael: Então – retomou - você deve partir para Canaã o mais rápido possível. O menino nascerá no solstício de inverno. 


 Ablon: E as sentinelas de Miguel que vasculham o mundo espiritual ? Sei que há querubins montando guarda no plano astral, por toda a região. Você conhece algum meio de evitá-los ?


 Nathanael: Enquanto o Salvador viver, os interesses estarão voltados para ele. Os agentes de Miguel tentarão exterminá-lo, e faremos de tudo para defendê-lo. Isso não quer dizer que as patrulhas serão suspensas, mas a presença do Iluminado na Terra Santa provocará alvoroço. Você poderá se aproveitar dessa distração para alcançar os portões de Jerusalém. Ainda não sabemos ao certo onde o menino nascerá, mas estamos concentrando nossas forças na Cidade Sancra. Viaje como homem comum e caminhe nas sombras sempre que possível. 


 Ablon: Mas desse jeito levarei anos para chegar ao Oriente Médio. Como renegado, nunca arrisquei além do mar Morto, e desconheço as rotas que cruzavam aquela área - argumentei, contando que o Mais Puro tivesse uma solução- 


Sinceramente, não via meio algum de percorrer mais de oito mil quilômetros em seis meses. Felizmente o ofanim já tinha pensando nisso. 


 Nathanael: Voarei bem alto, acima das estrelas, em direção a Palestina. Siga minha luz e encontrará o caminho. 


 Viajar sob as estrelas.  Era o que eu fazia melhor. Sabia guiar-me por elas e, se pudesse contar com o auxilio de um astro próprio que me indicasse as coordenadas, alcançaria Canaã em tempo recorde.  Calculei, no entanto, que, mesmo tomando os atalhos certos e não parando durante a noite, seria impossível chegar a meu objetivo antes de dezembro. 


 Ablon: Mesmo guiado por você, não posso garantir que estarei lá para o nascimento. Porém, asseguro-lhe que caminharei sempre observando o céu. Não o perderei de vista.


 Nathanael: Sua noção de compromisso é invejável, meu amigo. Sim, eu entendo. Mas evite atrasos. Como qualquer ser de carne o osso, um dia o Salvador morrerá. Não devemos permitir que isso aconteça antes que ele conclua sua obra -declarou, orgulhoso, e concluiu: Contamos com você. Precisamos do Primeiro General. 


 Limitei-me a concordar, balançando lentamente a cabeça para baixo.  Respeitei o silencio e vi o Mais Puro se afastar. 


 Os cabelos dourados e os olhos de cobre foram se fundindo a luz crescente do coração, que se expandiu em um feixe excelso, transformando a noite em dia. Em segundos, todo seu corpo havia se convertido em um imenso clarão, que subiu aos céus e tomou lugar entre as estrelas.


 Permaneceu ali, como o mais brilhante de todos os corpos celestes e, quando atingiu a altitude máxima, inciou sua trajetória a oeste. Eu precisava acompanhá-lo. 
Imediatamente...


...Eram cinco horas da tarde e o Sol estava morrendo. 


 A Lua em quarto minguante já despontava no leste, quase imperceptível, desafiando o brilho da tarde. 


 Continuei pela estrada principal, até que pressenti novamente a presença das sentinelas – com meus olhos de anjo eu podia vê-las através do tecido.  Querubins armados com espadas e armaduras estavam em toda parte, preparados para defender o perímetro.  Guardavam o topo das muralhas, os portões, os arredores do templo, os tanques e aquedutos. 


 Muitos voavam em esquadrilha, protegendo a cidade de cima.  As legiões aladas desciam por vezes, formando um cinturão de defesa e bloqueando o acesso a metrópole.


 Ablon: Não pensei que fossem tantos! - sussurrei para mim mesmo, estonteado com o contingente - 


 O caminho regular que descia o monte -uma estrada romana bem conservada- era intransponível, tamanha a quantidade de soldados celestiais que a vigiavam do mundo espiritual.  Optei por deixar a via e seguir por uma trilha sem marcações, que cortava as plantações de oliveiras. 


 Essa era uma área rural, embora colada a cidade, e ficava deserta quando a noite caía.  Permaneci oculto entre as sombras das árvores até o Sol se pôr e depois prossegui pela vereda. 


Mas antes de descer o vale do Cédron, que era uma depressão escarpada na época, notei que estava sendo observado e que fora enfim descoberto. Meu andar sorrateiro era apurado, mas não o bastante para enganar vigiais treinados. 


 Não adiantava mais me esconder, e não era de meu feitio fugir.  Ademais, por que fugiria ? 


 E se aqueles anjos fossem amigos de Nathanael ?  Poderiam me prestar assistência e me levar até ele. 


 E, se fossem inimigos, eu não tinha receio de combate-los.  Afinal, não era para isso que estava ali ?


 O tecido da realidade tremeu com um abalo estrondoso, indicando que alguma criatura de poder desmedido acabara de se materializar.


 Eu estava cercado por árvores, e a vegetação impedia a visão, por isso fiquei alerta, esperando por um ataque furtivo ou por uma saudação amigável. 


 Um anjo guerreiro, forte em sua couraça de ouro, apareceu no caminho.  A espada estava embainhada, e não se mostrava agressivo.  Não materializara as asas, o que demandava um esforço tremendo, e naquelas condições qualquer transeunte o tomaria por homem comum, assim como eu costumava ser confundido. 


 A luz prateada da Lua, eu o reconheci e identifiquei, na armadura, o simbolo da legião que, havia milênios, eu chefiara.



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Autor(a): Fraanh

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 Baturiel era, assim como eu, um querubim, um lutador implacável, que servira sob minhas ordens na Legião das Espadas, divisão que eu comandava antes da conjuração.   Mas de que lado ele estava ?   Teria simpatizado com a causa de Nathanael ou preferido se juntar a Miguel, para matar o Iluminado ?  O que ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • fraanh Postado em 16/10/2014 - 20:18:52

    Por mais que eu esteja postando a primeira temporada rapidamente só para continuar a segunda (já que tive que sair do orkut), eu devo, com toda a educação do mundo, dar as boas vindas as leitoras que não me acompanharam antes, então, sejam bem vinda meninas, espero que estejam gostando, comentem por favor, eu não mordo não *-*


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