Fanfics Brasil - Capítulo 58 O amor e um anjo ~

Fanfic: O amor e um anjo ~


Capítulo: Capítulo 58

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Como resposta, Ablon não disse palavra, mas em vez disso atacou com formidável pericia. 


 E, dotado de vitalidade e destreza completas, não deixou defesa ao adversário, que sucumbiu ao fio da lamina.


 Miguel até tentou reagir, mas o renegado era agora mais rápido.  A Flagelo de Fogo desceu como um incandescente cometa, despedaçou a armadura e atingiu o coração do gigante, pondo termo a sua anosa existência. 


 Agachando-se para penetrar-lhe a fincada, o general replicou. 


 Ablon: Diziam as páginas do livro... que eu seria seu assassino – ultimou, puxando a espada encravada no peito do inimigo - Para mim, o fim da história encerra a missão de toda uma vida. 


 Miguel: Mesmo acabando comigo, seu exército nunca vencerá hordas do inferno e minhas legiões fenomenais – cuspiu o arcanjo, trespassado pela Flagelo de Fogo - 


 Ablon: Os combatentes não são só ganhos pela brutalidade, mas também pela virtude – ensinou - Onde houver retidão e justiça, estará a vitória. 


 Um jorro de sangue saltou pelo busto do príncipe, silenciando-lhe a respiração.  Ablon ficou ali, inabalável, absorto na cena final, imaginando o que pensara o gigante, surpreendido pela devastação das ilusões cultivadas.


 Ainda vivo, Miguel balbuciou. 


 Miguel: Estou morrendo. Como pode ser ? - o rosto perdeu toda a arrogância - General, você pode me salvar ? 


 Ablon: Eu tentei. 


 Miguel: Ablon... - chamou o príncipe, no momento fatal - Quero que saiba de uma coisa. Quero que saiba. Foi tudo por amor. 


 Ablon: Foi tudo por ciume.


 Miguel: Ainda assim, por amor. 


 Pálido como uma flor atirada ao deserto.  Miguel vislumbrou os dias antigos, os tempos de glória que precederam a luz, a era de esplendor anterior a aurora do homem, quando voava com o Pai e os irmãos pela sombra do espaço.


Entendeu, no derradeiro suspiro, que não queria ser Deus só pela ambição, mas também para recuperar o brio do universo de outrora.


 Almejava a divindade não apenas para governar plenamente, mas para sentir, só mais uma vez, a presença do Criador, que havia tanto dispersara o espirito, em sacrifico aos seres humanos, que Dele herdaram a alma.


 No fim, o arcanjo queria somente rever o Altíssimo, ou provar sua força suprema. 


 O Príncipe dos Anjos morreu de olhos abertos, fitando o vazio do céu.


No amplo corredor com vista para a batalha. Lúcifer analisava o combate, oculto pela escuridão do alpendre.


 Enquanto urros, brados e estalos ressoavam no exterior, dentro da fortaleza o silencio era sepulcral. 


Todas as legiões de apoio, inicialmente designadas para permanecer dentro da torre, haviam saído mais cedo, antes da chagada dos leviatãs, para massacrar os revoltosos, mas encontraram uma sorte nefasta. 


Então, convencido da pertinácia dos rebelados, Lúcifer decidiu agir, finalmente. Comandaria seus lutadores e logo findaria o conflito, agora que muitos duques já tinham caído.


 Não é este, afinal, o desejo do Criador, registrado no Livro da Vida ? , pensou cinicamente. 


Que eu ganhe rapidamente o embate e instaure meu trono em Tsafon, o Monte da Congregação, ao lado do grande Miguel ?


A Estrela da Manhã recolheu a bainha da túnica e subiu na mureta, pronto para alçar voo e se lançar ao campo de guerra, mas pressentiu uma aura insurgindo do escuro. 


Já conhecia, ou julgava conhecer, a identidade do invasor, e recuou ao telheiro com um sorriso atrevido. Ainda poderia se divertir desgraçando o audaz visitante. 


Aziel, A Chama Sagrada, emergiu das trevas, com as palmas de fogo e o semblante cheio de cólera. 


Separara-se havia pouco de seus companheiros de missão e seguira sozinho pelas vias angelicas, para encontrar o renegado, que ainda não regressara a batalha. 


Tinha esperanças de que Ablon estivesse vivo ainda, por isso relutara em incendiar a bastilha anteriormente. 


Lúcifer olhou com desprezo para a Chama Sagrada. 


Lúcifer: Aziel, soberano da Cidadela do Fogo – zombou, referindo-se as suas atribuições como governante da fortaleza - Que surpresa mais estimulante! 


Aziel: Desde quando os demônios se esgueiram pelos salões de Sion ? - irritou-se o ishim. Seus negros cabelos refletiam as flamas dos punhos, que se elevavam em delgado filete -


 O Arcanjo Negro enrugou a testa, dissimulado. 


Lúcifer: Ora, eu achei que, para os revoltosos, tanto os infernais quanto seus inimigos celestes fossem da mesma estirpe perversa. 


Aziel: Agora vejo que sim – Aziel sabia que nem Lúcifer nem qualquer outro penetraria na fortaleza sem o consentimento do arcanjo Miguel, a não ser pela força. O Diabo não fora visto do lado externo, forçando a passagem, então estava ali convidado pelo anfitrião - Estão aliados, você e o Príncipe Angélico.


Lúcifer: Sua perspicácia é impressionante – caçoou novamente - Mas o que vai fazer ? Vai me chamar ao confronto, como fez seu general ?


 Aziel: Onde ele está ? Em que câmara...


 Lúcifer: Seu líder está arruinado. Foi liquidado por mim na Sala dos Portais e sepultado no pináculo da torre. Seu corpo jaz nas pedras frias do pátio superior, e logo também será aniquilada a humana. 


A noticia atingiu fundo o coração de Aziel, como uma seta enfiada no peito. De inicio, quis negar o aviso, rechaçar o discurso, repudiar aquela falação arrogante. 


Mas, infelizmente, Lúcifer podia estar dizendo a verdade – e estava, provavelmente, Ablon não abandonaria por tanto tempo seu exército. 


Só a morte o impediria de retornar ao combate. As labaredas de Aziel se agitaram, rodando e crepitando em uma dança mortal. 


Enfurecido pelo suposto assassinato de seu comandante e amigo, não mediu consequências e atacou sem piedade.


 Dos dedos expeliu uma enxurrada de fogo, que clareou o corredor e derreteu o piso vermelho. Sua energia notável queimaria o céu e borbulharia os oceanos – mas seria suficiente para vencer o Diabo ?


 O Arcanjo Sombrio parou com as mãos o jato incandescente, que refletiu nos pilares, já sem muita potencia. 


Fraquejara, contudo, ao segurar a investida, e cambaleou para trás, embora nada ferido. Não resistiria tão facilmente a mais um assalto, mas se fez parecer invencível. 


Lúcifer: Sua força é crescente, ishim – reconheceu - mas você se esquece de que, além de todos os meus atributos, eu também sou perito na província do fogo. Minhas chamas aclararam as trevas do inferno, quando no porão só havia obscuridade. Por isso, não acho que esteja em situação de me enfrentar. Vá embora, e eu o pouparei desta luta. 


Aziel estranhou a piedade do inimigo, mas ele não poderia, realmente, derrotar o Diabo. Não sozinho. 


Se Lúcifer decidisse usar seu poder seriamente, ele seria esmagado.


 Naquela ocasião, porém, o Arcanjo Sombrio preferiu não demonstrar suas habilidades e guardar o alento para sua atuação na desordem do front – por isso optara pela ameaça, intimidando o ishim, em vez de estorricá-lo de vez. 


Foi quando um terceiro personagem entrou na contenda, para desfazer o impasse. Surgiu primeiro, brotando das sombras, um par de asas de fogo.


 Depois, brilharam as lágrimas fulgentes, como gotas ardentes de óleo pingando no chão. Amael, o Senhor dos Vulcões, o antigo mestre de Aziel, aparecia em cena.Amael era um demônio passivo, conformado, que não buscava poder ou vingança. 


Por isso, Lúcifer permitiu que residisse em sua caverna, e gostava, sinceramente, de sua companhia. 


Sempre reservado e submisso, o Senhor dos Vulcões nunca contraria seu líder, e então o Diabo o escolheu para levá-lo a Sion, confidenciando seu plano. 


Escondido nas câmaras internas desde o principio da guerra, o zanathus ressurgia agora, na presença de seu amo satânico. 


Aziel, mais triste que assustado, lamentou a sentença de seu reformado mentor, que havia decaído ao inferno. Seu rosto seria o mesmo, não fosse o choro fervente. 


Trajava a mesma armadura celeste, mas enferrujada, e o coração era pura melancolia. O algoz do diluvio era uma criatura infeliz, arrependida, aflita por seus pecados passados. 


Lúcifer: Aí está você, Amael – felicitou-se, aliviado – Definitivamente, este é um encontro fortuito. Será que se recorda de seu pupilo Aziel ?


 O Senhor dos Vulcões nada disse em réplica a excitação de seu chefe. Era por demais reservado e vivia afundado nas próprias lembranças, preso a depressão e agoniado pelo remorso.


 Lúcifer: Sinto muito, pequenino, mas estou de saída – provocou Lúcifer, encarando a Chama Sagrada - Não tenho mais tempo para suas infantilidades – deslizou rumo a janela e cuspiu uma ordem ao sombrio zanathus – Esta querela é sua, Amael. Acabe logo com esse anjo insolente. 


E assim, seguro de sua majestade, A Estrela da Manhã deu de ombros, girou nos calcanhares e abriu as asas de morcego, pronto para escapar pela sacada. 


Amael: Não posso fazer isso, Lúcifer. Eu me recuso – ousou - Se você deseja matá-lo, então que o faça. Estou farto de sua autoridade. 


O Diabo levantou uma sobrancelha e voltou-se ao alpendre, indignado. Seus súditos não o chamavam pelo nome, só pelos títulos solenes. 


Lúcifer não podia ser questionado, absolutamente, em circunstancia tão decisiva. A vitória espreitava adiante, e não seria um diabrete que iria afastá-lo da consagração. 


Lúcifer: É por pouco tempo, Amael – insistiu, esforçando-se para não vacilar - Estamos muito próximos do fim, perto de exterminar esses detestáveis rebeldes. O triunfo é iminente – e fitou seu criado com toda a dureza do mundo – Não seja tolo de me desobedecer agora.


 Mas o Senhor dos Vulcões não seria persuadido mais uma vez, como fora a época da inventiva revolução contra o arcanjo Miguel. Não cultivava mais ilusões sobre a honestidade de Lúcifer, a quem apoiara em era remota. 


Tinha chegado ao limite, e é nesse estado que os acuados avançam e os medrosos se transformam em heróis.


Amael: Você está fraco, Estrela da Manhã. Desfalcou sua aura ao entregar parte da essência aos barqueiros, contratando seus serviços. 


O Diabo recuou, tremulante. Um pensamento horrível brotou na fundura da mente, e ele preferiu nem cogitá-lo. Armou-se do blefe, que era sua arma mais eficaz.


 Lúcifer: Fraco ou não, você ainda é um inseto perto de mim – engrossou – Jamais me abateria, se é que tem em mente um duelo.


 Amael: Sozinho, seguramente não – devolveu, sugerindo conivência com Aziel, que até ali só observava a conversa – Eu também provei o preço pelas viagens no Styx, e sabia quão fadigoso seria convocar os leviatãs. Por isso, eu o levei aos barqueiros. 


Lúcifer: Traição! - reagiu - 


Estava óbvio que Amael premeditara a cilada, embora Aziel desconhecesse a prévia intenção. Debilitando seu amo, o Senhor dos Vulcões teria a chance de afrontá-lo. 


Amael: Não, Lúcifer – rebateu, indomável – Foi você quem me traiu, ao inventar aquela maldita revolução. Mentiu, arquitetou a guerra no céu e usou a mim, a Orion e aos outros como cobaias em seu experimento cósmico. Fomentou o ódio pelos renegados e nos obrigou a matar nossos irmãos. Agora, pede que eu elimine meu único discípulo! 


Nervoso, Lúcifer deslizou furtivamente a mão a cintura, buscando o cabo da Raio da Aurora, mas ele a havia deixado no nível de cima. Também estava sem armadura – não que ela fosse de grande ajuda agora. 


Lúcifer: Amael, escute-me com cuidado. Você vai fazer o que eu mando. Podemos limpar esta bagunça, dar um novo começo a todos. E você vai me ajudar. Nós dois, juntos. 


Aziel estava em silencio. Ele sabia que aquele era um momento critico para o seu mestre. 


O Senhor dos Vulcões tinha que desafiar Lúcifer sozinho, encontrar a própria redenção. Podia até ajudá-lo, mas a decisão final precisava ser dele. O Arcanjo Negro endureceu. 


Amael: Verdade ? Então por que está procurando sua espada ?


 Aziel sorriu na escuridão. Não sentia nenhum prazer com aquilo, mas era irônico observar Lúcifer naquela situação. Logo ele, que sempre fizera o papel de carrasco. 


Lúcifer: SEUS MONSTROS, PORCOS INFIÉIS! - gritou, tentando intimidá-los – VOU ACABAR COM VOCÊS AGORA MESMO, SEUS VERMES INSIGNIFICANTES.


Aziel: Você pode tentar – avisou – mas, se ainda não percebeu, este é um tribunal de execução. 


Acossado, o Diabo juntou as mãos e apelou para a súplica. Ajoelhou-se e forçou uma lágrima, mas os carrascos eram insensíveis a choradeira. O Filho do Alvorecer não sobreviveria aos dois adversários, se eles resolvessem submetê-lo. 


Lúcifer: Eu só queria o bem para todos, a satisfação de homens e anjos – garantiu, implorando perdão, mas sua oratória era incoerente -


 Aziel: Basta de calúnias, Estrela da Manhã – interferiu, irritado. Cansara-se de sua petulância, e agora não tinha mais duvidas sobre a redenção do mestres, Amael – Suas lamúrias não o absolvem.


 Lúcifer: Dê-me mais uma chance! 


Aziel: Você teve todas as chances. 


Lúcifer: Não! - Desesperou-se – MIGUEL! - berrou, convocando o irmão – MIGUEL! - esgoelou-se -


 Amael: O Príncipe dos Anjos foi morto – avisou – O Primeiro General o derrubou. 


Lúcifer: O Anjo Renegado ? Não pode ser! Eu mesmo... - ele engasgou antes de confessar o homicídio. Rasgara a garganta do guerreiro instantes atrás. Como poderia ter revivido ? - Posso sentir uma aura poderosa no topo da torre, a aura de um arcanjo. Isso significa que Miguel está vivo. Então como se atreve... 


Amael: O que você sente não é a aura de Miguel, mas a essência do Renascido – explicou, para a alegria da Chama Sagrada. Então Ablon seguia ileso e triunfante! -


Lúcifer: Renascido ? Que loucura é essa ? - Lúcifer parecia inteiramente descontrolado – Poupe-me, Amael! Você não é um assassino, nunca foi. Por que está fazendo isso ? 


Amael: Desde o diluvio eu jurei não matar inocentes. Vivi por milênios com o peso da culpa, calado, como um vulcão que esconde sua fúria. Hoje, cuspo meu ódio, copiando a erupção da grande montanhas. Eu o sentencio a morte, Diabo, pela gravidade de seus crimes e pela persistência no erro. 


Lúcifer: Pense nos anjos justos, Amael – soluçou – Eles não me condenariam a sumária execução.


 Amael: Sou sua cria, Lúcifer. Sou um maldito, um demônio. Também sou perverso – declarou, justificando sua inesperada atitude - 


Nesse momento, baniu-se toda a penumbra em Sion, quando mestre e aprendiz incendiaram sua aura pulsante e consumiram o sentenciado com rajadas de fogo. Um estouro de flamas atravessou a janela, e seu impacto fez a fortaleza inclinar.


 Na seção lateral da Torre das Mil Janelas, o calor exaustivo amoleceu as pilastras, e toda a rocha derreteu-se em lava vulcânica. 


Lúcifer uniu as palmas diante do rosto para defender-se, usando todo o poder que lhe restava para repudiar o ataque. Tinha conseguido deter o assalto de Aziel, porém agora não só o fogo, mas também cusparadas de magma o atingiam. 


O coração acelerou quando entendeu finalmente que poderia morrer, que estava sendo derrotado! Mãos e braços começaram a derreter, a túnica branca incendiou-se.


 Sentiu o cheiro da própria carne queimando, e uma massa de lava grudou-se em seu rosto. Os lindos cabelos louros se desintegraram, e um dos olhos murchou. 


A violência rasgou a membrana das asas de morcego, sobrando só osso. A onda de choque jogou o arcanjo para além do telheiro, e ele despencou, devorado pelo ardor escaldante.


 Seus gritos assombraram os soldados, que avistaram uma trilha esfumaçada no céu e se esquivaram da trajetória. 


Lúcifer não morreu rapidamente. Berrava enquanto caía, chorava, tossia, debatia-se, incapaz de voar. Pela fumaça, não conseguia mais respirar. 


Ninguém o acudia. Ninguém o reconheceu. 


O Filho do Alvorecer desabou as profundas gretas da terra, um buraco imundo onde se acumulavam os celestes tombados. 


Estava ali ao lado dos cadáveres dos anjos derrotados, dos demônios vencidos, dos espíritos-escravos. 


Seu corpo era uma porção nojenta, sem braços ou asas. O tecido da roupa grudara-se a pele. 


Lúcifer pareceu indigente, em uma vala comum, gemendo e rogando socorro.


No pátio superior de Sion, Ablon libertou Vick dos grilhões apertados e a abraçou fortemente, envolvendo-lhe o corpo com as asas rajadas. A pele dela estava gelada, pelos ventos cortantes àquela altitude. 


Não fosse pelos encantos de Shamira, que incluíam a proteção do frio entre outros perigos, já teria congelado, fez uma nota mental para agradecê-la depois.


 A batalha seguia acirrada, e o general sabia que deveria regressar as legiões, mas era sensível ao coração e reservou um momento para o casal.


 Vick: A runa do corpo – sussurrou, afagando o antebraço do herói – Havia me esquecido do feitiço. 


A inscrição mágica, marcada profundamente na carne do renegado, havia sumido, desaparecendo suas propriedades fantásticas. Conforme a necromante dissera a execução do ritual, o encanto só funcionaria uma vez, afastando o guerreiro da morte. 


E, assim agiria também a runa da mente, que preservaria o cérebro de qualquer alteração psíquica, como tentativa de controle e esquecimento. Essa segunda marca, não usada, continuava gravada no braço esquerdo do querubim, como uma tatuagem discreta.


 Ablon: O Príncipe dos Anjos foi derrotado pela inteligencia de uma mulher – declarou, embora sua pericia tenha sido igualmente indispensável a vitória – Sem a magia de Shamira, eu não teria regressado a vida. É irônico. Miguel sempre desprezou os artifícios da espécie mortal.


 Vick olhou para o cadáver do tirano, em sua prateada armadura. Não fossem as asas, afiadas na ponta, sua carcaça seria indistinguível das dos homens comuns. Os olhos perdiam o brilho, como é natural aos defuntos, e a face empalidecera pela falência de sangue. 


Vick: Foi o amor dela que te salvou Ablon, enquanto eu não fiz absolutamente nada – suspirou – E quanto ao arcanjo, na morte, somos todos iguais, terrenos e alados, demônios e deuses – lamentou, reparando na extinção do gigante -


Ablon: Não, Vick, a experiencia de Shamira me ajudou, mas o único amor que me salvou foi o seu – ele segurou o queixo dela e ergueu para si – Foi você que estava em meus pensamentos, foi você que me beijou, e foi ao tocar seus lábios que eu me senti vivo novamente. Mesmo com o feitiço, se não fosse por você, eu não teria porque além dos meus ideias, querer voltar. 


Vick fechou os olhos ao toque de Ablon e sentiu quando seus lábios se tocaram, uma quietude se fez em seu coração, e ela pensou que a partir dali, ninguém poderia separá-los.


Uma explosão colossal arruinou os andares inferiores, encetando o incêndio. Fogo e lava foram atirados ao ar, inclinando os alicerces da torre. O magma borbulhante escorreu para os níveis abaixo, corroendo as paredes de rocha como papel a fogueira. 


Ablon segurou Vick pelos braços, mas o pináculo continuava instável. 


Ablon: Os ishins estão incinerando as fundações da bastilha – avisou, ciente do planejamento rebelde. Aquela, porém, não era a atuação do grupo insurgente, mas o reflexo das rajadas escaldantes que liquidaram o Diabo -


 Vick: A nuvem negra sobre Sion dissipou-se – reparou -


 Ablon: E a aura de Lúcifer também se apagou. A Estrela da Manhã suprime seu brilho. Agora, quem poderá se opor aos rebeldes ? 


Com a morte dos irmãos conspirados, os anjos perversos perdiam seu principal comandante, e os demônios enfraqueciam o ataque. 


Os duques do inferno não eram páreo para os generais revoltosos, e dos nove aristocratas satânicos restavam só três. As numerosas hordas malditas lutavam frenéticas, mas era massacradas pelas legiões revolucionárias.


 A aliança entre os dois exércitos não trouxera unidade, só confusão. As feras partiam ao assalto direto, dificultando a estratégia dos sitiados.


 Com o tumulto, ganhavam os insurgentes, disciplinados em suas táticas de guerra. Miguel e Lúcifer sucumbiram, mas deixavam um perigoso legado. 


Sozinhos, nada seriam, não fosse a peça fundamental da conspiração, uma entidade sinistra, capaz de acessar as dimensões mais remotas, rasgar o tecido e garantir a perfeita comunicação entre o céu e o inferno. 


O lacaio era também assassino, espião e soldado, e superava seus mestres em ódio, crueldade e sadismo.O Anjo Negro, temido servidor dos arcanjos, subiu os degraus ao pináculo, silencioso como um tigre na floresta.


 Não fora derrotado, nem sequer ferido pelos guerreiros de bronze, só momentaneamente excluído da luta. 


Ablon o aturdira ao ingressar em Sion e enfrentar o malfeitor com a Flagelo de Fogo – objeto ao qual a entidade parecia ter singular aversão. Não fosse o elmo metálico, o criminoso teria tido o cranio amassado, mas o capacete poupara-lhe a vida. 


Por alguma enigmática razão, o monstro de asas negras era tão furtivo quanto o renegado, e podia ocultar sua essência, fazendo-se imperceptível aos inimigos – quando assim o queria. 


Na mão brandia uma espada, pronto a estocar o general que, de costas, não percebera o embuste. O assassino esgueirou-se pelo terraço como um espectro na noite e atacou de surpresa, inclinando a lamina para decapitar sua vitima. Mas o alvo não era comum. 


Rápido e ágil, Ablon pressentiu o perigo e sacou sua arma, aparando a astuciosa investida. 


Vick desviou o olhar e protegeu a visão, para que a faísca do choque não a cegasse.


 Os dois fios bateram, e deu-se a revelação. Tal qual a Flagelo de Fogo, a espada do agressor fulgia também, mas em chamas negras – sinistras labaredas do inferno.


 A figura na armadura escura deixara para trás sua máscara, ficando aparente o rosto disforme.


 A face, cortada de um lado a outro por uma cicatriz horrorosa, não era angélica, muito menos humana – mas diabólica.


 Da boca saltavam dentes pontudos, como a mandíbula dos tubarões, e os olhos eram profundos e negros. 


Ablon: Apollyon! - exclamou, deixando transparecer a satisfação da vingança – Poupa-me um bocado de trabalho – acrescentou, lembrando-se dos espíritos de Sodoma e da promessa de desforrar os fantasmas. -


Vick: Apollyon é o Anjo Negro – murmurou, admirada, mas os lutadores não a escutaram. Encaravam-se com indescritível firmeza, concentrados como cobras preparadas para o bote - 


Ablon não se surpreendeu totalmente. Para ele, tanto o duque-demônio como o Anjo Negro eram perversos, detestáveis, e haviam perseguido seus companheiros, o que os colocava no topo da lista dos mais execrados. 


O Anjo Negro raptara Vick. Apollyon capturara Yarion e assassinara os principais renegados – e também Sieme, embora o general ainda não conhecesse sua culpa.


 A despeito da traição de Lúcifer e da felonia do arcanjo Miguel, esses eram adversários políticos, e sua derrocada estava, necessariamente, atrelada a vitória dos novos rebeldes. 


A contenda com Apollyon, entretanto, fomentava um ódio acumulado, particular. E o Anjo Destruidor, guardava também uma cólera pessoal contra o Renascido.


 Em jogo não estava o desfecho da guerra ou o futuro dos exércitos em campo, mas o acerto de contas entre dois inimigos havia muito privados de terminar seu duelo. 


Agora a oportunidade caia nas mãos do herói, que por ela tanto aguardara. 


Alerta, tomando distancia da briga, Vick entendeu que a natureza híbrida do monstro garantira a ocultação de sua aura.


 Não era um anjo ou demônio, mas uma criatura única, um celestial corrompido segundo a vontade dos terríveis arcanjos. 


Normalmente sólido e controlado, Ablon entregou-se ao furor. Os olhos irados acenderam em um brilho vermelho, e o semblante enfureceu-se tal qual o de um leão agitado.


 Só duas vezes na vida provara tamanha exaltação. A primeira fora ao saber que Ishtar estava presa em Babel, e a segunda, ao presenciar o sequestro de Vick. 


Vick compreendeu, então, que não poderia acalmá-lo. 


Apollyon recuou e golpeou novamente, mas o Renascido evitou o corte da arma, agachando e, depois, levantando para agarrar o pescoço da besta. 


Preso pela garganta, o Destruidor debateu-se, engasgado, incapaz de manobrar a espada. Furioso, Ablon o jogou para longe, com uma só mão. 


A fera satânica despencou por entre os soldados em batalha como um meteoro chispante, pronto para colidir contra as montanhas. 


Tão intenso foi o barulho do corpo lançado que os exércitos no céu suspenderam o combate, voltando a atenção a entidade cadente.


 Apollyon trombou uma encosta da cordilheira, e o impacto fez rachar a montanhas, mas ele nada sofreu. Sua armadura era uma relíquia e absorvera toda a violência do choque. 


Ileso, pulou para um pico ao lado e maneou sua lamina, convocando o Primeiro General ao embate. 


Mas, mesmo exaltado, o renegado não poderia deixar Vick sozinha, vulnerável a queda da torre.


Vick: Vá! - exigiu, entendendo o dilema de seu protetor – Eu vou ficar bem, a bastilha ainda resistirá por mais algum tempo – garantiu - 


Então, todos os combatentes que ainda podiam enxergar, fossem eles demônios ou anjos, avistaram os dois lutadores em preparação para a disputa, cada qual em seu posto avançado.


 Ablon pairava no auge da Fortaleza de Sion, e Apollyon esticava as asas no topo da montanha mais alta. 


XXX: O PRIMEIRO GENERAL ESTÁ VIVO! - gritou Baturiel as legiões insurgentes, apontando para o líder rebelde no pátio da fortaleza - 


XXX: Ele alcançou o terraço da Roda do Tempo – completou Shenial – O arcanjo Miguel foi derrotado – não restavam mais duvidas -


 Em outro lugar, ainda nas alturas ao redor de Sion, Asmodeus indicou ao duque Aslator. 


Asmodeus: Lá está nosso colega sumido – comentou, reconhecendo a face desfigurada do Destruidor – 


Aslator: Ele trabalhava para o monarca Celeste – concluiu, ao notar as asas escuras, as quais nunca mostrara aos seus diabólicos confrades – Espião ou traidor ? 


Asmodeus: Talvez nenhum deles – incitou, reflexivo, coçando o queixo ao prelúdio da luta - 


A cada instante, ficava mais óbvia a conspiração. Miguel e Lúcifer estavam destruídos, e o Exterminador era agora o perverso mais forte.


 Seu poder superava a potencia dos aristocratas malditos, e dentre os infernais talvez apenas Orion estivesse em situação de abatê-lo, mas o Rei Caído de Atlântida desaparecera ao inicio da ofensiva, largando suas hordas ao caos. 


As tropas, maléficas e justas, guerreavam empatas, e assim seguiriam eternamente, se nenhum eventos as abalasse. A conclusão era lançada, então, as costas dos duelistas. 


Se Ablon ganhasse, os rebeldes venceriam, mas, se Apollyon triunfasse, seria o principio de um reinado de trevas, muito pior do que aquele sonhado pela mente doentia de Lúcifer ou pelos delírios insanos do arcanjo Miguel.


No patio sobre Sion, Ablon retesou as asas e saltou como uma águia em rapina ao encontro do Destruidor. 


Era tão veloz que um rastro de fogo acompanhava sua corrida, desenhando uma trilha vermelha na curvatura do céu. 


Mas, em vez de se lançar contra o Renascido, Apollyon deu meia-volta e voou para longe, para além das cordilheiras. 


Rumou para o norte, na direção do Styx, e muitos pensaram que fugia de medo, correndo do líder rebelde, contra qual, supostamente, não teria nenhuma chance. 


Mas Asmodeus percebeu seu real objetivo. 


Asmodeus: Está atraindo o general para o monte Megiddo – disse ao duque Alastor - 


Alastor: A Montanhas no Extremo do Mundo – divagou o monstro – O ponto profético para a conclusão do Apocalipse.


Nos andares inferiores, quando o chão da fortaleza cedeu, Amael e Aziel adejaram, sacudiram as asas e assistiram ao desmoronamento do piso, amolecido pelo calor. 


Pouco tempo depois, também as paredes caíram, e eles escaparam pela sacada, já derretida em chamas.


 Lá fora, os ruídos da batalha foram suprimidos, e os golpes também. 


Ablon e Apollyon voavam ao monte Megiddo, e os três exércitos os seguiam. 


XXX: A humana! - lembrou-se o Senhor dos Vulcões - Ela ainda deve estar no pináculo.


 XXX: Vamos tirá-la de lá - decidiu Aziel, disparando para o terraço -


 Nenhum soldado os impediria. O caminho estava livre. 


A Torre das Mil Janelas fora evacuada.



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Autor(a): Fraanh

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Ablon e Apollyon pousaram em Megiddo, uma montanhas larga, de cume bem amplo, solitária na esplanda, única na vastidão do deserto.  Fazia lembrar um calombo, um caroço nefasto na pelo do mundo, distante uns cem quilômetros das cordilheiras que cercavam Sion. No plano físico, essa magnifica elevação fora cen&aa ...


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  • fraanh Postado em 16/10/2014 - 20:18:52

    Por mais que eu esteja postando a primeira temporada rapidamente só para continuar a segunda (já que tive que sair do orkut), eu devo, com toda a educação do mundo, dar as boas vindas as leitoras que não me acompanharam antes, então, sejam bem vinda meninas, espero que estejam gostando, comentem por favor, eu não mordo não *-*


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