Fanfic: O amor e um anjo ~
Vick narrando Musica Tema
Arrastado pela armadura, Ablon tinha a garganta lascada. Perdia sangue aos litros, em um preludio a morte dolorosa.
O rosto estava pálido, gelado, e o corpo, enfraquecido. Mas, mesmo as portas do extermínio, seus olhos ainda brilhavam, e ele insistia em apertar com vigor a Flagelo de Fogo.
Eu queria ajudá-lo, mas estava imobilizada dos braços as pernas. Meu Deus, como eu queria poder fazer algo.
O maior medo dele era esquecer os seus ideais, já o meu era de ser inútil, não tinha medo de morrer, nunca tive, mas lamentava perder o meu sonho, o anseio de ter, algum dia a felicidade, de ter, algum dia ele ao meu lado.
Miguel jogou Ablon com violência contra a base da coluna de mármore onde eu estava e também a Roda do Tempo.
Quando ele caiu, o metal da couraça dourada estalou, mas resistiu ao impacto.
Ablon: Vick... - gemeu, aos meus pés - Tudo que eu queria era te proteger meu amor, continuar o trabalho de Hazai. Quisera eu ter falhado na defesa de minha própria vida e salvado a sua.
Tentei não chorar, para não lastimá-lo ainda mais, mas as lágrimas teimaram em despencar. Meu coração tremeu e as lembranças, as nossas lembranças, as lembranças mais felizes da minha vida, voltaram a minha mente.
A primeira vez que nos vimos, meu primeiro dia no trabalho, nossas brigas, nosso primeiro beijo, nossa viagem, quando ele me revelou o que era, nossa primeira noite de amor, nossa despedida, eu ainda podia sentir seu perfume, seu toque, seus lábios macios e ao mesmo tempo ferozes, não podia acabar assim...
As lágrimas não couberam em mim e eu já estava soluçando.
E ali, terminava a esperança, o desejo de uma vida futura, longe das trevas.
Iriamos ter um filho, formar uma família, mas o fim havia chegado, em um amargo desfecho.
Ablon estava no precipício da morte, e eu seria sacrificada. Recordei-me do meu diálogo com o tirano Miguel e do Livro da Vida.
Estaria toda minha jornada gravada no tomo sagrado, estava escrito desde o principio do universo ?
E, se estivesse, por que teríamos lutado ?
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Nas cordilheiras, a general Varna observava o combate, de arco na mão e seta no dedo.
Com o desenrolar da batalha, as arqueiras mantiveram suas posições nas montanhas, auxiliando os soldados rebeldes com as flechas ocasionais.
Foi quando, com os olhos precisos e visão poderosa. Varna enxergou a oportunidade da vitória ao alcance da seta.
Do topo da pedra, avistou o pináculo da torre e reconheceu o arcanjo Miguel, circulando a volta da Roda do Tempo.
Divisou, ainda, uma segunda entidade obscura, que não identificou muito bem. Se pudesse, dali, alvejar o coração de Miguel, os perversos perderiam seu líder.
E, mesmo um arcanjo sucumbiria se trespassado em seu ponto vital. A distancia, para ela, não era um fator.
Além disso o príncipe estava desprevenido, alheio ao seu ataque, e não desviaria do projétil dourado.
Sem esperar, ela fez pontaria, mas aguardou o momento. Milhares de anjos, amigos e adversários, obstruíam a linha de tiro, enquanto se debatiam nas cercanias da fortaleza.
A cada instante, um combatente passava na frente, dificultando o ajuste da mira. Então, abriu-se uma lacuna, e ela atirou, com toda a pericia.
O míssil sagrado percorreu o trajeto como trovoada, de encontro ao coração do soberano. Mas, conforme o próprio Miguel dissera uma vez, ele era um arcanjo, um gigante, o primeiro dos celestiais, o primogênito de Deus.
Lutara nas Batalhas Primevas e vencera deuses antigos. Era a mais velha e mais forte das criaturas viventes.
Com o senso de perigo aguçado, o tirano agachou-se e esfraldou as asas como expansão de um leque.
As penas anavalhadas, conhecidas por mutilar feito aço, cortaram a flecha pela metade com velocidade impressionante.
O projétil de ouro foi divido em pleno percurso – um fragmento encravou-se no chão do terraço, e o outro se perdeu no campo de guerra.
A visão do fracasso, Varna recuou um passo, desolada. Jamais perdera um tiro e não sabia como reagir.
Revoltado pela ousadia, Miguel catou do solo uma lança, a arma de um dos soldados feridos.
Miguel: Esses rebeldes não aprendem seu lugar – resmungou -
XXX: Foi aquela de arco na mão – apontou Lúcifer, que melhor assistira ao assalto -
E assim, o Príncipe dos Anjos arremessou a lança, sem se preocupar com as obstruções. O arpão rasgou o vento, trespassando dezenas de anjos no caminho, mas nem por isso interrompendo sua corrida.
Por fim, alcançou o destino, destruindo a malha metálica da arqueira celeste e atravessando-lhe o corpo.
Varna caiu rolando pelo rochedo, e seu sangue jorrou na rocha. Uma oficial veio ampará-la, mas era tarde demais.
A lutadora morrera antes de tocar o chão do penhasco.
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Ablon estava esmorecido, quase morto, quando ouvimos o rufar dos tambores. Com uma mão, apertava a Flagelo de Fogo, e com a outra tentava se escorar na pilastra de mármore.
Presa a coluna, assistia ao sofrimento dele, o que me fazia sofrer ainda mais.
XXX: Lá vem eles, meus meninos – regozijou-se Lúcifer, sempre teatral, ao avistar as hordas do inferno. Ele se pôs de cócoras e falou a Ablon -
Lúcifer: Você tem que ver isso, general, é um espetáculo - Ablon tossiu, com a hemorragia já avançada. - Não... não morra agora. Ainda não. Não sem contemplar meu exército.
Miguel pegou Ablon pela armadura e o levantou, para que vislumbrasse, a hoste de monstros.
Foi quando um cavaleiro demônio, desenrolou a bandeira, e nela gravado o simbolo dos sitiados.
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A aliança foi declarada.
No exterior da fortaleza, os anjos perversos enxergaram o estandarte, e um de seus comandantes gritou:
XXX: Estão conosco! - como que abençoando- Continuem a lutar. Destruam os rebeldes!
De alento revigorado, os sitiados retomavam suas armas. Alguns poucos, de coração resgatável, hesitaram a perspectiva de combater ao lado dos infernais, mas a maioria nem se importou com a identidade de seus salvadores.
Buscavam somente o triunfo e o poder que ele deriva.
Considerando a reviravolta, qualquer exército teria recuado, mas os revoltosos não se afastaram, estavam preparados para a morte, prontos para enfrentar qualquer oponente, fosse ele anjo ou demônio.
XXX: Mantenham posição! - clamou Baturiel as legiões - Levantem as espadas. Prossigam a guerra. São só diabretes, contra os quais nossas laminas estão sempre afiadas.
Ressurgiu o confronto na torre os satânicos voavam rumo a Sion.
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Lúcifer: Seu levante está acabado, general. A Irmandade dos Renegados fracassou, e também os novos rebeldes, que abraçaram seu ideal. Esta noite, minhas hordas exterminarão os insurgentes. A aura de Gabriel apagou-se, e em breve a sua também morrerá. De sua amada tomaremos a alma, e assim completa-se a Roda do Tempo. Chega o fim o sétimo dia, e tem inicio o reino sagrado. Os seres humanos contaminaram suas ideias. E, então, o que se tornou ? Sinto em sua pele o cheiro do barro, o aroma da matéria decrépita, o fedor dos animais que destruíram nosso planeta.
As palavras de Lúcifer fizeram com que meu sangue fervesse ainda mais de ódio e eu não medi mais minhas palavras.
Vick: Alguém pode me explicar pelo menos onde está Deus ? - Os dois me olharam e deram um meio sorriso. -
Lúcifer: Deus está em você, em todos vocês, meu Pai, se dissipou para se tornar a sua alma – ele me olhava com um certo desprezo -
Vick: ENTÃO VOCÊ, OUSA JULGAR INFERIOR AQUELES QUE CARREGAM A ESSÊNCIA DE SEU PAI ? DO ÚNICO SER SOBERANO QUE EXISTIU ? MEU DEUS, EM PENSAR QUE NÓS HUMANOS, REZAMOS POR VOCÊS, OS ADORAMOS, AGRADECEMOS A DEUS POR TE-LOS COMO PROTETORES, QUANTAS PESSOAS PEDEM SUA PROTEÇÃO MIGUEL, QUANTAS PESSOAS O TEM EM UM PEDESTAL PORQUE DEUS NOS ENSINOU ASSIM, NÓS ACREDITAMOS QUE VOCÊS SÃO UMA BENÇÃO, TIRANDO VOCÊ LÚCIFER, É CLARO -sorri irônica- NÓS AJOELHARÍAMOS AOS SEUS PÉS SEM PENSAR DUAS VEZES PORQUE SABEMOS QUE VOCÊ É O MAIS PRÓXIMO DE DEUS, E VOCÊ SIMPLESMENTE NOS ODEIA ? COMO VOCÊ PODE TRAIR AO SEU PRÓPRIO PAI ? PERCEBE QUE SOMOS MAIS DIGNOS DO AMOR DELE DO QUE VOCÊ APESAR DE TUDO QUE JÁ FIZEMOS ? PERCEBE QUE ODIANDO A NÓS ESTÁ ODIANDO A ELE ? MATANDO ELE ? Se Deus estivesse aqui, tenho certeza de que Ele se arrependeria de ter depositado tanta confiança em Você, Você não é digno dessa herança, desse amor e muito menos de ser o Príncipe dos Céus. - Miguel, assim como Lúcifer, me olhavam atordoados. -
Vick: Eu sei que o Senhor está vivo, vivo em nós Pai, então, sei que agora seria a hora de perdoá-los pelo o que fazem, assim como Teu Filho, perdoou. E Eu estou tentando, juro que estou, mas, eles mataram o meu sonho, mataram o homem da minha vida, o presente que recebi depois de tudo que passei, e agora, matarão a mim e a meu filho, nem os meus perversos anjos dos personagens de livros que li chegam perto disto, então, perdoe por mim. Sinto muito, mas eu não posso.
Lúcifer: Chega de lamentações garota, ou você acha mesmo que isso vai nos convencer ? - desviei o olhar de Lúcifer e parei em Miguel, ele estava de cabeça baixa, pensando, seriamente. Depois de alguns segundo de silencio ele disse. -
Miguel: Acha que Nosso Pai nos perdoaria, Lúcifer ? - Lúcifer se virou para ele com um olhar gélido -
Lúcifer: Nosso Pai não está aqui, então, não tem o que perdoar, e você sabe muito bem o que está escrito no Livro da Vida, estamos apenas cumprindo a vontade Dele, não seja tão idiota a ponto de cair na lábia dessa garota, ela não sabe de nada.
Miguel respirou fundo ainda pensando, pegou o Livro da Vida e quando seu olhar voltou já era o olhar perverso de sempre, e foi ai que percebi que apesar de toda maldade de Miguel, Lúcifer foi sempre quem o convenceu de tudo.
Miguel, agarrou Ablon pela gola, largou-o sobre a roda, e o sangue espargiu-se, encobrindo as marcações misticas no circulo de pedra.
Mas, incrivelmente, restava ainda, nos olhos do príncipe, uma centelha de lucidez, uma fagulha de retidão, inexistente no coração do Arcanjo Sombrio, corrompido pela maldade.
Miguel: Acho que, enfim, admiro sua bravura, Anjo Renegado – discorreu, surpreso por sus próprias palavras- Também sou um soldado e conheço o ímpeto dos combatentes, o ardor que nos chama a batalha e nos faz aceitar os grandes desafios, como um dia eu enfrentei os deuses antigos. Mas compreenda, finalmente, que o curso do sétimo dia sempre esteve traçado – e mostrou o Livro da Vida- O destino do mundo foi determinado por Deus, no principio da criação e registrado nas páginas do tomo – ele abriu o volume, permitindo que Ablon visualizasse suas ultimas páginas- Nada que fizesse mudaria isso. Somos peões no plano divino, e continuaremos a ser, até que se conclua o Apocalipse. Mas, quando o ciclo for terminado e o tecido cair, seremos nós, Lúcifer e eu, a escrevermos a história, como divindades supremas. A vontade do Altíssimo é imutável, inabalável e irresistível.
Lúcifer: Já chega, Miguel – cortou, desagradado com a piedade do irmão - Vamos fazer um minuto de silencio para o nosso rival – ironizou-
Parei de prestar atenção nos soberanos e voltei meus olhos aos dele, meu coração já estava partido desde o momento que ele entrará carregado por Miguel, minhas lágrimas não secavam e tudo que eu queria, era poder tocá-lo mais uma vez.
Ele me retribuiu o olhar, e o brilho dos seus olhos iam se apagando, mesmo se os arcanjos não tivessem me sequestrado, mesmo que eu não estivesse no meio daquela guerra, depois de conhecê-lo, eu não poderia mais viver.
Nunca mais.
Ele era meu amor, minha vida, era a minha razão de viver, eu nunca pensara que poderia amar intensamente assim alguém, não depois de tudo que já havia acontecido, não depois de ter tentado transformar meu coração em uma pedra de gelo, de bloquear todas as tentativas de paqueras, de sentimentos, apesar de tudo, eu fora feliz, e tudo por ele, desesperadamente percebi que ele precisava saber, antes que fosse tarde demais.
Vick: Ablon, obrigada por entrar em minha vida, obrigada pelas brigas, pelas caricias, pelos beijos, abraços, por todos os momentos, até os mais simples, obrigada por simplesmente estar lá, por ter dado um sentido a minha vida, por ter transformado a minha rotina sem graça e sem cor em um mundo colorido, qualquer menina, garota ou mulher, gostaria de ter tido a sorte que eu tive, de viver um grande amor, de fazer valer a pena, você foi meu conto de fadas, do jeito que eu sempre quis, torto e desajeitado - sorri em meio as lágrima s - Você faz parte de mim, e nada nem ninguém vai nos separar, você estará sempre em minhas memórias, mesmo que eu não exista, você estará lá, pode ter certeza disso. Obrigada por me ensinar a felicidade meu anjo guerreiro, obrigada por lutar por nós, eu te amo e sempre te amarei. Sempre.
Ablon: Eu também te amo Vick... - percebi que ele se esforçava o máximo para falar - Eu. Sinto. Muito - disse pausadamente -
E, ao nefasto soar dos tambores do inferno, ele perdeu os sentidos. Em suas mãos, a Flagelo de Fogo diminuiu o crepitar, a medida que seu esgrimidor fenecia.
Olhei para o céu naquele momento buscando forças e depois percebi que eu não chorava mais, minhas lágrimas haviam se esgotado ?
Tudo que se passava em minha mente era que, se ele também fosse humano, eu poderia encontrá-lo, em breve, mas Ablon era um anjo, e os celestes são desprovidos de alma e não conhecem outra vida, além da existência.
E então, acho que agora minha ficha caíra de verdade, eu nunca mais o veria, senti meu coração parar de bater e segurei o ar, como uma criança assustada tentando espantar o medo.
Tentei pensar em uma musica para cantar, para tentar me distrair, queria abrir os olhos e não estar ali, e a única musica que ecoou na minha cabeça, não era lá uma das melhores, mas me agarrei a ela com todas as forças.
Baby, why`d you have to leave me, why`d you have to go (Baby, por que você me deixou, por que você teve que partir).
I was counting on forever, now I`ll never know (Eu estava contando com você pra sempre e agora eu nunca saberei).
I can`t even breathe (Não consigo nem respirar ).
It`s like I`m, looking from a distance, standing in the background (Parece que eu estou olhando de fora, sozinha num canto).
Everybody`s saying, he`s not coming home now (Todos estão falando que ele não vai vir pra casa).
This can`t be happening to me (Isso não pode estar acontecendo comigo).
This is just a dream (Isso é só um sonho).
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No pináculo da Fortaleza de Sion, desmaiado sobre a Roda do Tempo, imundo de sangue e suor, falecia o espirito da justiça, o mensageiro da esperança, o protetor de Vick, aquele que a tirara do desespero e a ensinara a viver.
Em resposta ao ultimo hálito do lutador, a luz da Flagelo de Fogo extingui-se, e seu aço esfriou, tal qual o coração do guerreiro.
E assim morria, Ablon, o Primeiro General, líder dos renegados e ícone dos novos rebeldes.
XXX: Terminou – suspirou Lúcifer, realizado. Olhou mais uma vez para o combate e fitou, desejoso, a mortal pendurada a coluna. Não era um desejo carnal, como uma vez sentira por Lilith, mas um apetite cósmico, que só alma da moça poderia acalmar. Despiu-se da couraça dourada e largou sua espada de fogo, a Raio da Aurora- Não preciso mais desses acessórios baratos. Serei Deus, brevemente -e deu meia-volta, caminhando para o alçapão -
Miguel: Aonde vai, meu irmão ? Temos trabalho a fazer – e indicou Vick -
Lúcifer: Vou dar um estimulo aos meus rapazes, mostrar-me em campo, incentivar meus soldados. Por enquanto, temos que aguardar o sinal da Sétima Trombeta e a desintegração total do tecido. Você pode sacrificar a mulher, se assim preferir, mas deve guardar sua alma – alguns celestiais tem o poder de segurar a alma dos mortos, impedindo que sigam ao céu- Não permita que seu espirito escape para o paraíso celeste e ingresse na casa dos santos, ao leste do Éden, de onde nem nós poderíamos recuperá-lo. Seu poder humano só nos servirá finalmente quando a membrana cair.
O Terceiro Céu, chamado de Shehaquim, é o Éden celestial, uma terra de maravilhas, reservada aos justos. Nessa camada, estão as colonias espirituais, que recém as almas dos virtuosos para o eterno descanso.
As comunidades superiores são guiadas pelos santos, pelos profetas antigos e pelos mestres desencarnados. O maior desses sábios é o próprio Salvador, nascido como homem em Nazaré e morto no calvário romano.
A Estrela da Manhã desceu a escada, deixando o terraço, e voltou a Sala dos Portais, para depois caminhar para um corredor obscuro, de onde teria ampla visão da batalha.
Miguel, o Soberano alado, refez o semblante de ódio, sua faceta mais natural. Retomou da bainha a Chama da Morte e empunhou a lamina mistica.
Vick estava para ser executada.
Lúcifer deixou o terraço, cruzou a Sala dos Portais e desceu para um corredor largo e vazio, cuja parede norte era aberta, dando vista a batalha.
Ali ficou por alguns minutos, oculto, louvando a própria inteligencia.
Lúcifer: Que beleza! É uma maravilha! - rejubilou-se, abrindo as asas e se preparando para decolar -
Ia aparecer a seus combatentes, mas parou e decidiu esperar, recuando para a escuridão do alpendre. Apesar de seu decisivo triunfo, o Arcanjo Sombrio sentia-se enfraquecido.
Ele mesmo sacrificara parte da energia de sua aura para contratar os leviatãs e, embora não estivesse arrasado, estava mais débil que o usual.
Dentre os demônios, era o único que poderia ter saldado os barqueiros, porque só alguém tão poderoso teria essência suficiente para solicitar os navios gigantes.
Sua potencia regressaria em breve, mas por ora precisava redobrar a cautela e cuidar para que os duques não descobrissem sua atual condição.
Os aristocratas satânicos, os quais comandava, eram astutos e traiçoeiros, e poderiam tentar se voltar contra o mestre se soubessem de sua fraqueza.
Cansado, Lúcifer seria capaz de lidar com qualquer um deles, mas não com todos ao mesmo tempo. Assim, aguardou mais um pouco. Só se apresentaria ao combate em momento seguro.
De repente, como em sonhos, Ablon estava de volta a caverna sobre a montanha, seu santuário particular, o refugio mental para onde se reportava sempre que a tristeza superava a esperança. Sentia-se entorpecido, como ao despertar de um sono profundo.
Estava frio como um cadáver, imóvel e insensível, quando uma mão quente apertou seu braço.
Abriu os olhos e descobriu-se no centro da gruta, deitado sobre o colo de Vick.
Desafiando toda a lógica do espaço e do tempo, a humana vestia-se como nos dias antigos, pura e natural, e o único perfume que exalava era o gostoso aroma de seu corpo adorável.
Mas como poderia o renegado ter retornado ao passado, ao não ser em meio as delírios que antecedem a morte ?
Tentou se erguer, mas os músculos enrijeceram. Os ossos mais pareciam gravetos, frágeis e quebradiços. Nem o coração se agitava.
Era pouco mais que um defunto, incapaz de movimentar um membro sequer.
Então, a moça sorriu, com carinho e sensualidade, e o terror desapareceu.
Recurvando-se sobre o busto do general destronado, ela afagou seu rosto, castigado pelas batalhas, e o encarou com alegria, cultivando o amor já semeado.
Acariciou-lhe os cabelos dourados e deslizou os dedos pela barba malfeita, até encontrar os lábios rachados.
Depois, aproximou a face a dele e o beijou intensamente. Quando a boca macia da mulher tocou o herói, um calor encheu a caverna, fazendo reviver a carcaça inerte e recuperando o ardor no coração congelado.
O sangue voltou a correr, e o peito palpitou novamente. Em um breve segundo, toda sua vida percorreu-lhe a lembranças, desde a luz do nascimento, no principio do universo, até seu jazigo no pináculo da torre.
Assaltado pela paixão, então elevada ao máximo, Ablon não mais distinguia o real do ilusório.
Não tinha certeza sobre o que faria ou de onde estava, verdadeiramente.
Talvez ainda agonizasse, estirado na Roda do Tempo, porque não há redenção para os celestiais fracassados.
Sentou-se a fogueira e percebeu que havia, na gruta, outras entidades celestes.
Ao seu redor, como um precioso circulo de guardiões, estavam todos os renegados, honrando o general com suas espadas brilhantes.
A luz tremulante do fogo, o general reconheceu Ishtar, o bravo Hazai e o valoroso Yarion, entre outros.
Estava reunida a irmandade, com seus dezoito guerreiros, de asas brancas rajadas de sangue e coragem insuperável.
E, no centro dos expurgados, uma figura especial ganhava destaque, por sua essência sublime.
O arcanjo Gabriel guardava a saída, de semblante tranquilo, postura altiva e expressão decidida.
Ablon: Estão todos aqui – gemeu – A Irmandade dos Renegados, Hazai e o Anjo da Revelação, como podem ter escapado da morte ?
XXX: Para nós, os alados, a morte é a dispersão do espirito – explicou o Mestre do fogo – mas nossa energia é indestrutível. Não somos mais consciências individuais, mas uma só potencia. Agora, vivemos em sua mente, e nossa força fará sua aura ascender. Nossos sacríficos o levarão a vitória.
XXX: Eis o valor da amizade – disse Hazai - É o suporte do mundo.
XXX: Confie em seus ideias, general – instigou a bela Ishtar - Me perdoe pela minha decisão - ela disse sincera- e regresse ao campo de guerra, honrando mais uma vez a todos nós.
E, com o apoio dos velhos amigos, o guerreiro reanimou-se para a batalha. O braço direito fervia, mas não chegava a feri-lo.
Na verdade, só o elevava.
No ultimo andar da Torre das Mil Janelas, sob o gélido vento na culminância da terra, o príncipe Miguel apontou sua espada, a Chama da Morte, para o coração da mortal.
Sacrificada, sua alma seria roubada e convertida em pura energia, para saciar a avidez dos arcanjos. O corpo de Ablon continuava esticado sobre a Roda do Tempo.
A Flagelo de Fogo jazia ao alcance da mão, mas sua lamina era então só uma chapa gelada, uma arma de aço comum, sem suas labaredas fantásticas.
Foi quando, a escuridão de nuvem que encobria Sion, sucedeu o milagre.
No braço do renegado, acima do pulso, acendeu uma marca abrasada, no exato local onde Vick o tocara em sonhos.
A inscrição esquentou, como um sinal registrado a ferro. O sangue, espalhado em poças no chão, iniciou um lento regresso ao cadáver, em uma inacreditável demonstração de misticismo e pujança.
A trilha vermelha que sujava a escada subiu de volta a ferida, e mesmo a garganta rasgada se regenerou, até que todo o sangue refluiu a carcaça.
No antebraço do general brilhava uma runa – a runa do corpo, gravada por Shamira no ritual de alta magia, e que tinha por objetivo prevenir a destruição do guerreiro, quando de sua visita ao inferno a convite de Lúcifer.
O encontro pacifico não exigira o feitiço, mas ele continuaria ativo até que fosse ceifada a vida de seu protegido.
E agora, em circunstancia surpreendente, o encantamento entrava em ação, recuperando o general em plenitude e fazendo-o recobrar totalmente suas habilidades celestes.
Em resposta ao renascimento do herói, a Flagelo de Fogo incendeu-se em flamas sagradas. O querubim inspirou, expandiu as asas e lembrou-se das palavras de Gabriel, que o incentivava a tomar a espada em um instante de aflição.
Ao escutar o estalido do aço, Miguel imediatamente parou o que estava fazendo e virou-se a Roda do Tempo.
O que viu não era aceitável, absolutamente, para alguém tão fatalista.
Levantava-se o Anjo Renegado sobre o circulo de rocha, inteiramente recomposto.
Sua essência vital ascendera, multiplicara-se e explodira ao patamar dos arcanjos, suplantando a aura do inalcançável tirano.
Num primeiro momento, nem Ablon compreendera totalmente o que tinha acontecido. Todos os ferimentos sararam, a força voltara, e os sentidos estavam apurados como nunca.
Olhou para os punhos, meio incrédulo, e começou a ver e escutar coisas novas. Uma agradável melodia inundou-lhe os ouvidos, e ele entendeu que aquele era o som da natureza, o incrível movimento dos átomos e partículas, vivas e mortas, que mantinham o universo fluindo.
Ao seu redor, enxergou os anjos em batalha, antes velozes, brigando tão lentamente que seria ridículo vencê-los.
Era assim, imaginou, que Miguel devia perceber seus golpes, durante o duelo na Sala dos Portais.
Preocupado, inicialmente, com a salvação de Vick, que o olhava tão surpresa quanto o próprio arcanjo, Ablon golpeou a Chama da Morte, para desarmar o Príncipe Celeste e impedir a execução dela.
O inimigo não resistiu ao ataque, e sua lamina escapou-lhe a pegada. A arma rolou pelo piso do pátio, deixando vulnerável o soberano.
Miguel: Não pode ser real o que vejo! - protestou, negando seus instintos primários - Há pouco estava arrasado, acabado, derrotado pela conspiração. Como pode ter retornado do breu infinito, com energia tão magnifica ?
Ablon: Eu não luto sozinho – avisou - Estão comigo a irmandade, o arcanjo Gabriel, Hazai e Victória. É a força deles que me revive. Foi o amor pela justiça que me trouxe de volta. Agora, pegue sua espada. Meu código me impede de enfrentar um oponente desarmado.
Assim, ainda chocado pelo extraordinário prodígio, o príncipe buscou a arma do chão e equipou-se para o novo combate.
Mas, logo que brandiu a relíquia, o renegado avançou contra ele com toda a vontade, demonstrando celeridade invencível.
Um estrondo descomunal sacudiu os pilares do mundo, abalando as fundações do planeta. Acompanhou uma explosão luminosa, que ofuscou o pináculo ao embate das laminas cintilantes.
O tirano tremeu, sobrepujado pelo esplendor do Renascido.
Miguel: O CRIADOR PREVIU SUA MORTE E MINHA ASCENSÃO! - gritou - O LIVRO DA VIDA É INQUESTIONÁVEL, É O REGISTRO DO ONIPOTENTE PARA O DESTINO DO MUNDO. ATREVE-SE A DESAFIAR YAHWEH ? - Ablon inclinou a cabeça, lamentando a ignorância do gigante. -
Ablon: Quem sou eu para questionar a memória do Pai ? Mas quem é você para reescrever suas palavras ? O Livro da Vida não é um compendio de história universal. É um artefato mistico muito mais singular, desenhado para a mente dos justos e feito para ludibriar os perversos. O tomo não descreve o fado do mundo, mas apenas nossos desejos, nossas ambições, nossos anseios mais sigilosos, por isso seu conteúdo é incerto. Descobri o mistério quando li suas páginas, antes de perecer sobre a Roda do Tempo. Você e Lúcifer tanto almejavam a divindade que preferiram confiar nos escritos e utilizá-los como instrumento para justificar inomináveis maldades. Ao enganar-se sobre o futuro, mergulharam, ambos, em demência, e agora estão cegos para a verdade.
O sinistro Miguel, apesar da situação, resistia a aceitar os argumentos mais óbvios. Franziu a sobrancelha e rodou a espada sobre a cabeça, pronto a devolver o maior dos assédios.
Estava tão certo de sua sina que não reconhecia o equivoco, mesmo após ver seu plano cair por terra. Lutaria ferozmente para defender sua crença, com o mesmo alento com que vencera os deuses das trevas, no alvorecer da eternidade.
Miguel: Se é assim, então conte-me seus desejos, proscrito – desafiou, procurando, no desespero, uma falha na lógica do renegado - O que estava escrito no tomo, o que você viu com seus olhos de fugitivo ?
Autor(a): Fraanh
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Como resposta, Ablon não disse palavra, mas em vez disso atacou com formidável pericia. E, dotado de vitalidade e destreza completas, não deixou defesa ao adversário, que sucumbiu ao fio da lamina. Miguel até tentou reagir, mas o renegado era agora mais rápido. A Flagelo de Fogo desceu como um incandesc ...
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fraanh Postado em 16/10/2014 - 20:18:52
Por mais que eu esteja postando a primeira temporada rapidamente só para continuar a segunda (já que tive que sair do orkut), eu devo, com toda a educação do mundo, dar as boas vindas as leitoras que não me acompanharam antes, então, sejam bem vinda meninas, espero que estejam gostando, comentem por favor, eu não mordo não *-*