Fanfics Brasil - Capítulo 60 O amor e um anjo ~

Fanfic: O amor e um anjo ~


Capítulo: Capítulo 60

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Atordoado pela explosão, Ablon levantou-se do chão, tropego e dolorido. Cuspiu um pouco de sangue no solo queimado e esticou as asas rajadas. 


Sentia-se péssimo, mas ainda estava vivo. A respiração também voltava com custo, e ele inspirou fundo, só para sentir o gosto funesto do ar poluído.


 Mas onde estava ? O que acontecera ? 


De repente, perdeu a noção do tempo e do espaço. 


Olhou ao redor e viu uma paisagem de horror – um deserto cinzento, de terreno acidentado, coberto por ruínas e estilhaços. 


O céu estava fechado por uma nuvem escura, profunda e venenosa, que deixava a planície em penumbra lunar. O clima esfriara, e uma estranha poeira descia a superfície, imitando uma neve sinistra, pesada e plúmbea.


 Percebeu, então, que algo havia mudado, não só o cenário, mas no universo. 


O tecido da realidade caíra, e os dois mundos – o físico e o espiritual – eram agora um só. 


A distancia, divisou os escombros da cidade santa de Jerusalém, desabitada e aniquilada. 


Mas como fora destruída ?


 Teria sido arrasada pela energia de Apollyon ou pelo estouro da Sétima Trombeta, a ultima das bombas humanas ?


 


TEMA.


 


O general não procurou a resposta, nem a acharia. Talvez o Destruidor e sua arma fossem de fato a Trombeta Final, e ele, o único responsável pelo cataclismo e pela terminação da espécie mortal – ou talvez não.


 Na esplanada, espalhavam-se milhões de corpos, celestiais e mundanos, decepados e mutilados. 


O sangue dos anjos misturava-se ao sangue dos homens, ruborizando a negritude da terra.


 Afundado na areia chamuscada, o guerreiro encontrou um volume intacto, em meio a devastação. Ele o puxou e analisou a capa. 


Era o Livro da Vida, resistindo a tentação de abrir o compendio, o general o guardou consigo, virou-se ao sul e rumou em direção aos destroços que, pouco antes, eram a inexpugnável fortaleza do Príncipe Celeste.


 Vick – o nome veio imediatamente a mente – teria ela sobrevivido ? 


O coração apertou, e ele se deu conta do derradeiro fracasso.


 Mesmo voando, correndo a toda velocidade, o querubim não conseguira chegar a Sion. Só um milagre teria preservado a mulher. 


Disparou as ruínas, e do céu enxergou três figuras, entre elas o ishim Aziel e seu antigo mestre, Amael. 


Estava reunidos diante de uma mesa redonda de pedra – a Roda do Tempo – que, agora jazia no chão do deserto, espantosamente preservada após ter despencado do pináculo.


 Certas relíquias são tão especiais que nunca se quebram, mesmo atacadas pelos mais terríveis desastres. 


O renegado sentiu uma fincada cortar-lhe o espirito, ao notar que Aziel deixava uma jovem no solo – uma moça de pele alva e cabelos negros – e fechava-lhe os olhos.


 Aziel: Tentei salvá-la, general – disse quando Ablon pousou lentamente a seu lado e tomou Vick no colo – Mas seu corpo humano não resistiu a explosão. 


As entidades e Shamira, que Ablon mal notara a presença fizeram silencio. 


Ele a aninhou em seus braços como um bebe e balançava seu corpo para frente a para trás como se estivesse ninando-a, enquanto a apertava contra seu peito.


Morta! Vick estava morta! 


 O Renascido não quis acreditar, mas era a mais pura verdade. 


 Ablon: Não meu amor, você não, por favor. - sussurrou - Não, não, não – Ele olhou para os céus como se alguém lá em cima pudesse ajudar e suplicou – Por favor, ela não, por favor – Fechou os olhos e continuou apertando-a enquanto as lágrimas escorriam sem parar – Leve a mim, a mim - Ficou alguns segundos assim e depois afastou o corpo dela do dele para que pudesse olhá-la, tirou o cabelo de sua face e colocou atrás da orelha, desceu a mão passando por sua boca, pescoço, seios e parou em sua barriga, apertou os olhos para que as lágrimas que os embaçavam saíssem enquanto ele alisava o ventre dela, e então soluçou, Ablon, o Primeiro General, o invencível, havia vencido a guerra e alcançado seu objetivo, mas a que preço ? Voltou a olhar para seu rosto, pálido e frio. E tentou uma súplica pela ultima vez – Volta Vick, volta, meu amor, eu prometo nunca mais deixá-la, nem por um minuto sequer, só peço que volte. Só que... - e a voz falhou -


 Mas não adiantou, Vick o abandonara e não regressaria jamais.  Para onde teria seguido sua alma ? 


 Ali, ajoelhado, teve vontade de resgatá-la, de trazê-la de volta, para que vivessem tudo aquilo que não viveram, para que se encontrassem, afinal, na tranquilidade que tanto sonharam. 


 Mas ele não podia revivê-la, realmente.  E agora, o que faria ? 


 Como prosseguiria sua vida miserável ? Que forças teria para continuar habitando este mundo ?


 Compreendeu, finalmente, o exato sentimento de sua amada, ao tê-lo a seus pés, sangrando, a beira da morte. 


 Com efeito, a morte é muito mais dolorosa para aqueles que ficam, e certamente pouco sombria aos falecidos.


 Entendeu, portanto, que suas lágrimas não ajudariam seu coração, muito menos a pobre mulher. 


 Ablon: Você fez sua parte meu amor, obrigada por existir, obrigada por me amar, e aturar esse guerreiro errante, orgulhoso e teimoso. Siga em paz para o eterno descanso – sussurrou e beijou seus lábios – Te amarei para sempre.


 Aquele era o ultimo beijo dos dois, o beijo dos mortos.


 


 


 


Ali estavam as três entidades e a feiticeira, no campo destruído, em volta da Roda do Tempo, sobreviventes da grande catástrofe, velando o corpo da humana, Victória. 


Tinham vencido a guerra, derrotado os inimigos, despojados os tiranos, mas a que preço! Com seus opressores, os rebeldes também haviam sido derrotados. 


O projeto dos arcanjos se concretizara afinal, apesar da ruína de seus arquitetos. A humanidade fora enfim liquidada, conforme planejaram os chefes perversos. Mas agora o sétimo dia havia terminado. 


E este era o crepúsculo dos tempos – o declínio do universo. 


Aziel parou em frente a relíquia de pedra, marcada como código secreto dos malakins. 


Tão próxima, a roda mais parecia um relógio, gravada com runas antigas e símbolos cósmicos. 


Durante todo o curso da história, o circulo esteve girando, mas agora descansava, estático sobre seu eixo. 


XXX: Então, esta é a famosa Roda do Tempo – arriscou o ishim, quando o clima de tristeza acalmou mas, Ablon ainda permanecia ajoelhado com Vick em seus braços. Nunca havia admirado o artefato de perto e percebeu que, mesmo inerte, a energia continuava latente na rocha – Sua força mística é magnifica. Por isso Miguel quis roubá-la do santuário dos malakins no Sexto Céu e trazê-la para Sion. Quem detivesse a roda deteria o poder.


 Ablon: A Roda do Tempo é a maior das relíquias deixadas por Deus – confirmou . Amael desviou o olhar para cima e depois voltou a atenção aos escombros do monte Megiddo.  -


Amael: O que aconteceu aos três exércitos ? - ele e Aziel não tinham assistido ao duelo, só a explosão. A pilha de defuntos indicava o fado das legiões, mas quem teria sido o arauto da destruição ? -


 Ablon: Estão todos mortos. Apollyon era o agente da conspiração, o Anjo Negro, escolhido pelos arcanjos para caçar os sobreviventes mortais, à queda do tecido da realidade – e inclinou a cabeça – Miguel não cairia no mesmo erro que cometeu no diluvio, quando desprezou a capacidade de reprodução dos seres humanos, e eles voltaram a povoar o planeta.  - Aziel fitou as palmas frias, outrora cheia de fogo. -


 Aziel: Juntos, triunfamos na Batalha do Armagedon. Completamos nossa missão, mas não conseguimos afastar o mundo de sua extinção. Os grandes valores foram deitados por terra.


Ablon encarou o rosto gélido de Vick, impressionado por sua beleza, mesmo na frieza da morte. Era como se ela ainda vivesse, e realmente vivia, em seu coração. 


Tocando-lhe a face macia, o querubim reviveu os últimos momentos juntos, em seu apartamento e assim, lembrou de Shamira, voltou o olhar para onde a outra pessoa estava, ele ainda não a tinha notado, e olhando pra ela, mortal e ali ainda viva... 


A única resposta que veio a sua mente que a salvara mas não salvara Vick fora que ela era um feiticeira, lembrou então do ritual que eles fizeram, quando a moça trouxe o espirito celta ao pentagrama – Korrigan, uma entidade com habilidades proféticas. 


Ablon: Há esperança – sussurrou, o murmurio era quase um suspiro -


 Aziel: Como ? Como vamos devolver a vida aos mortos e reconstruir um planeta infértil ? Somos anjos, não deuses. - O general concordava com o amigo, mas não inteiramente.  -


Ablon: Este universo está arrasado, mas a verdade é incerta. No infinito, os caminhos nunca levam ao mesmo lugar nem correm em uma só direção.  - Os quatro silenciaram, até que Amael decifrou.  -


Amael: A Roda do Tempo. Acha que poderíamos voltá-la ?


 Ablon: Talvez. 


Aziel: Mas só um deus pode movê-la – reagiu, era o que todos sempre diziam - 


Ablon aprendera muitas coisas em sua jornada, mas sobretudo a desacreditar no destino, nos rumos traçados, nos trajetos já determinados. Preferia crer no revés, confiar no livre-arbítrio, na capacidade de construir o próprio futuro. 


Ainda que não fosse humano e estivesse preso a sua natureza angélica, acreditava na liberdade de decisão.


 Shamira: É o que vocês são agora – se manifestou finalmente – Foi o que se tornaram. Sobrepujaram os arcanjos, e agora não há quem os supere. Aqui, são deuses. Deuses sem rosto, sem seguidores.


 Ablon: Acabamos por nos converter naquilo que tanto lutamos para que nossos inimigos não se tornassem: deuses de um mundo em cinzas – completou, olhando para o céu obscuro. Além das nuvens, o Sol nascia, mas sua luz não alcançava a terra. O globo se tornara uma estufa gelada, mergulhada nas trevas, assolada pelo inverno nuclear e contaminada pela radiação das bombas humanas -


Enquanto deliberavam, avistaram um ponto dourado no horizonte, que brilhava feito estrela na noite fechada. 


Sua energia era amável, bondosa, e os quatro se sentiram acolhidos. O brilho deslizou até eles, e de repente até a contorcida paisagem pareceu concertar-se. 


Aquele era o fulgor vivo de um anjo, um ofanim – a casta dos alados mais piedosos. Não eram guerreiros, muito menos políticos, mas guardiões dedicados a assistência dos homens e a proteção dos necessitados.


 Os olhos eram como pedrinhas de cobre, e tranças de ouro desciam pela longa túnica branca. As asas tinham reluzir próprio e se abriam como folhas de prata. 


Quando pousou, até o velho Amael o reconheceu. Ainda que afastado do céu, não esquecera a cintilante beleza de Nathanael, o Mais Puro. 


Ablon: Nathanael... Está preservado.


 Nathanael: Eu não fui ao combate – esclareceu – Continuei a distancia, na caverna do monte Horeb, perto do acampamento rebelde. Assim, escapei da explosão. Além disso, sou capaz de me transformar em luz pura, tornando todo meu corpo absolutamente imaterial.


 A chagada de Nathanael era uma benção em um instante de tanta aflição. O ofanim era um dos mais sábios celestiais, por isso fora selecionado como assistente direto de Gabriel. 


Ablon: Ilumine-nos, Nathanael, com sua infinita prudencia – pediu – Sou só um guerreiro e não enxergo muito bem os mistérios do cosmo – ele apontou para a relíquia de pedra – Podemos voltar a Roda do Tempo ? 


Nathanael: Agora vocês três são soberanos – declarou – São uma trindade suprema, onipotentes e imperecíveis. O sétimo dia acabou, e as leis antigas caíram. Cabe a vocês encontrar a decisão. Se aqui ficarem, poderão tentar refazer o universo arrasado. Se retrocederem, abrir-se-á uma nova chance a civilização. Mas saibam, ó gigantes, que caso regressem é provável que não se lembrem do futuro. Sua mente poderá ser apagada até o ponto em que decidirem voltar. O destino é indecifrável. 


Aziel: Mas se retornarmos, sem consciência do futuro, como poderemos garantir a retidão de nossas ações ? Como saberemos que, no fim, a situação não nos trará a este mesmo ponto final ?


Ablon: Miguel morreu porque se entregou ao destino – alertou – Não somos como ele. Construiremos nossa estrada, nossos valores, nesta ou noutra existência. 


Seguiu-se uma longa pausa, enquanto a neve escura despencava das nuvens. Então, Amael confessou. 


Amael: Nunca me perdoei por ter acatado as ordens de Miguel e os comandos de Lúcifer. Executei o diluvio, sob a atenção dos arcanjos. Meus pecados agora são irreparáveis. Mas, se tivesse uma nova oportunidade, eu os enfrentaria. 


Aziel: E eu o ajudaria – replicou, arrependido por, um dia, ter virado as costas a seu mestre querido -


 Sobre o deserto, a poeira cinzenta descia. Sion era só estilhaços, uma ruma fumegante de colunas e blocos, como uma fogueira em brasa que se apaga ao orvalho da madrugada.


 Nathanael: General, você foi o líder da irmandade e o ícone dos revoltosos. É sua a palavra final.


 Korrigan – pensou o Renascido. Durante o ritual mágico, o espirito celta havia previsto o impasse, mas não expusera nenhuma solução. Nem precisara – a vontade do guerreiro era óbvia. 


Ele era um herói, e como tal dedicara a vida ao mundo. Por séculos, desistira da felicidade para perseguir um ideal. Renegara a liberdade, mas encontrara o amor. E agora, por fim, teria o aguardado repouso. 


Sua missão estava cumprida. 


Juntos, os três cingiram a Roda do Tempo, sob a luz inspiradora do ofanim. 


E a giraram.



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Autor(a): Fraanh

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • fraanh Postado em 16/10/2014 - 20:18:52

    Por mais que eu esteja postando a primeira temporada rapidamente só para continuar a segunda (já que tive que sair do orkut), eu devo, com toda a educação do mundo, dar as boas vindas as leitoras que não me acompanharam antes, então, sejam bem vinda meninas, espero que estejam gostando, comentem por favor, eu não mordo não *-*


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